Ano 20

14a Cineop - A Mulher da Luz Própria

Cena de "A Mulher da Luz Própria" (2019), de Sinai Sganzerla, em exibição no Cine Vila Rica
Um dos longas mais esperados da 14a Cineop - Mostra de Cinema de Ouro Preto, A Mulher da Luz Própria (2019), de Sinai Sganzerla, foi exibido no sábado, 8, no Cine Vila Rica, na Mostra Contemporânea.

Em cena ela, A Mulher de Todos, Sônia Silk, Angela Carne e Osso. A atriz e diretora Helena Ignez, e mãe de Sinai.

O quue é uma biografia? É contar onde nasci? É falar sobre os filmes que fiz? Indaga Helena Ignez, foco do longa, logo no início. E a Mulher da Luz Própria faz isso, pois é do estilo não só das biografias, mas da própria Sinai, vide seu longa anterior, O Desmonte do Monte, de narrativa didática. E, o melhor, faz muito mais.

Helena Ignez é, com certeza, uma das atrizes mais importantes e notáveis da história do cinema brasileiro. É também uma cineasta de grande talento. E, mais que tudo, Helena extrapola a condição de atriz, de cineasta, ou mesmo de musa, termo reducionista para o seu tamanho. Helena é paradigma, é caminho, é luz, é indicativo na arte da representação.

A Mulher da Luz Própria tenta dar conta disso tudo, colocando os dados biográficos em cena, os filmes, e, sabiamente, evita o manjado recurso dos depoimentos. 

E, ótimo recurso, refaz caminhos, como a vivência de Helena como Hare Krishina, que resulta em uma das cenas mais imagéticas  do filme, em que ela com a vestimenta adentra o mar mantendo pendurada no braço uma sacola onde se lê Bertold Brecht, imagem por si só  deflagradora de significados e significantes, como é a própria focalizada.

Dentre inúmeras falas, chama a atenção seu relato despido de afeto e com temperatura dura  sobre sua relação com Glauber Rocha, ex-marido e com quem fez um único filme, o vanguardista curta Pátio (1959).

Pelas suas palavras, pode-se ver o quanto de dor essa relação provocou em sua vida: o desquite, a perda da guarda da filha, hoje cineasta e produtora, Paloma Rocha; a ausência de convites dos amigos de Glauber para atuar logo após a separação - cita Olney São Paulo como uma das exceções, com quem filmou O grito da Terra (1964), "Sempre foi meu amigo, os outros não tinham coragem de me chamar".

Como se sabe, Rogério Sganzerla, com quem ficou casa até a morte dele e com quem escreveu capítulo essencial na história do cinema brasileiro com os filmes que fizeram e a produtora Belair  (junto com Julio Bressane), é o grande amor da sua vida.  E o filme reitera isso.

No entanto, mesmo aí ela faz uma observação inesperada e desconhecida, ao contar que vendeu um apartamento para que o filme Abismu (1977), protagonizado por Norma Bengell e dirigido por Rogério, fosse realizado e ainda assim seu nome não consta no filme como produtora.

A Mulher da Luz Própria é um filme que consegue falar de uma artista desconcertante sem cair na armadilha do didatismo e sem também mergulhar fundo no experimentalismo, uma das marcas da trajetória de Helena no cinema.

Ainda assim, dá conta de decifrar ou, pelo menos, lançar luzes para parte do signo que Helena Ignez é, tanto para o cimema como para a cultura todo um país.

Curtas

No mesmo dia, durante a tarde no Cine Vila Rica, foi a vez de conferir mais uma edição da Mostra Histórica com a exibição de quatro curtas.

Uma das marcas da curadoria dessa seleção da mostra histórica é a diversidade das origens das produções, o que está totalmente sintonizado com a temática central da !4 Cineop, que é a discussão sobre Territórios.

Os curtas apresentados foram realizados no Rio de Janeiro, Paraná e Piauí - os exibidos na sexta, e conferidos e registrados pelo Mulheres, vieram de Minas Gerais, Distrito Federal, Paraná e São Paulo.

Foram exibidos no sábado Malandro, termo civilizado ou Malandrando (1987/2018), de Sylvio Lanna; Aluminosa espera do apocalipse, de Rui Vezzaro , Fernando Severo e Peter Lorenzo; Cinemação curtametralha, de Sérgio Péo; e O pagode de Amarante, de Dácia Ibiapina.


***********

14a Cineop - Mostra de Cinema de Ouro Preto
Programação completa
www.cineop.com.br

::Voltar
Sala 
 Betty Faria
Com amor profundo pelo cinema, premiada em vários festivais no Brasil e no exterior