Crédito: Leo Lara - Universo Produção
Com o Cine-Tenda lotado, começou, ontem à noite, a 18ª Mostra de Cinema de Tiradentes.
Em seu discurso de apresentação, Raquel Hallak, coordenadora da Mostra, emocionou-se mais uma vez – como aconteceu em edição passada – ao falar da dificuldade em colocar de pé uma mostra do porte como a de Tiradentes.
A abertura pecou pelo ritmo arrastado, e, como não poderia deixar de ser, o grande momento foi quando o foco foi mirado para a atriz Dira Paes, a grande homenageada dessa edição.
Se a Mostra de Cinema de Tiradentes atingiu a maioridade com a comemoração de seus 18 anos de trajetória, Dira Paes chegou, profissionalmente nas telas, à fase balzaquiana, já que está comemorando 30 anos de carreira – estreou em “A floresta das esmeraldas” (1985), de John Boorman, e atuou, até agora, em 37 longas e 3 curtas.
Foram exibidos dois belos vídeos, um produzido pelo Canal Brasil e outro pela própria mostra. Ainda que em registros diferentes, eles se complementaram, pois se o primeiro deu voz à própria atriz para falar de sua carreira, no segundo foi a vez de alguns cineastas que a dirigiram falar sobre ela- Lina Chamie, Rosemberg Cariry, Tizuka Yamasaki e Guilherme Coelho.
No palco, Dira Paes, ladeada por Guilherme Coelho e Daniel de Oliveira, seus parceiros como diretor e ator no filme “Órfãos do Eldorado”, falou, entre outras coisas, da sorte de ter se apaixonado pelo cinema desde muito nova e que o cinema lhe deu tudo. Daí, aproveitou para dedicar sua homenagem ao filho, o garoto Inácio, que também atua em “Órfãos”, e que teria sido concebido a partir de um encontro cinematográfico.
Dira Paes tem três filmes na grade de exibição da Mostra de Tiradentes. Olhando para trás, não em tempo de permanência da obra, lógico, mas de data de realização/lançamento, são dois trabalhos: “Corisco e Dadá” (1996), de Rosemberg Cariry, e “Amarelo manga” (2002), de Cláudio Assis. E o terceiro, o recém- saído do forno “Órfãos do Eldorado” (2015), de Guilherme Coelho, e que foi exibido logo depois.
“Órfãos do Eldorado” é uma adaptação do livro homônimo de Milton Hatom, escritor amazonense dono de escrita potente, com um petardo do porte de “Dois irmãos”.
Dirigido por Guilherme Coelho, “Órfãos do Eldorado” coloca em cena Daniel de Oliveira como um homem atormentado que volta à cidade natal. Nela, ele reencontra o pai austero que se impõe pela recusa em vê-lo - na visão entendida em várias camadas de sentido; a amante que divide com o patriarca, em simbologia com o passado e presente, infância e maturidade, ser e não ser – ou tentativa de ser e tentativa de não ser; e o confronto entre sua lenda pessoal e toda a lenda de uma cultura.
Se Daniel de Oliveira demonstra maturidade e Dira Paes apresenta máscara trágica condizente com a verdade de sua personagem, Coelho, ainda que demonstre controle da narrativa, algumas vezes se perde em uma direção que opta por escolhas estéticas desnecessárias para o mostrado, como a desfocamento persistente e a construção de alguns personagens periféricos dispensáveis, como os da comunidade de cegos, por exemplo, - aí talvez até mais pela construção do roteiro.
“Orfãos do Eldorado” está centrado basicamente nos personagens de Daniel, de Dira e de Mariana Rios – como a mulher que encarna a busca de redenção do protagonista -, e é daí que tira sua força, ou busca tirar. E cresce quando abre espaço, e aí com propriedade, para outras janelas, como a aparição deliciosa de uma prostituta que o protagonista encontra pelo caminho.
Programação completa da 18ª Mostra de Cinema de Tiradentes.
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