Ano 20

Alcione Mazzeo

Alcione Mazzeo nasceu em 27 de maio, em Santos, São Paulo. Destaque em programas humorísticos, é musa do cinema dos anos 1970. A atriz começou a carreira artística no final dos anos 60, como garota propaganda e manequim.  Estreia na TV no início da década de 70 no Fantástico e daí marca presença em vários programas: “Um dia eu estava na produção do Fantástico, quando faltou uma atriz na gravação do programa do Moacyr Franco. Fui indicada então para substituí-la. O Augusto César Vanucci, diretor da linha de shows da Globo, assistiu, gostou e me ofereceu um contrato”.

Atua em vários humorísticos como Satyricon e Azambuja e Cia., época em que conhece Chico Anysio - com quem se casa depois e faz parceria de sucesso com os personagens Bozó e Maria Angélica em Chico city (1976/77). “Um dia, ele bolou o Bozó com uma namorada bonita e gostosa. Falei pra ele que não poderia aceitar, porque estava cansada de atuar apenas como mulher bonita e gostosa... Então fomos conversando a respeito e, juntos, bolamos a Maria Angélica. Sou muito grata a ele por isso, pois com esse personagem ganhei respeitabilidade como atriz”. Ainda na TV, a primeira novela é Pecado rasgado (1978), de Silvio de Abreu: “Fui convidada para fazer essa novela e o Boni disse que eu teria que optar entre ir para as novelas ou ficar no programa do Chico. Optei pela novela, pela vontade de diversificar, mas o Chico ficou muito chateado comigo”.

Mas ainda antes da TV, a atriz estreia no cinema fazendo uma pequena participação em Amante muito louca, de Denoy de Oliveira, em 1972: “Fui chamada nesse filme apenas porque fazia muitos filmes publicitários para o produtor. Na verdade, considero o Cada um dá o que tem como meu primeiro trabalho de atriz no cinema”. Ainda que tenha feito filmes de apelo erótico, jamais ficou nua no cinema: “Sou de Santos, uma cidade conservadora, descendente de portugueses. Fui criada com muita rigidez, portanto foi dificílimo vencer muitos tabus. Coloquei essa cláusula de não filmar nua porque quando falavam que tinha essa condição para filmar, as pessoas concordavam. Só que, depois, diziam que estava no roteiro e que, portanto, eu deveria saber que tinha que fazê-lo”.

Alcione Mazzeo conversou com o site Mulheres do Cinema por e-mail, em março de 2013. Na entrevista, fala sobre o início da carreira como modelo e manequim, a estreia na televisão, o encontro com Chico Anysio, a estreia no cinema e , depois de anos, a sua volta às telas do cinema.



Mulheres do Cinema Brasileiro: A sua mudança de Santos, São Paulo, para o Rio de Janeiro aos 15 anos, foi decisiva para o seu ingresso no universo artístico?

Alcione Mazzeo: Com certeza!  Lá não teria oportunidades, campo para me desenvolver; tanto que nem pensava sobre essa possibilidade enquanto vivia em Santos.

MCB: Quando você fez o curso de modelo, você já imaginava que faria carreira vitoriosa nessa área? Como foi sua experiência?

AM: Eu trabalhava como recepcionista e fui promovida a secretária numa corretora de valores. Fui então ao Senac, em busca de um curso de secretária para não fazer feio no novo cargo. Só que o único curso que existia à noite, na filial do centro, era o de Manequim-Modelo.  Resolvi fazer, sem qualquer expectativa, apenas por ser algo de que já gostava.

MCB: Você participou de um veículo que foi muito importante nas décadas de 1970 e 80, que foi a fotonovela. Como foi participar dessas publicações, que eram tão populares na época?

AM: Fiz muitas!!  Era muito divertido fazê-las por causa dos colegas!!  E estava acostumada com fotos, já que tinha feito muita publicidade.

MCB: Como se deu sua formação como atriz?

AM: Trabalhei muito como modelo e fiz bastante sucesso. Por causa disso,  comecei a receber inúmeros convites para trabalhar no cinema e na TV Globo, em clips para o  Fantástico. Fiz curso com o Jayme Barcellos, Cláudio Cavalcanti, Rubens Correia  e,  na CAL, com o Sérgio Britto. Só que não tive condições de completar o curso da CAL, por falta de tempo. Também fiz aulas de voz com a Glorinha Beuttenmüller e de expressão corporal.

MC: Você começou a trabalhar na televisão atuando em programas humorísticos. Como você foi escalada? Foi difícil trabalhar nesse veículo? Destaque alguns programas em que atuou.

AM: Um dia, eu estava na produção do Fantástico,  quando faltou uma atriz na gravação do programa do Moacyr Franco.  Fui indicada então para substituí-la. O Augusto César Vanucci, diretor da linha de shows da Globo, assistiu, gostou e me ofereceu um contrato. Eu ainda trabalhava como modelo, não tinha muito tempo...  Então ia gravar, mas não assinava o contrato, ele caducava, faziam outro, e só assinei no terceiro!!

