9 Olhar de Cinema - Novos Olhares Longas
Fátima Muniz em cena de Pajeú (2020), dirigido por Pedro Diógenes
É da Mostra Novos Olhares do 9o. Olhar de Cinema - Festival Internacional de Curitiba, um dos melhores longas brasileiros da da programação: Pajeú, dirigido por Pedro Diógenes. O Mulheres do Cinema Brasileiro conferiu também os outros dois bons filmes: Agora, de Dea Ferraz, e Los conductos, de Camilo Restrepo.
Pajeú (Brasil, 2020, 74 min.), de Pedro Diógenes, é uma produção de Fortaleza, Ceará, distribuída pela Embáuba Filmes. Em cena, um espelhamento muito bem construído entre a protagonista, Maristela, e o riacho Pajeú, outrora rio caudaloso que cruzava a capital cearense.
Maristela é assaltada por pesadelos constantes, em que vê uma criatura misteriosa, uma referência indígena, submergindo das águas fétidas do Riacho Pajeú, como se a pedir socorro em contorções de dor, sufoco e aprisionamento. O que poderia ser apenas maus sonhos vai tomando proporções paralisantes na vida da personagem, que cruza então a cidade de ponta para conhecer a história do riacho e, talvez daí, entender o que está acontecendo consigo.
O Riacho Pajeú, que já foi rio, e principal da cidade, agora está quase todo canalizado e virou despejo de esgoto. Ele literalmente desapareceu, em grande medida, não só da cidade, mas da memória de seus moradores, sobretudo os jovens. Maristela também, em crise emocional e existencial, sente que pode desaparecer, assim como pode acontecer com seus amigos, e a angústia da criatura faz eco em sua própria vida e existência. Sangra o rio e sangra ela, em espasmos que dilaceram.
Pajeú é uma beleza de filme. A direção e o roteiro são assinados por Pedro Diógenes, que mantem seu filme em interesse cada vez mais crescente, seja pela narrativa, pelas aparições da criatura misteriosa, pelos planos elaborados, pela saga de sua protagonista. E a jovem atriz Fátima Muniz incorpora sua personagem com tanta propriedade, que sofremos, angustiamos e exasperamos junto com ela.
A relação de Maristela com o amigo que divide casa é também um bálsamo a impregnar a narrativa, e os dois trocam afetos, assim como também expressam sentimentos pelo corpo, pelo canto, pela dança. E quando Maristela retoma no karaokê um lugar de ausência, temos uma de tantas cenas impactantes e cheias de sentido.
Agora (Brasil, 2020, 70 min.), dirigido por Dea Ferraz é outro belo filme da mostra. No filme, vários artistas e militantes são convidados a expressarem com o corpo o momento atual do país. Dessa forma, sentimentos como opressão, angústia, desespero, e também racismo, enfrentamento e denúncia configuram-se em movimentos.
Se o filme é econômico em cenário, só um palco com iluminação reduzida, suas proposições são gigantes. O foco, sobretudo nos corpos, redimensionam estados, percepções e formulações. A direção apresenta interferências a partir da fala de uma mulher, a diretora, com os participantes, e realiza ângulos impactantes, com zoons e closes nunca periféricos, mas como elementos de propagação, suspensão e ressignificação.
Agora é uma realização madura, segura, rigorosa. E faz cinema de altíssima cepa.
Los conductos (Colômbia/França/Brasil, 2020, 70 min.), de Camilo Restrepo, é uma coprodução Colômbia, França e Brasil. O cineasta é colombiano e esse é seu primeiro longa. Em cena, um jovem chamado Pink e sua jornada, que passa pela busca de redenção, enfrentamento, desilusão.
Pink já foi de uma seita religiosa, onde, aparentemente, encontrou seu repouso do guerreiro, até descobrir que, na verdade, repouso não há. A partir daí, rompe violentamente com seus pares e protagoniza jornada em convulsão pelas ruas e matas de Medéllin.
Camilo Restrepo, que também assina o roteiro, nos conduz com seu personagem, um desgarrado descrente em saídas possíveis. De um lado, um Estado corrupto e alheio aos interesses coletivos, a não ser em sua manutenção de poder a perpetuação do grande negócio. Do outro, um vazio existencial marcado por rupturas profundas e sentimentos de ultraje e desesperança.
Protagonizado por Luis Felipe Lozano, a alma do filme, já que toda a narrativa se dá em torno de seu personagem, Los Conductos é filme impregnado de estado de urgência. E o pesadelo de seu personagem acaba por se instaurar também do lado de cá, já que o mostrado faz eco e se torna indesviável.
