11ª Cineop - Segundo dia
Cena de Eles não usam black-tie, 1981, de Leon Hirszman
Os seminários são uma das marcas da Cineop - Mostra de Cinema de Ouro
Preto, e nessa 11ª edição não é diferente. São 17 seminários, e aí tanto da
temática preservação quanto na temática histórica.
O Mulheres acompanhou ontem o seminário "Imagens vivas de um Brasil
interditado". A mesa de debate reuniu o curador da temática preservação,
Hernani Heffner, a pesquisadora Patrícia Machado, o cineasta João Batista de
Andrade, o crítico Raul Arthuso, e com mediação do curador da temática
histórica, Francis Vogner dos Reis.
A temática histórica aborda "O cinema e o processo de abertura
política (1976- 1988)" e a mesa de debate se propôs a olhar para como o
cinema brasileiro viu e registrou esse período. Segundo Francis Vogner do Reis,
na abertura da discussão, com o conturbado momento político atual e a ideia de
uma nação esfacelada - com todo o processo do golpe -, a importância de
revisitar esse passado torna-se ainda mais relevante para entendermos os seus
desdobramentos.
Hernani fez um panorama sobre a produção cinematográfica do período, elencando alguns títulos significativos. Mas a melhor fala mesmo foi de Patrícia Machado, com o compartilhamento de parte de sua pesquisa específica sobre Cabra marcado para morrer, de Eduardo Coutinho. Um dos pontos levantados, o fato de Coutinho ter filmado em Cabra, sem saber, o último registro de um militante político, Ildeu, um dos desaparecidos da ditadura civil-militar.
E foi mesmo um privilégio ver e ouvir
João Batista de Andrade, um dos mais vigorosos cineastas brasileiros, sobretudo
na chave do cinema político, e que tem no currículo petardos como O homem que
virou suco, Doramundo, e A próxima vítima - esse último será exibido hoje.
"Eu faço cinema político, não faço militância", ressaltou em sua fala
ao sinalizar que o cinema lhe possibilitou abordar as questões políticas, sua
grande paixão de vida.
Leon e Coutinho
À noite foi a vez de fazer morada no Cine Vila Rica e assistir a dois
filmes: Eles não usam black-tie (1981), de Leon Hirszman; e Um dia na vida, de Eduardo
Coutinho.
Por ter foco na preservação e no cinema como patrimônio histórico, é
claro que a Cineop sempre deu protagonismo para grandes clássicos do cinema.
Dessa forma, por aqui a gente assiste, extasiados, filmes como Mulher, de
Octavio Gabus Mendes, Limite, de Mário Peixoto, e Rainha Diaba, de Antônio
Carlos da Fontoura.
Nessa 11ª edição, no entanto, como a temática histórica é sobre política
- e por estarmos vivendo atualmente nesse caos -, ter a oportunidade de ver os
filmes selecionados pela curadoria para ilustrarem o recorte e suscitarem
discussões e reflexões a partir deles, tem se revelado momentos únicos.
O arrebatamento ao assistir, nem sei por quantas vezes, Cabra marcado
para morrer, de Eduardo Coutinho, na abertura, voltou ontem com a exibição de
Eles não usam black-tie, de Leon Hirszman.
Vencedor do Leão de Ouro em Veneza, Eles não usam black-tie sempre foi
grande. Além de ser filme de um dos maiores e mais talentosos e relevantes
cineastas brasileiros, reúne, de quebra, um elenco soberbo: Fernanda
Montenegro, Gianfrancesco Guarnieri, Bete Mendes, Lélia Abramo, Anselmo
Vasconcelos, Milton Gonçalves, Renato Consorte, Fernando Bezerra, Francisco
Milani. E tem Carlos Alberto Ricelli, ator que gosto muito e percebo
injustiçado em avaliações críticas.
Sabedouro das trajetórias de militância política de esquerda de Guarnieri,
Bete e Lélia, o visto na tela se reverte ainda de novos significados, o que
coloca Eles não usam black-tie em alto patamar do cinema político e de sujeito
de seu tempo.
Um dia na vida é o filme clandestino de Eduardo Coutinho. Nunca
divulgado claramente, pois é filme que poderia ser embargado por questões de direito
de uso de imagem, o filme é um painel assustador - e muitas vezes
engraçadíssimo pelo tamanho do absurdo - sobre o que a televisão apresenta como
conteúdo para seu público consumidor,
O filme é a montagem de material gravado da programação das emissoras de
canal aberto - e também alguns fechados - durante as 24 horas de um dia de
outubro de 2009. O resultado, sempre desconcertante, revela não só que tipo de
televisão temos, mas também quem somos - já que a televisão é, ainda, para
muitos, tanto o veículo de entretenimento como de formação.
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11ª Mostra de Cinema de Ouro Preto - Cineop
Programação completa
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