9 Olhar de Cinema - Outros Olhares Longas
Cena de O índio Cor de Rosa contra a fera invisível: A peleja de Noel Nutels, dirigido por Tiago de Almeida.
O 9o. Olha de Cinema - Festival Internacional de Curitiba apresentou, de 7 a 15 de outubro de 2020, uma programação extensa em várias mostras de filmes independentes, curtas e longas, de vários países.
Na Mostra Outros Olhares apresentou três longas brasileiros: O Reflexo do Lago (Brasil, 80 min.), de Fernando Segtowick; O índio Cor de Rosa contra a fera invisível: A peleja de Noel Nutels (Brasil, 71 min.), de Tiago de Almeida; A Flecha e a Farda ( Brasil, 90 min.), de Miguel Antunes Ramos.
Ao assistir aos três filmes, uma tristeza vai se agigantando por constatarmos, outra vez, outra vez, e outra vez mais, o quanto o Brasil acaba com Brasil e os brasileiros. E quando o foco é sobre os povos originários, aí é estar de frente a um genocídio ainda mais cruel.
O índio Cor de Rosa contra a fera invisível: A peleja de Noel Nutels, de Tiago de Almeida, e A Flecha e a Farda, de Miguel Antunes Ramos, são dois filmes notáveis. O primeiro sobre o testemunho, em fala e em imagens, do médico sanitarista Noel Nutels; o segundo sobre indígenas recrutados pelo exército militar na década de 1970.
O índio Cor de Rosa contra a fera invisível: A peleja de Noel Nutels é registro histórico acachapante do médico sanitarista que atendeu, durante duas décadas, os povo indígenas e testemunhou aquele povo e aquela cultura serem dizimados continuamente como política de Estado.
Nutels registrou em filmes muitas de suas missões em territórios indígenas, e enquanto vamos assistindo à essas poderosas imagens vamos também escutamos seu dilacerante depoimento de denúncia sobre a situação dos indígenas ao Congressos durante a ditadura civil-militar.
O índio Cor de Rosa contra a fera invisível: A peleja de Noel Nutels, nos seus impressionantes 71 minutos, dá conta de apresentar não só essa tragédia sem fim, desde a invasão em 1500 até os dias de hoje, como também ser documento do fracasso do Brasil como nação.
A Flecha e a Farda, de Miguel Antunes Ramos, também recupera um registro audiovisual de outro massacre dos povos indígenas, aqui a partir da violência sobre sua cultura. Em 1970, indígenas de várias etnias e tribos foram recrutados pelo exército para compor A GRIM, Guarda Rural Indígena.
As imagens estavam perdidas no tempo, até serem descobertas em 2012 nos arquivos da FUNAI. São imagens silenciosas que mostram a formatura desses indígenas em cerimônia assistida por autoridades da ditadura. Essa GRIM era coordenada pelo comandante mineiro Pinheiro, homem cruel e acusado pelo Comissão da Verdade.
A Flecha e a Farda intercala as imagens dos filmes com os depoimentos de vários ex-integrantes indígenas, que, em tese, teriam sido recrutados para serem capacitados e treinados para defenderem seus territórios, mas, na verdade, foram transformados em verdadeiros milicianos contra suas próprias comunidades.
A Flecha e a Farda é mais um capítulo de violência sobre o povo indígena, desde sempre aviltado em sua dignidade, compondo, assim como em O Índio cor de rosa, uma radiografia precisa desse estado de coisas sangrento e permanente até os dias de hoje. Um filme impressionante.
O Reflexo do Lago, de Fernando Segtowick, também busca no passado o processo de implementação de miserabilidade do estado brasileiro sobre seu povo e seu habita natural, a partir dos impactos da construção da Usina hidrelétrica Turcurí.
Construída durante a ditadura-civil militar, a hidrelétrica paraense alterou todo o seu entorno com o lago artificial que gerou, destruindo a natureza e criando ilhas, com seus moradores sem acesso a serviços básicos, como a própria energia elétrica.
O tema de O Reflexo do Lago é importantíssimo, assim como os outros dois filmes da Mostra, mas suas opções estéticas, por vezes, quase retiram do cerne da questão que enfoca o que realmente importa. Todo filmado em p&b e com imagens grandiosas, o filme constrói imagens belas, mas que, muitas vezes, parecem calculadas demais, depuradas demais, o que tira, um pouco a sua força, ainda que não diminua a relevância de seu tema.
