10ª CineOP - Terceiro Dia
Cena de Antes, o verão, 1968, Gerson Tavares
Para os pesquisadores e apaixonados pelo cinema brasileiro bastou uma olhada na programação da 10ª CineOP para ver uma das cerejas do bolo: a exibição de filmes do cineasta carioca Gerson Tavares.
Para muitos - como para esse editor -, Gerson Tavares era uma lacuna difícil de ser desfeita, já que seus filmes tinham sumido de qualquer circuito. Do final da década de 1950 até os anos 70 ele dirigiu dois longas, Amor e desamor (1966) e Antes, o verão (1968), e vários curtas. Depois abandonou o cinema e seus filmes desapareceram junto.
A boa notícia é que sua obra foi finalmente digitalizada, com, inclusive, a restauração de seu segundo longa, Antes, o verão, exibido ontem na 10ª CineOP. Ainda esse ano, toda a obra será lançada em DVD.
Desde a década de 1980 tinha conhecimento desse filme de Tavares, Antes, o verão, pois uma das edições do romance homônimo de Carlos Heitor Cony - do qual o filme é adaptado - estampava na contracapa uma cena com Jardel Filho e Norma Bengell na praia. E durante todos esses anos conhecer o filme - assim como Amor e desamor - era desejo acalentado.
A exibição de Antes, o verão ontem na 10ª CineOP foi histórica: foi a primeira depois da restauração. E a sessão contou também com a exibição do média Reencontrando o cinema, documentário dirigido por Rafael de Luna Freire, responsável pelo projeto de restauro.
No média, podemos conhecer o processo que trouxe a obra de Gerson Tavares de volta às telas, com o cineasta refazendo o caminho que o levou até Tavares - que não conhecia -, e entrevistas com Hernani Heffner, conservador da Cinemateca do MAM, onde restavam as duas únicas cópias do filme, já que o original tinha se perdido, e com o próprio Gerson Tavares.
Ter a oportunidade de conhecer o cineasta e o que ele tem a dizer, não só através da sua obra, é um dos destaques do média. Reencontrando o cinema nos permite conhecer como os filmes foram feitos e o porquê do "desaparecimento" do cineasta e de sua obra. Mais que isso, redireciona nosso olhar para o quanto é frágil - ainda que avanços louváveis tenham acontecido - a manutenção da nossa memória cinematográfica -, o que faz de conservadores e restauradores verdadeiros heróis do nosso patrimônio cultural. Por isso, ver a quantas anda a situação da nossa Cinemateca Brasileira faz doer o coração.
A sessão dupla foi apresentada por Rafael de Luna Freire, Hernani Heffner e pelo filho de Gerson Tavares - "meu pai não veio porque ficou com medo de enfrentar o frio de Ouro Preto" - , que leu belo e emocionado discurso que escreveu de agradecimento e homenagem ao pai e ao seu cinema.
Antes, o verão
O filme mostra um casal em crise, interpretado por Jardel Filho e Norma Bengell, em acontecimentos que rondam sua casa de praia em Cabo Frio.
Jardel Filho tinha 39 anos e Norma Bengell 32 anos quando da filmagem de Antes, o verão, daí, causa impacto, antes de tudo, a beleza dos dois intérpretes e a carga absolutamente cinematográfica de ambos.
Ele faz um homem atormentado e tristonho; ela uma mulher que parece estar sempre em descompasso entre o que pensa e como age. A admiração confessa de Gerson Tavares pelo cineasta italiano Michelangelo Antonioni, e seu famoso cinema da incomunicabilidade, parece estar presente tanto nos descaminhos do personagens quanto na ambiência do filme - sobretudo A noite (1961).
Só que Antes, o verão jamais se configura como uma imitação de um discípulo ao seu mestre, pois Gerson Tavares é talentoso, sabe o que quer com sua história, e, mais que isso, sabe como contá-la. Ou seja, sabe fazer cinema.
A trama de Antes, o verão segue em ziguezague, mais escondendo do que mostrando. E ainda que a música seja utilizada em excesso - ainda que belíssima -, o filme consegue seduzir pelos achados da direção, pela escolha da locação - uma casa fincada na praia e quase isolada, como é o estado do casal -, e pelo elenco.
Jardel Filho e Norma Bengell seduzem a câmera plano a plano em closes arrebatadores - Norma está especialmente esplendorosa - e em cenas milimetricamente elaboradas, como o corte à tesoura do maiô dela e a cena final.
Há ainda cenas involuntariamente engraçadas, como as observações dos personagens sobre os costumes da época, como quando a personagem de Gilda Grillo, amante passageira, pergunta para Jardel se ele transa psicodelismo, LSD, e esses baratos, e ele responde que não, pois tinha ficado na Bossa Nova.
Antes, o verão é filme ao qual se assiste com permanente interesse. A longa espera valeu a pena. Bom saber que ainda serão exibidos sete curtas do cineastas na 10ª CineOP, e que Amor e desamor será lançado em DVD.
