Ano 21

Mostra A Mulher da Luz Própria

O termo musa justificadamente caiu em desuso, pois, muitas vezes, além de reducionista, podia conter doses de machismo e tentativa de apagamento e agente propulsor para a invisibilidade. E quando o foco é Helena Ignez, aí é que tudo cai por terra, pois Helena, muitas vezes chamada, por exemplo, de musa do Cinema Marginal, sempre foi muito mais que isso.

Helena Ignez está intrisicamente situada na própria construção do Cinema de Invenção. Só para ficarmos na seara da produções da Belair, e poderíamos elencar muitos outros momentos do cinema brasileiro, Helena instaurou toda uma estética, e personificação ética, a partir de sua presença em cena desafiadora e moderna até a medula. Nessa produções, ela e sua parceira Maria Gladys alçaram o ato de interpretar a caminhos até então inalcançaveis em seu conjunto autoral.

Agora, pela primeira vez, o público de Belo Horizonte poderá conferir em conjunto todos os filmes dirigidos por Helena, vários que contaram com suas interpretações inesquecíveis, outros que ela mesmo escolheu, participar de sessões comentadas, rodas de conversa, e, de quebra, uma oficina de atuação. Helena Ignez estará presente e participará de rodas de conversa - ver programação abaixo.

Tudo isso está reunido na Mostra A Mulher da Luz Própria: o cinema de Helena Ignez, com curadoria de Samuel Marotta e Ewerton Belico, e que acontece de 20 de março a 4 de abril, no Cinema do Centro Cultural Unimed-BH Minas, com entrada gratuita.

No material de divulgação da Mostra, Helena Ignez já desbaratina com uma fala provocativa, e inesperada pora esse Editor: “Isso é ser atriz para mim, ser atora. Eu não gosto da palavra atriz. Isso é ser ator. Ser atora".

Já a sustentação desse abre aspas é totalmente elucidativo do que ela é e sempre foi:  "É ser altamente criativo, ser um elemento vivo que dialoga com a câmera independente do diretor, não é? Então, era impossível não ser assim. Era impossível não ser performática, não ser ativa, não ser criadora, não ser autora. Isso para mim era a essência, a essência. Eu, primeiro, conheço os meus atores, sei quem são eles e são escolhidos para render. E depois é muito amor e liberdade. Só isso, grande amor e liberdade. Exigência nisso que vão fundo, que vão fundo”.

É impossível falar de filmes indesviáveis da história do cinema brasileiro sem falar de Helena Ignez. E isso vale tanto para Pátio, de Glauber Rocha, A grande feira, de Roberto Pires, O padre e a moça, de Joaquim Pedro de Andrade, Cara a cara, de Julio Bressane, e O bandido da luz vermelha, A mulher de todos, Copacabana mon amour e Sem essa aranha, dirigidos por Rogério Sganzerla - todos eles serão exibidos na Mostra. 

E muitos outros poderiam também estar presentes, pois iluminou as telas desde sempre, como acertamente afirma o material de divulgação: "Entre os anos 1960 e 1970, ela revolucionou a relação entre corpo e câmera e construiu uma filmografia singular".

Alías, se A Mulher de Todos sempre foi um nome perfeito para o filme e para identificar a personagem Angela Carne e Osso, poderia ser também para o signo Helena, pois ela sempre foi e será A Mulher de Todos Nós, o público que a ama. E ai, vem esse nome da Mostra, homônimo ao filme sobre ela que a cineasta, e sua filha, Sinai Sganzerla dirigiu,  A Mulher da Luz Própria, e que acerta mais uma vez.

Helena Ignez vem dirigindo filmes acachapantes, como Luz nas trevas: a volta do Bandido da Luz Vermelha (com Ícaro Martins), Canção de Baal, Ralé, Fakir, A alegria é a prova dos nove, e muitos outros.

Com a Mostra A Mulher da Luz Própria: o cinema de Helena Ignez, o público poderá conferir todos esses filmes, além de obras de nomes como André Guerreiro Lopes, Cristiano Burlan, Karem Black, Bruno Safadi, assim como de Orson Welles, Billy Wilder, Jean-Luc Godard, Stanley Kubrick e Glauber Rocha.

