Cena de A Colônia (2021), de Virgínia Pinho e Mozart Freire.
Principal destaque da Mostra de Cinema de Tiradentes, que, desde o dia 21 e vai até o dia 29, está comemorando 25 anos, a Mostra Aurora é competitiva e apresenta até terceiros longas-metragens inéditos de cineastas - outro grande destaque da programação é a Mostra Olhos Livres.
A programação da 25a Mostra, inclusive, está apresentando uma retrospectiva com 26 filmes, muitos deles ótimos momentos de edições passadas da Aurora.
O Site Mulheres do Cinema Brasileiro já conferiu dois filmes da programação inédita:
- Seguindo todos os protocolos, de Fábio Leal.
- A Colônia, de Virgínia Pinho e Mozart Freire.
Produção pernambucana, Seguindo todos os protocolos é dirigida por Fábio Leal, que também protagoniza o filme. Recentemente, Leal dirigiu junto com Gustavo Vinagre o impactante Deus tem Aids, apresentado no Festival Olhar de Cinema, e que já nasceu clássico sobre o tema.
Seguindo todos os protocolos traz para a cena um personagem - o ator/diretor -, que depois de se trancafiar como meio mundo por causa da pandemia da covid-19, não aguenta mais refrear seu desejo de fazer sexo. Meio que uma biografia de muitos de nós, sobretudo gays e/ou solteiros de todas as tribos isolados entre quatro paredes, o filme mistura no liquidificador desejo e medo, fragilidade e paranoia, individualismo e carência, amor e violência. Para além das várias questões colocadas em cena a partir dos acontecimentos, das falas e dos corpos, um dos grandes achados do filme é o retrato de um personagem humaníssimo: chato muitas vezes, comovente noutras tantas, autoritário por vezes, incoerente aqui e acolá. Seguindo todos os protocolos é filme de exposição, tanto de sexo frontal quanto do que se quer falar e tratar. Destaque para todo o elenco, inclusive com participação ótima do ator e cineasta Marcus Curvelo.
Dirigida por Virgínia Pinho e Mozart Freire, A Colônia é produção cearense. Aqui, um filme sobre os moradores e o bairro originário de uma colônia fundada nos anos 1940 para abrigar o isolamento compulsório dos doentes de hanseníase, mais conhecido à época por lepra, doença estigmatizada durante décadas. Ao acompanhar a história de alguns desses moradores, vamos conhecendo a história do lugar, a realidade atual dos sobreviventes e descendentes, assim como as marcas do passado no presente e indicadoras do futuro.
A Colônia é filme que, para além do tema importante e essencial para conhecermos capítulos fundamentais da história desse país e de como o Estado trata e conduz suas políticas, traz e embute, em cada fotograma, a dignidade no retrato de seus personagens. Afeto, alegria e respeito, apesar da dor e da luta contra esse algoz cruel, que é como o país trata seus filhos e filhas pobres e excluídos. A precariedade, o preconceito, a busca pela moradia digna, o direito à saúde e à vida são alguns dos tantos pontos urgentíssimos que constroem a tessitura desse filme, altivo de ponta a ponta.
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25a. Mostra de Cinema de Tiradentes
De 21 a 29 de janeiro de 2022
Programação gratuita e exibição on-line mostratiradentes.com.br