Jazz Orimauá - Morro das Pedras / Karine Bassi - Barreiro
Depois de recuar nas aberturas de suas mostras, a Universo Produção parece que voltou a apostar em suas performances audiovisuais.
É o que propôs o evento de abertura da 15a Mostra CineBH - Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte, cuja performance foi apresentada ainda há pouco.
Tradutora e propulsora da temática central dessa 15a edição, "Cinema e Vigilância", a performance audiovisual reuniu artistas periféricos de Belo Horizonte, fazendo-nos perceber, cada vez mais, que são a partir desses corpos e dessas falas que a cidade ainda pulsa em tônus de reais possibilidades para uma possível sobrevivência.
E sobrevivência aqui não apenas no sentido individual ou até mesmo coletivo, mas sobrevivência à barbárie instalada, tantos pelas escolhas autofágicas que esse rascunho de nação tomou para si, como para cada um de nós, seja como cúmplices ou sujeitos conscientes e/ou coniventes até a medula desse desolador estado de coisas milimetricamente tecido..
Com criação e roteiro de Chico de Paula e Raquel Hallak, direção, edição, montagem e finalização de Janaína Patrocínio, captação de imagens de Janaína Patrocínio e Dani Vasconcelos, e locução de Grazi Medrado, a performance reuniu vários artistas e coletivos.
Cia dos Anjos, Arautos do Gueto, Cia. Fusion de Danças Urbanas, Filme de Rua, A /Borda Cultural, Jazz Orimauá, Karine Bassi, Biel Albuquerque.
Como não se mover, por fora e por dentro, com a poesia urbana e urgente de Karine Bassi, do Barreiro, e de Jazz Orimauá, do Morro das Pedras?
Nessas duas mulheres, toda uma realidade, arte e grito se irrompem com força de mil tufões a varrer estados de conforto, mesquinhos privilégios e cafonices de exercícios diários de pequeno, médio e grande poder.
Aqueles a que nos submetem, aqueles a que praticamos.
Assim como também na fala desconcertamente doce, e mais certeira que mil tratados, de Biel Albuquerque. "O centro da capitalé onde os jovens mais vêm procurar socorro, e aqui é o lugar onde as pessoas mais se perdem".
Sempre que corpos periféricos, que corpos pretos, que falas dissonantes e todo essa cultura de resistência a forceps é trazida para o centro da cena, por mais que as intenções que nos trouxe possam dar margens para tratos à bola, esses corpos e essas falas são tão indomáveis, que por si só se impõem.
E ainda que o formato padrão-depoimento engesse e procure pacificar e domar, é na ribalta e no domínio do ofício que esses corpos e corpas se insurgem e transbordam sem peias, arranjos e amarras.
Do lado de cá, a gente até volta a pensar que ainda é possível.
E que a força - e se há ainda alguma saída -, está mesmo é na epiderme e nas veias abertas dessa juventude furiosa.
À Fúria de e por existir!
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15a Mostra CineBH - Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte
De 28 de setembro a 3 de outubro
Programação gratuita - exibições cinebh.com.br