Helena Ignez conversou com o site Mulheres do Cinema Brasileiro sobre a Mostra e sobre a sua assinatura singularíssima como artista:

Mulheres do Cinema Brasileiro: Como é para você, como artista, e se possível também como público, ver sua obra reunida em uma Mostra tão abrangente e importante?

Helena Ignez: Para mim, como artista, é interessantíssimo, é maravilhoso mesmo ter uma obra numa mostra tão abrangente, não é? E importante. É um momento de felicidade, porque comigo vão grandes artistas brasileiros, muitos e muitos e muitos, através de décadas. Porque eu tenho mais de 60 anos de cinema, então é muito filme, não é? Filmes que começaram lá, no comecinho do comecinho do comecinho, na Bahia, no início do Cinema Novo, no pré-Cinema Novo, no A grande feira, e que vai até hoje. Isso é muito bom. E vai até hoje com gente muito brilhante trabalhando comigo.


MCB: Você tem uma assinatura própria dentro da história do cinema brasileiro, e sempre foi moderna. Você destacaria outras “atoras” que dialogam com essa estética e essa persona ética que construiu sua trajetória no cinema brasileiro?


 HI: Então, sobre a assinatura no cinema brasileiro. Sim, é uma assinatura própria. Outras atoras, artistas, têm também a sua assinatura própria, não há a menor dúvida. Então, eu só posso falar da minha assinatura própria, que é o meu trabalho, não é? E eu acredito que, nesse meu trabalho, comigo estão pessoas de assinatura própria. Praticamente todas. Todas as atoras e os atores. É só pensar neles, que são muito especiais. E eu os amo.


Dialogando comigo estão todas as atoras que amam seu trabalho. É esse o diálogo. Uma que fez apenas um filme e morreu depois, assim como outra que passa por vários momentos da carreira e é candidata ao Oscar. Então elas são iguais para mim. Sim, são iguais. Eu amo mesmo demais para fazer uma diferença entre uma e outra. É isso.

 

Crédito foto: Léo Lara/Universo Produção - Helena Ignez, homenageada da 20a Mostra de Cinema de Tiradentes


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Serviço
Mostra "A mulher da luz própria: o cinema de Helena Ignez"
Data: 20/3 a 4/4
Local: Cinema do Centro Cultural Unimed-BH Minas
Entrada franca, com distribuição de ingressos 1 hora antes de cada sessão.

Programação:
20/3 – Quinta-feira
18h20 – Filme de abertura: A Mulher da Luz Própria, Sinai Sganzerla, 81’, 2019.
20h30 – Comentário sobre a trajetória de Helena Ignez.
Convidados: Helena Ignez, Sinai Sganzerla, Djin Sganzerla, com mediação dos curadores da mostra Ewerton Belico e Samuel Marotta. 


21/3 – Sexta-feira
16h – A Mulher de Todos, Rogério Sganzerla, 93’, 1969.
18h20 – Ossos, Helena Ignez, 19’, 2014 | Ralé, Helena Ignez, 73’, 2015.
20h30 – O Mel é Mais Doce que o Sangue, André Guerreiro Lopes, 70’, 2023. Apresentação da sessão com o diretor. 


22/3 – Sábado
16h – Roda de Conversa sobre o eixo da mostra “Carta Branca”, com Cláudia Mesquita, Carla Maia e Helena Ignez.
18h20 – Nascido para Matar, Stanley Kubrick, 116’, 1987.
20h30 – Fogo Baixo, Alto Astral, Helena Ignez, 5’, 2020 | A Moça do Calendário, Helena Ignez, 86’, 2018.

23/3 – Domingo
16h – Copacabana Mon Amour, Rogério Sganzerla, 85’, 1970.
18h20 – A Grande Feira, Roberto Pires, 91’, 1961.
20h30 – A Miss e o Dinossauro, Helena Ignez, 18’, 2005 | Canção de Baal, Helena Ignez, 77’, 2008.

24/3 – Segunda-feira
18h20 – Reinvenção da Rua, Helena Ignez 27’, 2003 | Feio, Eu? Helena Ignez, 70’, 2013.
20h30 – A Grande Feira, Roberto Pires, 91’, 1961.

