Glauce Rocha em É um caso de polícia (1959), de Carla Civelli
Desde que a programação da 12ª Cineop foi anunciada foi possível perceber, de cara, que teríamos muitos filmes históricos de gente bacanuda à disposição dos olhos.
O mais esperado por mim, e, acredito, por boa parte da plateia da Mostra, estava cravado na agenda de domingo: É um caso de polícia (1959), de Carla Civelli.. Como dessa vez só poderia estar em Ouro Preto no final de semana, agradeci aos deuses pelo dia agendado e fui ontem conferir.
Para quem não sabe, Carla Civelli é uma italiana que se radicou no Brasil na década de 1940, e aqui se tornou - dentre tantas outras coisas, peça chave no terreno da dublagem, por exemplo - uma das pioneiras diretoras de longas no país. Também para quem desconhece o feito, até a década de 1960 tivemos no Brasil menos de 10 diretoras de longa-metragem – uma realidade não distante de outros países.
Carla Civelli era aquele tipo de nome que líamos em todas as publicações da época, mas sem jamais ter visto seu filme.
Pois esse É um caso de polícia satisfaz todas as expectativas. É uma deliciosa comédia de erros, com tempero de suspense, não só capaz de prender a atenção o tempo inteiro como tirar gargalhadas em coro. Protagonizado por Glauce Rocha e Sebastião Vasconcelos, o filme apresenta uma atuação bem especial da atriz - nome luminoso da cultura brasileira, grande dama do teatro, atriz de destaque no cinema, protagonista na TV.
Glauce Rocha está no imaginário cinéfilo sobretudo por suas trágicas personagens, como a Sara de Terra em Transe, de Glauber Rocha, e a Norma Sueli de Navalha na Carne, de Braz Chediak, Nesse É um caso de Polícia a chave é outra, e a atriz deita e rola como a jovem viciada em notícias de crimes em jornais sensacionalistas, que acaba, por sua vez, envolvendo-se em um caso de assassinato.
Carla Civelli demonstra domínio total de condução da trama, que tem roteiro assinado por ela e pelo dramaturgo e novelista Dias Gomes, ele também estreante na tela grande. O elenco conta ainda com destaques para Cláudio Correia e Castro, ótimo como o criado altivo, e Glória Ladani, irmã da protagonista que só pensa em dormir.
A sobrinha de Carla Civelli, Patrícia Civelli, contou na apresentação do filme na Cineop sobre a dificuldade que foi conseguir restaurar a cópia. Dentre alguns entraves, ressaltou o parecer de uma comissão que indeferiu o projeto com a legação de que “a cineasta era desconhecida por seus pares”. Um escândalo!
Outra surpresa foi saber que o filme tinha ficado sem lançamento comercial desde sua realização, e que a diretora guardou o filme dentro do seu armário durante décadas, o que fez com que várias pessoas envolvidas na realização do filme morressem sem saber que o filme tinha sido finalizado.
Enfim, histórias e peripécias o cinema brasileiro, esse baú sempre a ser revirado e descoberto.
Na mesma sessão de É um caso de polícia, vale ressaltar, foi exibido também Vendo/Ouvindo (1972), de Lula Gonzaga e Fernando Spencer, considerada a primeira animação do cinema de Pernambuco.
Mais informações e programação completa da 12a Cineop
www.cineop.com.br