Programação completa da 10ª CineOP - Mostra de Cinema de Ouro Pretowww.cineop.com.br
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Para muitos - como para esse editor -, Gerson Tavares era uma lacuna difícil de ser desfeita, já que seus filmes tinham sumido de qualquer circuito. Do final da década de 1950 até os anos 70 ele dirigiu dois longas, Amor e desamor (1966) e Antes, o verão (1968), e vários curtas. Depois abandonou o cinema e seus filmes desapareceram junto.
A boa notícia é que sua obra foi finalmente digitalizada, com, inclusive, a restauração de seu segundo longa, Antes, o verão, exibido ontem na 10ª CineOP. Ainda esse ano, toda a obra será lançada em DVD.
Desde a década de 1980 tinha conhecimento desse filme de Tavares, Antes, o verão, pois uma das edições do romance homônimo de Carlos Heitor Cony - do qual o filme é adaptado - estampava na contracapa uma cena com Jardel Filho e Norma Bengell na praia. E durante todos esses anos conhecer o filme - assim como Amor e desamor - era desejo acalentado.
A exibição de Antes, o verão ontem na 10ª CineOP foi histórica: foi a primeira depois da restauração. E a sessão contou também com a exibição do média Reencontrando o cinema, documentário dirigido por Rafael de Luna Freire, responsável pelo projeto de restauro.
No média, podemos conhecer o processo que trouxe a obra de Gerson Tavares de volta às telas, com o cineasta refazendo o caminho que o levou até Tavares - que não conhecia -, e entrevistas com Hernani Heffner, conservador da Cinemateca do MAM, onde restavam as duas únicas cópias do filme, já que o original tinha se perdido, e com o próprio Gerson Tavares.
Ter a oportunidade de conhecer o cineasta e o que ele tem a dizer, não só através da sua obra, é um dos destaques do média. Reencontrando o cinema nos permite conhecer como os filmes foram feitos e o porquê do "desaparecimento" do cineasta e de sua obra. Mais que isso, redireciona nosso olhar para o quanto é frágil - ainda que avanços louváveis tenham acontecido - a manutenção da nossa memória cinematográfica -, o que faz de conservadores e restauradores verdadeiros heróis do nosso patrimônio cultural. Por isso, ver a quantas anda a situação da nossa Cinemateca Brasileira faz doer o coração.
A sessão dupla foi apresentada por Rafael de Luna Freire, Hernani Heffner e pelo filho de Gerson Tavares - "meu pai não veio porque ficou com medo de enfrentar o frio de Ouro Preto" - , que leu belo e emocionado discurso que escreveu de agradecimento e homenagem ao pai e ao seu cinema.
Antes, o verão
O filme mostra um casal em crise, interpretado por Jardel Filho e Norma Bengell, em acontecimentos que rondam sua casa de praia em Cabo Frio.
Jardel Filho tinha 39 anos e Norma Bengell 32 anos quando da filmagem de Antes, o verão, daí, causa impacto, antes de tudo, a beleza dos dois intérpretes e a carga absolutamente cinematográfica de ambos.
Ele faz um homem atormentado e tristonho; ela uma mulher que parece estar sempre em descompasso entre o que pensa e como age. A admiração confessa de Gerson Tavares pelo cineasta italiano Michelangelo Antonioni, e seu famoso cinema da incomunicabilidade, parece estar presente tanto nos descaminhos do personagens quanto na ambiência do filme - sobretudo A noite (1961).
Só que Antes, o verão jamais se configura como uma imitação de um discípulo ao seu mestre, pois Gerson Tavares é talentoso, sabe o que quer com sua história, e, mais que isso, sabe como contá-la. Ou seja, sabe fazer cinema.
A trama de Antes, o verão segue em ziguezague, mais escondendo do que mostrando. E ainda que a música seja utilizada em excesso - ainda que belíssima -, o filme consegue seduzir pelos achados da direção, pela escolha da locação - uma casa fincada na praia e quase isolada, como é o estado do casal -, e pelo elenco.
Jardel Filho e Norma Bengell seduzem a câmera plano a plano em closes arrebatadores - Norma está especialmente esplendorosa - e em cenas milimetricamente elaboradas, como o corte à tesoura do maiô dela e a cena final.
Há ainda cenas involuntariamente engraçadas, como as observações dos personagens sobre os costumes da época, como quando a personagem de Gilda Grillo, amante passageira, pergunta para Jardel se ele transa psicodelismo, LSD, e esses baratos, e ele responde que não, pois tinha ficado na Bossa Nova.
Antes, o verão é filme ao qual se assiste com permanente interesse. A longa espera valeu a pena. Bom saber que ainda serão exibidos sete curtas do cineastas na 10ª CineOP, e que Amor e desamor será lançado em DVD.
Programação completa da 10ª CineOP - Mostra de Cinema de Ouro Preto
www.cineop.com.br