MCB: É impossível falar do seu trabalho na TV sem falar da sua parceria com o Chico Anysio e a sua personagem Maria Angélica, a namorada do Bozó, que depois integra também a Escolinha do Professor Raimundo. Como se deu essa parceria?

AM: Eu gravava Satyricon quando fui escalada para o especial Azambuja, e foi quando conheci o Chico. Ele me chamou para trabalhar no programa dele e, mais tarde, começamos a namorar. Um dia, ele bolou o Bozó com uma namorada bonita e gostosa. Falei pra ele que não poderia aceitar, porque estava cansada de atuar apenas como mulher bonita e gostosa... Então fomos conversando a respeito e, juntos, bolamos a Maria Angélica. Sou muito grata a ele por isso, pois com esse personagem ganhei respeitabilidade como atriz.

MCB: A sua primeira novela foi Pecado Rasgado, em 1978, em que você fazia a personagem Vera. Como se deu essa estreia em novelas? 

AM: Fui convidada para fazer essa novela e o Boni disse que eu teria que optar entre ir para as novelas ou ficar no programa do Chico. Optei pela novela, pela vontade de diversificar, mas o Chico ficou muito chateado comigo.

MCB: Você foi jurada do Chacrinha, um dos mitos da televisão brasileira. Como foi participar do programa e como foi conviver com O Velho Guerreiro?

AM: Achava hilário aquilo tudo!! Ficávamos esperando nossa hora de entrar, tranquilamente, na coxia. De repente, atravessávamos um túnel e chegávamos num mundo totalmente diferente, coloridíssimo, com pessoas dançando, público gritando, legumes voando ...  Não convivia com o Chacrinha, apenas nessas gravações, e ele era sempre muito carinhoso.

MCB: Sua primeira participação no cinema foi em Amante muito louca, do Denoy de Oliveira. Como você chegou ao cinema? Foi difícil trabalhar nesse veículo?

AM: Fui chamada nesse filme apenas porque fazia muitos filmes publicitários para o produtor.  Na verdade, considero o Cada um dá o que tem como meu primeiro trabalho de atriz no cinema.

MCB: O filme seguinte é O descarte, protagonizado pela Glória Menezes e pelo Ronnie Von, com direção do Anselmo Duarte. Como foi trabalhar com o Anselmo?

AM: Pequena participação também, e o Anselmo era muito gentil! 

MCB: Em Cada um dá o que tem, você é dirigida pela primeira vez pelo Adriano Stuart, no episódio O despejo.  Assistindo ao filme, nota-se a paixão da câmera por você, que é filmada já como uma grande musa.  Como foi participar desse filme?

AM: Como já disse anteriormente, considero esse o meu primeiro filme! Eu estava nervosa porque ia filmar com pessoas que eram ídolos da minha infância. O Adriano Stuart era bastante enérgico, mas divertido.

MCB: O despejo reúne atores veteranos maravilhosos, como Jofre Soares, Marisa Sanches, Lola Brah, Célia Coutinho, Wanda Kosmo, Felipe Levy, Lídia Costa, Flora Geny. Como foi conviver com esse elenco tarimbado?

AM: Em minha infância assisti a muitas novelas, em Santos. Então,  a maior parte desse elenco era de pessoas que eu admirava e respeitava muito. Foi um privilégio meu ter essa oportunidade de aprendizado. Quando criança, eu escrevia aos artistas que gostava e guardo até hoje fotos autografadas  da Flora Geny  e da Célia Coutinho, entre outros.

MCB: Exorcismo negro marca seu encontro com o cinema personalíssimo de José Mojica Marins. Como você foi escalada para o filme, como foi a relação com o Mojica e como foi participar do gênero terror fazendo aquela garota que é possuída pelas forças do mal?

AM: Na realidade, fui chamada para fazer o outro papel, só que eu não aceitei por não querer ficar nua. Então me ofereceram esse. AMEI, foi uma experiência fantástica!!  O único problema foram as lentes que precisei usar quando era possuída pelo demônio. Além do grande incômodo nos olhos, de sentir dor de cabeça, afetavam minha visão e eu tinha medo de machucar minha colega, ao atacá-la com a faca. O diretor José Mojica contava histórias incríveis e tinha um jeito muito especial de dirigir.

MCB: Em Exorcismo negro você contracena com uma grande atriz que, infelizmente, é pouca comentada, a saudosa Geórgia Gomide. Gostaria que comentasse sobre ela.

AM: Infelizmente, no Brasil a memória é curta. Geórgia Gomide foi uma das atrizes pioneiras da TV brasileira,  belíssima, talentosa. Protagonizou, com  Vida Alves, o primeiro beijo homossexual da televisão brasileira. Impossível esquecê-la ou não reverenciá-la!! Gloriosa atriz, personalidade ímpar, além de excelente ser humano.

