Exposição "Quem movimenta a cidade?"
A MAX está ocupando alguns espaços em Belo Horizonte com rodada de negócios, paineis de capacitação, exposições artísticas e a Mostra Clássicos Na Praça. Pela primeira vez - pelo que me lembro - a CineBH foi para a exibição ao ar livre na Praça da Estação, um dos cartões postais mais amados da capital mineira, exatamente nessa parceria com a MAX na curadoria da mostra de filmes e na exposição "Quem Movimenta a cidade?".
E é essa dobradinha que o Mulheres do Cinema Brasileiro conferiu na quarta, 23, em programa casado de exposição e exibição de filmes. Na tela imensa cravada no coração da praça, nem o frio foi capaz de expulsar aqueles que não desgrudaram os olhos assistindo a dois petardos: o curta mineiro Estado Itinerante, de Ana Carolina Soares; e o longa americano Eles Vivem, do genial John Carpenter.
Bom, em matéria publicada já se falou por aqui sobre a beleza que é o curta. E como o Mulheres é exclusivamente sobre cinema brasileiro não cabe aqui estender sobre o delicioso filme de Carpenter, sem deixar de registrar que o fascínio por ele só cresce a cada filme visto ou revisto. Ele é genial.
Daí que o espaço agora está aberto para falar da acachapante exposição "Quem Movimenta a Cidade?". E quem movimenta essa capital, camaradas? Bom, o recorte ali apresentado traz o protagonismo em grande parcela para a negritude. E é preciso dizer que na temática da 11a CineBH, Cinema de Urgência, a negritude está mesmo ali inteira, pois se há urgência que pulsa em estado constante é o cotidiano da periferia dessa cidade - como em outras desse país- , e aí sim, com pretas e pretos pobres e pobres de tão pretas e pretos.
Daí que os paineis gigantes de exposição contemplam alguns movimentos da periferia e da negritude mais pulsantes que se tem em BH: Duelo de MCs Família de Rua, Hip Hop, Lá na Favelina, segunda PRETA. Dessa forma, confrontar-se com a face trágica e altiva de Preto Amparo naquelas cenas lindas de Violento, no projeto segunda PRETA, é acessar toda uma nobreza negra de séculos.
Percorrendo a exposição, é impossível não se impactar com gestos e expressões de artistas como Danielle Anatólio e Michele Sá. E aí, como "o pensamento parece uma coisa à toa, mas como é que a gente voa quando começa a pensar", imagens e momentos vivenciados vêm à tona à galope.
Certa vez, em uma exposição no Palácio das Artes, em época de mais artes e menos palácio, uma instalação surpreendia: três paredes da galeria se faziam de tela de cinema e um casal ia dançando de uma ponta a outra, inclusive fazendo a curva, ao som de Insensatez na voz de João Gilberto. Aquela instalação, aparentemente simples, mas tão repletas de significados, tornou-se, para sempre, na memória, um dos mais potentes encontros com a arte.
Pois bem, nessa exposição da 11a CineBH um sentimento semelhante pode vir à tona, não só ao coração, como também à chamada boca de estômago, vendo aqueles corpos, aquelas caras, aqueles gestos, aqueles movimentos, aquelas danças periféricas enquanto geografia, porém centrais enquanto fundação de um povo.
Assim como ver aquele casal desfilando em dança pelas paredes ao som de Insensatez, ver Preto Amparo gigante em sua expressão altiva, desafiadora e definidora, junto aos outros personagens elencados, faz ressoar sentimentos grandes de imeadiato. Se assistimos hoje esse país confirmando o antropólogo Claude Levi-Straus de que passaríamos da bárbarie à decadência sem conhecer a civilização, ao nos vermos cara a cara com Preto Amparo, gigante em altivez, na nossa praça mais política, acende-se todo um "Corpo Elétrico".
E ali, canta-se em quase em feitio de oração:
- Não mexe comigo!
Não mexe com a gente que a gente não anda só!