Tiradentes-Transições, Aurora, Sessão Bendita
Clara Choveaux e Paula Gaitán apresentam "Noite"
Dia pesado para a cobertura da 18ª Mostra de Cinema de
Tiradentes o de ontem, sexta, 30. Ainda que maravilhosamente pesado.
Explico: o Mulheres acompanhou dois debates, assistiu a
quatro longas – um atrás do outro -, fez duas entrevistas e colheu dois
depoimentos.
Ufa!
De manhã foram os seminários Encontro com a Crítica, Diretor
e Público, o primeiro sobre “Mais do que possa me reconhecer”, de Allan
Ribeiro, com a presença do crítico convidado César Guimarães; e o segundo sobre
“A casa de Cecília”, de Clarissa Appelt, com a presença do crítico convidado
André Brasil.
Muitas vezes, não todas, esses seminários, para além de todas
as questões discutidas, revelam muito como um cineasta – e/ou sua equipe – se relacionam
com o olhar do outro.
Fazer um filme é difícil, mostrar o filme é difícil. Agora,
ouvir o que o outro tem a dizer sobre a sua obra, e ainda mais publicamente
para um plateia grande e interessada, pode ser também muito difícil.
O Seminário sobre o filme de Allan Ribeiro foi bem revelador
sobre isso, pois além de ser um cineasta de alto quilate, percebe-se em Allan
uma disponibilidade muito grande em ouvir o outro.
Ele não faz muita questão de falar sobre sua obra, mesmo
porque explica-la pode ser um fator reducionista, já que os diferentes
públicos, certamente, têm fruições diferentes.
E, mais que isso, mesmo quando não concorda ou pensou seu
filme diametralmente oposto ao que foi dito pelo outro, ele faz isso de uma
forma tão elegante, que sua postura acaba dizendo muito sobre o grande artista
que é.
São momentos bonitos de se ver.
Filmes
A noite de sexta foi uma verdadeira maratona: quatro longas
assistidos, um atrás do outro. Ou seja, o Mulheres ficou praticamente na sala
de cinema do Cine-Tenda de 18h até duas da madrugada.
O primeiro filme foi “Casa grande” (2014), produção carioca
dirigida por Felipe Gamarano Barbosa.
“Casa grande” tem circulado pelos festivais, e, neles, tem
encontrado certo embate com parte da crítica pela forma como o cineasta abordou
seu objeto: o modo de vida dos patrões e seus relacionamentos com os
empregados.
Muito bem interpretado, o que confirma Gamarano como ótimo
diretor de atores, o filme tem em seu protagonismo interpretações poderosas,
como a de Marcello Novaes, como o pai de família de classe média alta que vê
seu estilo de vida se deteriorando.
Novaes está soberbo, em um elenco que conta ainda com ótimo
time de jovens atores, uma bela interpretação de Suzana Pires, como a
matriarca, é a fenomenal presença da atriz Clarissa Pinheiro, como a empregada
Rita.
“Casa grande” é filme
de altíssimo interesse e funciona muito bem na tela - mesmo com os impasses
colocados por parte da crítica, como uma certa superficialidade na “redenção”
de seu protagonista, o adolescente Jean, e na forma como a classe baixa é
representada.
Mostra Aurora
“Ressurgentes: um filme de ação direta” traz novamente para
a Mostra de Tiradentes a cineasta Dácia Ibiapina, de Brasília, que já
participara com seu filme anterior “Entorno da beleza”. Só que dessa vez Dácia
está na disputa pelo prêmio da Mostra Aurora.
A cineasta mira sua lente para grupos de manifestantes do
Distrito Federal que enfrentam a polícia, na maior parte das vezes no corpo a
corpo, ou melhor, no corpo contra fuzil, em momentos cruciais: o “Fora Arruda” contra o governador José Roberto Arruda e a ocupação na câmara; o
enfrentamento na defesa de um santuário indígena contra a especulação
imobiliária; o movimento Passe Livre; e por fim, as manifestações de junho.
“Ressurgentes: um filme de ação direta” é filme que coloca o
dedo em ponto nelvrágico, e seus melhores momentos , ainda que conte com alguns
depoimentos interessantes, é quando
deixa as imagens, realizadas no calor da hora, dizerem por sim mesmas. Como na
acachapante abertura com a citada ação “Fora Arruda”.
“Medo do escuro” (2014), produção cearense da Alumbramento
Filmes dirigida Por Ivo Lopes Araújo,
também marcou a volta de um cineasta à Tiradentes, e mais uma vez participando
da Mostra Aurora, como fez com seu belo e premiado “Sábado à noite”.
“Medo do escuro” é uma ficção científica, o que já chama a
atenção de cara para os amantes do cinema de gênero, como é o Mulheres.
E faz isso de uma forma bastante experimental, ao inundar
esse universo da ficção científica com elementos de outras expressões
artísticas, como a dança e a poesia. Definitivamente não é para todo tipo de
público, mas pode seduzir quem topar entrar em seu universo – o filme conta
ainda com ótima trilha sonora, que foi executada ao vivo.
Sessão Bendita
Já na madrugada foi a vez de conferir “Noite” (2014), o
novíssimo filme de Paula Gaitán.
A cineasta apresentou o filme ao lado da atriz Clara
Choveaux, estrela também de seu filme anterior ,“Exilados do vulcão”, e foi
anunciada pela mestre de cerimônias da noite, Christiane Antuña, como a “bela Clara”.
Saudação corretíssima, pois Clara Choveaux é estonteante e
em cada fotograma em que aparece no filme eleva o mostrado para um
arrebatamento puramente cinematográfico e deslumbrante.
Sabem quando se usa a expressão “Fulano é altamente
cinematográfico?” Pois então, Clara Choveaux está seguramente nessa galeria.
Paulo Gaitán é dona de uma assinatura personalíssima no
cinema brasileiro, com belos filmes no currículo, como “Diário de Sintra” e “Vida”
– além do citado “Exilados do vulcão”.
Em “Noite” não é diferente. Ainda que o objeto seja outro,
aqui as filmagens das baladas na noite carioca, está lá todo o apuro e a inteligência
estética de Gaitán.
E mais uma vez, a cineasta revela maestria em focalizar suas
mulheres. Além de Clara, tem também Ava Rocha, cineasta, cantora e filha da diretora,
e a maravilhosa Nash Laila.
Vale, e muito, registrar que “Noite” tem trilha sonora
espetacular.
Vencedores
Hoje à noite tem sessão de encerramento da 18ª Mostra de
Cinema de Tiradentes, com o anúncio dos vencedores da Mostra Aurora, Mostra
Transições, Mostra Foco, e Prêmio do Público.
“Ela volta na quinta" (2014), de André Novais Oliveira,
encerra a programação de filmes exibidos no Cine-Tenda. Jáe “Deserto azul” os
filmes exibidos no Cine-Praça.
Ambos são produções mineiras.
Mais informações 18ª Mostra de Cinema de Tiradentes
www.mostratiradentes.com.br