Ano 20

13a Cineop - Quarto Dia

Exibição de Fevereiros (2017), de Marcio Debelian, no Cine Praça - Crédito: Leo Lara
Há muito que publicações sobre o cinema deixou de ser um problema, sobretudo sobre o cinema brasileiro. A Cineop sempre abriu espaço para lançamentos de livros em sua programação, e nessa 12a edição não foi diferente. 

No domingo, 17, no Centro de Convenções, foram lançados cinco títulos: Elogio da Escola, de Jorge Larrosa; Filmes históricos no ensino de História, de Arthur Versiani Machado; História em Movimento: Os Cinejornais em Minas Gerais, de Isabel Cristina Felipe Beirigo; Pessoas com necessidades especiais no cinema, vários organizadores; Ver e ver como - Cinema, filmes e cineastas marcantes, de Humberto Pereira da Silva.

Há de se lamentar o fato de Nova História do Cinema Brasileiro: Novos enfoques, materiais e perspectivas, organizado por Fernão Ramos e Scheila Schvarzman, não terem ficados prontos, ainda que tenha acontecido um debate sobre a publicação em dois volumes.

Os Fevereiros de Maria Bethânia

A majestosa Praça de Tiradentes é, tradicionalmente, o palco paro o Cine Praça da Cineop. Nessa 13a edição exibiu curtas e longas, e, dentre eles, o exuberante Fevereiros, de Márcio Debelian.

Fevereiros tem como ponto de partida o samba-enredo da Mangueira sobre Maria Bethânia, que sagrou-se vencedora no desfile das escolas no Sambródomo, no Rio de Janeiro.

A partir disso, o filme traça e refaz todo um caminho de Santo Amaro da Purificação até o Rio de Janeiro, da mesma forma como Tia Ciata tinha saído da Bahia para o Rio de Janeiro, levando consigo as raízes do samba.

No caminho de Bethânia, está a música e está, tão imbricado nela e de forma tão orgânica, sua formação, devoção e prática religiosa formada pela junção entre o catolicismo e o candomblé.

Se um dos discos de Maria Bethânia se chama Dezembros, cuja música título foi composta para ela por Tom Jobim e Chico Buarque, que sinaliza o mês em que, normalmente, os grandes artistas, como ela, lançavam seus novos trabalhos, em Fevereiros o mês de destaque é outro.

E fevereiro é o mês preferido da cantora, que, segundo suas palavras, custe o custar, sempre está e estará presente em Santo Amaro, pois é data dos festejos religiosos da cidade, quando se celebra Nossa Senhora, por quem tem profunda devoção.

Sobre o mês, Bethânia faz confissões deliciosas: "Tudo de bonito que compro, tudo que escolho, eu separo para fevereiro". "Eu nunca fui à Lavagem do Bonfim, eu nunca fui ao Dois de Fevereiro em Salvador, exatamente porque as datas batem com a da festa em Santo Amaro. E nessa data eu sempre estou aqui". "Nosso pai nunca permitiu que saíssemos de Santo Amaro em fevereiro por causa da festa", "A festa começa em janeiro e termina no dia 2. São só dois dias em fevereiro, mas a gente saúda fevereiro, porque dia 2 é data dela, de Nossa Senhora".

É muito tocante a forma como Bethânia, e o filme, fala sobre essa questão religiosa. O papel de Dona Canô nessa formação, como ela se dá com a ausência da mãe, depois de sua morte, e que para ela está sempre presente: "Nós reverenciamos nossos mortos. Sempre. E fazemos isso com alegria".

Fevereiros tem imagens lindas, tanto das festas religiosas em Santo Amaro, do catolicismo e do candomblé, como também da cidade em si, que vira quase uma personagem.

Lindas também são as imagens que circundam o campeonato da Mangueira, desde os preparativos nos barracões e a escolha do samba-enredo, até o desfile no Sambodromo.

E lindas aqui não só entendias esteticamente no sentido imediato, mas na junção de que estética e ética são a mesma coisa. Ou seja, a estética exuberante de Fevereiros não está no formato beleza padrão cartão postal, e sim por revelar e potencializar toda a beleza de um povo, suas crenças, suas manifestações. De seu ser e estar no mundo.

Outro fator positivo do filme é a opção por não abusar de depoimentos. São poucos além da própria Bethânia, e, dentre eles, um Caetano Veloso em estado de graça com colocações pertinentes e, muitas vezes, divertidas.

Fevereiros dá conta de todo um Brasil profundo personificado por Maria Bethânia, uma artista que faz de seu lugar ancestral no mundo, e, particularmante, no Brasil e em Santo Amaro, uma ode à cultura negra e a cultura indígena, fazendo de sua arte uma arte realmente popular.

Maria Bethânia é uma artista essencialmente popular da música e da cultura brasileira. E Fevereiros dá conta desse signo em suas mais profundas matizes e reverberações. Uma beleza!

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A 13a Cineop vai até o dia 18 de junho
Programação completa no site
www.cineop.com.br

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Sala 
 Betty Faria
Com amor profundo pelo cinema, premiada em vários festivais no Brasil e no exterior