25/3 – Terça-feira
18h20 – Verdades e Mentiras, Orson Welles, 90’, 1973.
20h30 – Fogo Baixo, Alto Astral, Helena Ignez, 5’, 2020 | A Moça do Calendário, Helena Ignez, 86’, 2018.

26/3 – Quarta-feira
16h – Cara a Cara, Júlio Bressane, 72’, 1967.
18h20 – O Pátio, Glauber Rocha, 11’, 1959 | Deus e o Diabo na Terra do Sol, Glauber Rocha, 120’, 1964.
20h30 – O Bandido da Luz Vermelha, Rogério Sganzerla, 92’, 1968. Debate com Teuda Bara e Eid Ribeiro.

27/3 – Quinta-feira
16h – A Miss e o Dinossauro, Helena Ignez, 18’, 2005 | Canção de Baal, Helena Ignez, 77’, 2008.
18h20 – O Padre e a Moça, Joaquim Pedro de Andrade, 90’, 1966.
20h30 – Roda de Conversa: Helena Ignez e o cinema contemporâneo. Convidados: Bruno Safadi, Cristiano Burlan, Karen Black.

28/3 – Sexta-feira
16h – Roda de Conversa: Atuação e direção. Convidada: Simone Spoladore.
18h20 – Sem Essa, Aranha, Rogério Sganzerla, 98’, 1970.
20h30 – A Mulher de Todos, Rogério Sganzerla, 93’, 1969.

29/3 – Sábado
16h – Antes do Fim, Cristiano Burlan, 86’, 2017 | Helena de Guaratiba, Karen Black, 15’, 2024.
18h20 – Belair, Bruno Safadi, 80’, 2010.
20h30 – Luz nas Trevas: A Volta do Bandido da Luz Vermelha, Helena Ignez e Ícaro Martins, 83’, 2010.

30/3 – Domingo
16h – Acossado, Jean-Luc Godard, 87’, 1960.
18h20 – Ossos, Helena Ignez, 19’, 2014 | Ralé, Helena Ignez, 73’, 2015.
20h30 – A Alegria é a Prova dos Nove, Helena Ignez, 100’, 2023.

31/3 – Segunda-feira
18h20 – Copacabana Mon Amour, Rogério Sganzerla, 85’, 1970.
20h30 – Luz nas Trevas: A Volta do Bandido da Luz Vermelha, Helena Ignez e Ícaro Martins, 83’, 2010 (Sessão fechada para alunos do EJA).

1º/4 – Terça-feira
18h20 – Reinvenção da Rua, Helena Ignez, 27’, 2003 | Feio, Eu? Helena Ignez, 70’, 2013.
20h30 – Poder dos Afetos, Helena Ignez, 31’, 2013 | Fakir, Helena Ignez, 80’, 2019.

2/4 – Quarta-feira
18h20 – O Pátio, Glauber Rocha, 11’, 1959 | O Padre e a Moça, Joaquim Pedro de Andrade, 90’, 1966.
20h30 – Mesa Redonda: Helena Ignez e a história do cinema brasileiro. Convidados: Luiz Rocha Melo, Pedro Vaz e Carla Maia.

3/4 – Quinta-feira
16h – Quanto Mais Quente Melhor, Billy Wilder, 120’, 1959.
18h20 – Poder dos Afetos, Helena Ignez, 31’, 2013 | Fakir, Helena Ignez, 80’, 2019.
20h30 – O Signo do Caos, Rogério Sganzerla, 82’, 2003.

4/4 – Sexta-feira
16h – Sem Essa, Aranha, Rogério Sganzerla, 98’, 1970.
18h20 – A Alegria é a Prova dos Nove, Helena Ignez, 100’, 2023.
20h30 – Cara a Cara, Júlio Bressane, 72’, 1967.

20 a 23/3
Das 14h às 17h – Oficina: O ator performático no cinema – com Barbara Vida  

Informações: https://bit.ly/oficina_mostrahelenaignez 

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Sala 
 Betty Faria
Com amor profundo pelo cinema, premiada em vários festivais no Brasil e no exterior