Ano 20

O Coringa do Cinema - livro de Matheus Trunk

Livro focaliza técnico Virgílio Roveda
Atualização 29/08/2014:

O pesquisador Matheus Trunk e o técnico Virgílio Roveda estarão em Belo Horizonte no dia 02 de setembro para lançamento do livro O coringa do cinema.

Os convidados participarão Cineclube CineQuintal, que vai exibir três curtas sobre a Boca Paulistana, e vão conversar com o público no Cine 104, às 20h40.


Os curtas que serão exibidos são

A Rua Chamada Triumpho | Direção: Ozualdo Candeias, 1971, 9 min
A Visita do Velho Senhor | Direção: Ozualdo Candeias, 1976, 15 min
 Boca do Lixo Cinema ou Festa na Boca | Direção: Ozulado Candeias, 1976, 12 min 


Entrada gratuita com retirada de senhas 30min antes do início da sessão



Quem conhece Matheus Trunk sabe de seu amor pelo cinema brasileiro, sobretudo o popular - a fundação da Revista Zingu! é um de seus feitos. E é tanto esse amor como a dedicação em pesquisa-lo que faz do jornalista uma referência no país nessa geografia. E por falar em geografia, o endereço precioso de sua lente é o da Rua do Triunfo e suas adjacências na Boca do Cinema Paulista, em São Paulo - conhecida por muitos como Boca do Lixo.

Foi na Boca, do final da década de 1960 a meados da de 1980, com período áureo nos anos 70, que o cinema popular paulista viveu seu apogeu.  Em termos de sucesso popular foi no patamar das chanchadas cariocas da década de 1950, ainda que o público da produção da Boca fosse totalmente outro. As chanchadas eram produções para toda a família, já aqui a plateia era majoritariamente masculina, que ora suspirava e praticava outros verbos no escurinho do cinema assistindo à constelação de musas de arrepiar em comédias eróticas, e também dramas, apimentados, noutras se esbaldava com filmes de vários gêneros, como faroeste, karatê, sertanejo, terror e policial.

Outro espelho é com a Vera Cruz da década de 1950, em sua tentativa de fazer do cinema brasileiro uma indústria. Mas se lá o que se buscava era a matriz europeia e hollywoodiana de requinte de produção, na Boca a tentativa de indústria era totalmente popular, agregando produtores locais e comerciantes de porta de buteco.  E foi com esse modelo de pão com mortadela, cachaça, camarim na Kombi e xixi no matinho, que a produção paulista lotou os cinemas brasileiros, sobretudo os dos centros das grandes capitais e projetou toda uma constelação de astros, estrelas, cineastas e técnicos que fizeram escola e influenciaram muita gente, abocanhando também fãs até os dias de hoje.

Helena Ramos, Matilde Mastrangi, David Cardoso, Cláudio Cunha, Carlos Reichenbach e Aníbal Massaini são alguns dos nomes que muitos conhecem do período, e cada um deles chama a atenção de imediato, o que é totalmente merecido. Só que Matheus Trunk foi mais ambicioso no seu projeto sobre a singular Boca do Cinema Paulista ao escolher um personagem muito conhecido entre seus pares, pesquisadores e fãs de primeira hora, mas relativamente desconhecido do grande público: o técnico. 

Peça fundamental na indústria do cinema, o técnico circula nos bastidores e faz acontecer, mas por não estar à frente das câmeras, como os atores, e nem como maestro, os cineastas, muitos deles são completamente desconhecidos por quem está do lado de cá, nas plateias. E o técnico para qual a lente de Trunk se voltou é um dos mais amados da Boca: Virgílio Roveda.

Matheus Trunk está lançando em várias praças, desde o início do ano, o livro O coringa do cinema, uma produção independente publicada pela Editora Giostri.  Seu personagem, Virgílio Roveda, nasceu em Vacaria, no Rio Grande do Sul, e por isso é conhecido na Boca como Gaúcho, desde que aportou em solo paulista em 1965.

E foi na Boca que Roveda fez história: continuísta, eletricista, foquista, maquinista, assistente de câmera, assistente de direção, operador de câmera, assistente de montagem e dublagem, diretor de fotografia, produtor, diretor de produção e diretor. Exatamente por trafegar em tantas áreas ficou conhecido também como Coringa, atributo ao qual alude o título do livro. E também porque nasceu sob o signo de gêmeos, o que segundo Roveda explica porque ele jamais se contentou em fazer uma coisa só de cada vez.

Virgílio Roveda já dormiu noites seguidas em um caixão, conviveu e aprendeu com figuras míticas como José Mojica Marins, Pio Zamuner, Ozualdo Candeias, Amácio Mazzaropi e Augusto de Cervantes, foi preso pela Ditadura Militar, foi dono de cinema, e muito mais.

É esse personagem fascinante que Matheus Trunk desvenda aos nossos olhos e, a partir dele, desvenda também tantos outros que circularam, trabalharam e fizeram da Boca o paraíso do cinema popular no Brasil nos anos 70 e 80.

A chamada, pela musa Helena Ramos, Boca dos Sonhos fez história no cinema brasileiro e continua a nos encantar e divertir, além de nos desafiar, permanentemente, com seus filmes e personagens, a nos encarar de frente, principalmente no que temos de povo, de cultura popular, e de seus múltiplos significados.

O coringa do cinema, de Matheus Trunk, é importante publicação não só pelo registro da memória, mas por torna-la viva.

Em tempo: além de citar várias mulheres, entre atrizes e técnicas, o livro conta com depoimentos da montadora Dalete Thimoteu Cunha, da assistente de direção e continuísta Inês Mulin,  e das atrizes Ana Nielsen e Débora Muniz.

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Sala 
 Betty Faria
Com amor profundo pelo cinema, premiada em vários festivais no Brasil e no exterior