19ª Mostra de Tiradentes- Longas e Curtas
Eclipse solar, 2015, Rodrigo de Oliveiras
Na terça, 26, o Mulheres conferiu dois seminários, fez entrevista, colheu depoimento, e assistiu dois longas e três curtas. Ufa!
O Seminário Encontro com a Crítica, Diretor e Público teve três edições – o Mulheres acompanhou duas. A primeira foi sobre o filme Urutau, de Bernardo Cancella Nabuco – reuniu diretor e equipe, o crítico Orlando Margarido, e o mediador Pedro Maciel Guimarães; a segunda foi sobre o filme Índios Zoró – Antes, agora e depois?, de Luiz Paulino dos Santos – reuniu diretor e equipe, a pesquisadora Amaranta César, e o mediador Marcelo Miranda.
O debate de Urutau ampliou a boa recepção que o filme obteve na noite anterior – pelo menos para uma parte da plateia, com o Mulheres incluído nela. Esses Seminários que acontecem na Mostra são bem bacanas, mas, às vezes, o filme no debate fica tão bom, mas tão bom, que causa um curto circuito entre o que se fala e o que assistimos.
Não foi esse o caso de Urutau, pois quem acompanhou os comentários do Mulheres na matéria anterior conheceu o que penso sobre o filme. Daí que o debate ampliou a visão do mostrado, já que o diretor e demais integrantes puderam abordar questões, tanto formais quanto da narrativa, curiosidades de bastidores, e como eles próprios veem o filme.
O mesmo aconteceu com Índios Zoró - Antes, durante e depois?, de Luiz Paulino dos Santos, que mesmo com suas imperfeições e momentos de sobressalto com o que se via, foi filme que também deixou impressão. E no debate, o veterano Luiz Paulino dos Santos, que sempre tem falas longas para a mais simples e cotidianas das perguntas – e ainda bem que ele sempre tem o que dizer, ele nunca é desinteressante – narrou momentos importantes e tocantes da sua trajetória de vida, além de questões ligadas ao filme em si.
Depois do debate foi a vez de chegar um pouco mais perto e dar voz a alguns integrantes da equipe de Urutau. O Mulheres registrou depoimento do jovem ator Nicolas Sambraz para a seção Elas por Eles – em que homens homenageiam mulheres do cinema brasileiro -, e fez entrevista com Bruna Boyd, diretora de produção do longa.
Filmes
À noite foi a vez de conferir a exibição de longas e curtas no Cine-Tenda.
Mais uma vez os longas exibidos deixaram a desejar. Na Mostra Transições foi exibida a produção baiana Tropikaos, dirigida por Daniel Lisboa.
Tropikaos mira sua lente para um jovem poeta que não consegue suportar a onda de calor que se abateu sobre Salvador. Daí, ele vai se prostrar dia e noite em frente ao aparelho de ar condicionado ou perambular em busca de um. Tudo isso em metáfora para sua inadequação ao mundo ou ao momento de ser e estar no mundo. O problema é que a cena de sua prostração frente ao ar condicionado se repete mais do que deveria, mudando, às vezes, só de contexto. E quando a trama incorpora outros elementos, como a chegada de estranhos personagens vividos por Bertrand Duarte e Edgar Navarro – a dupla mítica de Superoutro – muitos podem ter abandonado o barco.
Já na Mostra Aurora o filme da vez foi Aracati, produção do Rio de Janeiro e Ceará que reúne as diretoras Aline Portugal e Júlia de Simone.
A trama focaliza uma cidade que está no meio do furacão e é constantemente açoitada por fortes correntes de vento, a tal rota do Aracati – não à toa espaço para moinhos de vento da energia eólica. Focaliza também a relação que seus habitantes têm com o feroz elemento da natureza. Aracati é documentário experimental que pode agradar alguns e desagradar outros, mas não no velho clichê ame ou odeie, pois não vejo em Aracati potência para esse tipo de estado de fruição – ainda que alguns planos impressionem, e muitos outros queiram impressionar.
Mostra Foco
Nesse recorte foi exibido na programação da noite a Série 2 formada por três curtas: Noite escura de São Nunca, produção carioca dirigida por Samuel Lobo; Encontro dos rios, produção carioca dirigida por Renata Spitz; e por fim filme Eclipse solar, produção capixaba dirigida por Rodrigo de Oliveira.
De longe, o filme de Rodrigo de Oliveira foi o grande destaque da noite. Em Eclipse solar ele coloca em cena uma família marcada por conflitos, tensões e dores avassaladoras. Assim como fez nos longas anteriores - Horas vulgares (2011) e Teobaldo morto, Romeu exilado (2014) -, o cineasta apresenta mais um filme denso e de forte rigor estético.
O cinema de Rodrigo de Oliveira está muito interessado na forma, mas também está interessado no que tem a dizer, tanto por ela quanto por suas histórias, até aqui marcadas por viés de tragédia humana fincada com os dois pés no seu tempo. Por mais que possa olhar para o que aconteceu com seus personagens e a consequência disso em suas vidas, o que salta aos olhos nos filmes do diretor é como ele coloca esses seres no aqui e agora.
O contemporâneo é o espaço geográfico e sentimental dos homens e mulheres, acontecimentos e histórias dos filmes de Oliveira. E ainda que tentem esvoaçar ao som de Beethoven ou de jazz de infinitos tempos, todos eles - como em Ponte das Artes, de Eugene Green –terão seu momento de mirar o Sena, seus abismos e seus diabos, que serão sempre reflexos da alma indesviáveis de seus seres atormentados.
Vale ressaltar nesse Eclipse solar a presença forte de Rejane Arruda, como a mãe impura; e também Rômulo Braga, ator presente, e marcante, em todos os filmes do cineasta até então, e apropriadíssimo como signo para o tipo de cinema que o diretor nos apresenta.
19ª Mostra de Cinema de Tiradentes - Programação completa
www.mostratiradentes.com.br
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