11ª Cineop - Abertura
Inês Peixoto e Laura Liuzzi - Homenagem Eduardo Coutinho
A 11ª Cineop tem como eixo temático Cinema, TV e
Educação, e na temática histórica aborda "O cinema e o processo de
abertura política (1976-1988).". Por isso, foi muito acertada a ideia do
programa de auditório ao vivo criado e dirigido por Chico de Paula na abertura
oficial ontem à noite no Cine Vila Rica – a “Rede Cineop de Televisão”.
A ideia foi acertada porque o conteúdo do programa
foi totalmente político. E aí teve espaço para a luta do feminismo e a denúncia
da violência contra a mulher, números musicais com canções de protesto, e a condução por um apresentador (Leri Faria), que
encarnou um misto de Sílvio Santos, Chacrinha e Flávio Cavalcanti.
Teve também a participação da plateia - que já
tinha sido convidada a se manifestar e com direito a visualização na tela no
cinema - que entoou um "Fora temer" em alto e bom som. Foi um conteúdo que não
deixou de ser surpreendente, já que as mostras da Universo Produção -
Tiradentes, Ouro Preto e BH -, ainda que sempre pautaram a política como
discussão, mas mais no campo de mecanismos, raramente - ou talvez nunca - se pronunciou de uma forma tão direta,
fazendo coro à combustão política atual no país.
É preciso dizer que ainda que a ideia foi boa, a
execução tornou-se cansativa algumas vezes pela duração estendida.
O restaurador Chico Moreira, falecido neste ano,
foi o primeiro homenageado, e quem recebeu seu troféu Barroco foi o filho e a ex-esposa - Dea Moreira e Dani Moreira. A homenagem contou com fala interessante de Hernani Heffner, curador da
temática Preservação, que situou a importância de Moreira no campo do restauro
e da preservação, a quem se reportou como seu mestre.
A segunda homenagem da noite foi para o cineasta
Eduardo Coutinho. Quem subiu ao palco para receber o troféu foi a produtora
Laura Liuzzi, que trabalhou com ele em Canções e Últimas conversas. Quem
entregou o troféu Barroco foi a atriz Inês Peixoto, do Grupo Galpão, com o qual
Coutinho realizou o filme Moscou.
Convidadas a falar sobre Coutinho, Laura ressaltou a
generosidade da escuta do cineasta, o que poderia ser óbvio já que foi sua marca
principal no contato com seus entrevistados, mas no caso ressaltado por ela no
que se referia a equipe. O processo de feitura era sempre, segundo ela,
horizontalizado, já que cineasta sempre consultava a todos enquanto o filme era
feito.
Inês falou do privilégio e da sorte do Galpão ter
sua trajetória marcada por essa parceria com Coutinho, o que, segundo ela, por
ser um apaixonado ouvinte de histórias, resgatou relatos dos atores do grupo
que eles próprios desconheciam ou não explicitavam.
Tanto Chico Moreira como Eduardo Coutinho foram
tema de vídeo exibidos e realizados em parceria com a Cineop com o Canal
Brasil. E ver, sobretudo, Coutinho na tela falando, inclusive, sobre morte, deu
dor no peito por reavivar a forma brutal como foi morto, uma das tragédias mais
dolorosas do universo do cinema brasileiro recente.
Cabra danado de bom
A abertura oficial contou ainda com a exibição do
clássico Cabra marcado para morrer. Filme que começou a ser realizado em 1964,
mas interrompido pelo golpe civil-militar, Cabra foi concluído só 20 anos
depois, em 1984.
Se Cabra marcado para morrer tinha sido idealizado
como uma ficção com os próprios camponeses interpretando um fato real - o
assassinato do líder João Pedro Teixeira por latifundiários do nordeste -,
quando retomado virou um documentário. E aí, com Coutinho buscando e
recuperando não só a trágica história das ligas camponesas, mas também dos
próprios camponeses que estiveram em cena na gênese do filme.
E é dessa forma que Eduardo Coutinho revela para o
Brasil a impressionante Elizabeth Teixeira, viúva do líder, uma das personagens
mais marcantes da história do documentário brasileiro. Impossível não se
emocionar com essa mulher marcada por tantas dores familiares - a
desestruturação familiar, com a "distribuição" dos filhos é a mais
doída -, e, sobretudo, admirar sua veia política, uma dessas heroínas da tão
sonhada e tão massacrada até hoje reforma agrária.
Cabra marcado para morrer é daqueles filmes que a
gente pode assistir 10 vezes que 10 vezes ele vai se revelar de formas
diferentes e, sempre, agigantando-se cada vez mais. Um dos maiores filmes da
história do cinema brasileiro e uma obra-prima incontestável.
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11ª Mostra de Cinema de Ouro Preto - Cineop
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