Ano 20

21a Mostra de Cinema de Tiradentes-Quarto Dia

Cena de "Madrigal para um poeta vivo" (2018, SP), de Adriana Barbosa e Bruno Mello Castanho
A 21a Mostra de Cinema de Tiradentes continua a movimentar a cidade histórica com uma maratona cinematográfica intensa.

Ontem, segunda, 22, foi a vez de o Mulheres conferir dois longas paulistas: Inaudito (2017, SP), de Gregorio Gananian; e Madrigal para um poeta vivo (2018, SP), de Adriana Barbosa e Bruno Mello Castanho.

Inaudito foi exibido dentro do recorte Mostra Olhos Livres, espaço dedicado a filmes mais radicais em suas propostas, em seus personagens, temas e estéticas.

O filme mira sua lente para o guitarrista Lanny Gordin, nome fundamental para a moderna música brasileira a partir dos anos 1960, e presença marcante nos álbuns psicodélicos de Gal Costa na fase tropicalista, assim como de nomes como Gilberto Gil, Caetano Veloso e Jards Macalé.  Admirável músico, ele também foi recrutado por outros artistas, como Erasmo Carlos e Tim Maia.

Inaudito se debruça não sobre o passado de Lanny, mas do momento atual, em que o músico apresenta o que ele chama de seu estilo pessoal, ao mesmo tempo em que fala de suas raízes - filho de pai russo e mãe polonesa,  nasceu na China, morou em Israel, vindo depois para o Brasil onde se radicou em São Paulo.

O filme nos proporciona conhecer mais de perto esse músico, cujo questões de saúde mental o retirou do holofote da cena musical por muitos anos, ainda que tenha continuado a praticar seu ofício.

Inaudito se vale da construção de planos cinematográficos com belos enquadramentos captados pela fotografia, ao mesmo tempo em que acompanhamentos, não sem certo estranhamento, a saga desse personagem singular.


Mostra Aurora

A Mostra Aurora, recorte dentro da Mostra de Tiradentes voltada a programação de cineastas com até terceiros longas, é o grande destaque do evento.

De caráter competitivo, a Aurora chega à 11a edição em 2018 com a apresentação de sete concorrentes, dessa vez com representantes de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Paraíba.

Ontem, segunda, foi a vez de conferir o primeiro filme da Mostra Aurora, o paulista Madrigal para um poeta vivo (2018, SP), de Adriana Barbosa e Bruno Mello Castanho.

Madrigal focaliza a vida do escritor  Tico, dando voz ao próprio personagem para não só falar de sua vida e obra, como, sobretudo, o quanto elas próprias, vida e obra, como expressão de resistência, inconformismo e subversão política e comportamental.

Tico enfrentou o alcoolismo, viveu nas ruas, e ainda que escritor com obra publicada, inscreve-se em concurso e tornou-se coveiro - fato explorado pela mídia sensacionalista que o identificou como o "Coveiro Escritor"; ele faleceu em 2015.

O filme nos mostra um personagem indomável e articulado nas suas proposições e no seu lugar de vida. Felizmente, ele dá mais voz ao focalizado que os inevitáveis depoimentos, que lança mão, mas com parcimônia.

Curiosamente, é em um desses depoimentos, o do filho de Tico. alguns dos momentos mais luminosos, pois é bonito ver como o filho fala do pai, e, principalmente, como ele o vê como artista.

Madrigal para um poeta vivo coloca em cena para contracenar com Tico o ator Renan Rovida, em performance que às vezes acerta no tom, em outras atravessa um pouco o tom do registro.


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A 21a Mostra de Cinema de Tiradentes - de 19 a 27 de janeiro - é toda gratuita e formada por exibição de filmes, debates, seminários, lançamentos de livros, oficinas, shows, exposição e Cortejo da Arte.

Programação completa
www.mostratiradentes.com.br




 

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Sala 
 Betty Faria
Com amor profundo pelo cinema, premiada em vários festivais no Brasil e no exterior