Ano 20

André Novais Oliveira

Talento

Não sou muito conhecedor de filmes em curta-metragem, pois delimitei minhas pesquisas no cinema brasileiro no formato longa, senão ficaria louco e perdido em meio a tanta produção, já que curta por aqui brota que nem coelho da cartola.

Mas ainda assim é claro que, vez ou outra, acabo vendo alguns e gostando muito.

(dois dos meus filmes prediletos são um curta e um média - Ilhas das Flores, de Jorge Furtado,que todo mundo gosta; e Socorro Nobre, de Walter Salles, que, parece, nem tanta gente assim. Isso sem falar em A Velha A Fiar, de Humberto Mauro, para sempre no meu imaginário)

Pois foi assim em uma sessão de curtas em BH, onde assisti dois filmes da Filmes de Plástico, produtora recém-formada e que reúne três cineastas talentosos, Gabriel Martins, André Novais Oliveira e Maurílio Martins - esse último querido amigo.

Como muita gente na platéia, é lógico que me diverti com Filme de Sábado, de Gabriel Martins, em que um mineiro dá seu jeito de trazer a praia para perto de si. Ainda que conheça pouco o Gabriel, acho o filme a cara dele - afetuoso e seríssimo na construção de sua estética.

Mas naquela noite o que mais me chamou a atenção mesmo foi o curta 150 Miligramas (Foto), de André Novais Oliveira.

Interessei-me por completo por aquela história de um adolescente que faz visitas ao psiquiatra, pouco fala com a mãe, conta seu sonho para o médico, solta balão no rio Arrudas, e acha um pouco o seu lugar na menina que gosta de ficar abraçada aos outros pacientes que esperam na sala de atendimento.

Além da história em si, que é boa e bem contada, achei que era um filme de um cineasta talentoso, e que até então não conhecia - e continuo não conhecendo, só já sei quem é.

Quando o menino solta o balão amarelo nas águas barrosas do Arrudas - rio poluído que cruza o centro da cidade de Belo Horizonte e que está no imaginário de quem vive na cidade e cercanias - mesmo depois que ele sai de cena e a bexiga segue seu curso, a gente vai junto e fica um pouco mais íntimo daquele garoto na frente da câmera e um pouco também do que está por trás.

Sabedouro do meu apreço pelo filme, Novais me presenteou com mais dois curtas seus: Uma Homenagem a Aluízio Netto, e o seu último filme, Fantasmas.

O primeiro, parece-me, ainda é um filme de escola livre de cinema. E ali a idéia é bem mais interessante que o resultado. Ainda que há clichês como imagens refletidas no espelho, vê-se com interesse ao filme, mesmo que ao final nem fique tanto dele. Dessa história de amor contada em dois tempos: um na linguagem dos discursos românticos prontos; e o outro também na cartilha dos discursos, só que dessa vez nas palavras de ordem comunistas.

E eis que se chega ao último, Fantasmas, exibido recentemente com sucesso na Mostra de Tiradentes.

Fantasmas é um filme do qual a gente gosta assim que a câmera é ligada. Com aquele muro que suja e cerceia um pouco a imagem, como saberemos também o quanto está cerceado e sujo o coração daquele que sofre de abandono.

Como em Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo, de Karim Aiñouz e Marcelo Gomes, os personagens de Fantasmas também nunca são vistos. Mas como no filme da dupla, aqui também não temos uma simples narração, mas uma vivência que nos trás para aquela realidade, não de frente para o crime, mas para um posto de gasolina.

E em como Morro do Céu, de Gustavo Spolidoro, os jovens de Fantasmas também exalam testosterona. E falam de futebol e das miudezas de camaradagem - ou brodagem, como se prefere hoje.

Mas se a câmera permanece parada e vez ou outra tentamos perseguir os letreiros do ônibus, o coração de quem olha, na câmera, bate forte à espera de um milagre.

Mesmo que esse milagre seja ver de novo e em zoom a dor que invade esse mesmo coração, e da qual nos é impossível ficar imunes do lado de cá.

Mais que uma promessa, a Filmes de Plástico já mostrou a que veio.
E o jovem cineasta também.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

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Sala 
 Ruth de Souza
Pioneira e talentosa atriz, Ruth de Souza é referência para a cultura negra no Brasil.