Ano 20

9 Olhar de Cinema - Mirada Paranaense Curtas

Cena de A mulher que sou (2019), dirigido por Nathália Tereza
Entre as várias mostras que o 9o. Olhar de Cinema - Festival Internacional de Curitiba está apresentando na sua programação de 78 filmes, entre curtas e longas -, desde o dia 7 e vai até o dia 15 de outubro de 2020 -, está a Mostra Mirada Paranaense.

Como o próprio nome indica, a Mostra é formada por produção do Paraná, estado natal do Festival, e que apresenta 10 curtas- metragens:

Além de Tudo, Ela (Brasil, 2019, 10 min.), de Pedro Vigeta Lopes, Pâmela Regina Kath, Mickaelle Lima Souza, Lívia Zanuni
Aonde Vão os Pés (Brasil, 2020, 14 min.), de Débora Zanatta
Cancha - Domingo é dia de jogo (Brasil, 2020, 18 min.), de Welyton Crestani
Cor de Pele (Brasil, 2019, 3 min.), de Larissa Barbosa
E no rumo do meu sangue (Brasil, 2019, 4 min.), de Gabriel Borges
Exumação da Arte (Brasil, 2020, 14 min.), de Maurício Ramos Marques
Meia Lua Falciforme (Brasil, 2019, 22 min.), de Dê Kelm e Débora Evellyn Olimpio
A Mulher que Sou (Brasil, 2019, 15 min.), de Nathália Tereza
Napo (Brasil, 2020, 17 min.), de Gustavo Ribeiro
Seremos Ouvidas (Brasil, 2020, 13 min.), de Larissa Nepomuceno

O site Mulheres do Cinema Brasileiro assistiu a todos os filmes, e, de imediato, chama atenção a diversidade de enfoques presentes na seleção, ainda que o foco preponderante seja sobre as minorias: mulheres, negritude, LGBTQI, futebol de várzea, periferia. A partir desses filmes, a seleção permite um breve, ainda que possivelmente, recorte bem representativo da cena cinematográfica local.

Dessa forma, os filmes vão do experimentalismo em Exumação da Arte, de Maurício Ramos Marques, à animação Napo, de Gustavo Ribeiro; do documentário de resgate histórico de personagem negra Além de Tudo, Ela, de Pedro Vigeta Lopes, Pâmela Regina Kath, Mickaelle Lima Souza, Lívia Zanuni; da violência sobre a mulher negra em Cor de Pele, de Larissa Barbosa, à denúncia sobre a exclusão de acessibilidade para as mulheres surdas em Seremos Ouvidas; do documentário sobre a doença falciforme e o racismo em Meia Lua Falciforme, de Dê Kelm e Débora Evellyn Olimpio; do uso de material de arquivo sobre a representação do negro pelo cinema em E no rumo do meu sangue, de Gabriel Borges, ao universo do futebol em Cancha - Domingo é dia de jogo (Brasil, 2020, 18 min.), de Welyton Crestani; das buscas e formação de personagem da comunidade LGBTQI em Aonde Vão os Pés, de Débora Zanatta, à busca do amor e do prazer em A Mulher que Sou, de Nathália Tereza.

Os destaques vão, sobretudo, para três filmes: Meia Lua Falciforme, Aonde Vão os Pés, e  A Mulher que Sou.

Meia Lua Falciforme, de Dê Kelm e Débora Evellyn Olimpio, é documentário de formato padrão, e que coloca foco em tema importante, relevante, e pouquíssimo abordado: a doença falciforme e sua relação com o racismo, já que afeta mulheres e homens negros. 

Hereditária, a falciforme é alteração genética no sangue que desencadeia enfermidades com processos de dores profundas. O filme não só escuta pacientes e especialistas sobre o assunto, como, a partir dessas falas, revela-nos toda uma política de estado racista de saúde pública, que permeia o universo de  tratamentos, prevenções, medicação, transplantes.

Meia Lua Falciforme é filme que se impõe, pois em nenhum momento se resvala em sensacionalismo ou sentimentalismo, compondo um documento de denúncia ao mesmo tempo em que dá voz aqueles que a política de Estado e os racistas, sobretudo os que detém o poder, querem invisibilizar.

Aonde Vão os Pés, de Débora Zanatta, é sobre quase um acerto de contas entre uma filha e sua mãe, a partir das evocações de um álbum de fotos infantis e as questões de gênero suscitadas, que já ecoavam naquela menina, a protagonista, e agora permeiam sua vida adulta.

Entre as lembranças, está, no centro da narrativa, um dia  de diversão e de aventuras da garota, primeiro com a amiga em um bar regado à partidas de sinuca, músicas de karaoké e extroversão com os demais frequentadores. Depois, a visita íntima à casa, e ao quarto, de uma mulher mais velha, como uma iniciação sexual ou reafirmação concreta de seu desejo.

Aonde Vão os Pés é filme que celebra, sobretudo, a liberdade do corpo e da vivência de escolhas. E ainda conta com ótimas interpretações de seu elenco feminino,  com Thalita Maia  vivendo a protagonista e imbuída de tônus perfeito para a personagem, em misto de sentimentos que afloram com intensidade e verdade.

A Mulher que Sou, de Nathália Tereza, é filme que aposta na vida, a partir da história de Marta,  uma mulher que visita um apartamento para compra com a filha adolescente na nova cidade, corresponde ao flerte do corretor, e parte em busca da consolidação do seu desejo.

Protagonizado por Cássia Damasceno e Renato Novaes, em composições rigorosas e orgânicas para seus personagens, o filme trata seu foco com leveza, ainda que todos os subtextos e intenções estejam visíveis, e nunca escamoteados, em suas frestas.

Assim como em Aonde vãos os pés, aqui também, em A mulher que sou há uma celebração da liberdade do corpo, ainda que a direção se intimide na forma como o aborda na relação sexual, com o efeito poético esvaziando, um pouco, o que havia de pulsão construída até então. Ainda assim, A mulher que sou é filme que mantém o interesse.


*************************


Serviço
9º Olhar de Cinema - Festival Internacional de Curitiba
De 7 a 15 de outubro - filmes exibidos e programação completa no 
site olhardecinema. com.br
Ingresso: R$ 5 por filme

::Voltar
Sala 
 Betty Faria
Com amor profundo pelo cinema, premiada em vários festivais no Brasil e no exterior