Ano 20

8ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto

Crédito: Leo Lara/Universo Produção
Com Rodolfo Vaz, ator do grupo Galpão, como mestre de cerimônia, começou oficialmente ontem, 13 – ainda que as oficinas tenham sido iniciadas na quarta – a 8ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto.

A homenagem a Jurandyr Noronha, pioneiro pesquisador do cinema brasileiro, na Temática Patrimônio, foi mais que justa devido aos serviços prestados ao longo da vida ao registro e resgate da história e da memória do nosso cinema.

Aos 97 anos, Noronha não compareceu, mas gravou depoimento em agradecimento à CineOP. Chamou atenção a lucidez e a leitura do depoimento sem recorrer aos óculos que estavam nas mãos.

O pesquisador se fez representar pelo cineasta Luiz Carlos Lacerda, o Bigode, para receber o Troféu, e Lacerda contou a importância que Noronha teve na sua formação, já que fora muito amigo de seu pai, o que o possibilitou a conhecer muito do cinema já feito a partir das pesquisas do homenageado.

O grande momento da noite foi a homenagem ao cineasta Walter Lima Jr, diretor de filmes fundamentais do cinema nacional como Menino de engenho, A lira do delírio e A ostra e o vento.

Além da qualidade do cinema de Lima Jr. e de sua notória elegância, a entrega do troféu foi ainda mais especial porque reuniu no palco seus companheiros de geração, os cineastas Nelson Pereira dos Santos – o maior diretor vivo do cinema brasileiro, pelo menos na opinião deste escriba e de  muitos outros -, Maurice Capovilla e Francisco Ramalho Jr.

O texto lido por Rodolfo Vaz que apresentava o homenageado já anunciava que Walter Lima Jr, não seria, de imediato, o nome mais óbvio para simbolizar os cineastas que realizaram obras no conturbado primeiro período da ditadura militar, que vai de 1964 a 1969, recorte da Temática História da 8ª CineOP, como seria o caso do próprio Nelson Pereira dos Santos, Glauber Rocha ou Paulo César Saraceni, mas que Lima Jr. sempre fez um cinema muito particular, sem que fosse usado apenas como instrumento.

O homenageado agradeceu por ter sido lembrado e saudou a sua geração no cinema e todos aqueles que se opuseram à ditadura, inclusive muitos com a própria vida.

A abertura exibiu filmes dos homenageados, ambos em cópia restaurada. O primeiro foi o curta de Jurandyr,  Alegria selvagem (1966), documentário sobre Santos Dumont e a façanha do 14 Bis. Utilizando muitas fotografias da época e também imagens em vídeo, o filme mantém o interesse pela possibilidade de ver, mesmo para quem viu posteriormente outros filmes sobre o pai da aviação, a figura sempre curiosa de Santos Dumont, um homem realmente à frente de seu tempo.

Já de Walter Lima Jr. foi exibido o longa Brasil ano 2000 (1968), filme da era alegórica do Cinema Novo que sobreviveu muito bem com a passagem do tempo.

O filme, que em alguns momentos se transforma em um musical, tem ótima trilha sonora de Rogério Duprat e conta música adicional de Caetano Veloso, a bela Objeto não identificado, usada maravilhosamente ao final do filme. Esse recurso prolonga o extasiamento com o visto, e remete tanto à produções década de 1970 que também se valeram dele, como Os paqueras, de Reginaldo Faria, com Fuga número 2, dos Mutantes; como no Cinema da Retomada  como Terra estrangeira, de Walter Salles e Daniela Thomas, com Vapor barato, com Gal Costa, Bicho de sete cabeças, de Laís Bodanzky, com a música homônima com Zé Ramalho, ou ainda Como nascem os anjos, de Murilo Salles, com Magrelinha, com Luiz Melodia. 

Para além do ótimo elenco, com belas atuações de Ênio Gonçalves, Iracema de Alencar e Raul Cortez, Brasil ano 2000 tem sua força maior na presença arrebatadora da atriz Anecy Rocha, protagonista e esposa do diretor na época.

Lindíssima e com closes generosos e apaixonados na tela, está ali a talentosa atriz de tantos filmes memoráveis que fez anteriormente, como Menino do engenho, de Walter Lima Jr,, A grande cidade, de Carlos Diegues, e As amorosas, de Walter Hugo Khouri, quanto os que fará depois, como Em família, de Paulo Porto, O amuleto de Ogum, de Nelson Pereira dos Santos, e o exuberante A lira do delírio, também de Lima Jr.

A 8ª CineOP já havia exibido na tarde de ontem Terra em transe, a obra-prima de Glauber Rocha, e tanto os closes da soberba Glauce Rocha nesse filme, como os de Anecy Rocha em Brasil ano 2000, de Walter Lima Jr., colocaram na tela já no primeira dia da Mostra, além da coincidências de duas “Rochas” – ainda que sem parentesco -, a arte e o talento de duas grandes atrizes brasileiras. 

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Sala 
 Betty Faria
Com amor profundo pelo cinema, premiada em vários festivais no Brasil e no exterior