Se há momento em que o cinema brasileiro lançou musa por metro quadrado e para tudo quanto é gosto, essa fase foi a do cinema popular das décadas de 1970 e 80.
Ali, naquele recorte específico, fica muito claro a rica diversidade de tipos, portes e estilos de interpretação que marca nossa cinematografia.
São Paulo e Rio de Janeiro foram espaços generosos para a produção de deliciosas comédias de costumes, pornochanchadas, dramas eróticos e filmes dos mais diversos gêneros e subgêneros nesse período luminoso do cinema nacional -que de uns anos para cá, felizmente, está sendo cada vez mais revisto, ainda que com muito por se revelar.
E para falar de cinema popular nos anos 70 e 80 é impossível não se ater à majestosa produção da Boca do Lixo.
Um olhar, mesmo que rápido, sobre a Boca revela-se um assombro pela quantidade de produções realizadas, pela diversidade da ficha técnica, seja de diretores, atores, atrizes e também de técnicos, seja pelos talentos revelados e reafirmados.
Onde encontrar, em um mesmo lugar, universos tão potentes quanto personalíssimos como o cinema de Ozualdo Candeias, Carlos Reichenbach, Jean Garret, Ody Fraga, Cláudio Cunha, Fauzi Mansur, John Do, José Mojica Marins e Guilherme de Almeida Prado? – só para ficarmos em alguns exemplos.
E onde encontrar, em um mesmo quadrilátero –a decantada Rua do Triunfo – deusas como Nicole Puzzi, Patrícia Scalvi, Neide Ribeiro, Zilda Maio, Vanessa Alves, Zélia Diniz, Sandra Graffi, Zaira Bueno, Misaki Tanaka e Alvamar Taddei? – também para ficarmos em apenas alguns exemplos.
Pois é, se o site Mulheres do Cinema Brasileiro conta a história do nosso cinema pela participação das mulheres, a Boca do Lixo é mesmo um espaço muito especial.
E aí, se mirarmos ainda mais o foco da nossa lente para os domínios da Boca, é impossível não falar de duas musas gigantescas, que são, indiscutivelmente, sinônimos daquele cinema feito ali e de todo o cinema popular da época: Helena Ramos e Matilde Mastrangi.
Por capricho dos deuses, as duas belas sopram velinhas de aniversário neste mês de março: Helena no dia 10; Matilde no dia 18.
Daí que o Mulheres do Cinema Brasileiro enche o peito para saudar as duas e desejar as maiores felicidades dessa vida para ambas.
Em tempo: a outra musa que forma a trinca de ouro ao lado de Helena Ramos e Matilde Mastrangi é Aldine Müller, mas essa deusa faz aniversário em outubro.
Matilde Mastrangi, em entrevista para um programa, diz, divertida, sobre as três, mais ou menos assim:
- A Helena era a grande estrela, todos a procuravam, era a primeira. Aí vinha a Aldine, mas ela preferia os filmes mais cabeça. Daí, quando elas não queriam ou não podiam fazer, sobrava para mim.
Assistindo ao divertido depoimento da musa é impossível não pensar na deliciosa combinação de modéstia e bom humor da estrela, combinação poderosa de duas virtudes que marca não só aquele cinema e seus personagens, como também todo o povo brasileiro, que cheio de modéstia gaita sabe como ninguém rir de si mesmo.
Feliz Aniversário, queridas!