Ano 20

10ª CineOP - Abertura

Crédito: Leo Lara - Universo Produção
O público que compareceu ontem à abertura da 10ª CineOP pode ver Milton Gonçalves, um dos maiores atores brasileiros, em dois tempos.

No primeiro momento, o do tempo real, Milton, que é um dos homenageados dessa edição, subiu ao palco para receber o troféu Barroco das mãos dos amigos, o ator Antônio Pitanga e o cineasta e pesquisador Joel Zito Araújo.

Dividida em três focos - História, Preservação e Educação -, a 10ª CineOP laureou o ator pela sua trajetória na Temática Histórica, que discute e reverencia a trajetória do negro no cinema brasileiro: "O negro em movimento".

Claro que nem é preciso dizer que Milton Gonçalves não é só um grande ator negro, é um dos maiores atores brasileiros. Mas como a CineOP - por seu perfil de registro e do resgate da memória - tematiza e reflete sobre a presença do negro no cinema, nada mais justo que a homenagem a ele, um dos mais atuantes para muito da conquistas da cidadania para os negros, sobretudo os artistas - Grande Otelo, Ruth de Souza, Léa Garcia, Antônio Pitanga, Zezé Motta e Abdias do Nascimentos seriam outros nomes de ponta nesse recorte.

Emocionado, Milton dedicou seu prêmio a sua companheira, já falecida, contou episódio de sua vida, quando morava em exíguos metros quadrados - o que determinava se seus pais podiam fazer sexo ou não, caso estivesse na cama acordado ou dormindo -, e salientou que a situação em que os negros vivem até hoje podem fazer nele, o negro, um estado de vitimização ou de apelo à violência. Mas que espera, e aposta, que melhores dias virão e que a luta tem que continuar.

No segundo momento, a plateia experenciou um dos grande momentos do cinema de gênero do cinema brasileiro: A Rainha Diaba, de Antonio Carlos da Fontoura. E, de ponta ponta, a performance arrebatadora de Milton Gonçalves na pele do protagonista.

Dirigido por Fontoura em 1974, o filme é um petardo inspirado na história de Madame Satã, o contravaentor homossexual que barbarizava a Lapa nas décadas de 1940 a 60.

Tudo em A Rainha Diaba funciona: os atores, a direção, a montagem, a fotografia, a direção de arte, os figurinos.

Gonçalves faz entrega absoluta e sem rede de proteção ao personagem, que é capaz de, em segundos, ir de uma chave a outra: da doçura à violência, do deboche ao desamparo, do romantismo à crueldade. 

Tudo isso circundado por um elenco em estado de graça: Odete Lara, Stepan Nercessian, Nelson Xavier - uma Yara Cortes em um de seus maiores momentos -, Wilson Grey, Procópio Mariano, e muitos outros.

Desconcertante, o filme focaliza ainda uma gangue de "bonecas", súditas da Rainha, de arrepiar, numa chave em que a Tropicália parece ter se encontrado com o Cinema Marginal em choque de purpurina, esgares e navalhas.

Mais homenagens

Preservação - Outro belo momento da noite foi a homenagem a conservadora Fernanda Coelho, que há mais de 30 anos de trabalho na Cinemateca Brasileira se dedica à restauração de filmes e à  preservação da nossa memória cinematográfica e patrimônio cultural.

Fernanda fez discurso de agradecimento confessional e dedicou seu prêmio a toda uma geração de apaixonados pela preservação da memória.

Educação - Já a homenagem ao Cineduc, projeto que alia a educação ao cinema e comemora 45 anos de trajetória, também levou duas mulheres ao palco: a fundadora Marialva Monteiro e a veterana integrante Bete Bullara.

O Cineduc é uma presença constante nas mostras da Universo Produção e atua em oficinas educativas para crianças, além de apresentar filmes para turmas de alunos  da rede pública que vêm ao cinema em caravanas para sessões comentadas de filmes.

A abertura da 10ª CineOP contou ainda com bela apresentação temática sobre a trajetória do negro no cinema brasileiro com a participação do cantor, compositor e música Maurício Tizumba e seu grupo.


Programação Completa
www.cineop.com.br



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 Betty Faria
Com amor profundo pelo cinema, premiada em vários festivais no Brasil e no exterior