MCB: Em 1975 você protagoniza o curioso Tangarela, a tanga de cristal, ao lado de Jô Soares e Jardel Filho, uma adaptação bem brasileira da história de Cinderela. Como foi atuar nesse filme?

AM: Escrito pelo Paulo Coelho, que também atuou nele. Uma experiência difícil para uma atriz inexperiente, mas  pude contar com o carinho e a paciência do diretor Lula Campello Tôrres.

MCB: Em O estranho vício do dr. Cornélio, você é a protagonista Angélica, que trama assassinar o marido, o dr. Cornélio, vivido pelo grande Paulo Fortes. Fale sobre esse filme e sobre a sua relação com o diretor Alberto Pieralisi.

AM: Ótima!

MCB: Tem folga na direção marca seu encontro com o veterano diretor Victor Lima. Como foi ser dirigida por esse grande cineasta, que é tão pouco reverenciado, e contracenar com grandes nomes das chanchadas, como Zé Trindade, Cyl Farney e Catalano.

AM: Como disse antes, fui uma privilegiada em poder iniciar carreira com artistas renomados, grandiosos como esses.

MCB: Você atuou em filmes com maior apelo erótico, como A Mulher sensual e Perdida em Sodoma, mas nunca tirou a roupa. Por quê? E os cineastas, eles não insistiam para que você ficasse nua, já que era uma das mais belas e desejadas atrizes da época?

AM: Sou de Santos, uma cidade conservadora, descendente de portugueses.  Fui criada com muita rigidez, portanto, foi dificílimo vencer muitos tabus. Coloquei essa cláusula de não filmar nua porque quando falava que tinha essa condição para filmar, as pessoas concordavam. Só que, depois, diziam que estava no roteiro e que, portanto, eu deveria saber que tinha que fazê-lo. Mas claro que os diretores insistiam depois. Tem realmente uma história engraçada de um diretor: 
- Eu deitada na cama, pronta para a cena. E ele ajoelhado ao meu lado, pedindo que eu mostrasse os peitos.

Como eu continuava irredutível, ele insistia: “Só unzinho, só unzinho!"  rsrsrs

MCB: Adriano Stuart volta a dirigi-la em O incrível monstro trapalhão. Você trabalhou com Os Trapalhões também na TV. Gostaria que comentasse sobre esse filme.

AM: Era da maior importância para qualquer atriz ser escolhida para filmar com o grupo de maior sucesso no mundo infantil e a maior bilheteria do cinema brasileiro. Para mim, mais  especial ainda,  pois além de trabalhar tinha grande afeto por eles. Era sempre muito divertido e mágico! Me senti homenageada ao ser escolhida para fazer a mocinha do filme, ao lado do Didi. Já havia trabalhado em outros filmes com o Adriano, mas nesse ele estava mais brincalhão, super à vontade com as cenas de corrida, tombos e brigas, já que tinha vasta experiência no humor pastelão e estava muito acostumado em dirigir Os Trapalhões.

MCB: Seu último filme da década de 1980 foi Banana split. Como foi participar desse filme e por que depois dele ficou tanto tempo longe das telas?

AM: Falta de convite.

MCB: Em 2007, você atua no curta Um encontro inesquecível. Foi a primeira vez que atuou em um curta-metragem, e depois participa de mais um, Toda nudez será castigada. Como foi a experiência?

AM: Em um curta, o personagem pode ser prejudicado pela falta de tempo. Toda nudez   foi decepcionante, pois vi meu personagem ser tão reduzido que perdeu sua importância. Cenas densas e criativas foram cortadas em função do tempo.

MCB: Depois de longo tempo longe das grandes telas, você retorna em Os tubarões de Copacabana (2011), de Rosário Boyer, e em As aventuras de Agamenon – o repórter. Como foi essa volta às telas do cinema?

AM: Maravilhoso ser lembrada novamente para atuar no cinema, mesmo sendo em pequenas participações. Depois do Agamenon e do Tubarões, fiz Ódio, com o Edwin Luisi, Luiz Quirino, Luciano Szafir, entre outros.

MCB: Quais são seus projetos atuais?

AM: Voltar aos palcos!

MCB: Qual foi o último filme brasileiro a que assistiu?

AM: O palhaço, do Selton Mello.

MCB: Sempre convido minhas entrevistadas para homenagearem uma mulher do cinema brasileiro de qualquer época e de qualquer área. Quem você deixa registrada em sua entrevista como uma homenagem e por quê.

AM: Adoro a Irene Ravache. Para mim, ela é uma deusa, de tão carismática e talentosa. 

MCB: Muito obrigado pela entrevista.

AM: Obrigada! Abraço.


Entrevista realizada em 03 de março de 2013.

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Sala 
 Sala Dina Sfat
Atriz intensa nas telas e de personalidade forte, com falas polêmicas.