Ano 20

Tiradentes - Mostra Aurora e Mostra Foco

Mostra Foco - Ismael Moura é o primeiro à esquerda
Ontem, segunda-feira, quarto dia da 18ª Mostra de Cinema de Tiradentes, marcou a abertura da Mostra Aurora, recorte competitivo da Mostra de Tiradentes que contempla filmes de realizadores que estão até em segundos ou terceiros trabalhos.

Marcou também a abertura da competitiva Mostra Foco, principal recorte dedicado aos curtas – há outros, mas é neste que, normalmente, estão os trabalhos mais esperados.

Mas nem só de Aurora e Foco viveu a programação de ontem, pois teve também os Seminários/Debates, exibição de outros longas e atração musical.

O Mulheres fez uma entrevista, colheu dois depoimentos, assistiu dois longas e quatro curtas.

A noite foi um tanto desanimadora quanto aos longas.

O ator e diretor Dellani Lima é um nome importante no cinema experimental feito em Minas Gerais e em outras partes do país, já que é um artista muito requisitado.

Aqui mesmo nessa Mostra já foi visto em cena no filme “Pingo d`água”, de Taciano Valério.

Só que seu novo longa como diretor, “O tempo não existe no lugar em que estamos” (2014), é filme que parece não ter chegado lá.

Não que qualquer filme tenha que chegar a algum lugar, aqui é mais no sentido de que parece que algo se perdeu entre a ideia e a realização, o que resultou em um roteiro pouco atraente, ainda que o cinema de Dellani seja altamente relevante sempre.

No filme, André Gatti – professor e pesquisador de cinema – é um fotógrafo do jornalismo que já viveu seus tempos áureos e que não se interessa pelos novos processos digitais. Daí acompanhamos seu percurso, sempre circundado pelas questões da família e do trabalho, em história que lança um olhar para a eternização da imagem e da memória, e sobre a fragilidade delas na cultura atual.

“Animal sonhado”, uma produção do Ceará dirigida por seis jovens cineastas, abriu a programação da Mostra Aurora.

Dirigido por Breno Baptista, Luciana Vieira, Rodrigo Fernandes, Samuel Brasileiro, Ticiana Augusto Lima e Victor Costa Lopes, o filme é formado por seis episódios, todos eles tendo como tema central o sexo.

Há variações de desejos, como o desejo homossexual, o incesto, o adultério, o sexo casual, a fantasia, o sexo como impulso de morte.

O ponto positivo do filme é que ainda que cada episódio tenha sido dirigido por um cineasta, há uma unidade não só no tema, mas também na condução entre um episódio e outro – não há aqueles truques de passagem entre uma história e outra comumente vistos em filmes do gênero. E a fotografia também está bem colocada.

Só que, na tela, isso parece muito pouco para a concretização da ideia do filme. Por serem muito jovens - e isso pode soar como preconceito - , é como se o grupo realmente não tivesse maturidade para o tema ao qual se propôs. E aqui não é apenas sobre o resultado cinematográfico, mas de escopo mesmo do que se quer dizer.

Muitas vezes o Seminário/Debate sobre a exibição dos filmes que se dá no dia seguinte “salva”, ou tentar “salvar”, o que foi visto no dia anterior. Não foi o caso de “Animal sonhado”.

Ainda que os realizadores tenham contado boas histórias de bastidores, como a seleção do elenco, quando os pretendentes toparam de antemão entrar em um projeto que teria cenas de sexo e alguns fizeram strip-tease não solicitados, quando se falou especificamente sobre o filme que está na tela pouco se acrescentou às percepções suscitadas ao assisti-lo.


Mostra Foco

A sessão de abertura da Mostra Foco apresentou quatro curtas: “Ilha” (PB, 2014), de Ismael Moura; “Filme selvagem” (CE, 2014), de Pedro Diogenes; “A era de ouro” (SP, 2014), de Miguel Antunes Ramos e Leonardo Mouramateus; “Outubro acabou” (RJ, 2015), de Karen Akerman e Miguel Seabra Lopes.

O melhor curta da noite foi exatamente o primeiro exibido, a produção paraibana “Ilha”. Filme potente e exasperante em seu relato e na forma como esse relato se dá, “Ilha” mira sua lente para a difícil relação entre um pai e seu filho em um rincão do sertão.

O tempo todo, enquanto vemos o pai nas atitudes cotidianas, o filho se exaspera em berros lancinantes, durante o dia no quintal acorrentado a uma árvore, e à noite na cama instalada em um quarto alagado.

Ismael Moura demonstra domínio de cena e consegue atingir o expectador com o mesmo estado emocional lancinante de seus personagens. É um filme que incomoda, que perturba, e nunca deixa de mostrar seu vigor.

“A era de ouro”, produção paulista dirigida Miguel Antunes Ramos e Leonardo Mouramateus, se não atinge a potência de “A ilha”, ainda assim estimula o público a acompanhar a história de seus protagonistas, um casal que explicita suas diferenças em seus olhares para o mundo. 

A era de ouro” encontra seu ponto alto na sedutora interpretação de sua protagonista.


Mais informações sobre a 18ª Mostra de Cinema de Tiradentes
www.mostratiradentes.com.br

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Sala 
 Betty Faria
Com amor profundo pelo cinema, premiada em vários festivais no Brasil e no exterior