Ano 20

21a Mostra de Cinema Tiradentes -Terceiro Dia

Show O Cinema na Música de Sérgio Ricardo
No encerramento da programação do primeiro final de semana da 21a Mostra de Cinema de Tiradentes, foi a vez de conferir ontem, 21, dois longas e um show.

O Mulheres emendou duas sessões seguidas no Cine-Tenda em pré-estreias nacionais: Fernando  (2017, RJ), de Igor Angelkorte, Julia Ariani e Paula Vilela; e Bandeira de Retalhos (2018, RJ), de Sérgio Ricardo.

Fernando é um documentário sobre o professor de teatro Fernando Bohrer. O "sobre" aqui cabe, pois acompanhamos o personagem desde suas aulas de teatro até as consultas médicas, os almoços na rua, as discussões entre amigos no bar, e a convivência com seu companheiro, o coreógrafo e bailarino  Rubens Barbot.

Geralmente, um documentário centrado em um personagem e não em um tema costuma depender muito do interesse que o personagem desperta. E não necessariamente por carisma ou feitos notáveis - A casa de Sandro, de Gustavo Beck, por exemplo, focaliza um personagem muitas vezes chatíssimo, mas o filme é puro cinema.

No caso de Fernando  o cinema está lá. Particularmente são muito boas e bem resolvidas as cenas do dia a dia dele com o companheiro Barbot, como também a da cena teatral com uma Chandelly Braz iluminada. 

No entanto, é preciso dizer também que muito do filme está ancorado no carisma de Fernando.

Quando ele solta "Eu sou muito doido" ao dizer que os leitores do seu futuro livro podem jogá-lo fora depois de ler, pois ele já teria sido absorvido pelo corpo, a plateia riu em peso no cinema. Pois Fernando tem muitos momentos engraçados, todos eles pela verve dionisíaca de seu personagem.

Outro destaque do filme é a sua não preocupação em mostrar o curriculo de seu personagem, mas ele ali, no aqui e agora, o que nos afasta daquele padrão já exaurido de depoimentos - o máximo a que o documentário se permite nesse sentido é a projeção de fotos comentadas por Fernando ainda antes dos créditos.


Bandeira de Retalhos marca a volta, depois de mais de 40 anos, do cineasta Sérgio Ricardo ao longa-metragem - o diretor voltou ao cinema em 2014 com o curta Pé sem chão; seu último filme data de 1974, o belo A noite do espantalho.

O filme é sobre um processo arbitrário de remoção de moradores da Favela do Vidigal na década de 1970 e o levante que esses moradores fizeram para impedir a ação.

Bandeira de Retalhos é filme independente de baixíssimo orçamento produzido por Cavi Borges com apoio de parceiros e patrocínio do Canal Brasil.

O grande trunfo do filme é ele ser todo encenado pelos próprios moradores do Vidigal, pelo grupo Nós do Morro, o que dá uma atmosfera e um sentido total de pertencimento do encenado - e ganha força  na ótima presença da atriz Kizi Vaz como a protagonista.

No entanto, o filme se ressente pelo esquematismo do roteiro do próprio Sérgio Ricardo, que, notável músico, também assina a trilha sonora com ótimas músicas.

O orçamento exíguo também se reflete na tela, pois se há uma marca do cinema de Sérgio Ricardo, notadamente em filmes como Juliana do amor perdido e A noite do espantalho, é sua estética acachapante, no caso bem distante do apresentado em Bandeira de Retalhos.

Ainda assim, Bandeira de Retalhos chama atenção pela entrega do Nós do Morro para contar a história, que é de cada um deles, de seus pais e avós, e também de um país que insiste em exterminar seus  filhos.


O Cinema na Música de Sérgio Ricardo

Fernando e Bandeira de Retalhos foram filmes vistos com atenção. Agora, a grande atração da noite de domingo das conferidas pelo Mulheres mesmo foi o ótimo show O cinema da música de Sérgio Ricardo.

Acompanhado de banda potente, com a participação de seus filhos - Marina Lufti assume os vocais e direção do show, que comemora 85 anos do músico, compositor e cineasta, foi uma maravilha ver Sérgio Ricardo e sua voz grave em cena.

Foi mesmo um privilégio assistir um artista mítico como Sérgio Ricardo apresentando clássicos que marcaram o cinema e a música brasileira, como suas composições para obras como Deus e o diabo na terra do sol, de Glauber Rocha, e de todos os seus filmes, como a emblemática Zelão, composta para a única animação, homônima, que fez, e perpetuado como sucesso em gravação de Alcione.

Durante a apresentação das músicas, o telão atrás da banda ilustrou e deu a ambiência perfeita com cenas dos filmes. Dessa forma, o público pode rever as cenas impactantes de Glauber Rocha, como também a estética acachapante do cinema de Sérgio Ricardo em filmes como os citados Juliana do amor perdido (1970) e A noite do Espantalho (1974).

Vale ressaltar a presença hipnótica nos dois últimos filmes citados das atrizes Maria do Rosário Nascimento e Silva em Juliana; e de Rejane Medeiros em A noite do Espantalho.

O Cinema na Música de Sérgio Ricardo já é um dos momentos luminosos do shows realizados pela Mostra de Cinema de Tiradentes no Cine-Lounge, como aconteceu em edições anteriores com artistas como Verônica Sabino, Ava, e Veronez com seu eletrizante Não sou nenhum Roberto.


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A 21a Mostra de Cinema de Tiradentes - de 19 a 27 de janeiro - é toda gratuita e formada por exibição de filmes, debates, seminários, lançamentos de livros, oficinas, shows, exposição e Cortejo da Arte.

Programação completa

www.mostratiradentes.com.br


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Sala 
 Betty Faria
Com amor profundo pelo cinema, premiada em vários festivais no Brasil e no exterior