Caetano Veloso em cena de O Demiurgo (1972), de Jorge Mautner - Crédito: Jackson Romanelli/Universo Produção
Publicado em 1987, A História do Cinema Brasileiro, organizado por Fernão Ramos, virou imediatamente bíblia para pesquisadores e amantes do nosso cinema. Por ali, percorríamos um caudaloso panorama dividido em módulos escritos por vários outros pesquisadores, e que iam da Bela Época e os chamados Ciclos Regionais até outras fases como Chanchada e Vera Cruz.
A boa notícia é que a publicação está de volta, só que revista e amplamente reformulada. Para isso, Fernão Ramos conta agora com a professora e também pesquisadora Sheila Schvarzman, como organizadora ao seu lado.
O pré lançamento de Nova História do Cinema Brasileiro: Novos enfoques, materiais e perspectivas aconteceu aqui na 13a Cineop - Mostra de Cinema de Ouro Preto na sexta, 15, em mesa mediada pelo jornalista José Geraldo Couto e que reuniu Scheila e alguns autores: Guiomar Ramos; João Luiz Vieira e Luciano Ramos.
A rigor, pelo que foi apresentado na mesa, é uma outra publicação, mesmo porque os textos reaproveitados foram atualizados, como o da lavra do professor e pesquisador João Luiz Vieira.
E não só isso, segundo Scheila os ciclos que identificavam as fases do cinema brasileiro foram abandonados, já que elas não são estanques, mas se imbricam, e novas abordagens foram incluídas, como no texto sobre o cinema experimental um enfoque para os cineastas Aloysio Raulino, Arthur Omar, Carlos Adriano.
Segundo Sheila Schvarzman, foi orientado também a todos os convidados a se atentarem para as questões da negritude, do feminismo e indígena em suas abordagens.
A publicação em dois volumes Nova História do Cinema Brasileiro: Novos enfoques, materiais e perspectivas não ficou pronta para o lançamento na Cineop, e, segundo a organizadora, chega às livrarias no final do mês pela editora do Sesc.
A Tropicália
À noite foi a vez de conferir no Cine Vila Rica, na Mostra Histórica, o delicioso O Demiurgo (1972), de Jorge Mautner.
O Demiurgo é um filme que o Mulheres queria muito ver, e a experiência ficou ainda melhor por ser no cinema e em bela cópia.
Realizado durante o exílio dos tropicalistas em Londres durante a ditadura civil-militar, o filme, dirigido pelo compositor, cantor e integrante do Tropicalismo Jorge Mautner já impressiona em sua abertura, com ele encarnando um satã cabeludo em meio à ruínas de uma construção a emular a guerra e do fim dos tempos.
A partir daí, acompanhamos o sarcástico demônio tentando corromper o coração do Demiurgo, encarnado por Caetano Veloso, depois de um embate com um Sócrates rastejante e em nova rota.
Caetano Veloso está maravilhoso como o Demiurgo, e se Gal Costa permanecia no Brasil empunhando a bandeira do Tropicalismo, ele , ao lado de Gil e outros em Londres, personificava o movimento desde as vestes ultra coloridas até os cabelos desgrenhados e esvoaçantes.
Sua composição do Demiurgo seduz desde a primeira aparição, tanto pelos diálogos e falas, como pela sua postura em cena, sarcástica, debochada, e também com um tanto de inocência ultrajada e luta por fiapos de alegria, já que, mais uma de vez, Veloso já disse o quanto sofreu no exílio de saudades do Brasil e de sua gente.
Tropicalista até a medula e feito na moldura do cinema experimental, O Demiurgo coloca ainda em cena Gilberto Gil como o Deus Pan, e várias mulheres, dentre elas uma belíssima Dedé, mulher de Caetano à época, como as guerreiras Amazonas.
Há, ainda, espaço para a execução ao vivo registrada no filme para canções como Vampiro, de Jorge Mautner, reunindo o autor e Veloso.
Mais que um registro de sua época, o que já o faria valioso, O Demiurgo sobrevive como ótimo cinema e como potente exemplar do cinema experimental.
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A 13a Cineop segue até o dia 18 de julho.
Confira a programação completa no site
www.cineop.com.br