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Serviço9º Olhar de Cinema - Festival Internacional de CuritibaDe 7 a 15 de outubro - filmes exibidos e programação completa no site olhardecinema. com.brIngresso: R$ 5 por filme
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Pajeú (Brasil, 2020, 74 min.), de Pedro Diógenes, é uma produção de Fortaleza, Ceará, distribuída pela Embáuba Filmes. Em cena, um espelhamento muito bem construído entre a protagonista, Maristela, e o riacho Pajeú, outrora rio caudaloso que cruzava a capital cearense.
Maristela é assaltada por pesadelos constantes, em que vê uma criatura misteriosa, uma referência indígena, submergindo das águas fétidas do Riacho Pajeú, como se a pedir socorro em contorções de dor, sufoco e aprisionamento. O que poderia ser apenas maus sonhos vai tomando proporções paralisantes na vida da personagem, que cruza então a cidade de ponta para conhecer a história do riacho e, talvez daí, entender o que está acontecendo consigo.
O Riacho Pajeú, que já foi rio, e principal da cidade, agora está quase todo canalizado e virou despejo de esgoto. Ele literalmente desapareceu, em grande medida, não só da cidade, mas da memória de seus moradores, sobretudo os jovens. Maristela também, em crise emocional e existencial, sente que pode desaparecer, assim como pode acontecer com seus amigos, e a angústia da criatura faz eco em sua própria vida e existência. Sangra o rio e sangra ela, em espasmos que dilaceram.
Pajeú é uma beleza de filme. A direção e o roteiro são assinados por Pedro Diógenes, que mantem seu filme em interesse cada vez mais crescente, seja pela narrativa, pelas aparições da criatura misteriosa, pelos planos elaborados, pela saga de sua protagonista. E a jovem atriz Fátima Muniz incorpora sua personagem com tanta propriedade, que sofremos, angustiamos e exasperamos junto com ela.
A relação de Maristela com o amigo que divide casa é também um bálsamo a impregnar a narrativa, e os dois trocam afetos, assim como também expressam sentimentos pelo corpo, pelo canto, pela dança. E quando Maristela retoma no karaokê um lugar de ausência, temos uma de tantas cenas impactantes e cheias de sentido.
Agora (Brasil, 2020, 70 min.), dirigido por Dea Ferraz é outro belo filme da mostra. No filme, vários artistas e militantes são convidados a expressarem com o corpo o momento atual do país. Dessa forma, sentimentos como opressão, angústia, desespero, e também racismo, enfrentamento e denúncia configuram-se em movimentos.
Se o filme é econômico em cenário, só um palco com iluminação reduzida, suas proposições são gigantes. O foco, sobretudo nos corpos, redimensionam estados, percepções e formulações. A direção apresenta interferências a partir da fala de uma mulher, a diretora, com os participantes, e realiza ângulos impactantes, com zoons e closes nunca periféricos, mas como elementos de propagação, suspensão e ressignificação.
Agora é uma realização madura, segura, rigorosa. E faz cinema de altíssima cepa.
Los conductos (Colômbia/França/Brasil, 2020, 70 min.), de Camilo Restrepo, é uma coprodução Colômbia, França e Brasil. O cineasta é colombiano e esse é seu primeiro longa. Em cena, um jovem chamado Pink e sua jornada, que passa pela busca de redenção, enfrentamento, desilusão.
Pink já foi de uma seita religiosa, onde, aparentemente, encontrou seu repouso do guerreiro, até descobrir que, na verdade, repouso não há. A partir daí, rompe violentamente com seus pares e protagoniza jornada em convulsão pelas ruas e matas de Medéllin.
Camilo Restrepo, que também assina o roteiro, nos conduz com seu personagem, um desgarrado descrente em saídas possíveis. De um lado, um Estado corrupto e alheio aos interesses coletivos, a não ser em sua manutenção de poder a perpetuação do grande negócio. Do outro, um vazio existencial marcado por rupturas profundas e sentimentos de ultraje e desesperança.
Protagonizado por Luis Felipe Lozano, a alma do filme, já que toda a narrativa se dá em torno de seu personagem, Los Conductos é filme impregnado de estado de urgência. E o pesadelo de seu personagem acaba por se instaurar também do lado de cá, já que o mostrado faz eco e se torna indesviável.
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Serviço
9º Olhar de Cinema - Festival Internacional de Curitiba
De 7 a 15 de outubro - filmes exibidos e programação completa no
site olhardecinema. com.br
Ingresso: R$ 5 por filme