22a Mostra de Tiradentes - Temporada e Ilha
Cena de Temporada, de André Novais Oliveira
A programação de longas da noite sábado, 19, da 22a Mostra de Cinema de Tiradentes, foi especial: Temporada, de André Novais; e Ilha, de Glenda Nicácio e Ary Rosa.
No domingo, durante o Seminário Encontro com os Filmes, indagado por um rapaz do público, que assinalou que via André Novais como um cronista, o cineasta não titubeou:
- Sim. O que me interessa é o cotidiano. E desejo, cada vez mais, radicalizar meu cinema nesse sentido.
E é esse cinema do cotidiano que quem acompanha os filmes do cineasta e que o público pode ver na tela do Cine Tenda com a exibição de Temporada.
Como se sabe, o filme acompanha a trajetória de Juliana, a protagonista. E, na verdade, com isso, elege como foco não é só ela, como toda uma galeria de personagens, a partir da relação dela com eles.
Juliana está em momento hiato na vida, acabou de ser chamada para um trabalho de agente de combate a endemias via concurso em uma outra cidade, e, com isso, vem do interior mineiro, Itaúna, para Contagem, região metropolitana de Bel Horizonte.
Na outra cidade ficou a relação difícil com os homens de sua vida: o marido e o pai. E enquanto aguarda o marido que nunca aparece, vai refazendo sua vida ao lado dos colegas de trabalho.
Como no escritor russo Anton Tchekhov, famoso pela maestria da escrita, e da qual, mais de uma vez, se dizia que nada aconteceu, mas Tudo aconteceu,o cinema de Novais Oliveira é dessa cepa. Em cada filme seu, toda uma vida acontece. Na verdade, não toda uma vida, e sim a Vida.
E só mesmo quem se distancia cada vez mais do humanismo, e no mundo utilitário de hoje são hordas de gente assim, não é capaz de ver o fluxo contínuo de acontecimentos, e as consequências deles, que Juliana vivencia, e o quanto de movimento a personagem faz em sua temporada.
Grace Passô imprime em Juliana um tônus tão impressionante em sua composição de sua personagem, que faz com que Juliana, sofisticadamente construída pelo roteiro e pela direção, ganhe ainda mais nuances, e ainda mais complexas.
A Juliana de André e de Grace é a Juliana invisibilizada pelas grandes e pequenas cidades, Aquelas que, para muitos, são as que teimam em viver com suas, acreditam, miserabilidades. Ainda que saibamos, e eles fingem não saber, que invisíveis, e miserabilíssimas, são essas cidades, grandes ou pequenas.
E que o grande é ela. E que o grande são todos aqueles personagens. Como o grande é o cinema de Novais.
Temporada é um momento precioso do cinema brasileiro contemporâneo, esse cinema que, desde sua origem, luta contra a invisibilidade, e do qual André Novais Oliveira se tornou um de seus mais reluzentes e humanistas faróis.
E, maior que tudo, a despeito de tudo e do quanto querem nos silenciar, como muitas vezes na história desse país, um farol que vem da negritude.
E, por isso, um farol fundador.
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Exibido na Mostra Corpos Adiante, Ilha, de Ary Rosa e Glenda Nicácio, coloca em cena dois personagens aparentemente antagônicos: um cineasta e um traficante.
Na trama, o traficante sequestra um famoso cineasta baiano para que ele faça um filme sobre a vida dele. E quanto mais o cineasta se recusa, mais o traficante se mostra irredutível.
Com o passar da história, aprendemos a não mais os identificar assim.
E aí acompanhamos, os embates de Emerson, o sequestrador, e Henrique, o sequestrado, em suas vivências, memórias, e as consequências não apenas do que fazemos em nossas vidas, mas, sobretudo, aquelas que nos impõem a despeito de nossos sonhos e de nossas vontades.
Aldri Anunciação e Renan Motta, respectivamente, Henrique e Emerson, fazem de suas entregas aos personagens um convite irrecusável para que acompanhamentos essa história dura, triste, trágica e humaníssima. Ainda que o roteiro tropece em alguns momentos, notadamente na introdução desenecessária de um personagem como signo, Ary Rosa e Glenda Nicácio confirmam, com a Ilha, que são cineastas realmente a não se perder de vista.
E, como em Temporada, de André Novais Oliveira, a importância e a beleza em ver a negritude em cena como protagonista.
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22a Mostra de Cinema de Tiradentes - De 18 a 26 de janeiroProgramação completwww.mostratiradentes.com.br
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E, como em Temporada, de André Novais Oliveira, a importância e a beleza em ver a negritude em cena como protagonista.