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Serviço9º Olhar de Cinema - Festival Internacional de CuritibaDe 7 a 15 de outubro - filmes exibidos e programação completa no site olhardecinema. com.brIngresso: R$ 5 por filme
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Ao assistir aos três filmes, uma tristeza vai se agigantando por constatarmos, outra vez, outra vez, e outra vez mais, o quanto o Brasil acaba com Brasil e os brasileiros. E quando o foco é sobre os povos originários, aí é estar de frente a um genocídio ainda mais cruel.
O índio Cor de Rosa contra a fera invisível: A peleja de Noel Nutels, de Tiago de Almeida, e A Flecha e a Farda, de Miguel Antunes Ramos, são dois filmes notáveis. O primeiro sobre o testemunho, em fala e em imagens, do médico sanitarista Noel Nutels; o segundo sobre indígenas recrutados pelo exército militar na década de 1970.
O índio Cor de Rosa contra a fera invisível: A peleja de Noel Nutels é registro histórico acachapante do médico sanitarista que atendeu, durante duas décadas, os povo indígenas e testemunhou aquele povo e aquela cultura serem dizimados continuamente como política de Estado.
Nutels registrou em filmes muitas de suas missões em territórios indígenas, e enquanto vamos assistindo à essas poderosas imagens vamos também escutamos seu dilacerante depoimento de denúncia sobre a situação dos indígenas ao Congressos durante a ditadura civil-militar.
O índio Cor de Rosa contra a fera invisível: A peleja de Noel Nutels, nos seus impressionantes 71 minutos, dá conta de apresentar não só essa tragédia sem fim, desde a invasão em 1500 até os dias de hoje, como também ser documento do fracasso do Brasil como nação.
A Flecha e a Farda, de Miguel Antunes Ramos, também recupera um registro audiovisual de outro massacre dos povos indígenas, aqui a partir da violência sobre sua cultura. Em 1970, indígenas de várias etnias e tribos foram recrutados pelo exército para compor A GRIM, Guarda Rural Indígena.
As imagens estavam perdidas no tempo, até serem descobertas em 2012 nos arquivos da FUNAI. São imagens silenciosas que mostram a formatura desses indígenas em cerimônia assistida por autoridades da ditadura. Essa GRIM era coordenada pelo comandante mineiro Pinheiro, homem cruel e acusado pelo Comissão da Verdade.
A Flecha e a Farda intercala as imagens dos filmes com os depoimentos de vários ex-integrantes indígenas, que, em tese, teriam sido recrutados para serem capacitados e treinados para defenderem seus territórios, mas, na verdade, foram transformados em verdadeiros milicianos contra suas próprias comunidades.
A Flecha e a Farda é mais um capítulo de violência sobre o povo indígena, desde sempre aviltado em sua dignidade, compondo, assim como em O Índio cor de rosa, uma radiografia precisa desse estado de coisas sangrento e permanente até os dias de hoje. Um filme impressionante.
O Reflexo do Lago, de Fernando Segtowick, também busca no passado o processo de implementação de miserabilidade do estado brasileiro sobre seu povo e seu habita natural, a partir dos impactos da construção da Usina hidrelétrica Turcurí.
Construída durante a ditadura-civil militar, a hidrelétrica paraense alterou todo o seu entorno com o lago artificial que gerou, destruindo a natureza e criando ilhas, com seus moradores sem acesso a serviços básicos, como a própria energia elétrica.
O tema de O Reflexo do Lago é importantíssimo, assim como os outros dois filmes da Mostra, mas suas opções estéticas, por vezes, quase retiram do cerne da questão que enfoca o que realmente importa. Todo filmado em p&b e com imagens grandiosas, o filme constrói imagens belas, mas que, muitas vezes, parecem calculadas demais, depuradas demais, o que tira, um pouco a sua força, ainda que não diminua a relevância de seu tema.
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Serviço
9º Olhar de Cinema - Festival Internacional de Curitiba
De 7 a 15 de outubro - filmes exibidos e programação completa no
site olhardecinema. com.br
Ingresso: R$ 5 por filme