Kuaray Poty (Ariel Ortega) e Pará Yxapy (Patrícia Ferreira), os homenageados da 17ª Cineop - Foto: Leo Lara
A abertura da 17ª Cineop - Mostra de Cinema de Ouro Preto ontem, 23, lotou as cadeiras do Cine Praça, na Praça Tiradentes, com um público atento e respeitoso à homenagem ao cinema indígena, o grande protagonista desta edição.
A 17ª Cineop, que acontece de 22 a 27 de junho, tem programação extensa e gratuita, e sua abertura oficial levou ao palco um ritual indígena que reuniu várias etnias: "Caminhos de Pachamama".
Com direção de Chico de Paula, a abertura seduziu de cara pela ambientação impressa na grande tela do Cine Praça, em que imagens da natureza, como uma arrebatadora cachoeira - "cinema é cachoeira" -, a onça de realeza exuberante e matas, com outras tantas imagens belíssimas dos povos originários.
"O Brasil é terra indígena", saltou na tela e nos brados de afirmação de Avelin Bubuacá Kambiwá e das outras tantas vozes presentes.
A cerimônia "Caminhos de Pachamama" evocou a Mãe Terra e convidou o público a participar do ritual, em pedido de perdão, coletivo e individual, à Pachamama, pelo mal que cometemos diariamente contra ela. Como também a dançarmos em sua homenagem.
Quem aderiu ao convite, e foram muitos que se deslocaram de suas cadeiras para se juntar ao ritual, entrou no coração do ritual/manifesto. "Não estamos aqui para fazer performance, não é teatro", reafirmou Avelin. E quem esteve presente, e teve olhos para ver e coração para sentir, tenha, talvez, vivenciado, alí, o ínício, o fim e o meio de tudo.
Troféu Vila Rica
Os cineastas M’bya Guarani: Kuaray Poty (Ariel Ortega) e Pará Yxapy (Patrícia Ferreira) subiram ao palco para receberam o Troféu Vila Rica, acompanhados pelo cineasta Vicent Carelli.
Kuaray Poty (Ariel Ortega) falou sobre a trajetória cinematográfica de 15 anos iniciada no Vídeos nas Aldeias, e que sua vontade de fazer cinema foi também porque queria trazer o dia a dia indígena para as telas sem o estereótipo muitas vezes visto. "Parece que vivemos no paraíso e eu queria muito falar das nossas dificuldades e da nossa realidade".
Já Pará Yxapy (Patrícia Ferreira), que estava com o filho no colo, ressaltou que via poucas mulheres nos filmes, o que a fez pensar que, provavelmente, era porque os cineastas eram homens, daí quis trazer um novo enfoque.
Vicent Carelli, do indesviável Martírio, saudou Bicicletas de Nhanderú (2011) como um dos clássicos do cinema indígena, fato ressaltado por Ariel, que afirmou ser o filme mais visto deles.
Bicicletas de Nhanderú, dirigido por Kuaray Poty (Ariel Ortega) e Pará Yxapy (Patrícia Ferreira), foi exibido na tela majestosa do Cine Praça e confirmou esse status de clássico. Média-metragem de 48 minutos, o filme, que aborda a espiritualidade no dia a dia da aldeia, seduz de ponta a ponta, seja com personagens fascinantes como os dois garotos em estado de fúria e de divertida rebeldia - a cena sobre Michael Jackson é hilária -, ou os anciãos majestosos - a cena do "Bom descanso" é uma das mais lindas do cinema contemporâneo.
O curta-metragem Nossos Espíritos Seguem Chegando - Nhe'e Kuery Jogueru Teri (2021), dirigido por Kuaray Poty (Ariel Ortega) e Bruno Huyer, impressiona.
O filme se impõe na tela, seja pelo tema, a gravidez de Patrícia durante a pandemia da covid-19 e as reflexões aos deuses sobre o porquê de sua gravidez naquele momento e sobre a própria doença, como pelo domínio de cena e de direção na composição de planos belos e sofisticados..
Uma noite majestosa e que abriu muito bem a programação desta décima sétima edição da Cineop, mostra que enfoca o cinema como patrimônio.
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17ª Cineop - Mostra de Cinema de Ouro Preto
De 22 a 27 de junho de 2022
Programação Gratuita - cineop.com.br