Ano 20

Edna Fujii

Nascida em São Paulo, em 1947, Edna Fujii é sinônimo da Quanta, que por sua vez é quase onipresente nas produções atuais do cinema brasileiro, seja filmes em curta ou longa metragem. A relação com o cinema começou cedo: “Muito jovem ainda, aos 17 anos, eu comecei a me envolver com o cinema. Minha primeira relação com o meio foi através do filme do Roberto Santos,  A hora e  a vez de Augusto Matrága. Eu me casei com o cineasta que trabalhou na Vera Cruz em São Paulo, comecei a trabalhar em produção, e depois de alguns anos eu fui a uma produtora de uma amiga nossa, que havia aberto a Quanta, e ela me convidou para trabalhar lá.”

Edna Fujii sempre está de olho na nova geração do cinema, e isso se deu desde seu início na Quanta, na década de 1980: “a gente estava num período em que o cinema estava em baixa total, eu comecei a investir nos jovens cineastas.  Nesse período, eu comecei a ver a Carla Camurati, o Beto Brant, a Eliane Caffé, eu comecei a ver a formação a longo prazo desses jovens, a me relacionar muito com eles. Eles estavam na época fazendo alguns filmes, e eu comecei a patrocinar, porque eu vi que se não houvesse um investimento da empresa que eu estava coordenando e dirigindo, em nível de cinema, ia ficar complicado”.

A presença da Quanta nos filmes brasileiros foi se intensificando cada vez mais: “Em 89, o Collor acabou com a Embrafilme e piorou ainda mais a situação do cinema. Mas como a Quanta era muito forte na publicidade, ela tinha uma quantidade de equipamento muito grande. A única coisa boa que o Collor fez foi abrir as portas da importação no Brasil. Com isso, começaram a vir as novas tecnologias em nível de cinema, de animação, inclusive, refletores. Eu fiquei com uma quantidade muito grande de refletores fabricados no Brasil, e como havia alguns cineastas sem trabalho, a gente resolveu então abrir as franquias. Já existia a famosa lei da descentralização, e eu vi isso como uma grande possibilidade”.

A participação da Quanta nos filmes se dá sempre pela cessão de equipamentos: “Eu não entro com o dinheiro, eu entro com o equipamento necessário. E aí você cria um elo. Por exemplo, eu criei uma ética na minha postura junto aos cineastas, então o cineasta faz, está no décimo filme, e eu faço com ele porque existe uma credibilidade, entendeu? Não é porque sou coprodutora que vou mandar qualquer coisa, não, ele terá o que eu tenho de melhor, independente se ele está fazendo um longa ou se é um comercial. Não há divisão. Então, eticamente eu ganhei essa confiança que as pessoas têm em relação a Quanta, a minha operação dentro da Quanta”.

Edna Fujii esteve presente na 9ª Mostra de Cinema de Tiradentes, em janeiro de 2006, e conversou com o Site Mulheres do Cinema Brasileiro. Ela revisitou sua trajetória e falou sobre o início no cinema, sua entrada na Quanta, a política e a ética da empresa, as várias produções que apoiou, seja curtas ou longas, e outros assuntos.



Mulheres do Cinema Brasileiro: A Quanta tem uma participação fundamental no cinema brasileiro. Eu queria que você falasse como se deu esse processo.

Edna Fujii: Muito jovem ainda, aos 17 anos, eu comecei a me envolver com o cinema. Minha primeira relação com o meio foi através do filme do Roberto Santos,  A hora e  a vez de Augusto Matrága. Eu me casei com o cineasta que trabalhou na Vera Cruz em São Paulo, comecei a trabalhar em produção, e depois de alguns anos eu fui a uma produtora de uma amiga nossa, que havia aberto a Quanta, e ela me convidou para trabalhar lá.

MCB: Foi quando?

EF: Foi em 1982. A partir daí, como eu já conhecia muitas pessoas dessa área e a gente estava num período em que o cinema estava em baixa total, eu comecei a investir nos jovens cineastas.  Nesse período, eu comecei a ver a Carla Camurati, o Beto Brant, a Eliane Caffé, eu comecei a ver a formação a longo prazo desses jovens, a me relacionar muito com eles. Eles estavam na época fazendo alguns filmes, e eu comecei a patrocinar, porque eu vi que se não houvesse um investimento da empresa que eu estava coordenando e dirigindo, em nível de cinema, ia ficar complicado. Porque nesse período a publicidade era muito forte, então ela dava um suporte muito bom, era como se a publicidade ajudasse a sustentar o curta-metragista. Quando a Quanta surgiu, já existia essa geração de curta-metragistas, mas as pessoas não tinham possibilidade de fazer longa. Em 89, o Collor acabou com a Embrafilme e piorou ainda mais a situação do cinema. Mas como a Quanta era muito forte na publicidade, ela tinha uma quantidade de equipamento muito grande. A única coisa boa que o Collor fez foi abrir as portas da importação no Brasil. Com isso, começaram a vir as novas tecnologias em nível de cinema, de animação, inclusive, refletores. Eu fiquei com uma quantidade muito grande de refletores fabricados no Brasil, e como havia alguns cineastas sem trabalho, a gente resolveu então abrir as franquias. Já existia a famosa lei da descentralização, e eu vi isso como uma grande possibilidade. Eu fui a Gramado com o filme Festa, do Ugo Giorgetti, que foi premiadíssimo, e vi que havia aquela possibilidade de ter uma franquia em Porto Aí eu conheci o Jorge Furtado, o (Carlos) Gerbase, e vários outros do Rio Grande do Sul, por conta dos curtas. Eu tenho uma amiga, a Mônica Schmidt, que é uma cineasta maravilhosa. Um dia, a gente estava batendo papo e eu falei: “Você não quer abrir uma franquia? Vamos botar um kit, um lote de equipamentos”. E isso foi feito. E foi maravilhoso, porque a partir daí o Rio Grande do Sul começou a ter qualidade de trabalhos muito superiores do que havia. E aí surgiram escolas, universidades. Esse formato foi o mesmo aberto em Brasília e Salvador, e que já existia no Rio de Janeiro. 

A Quanta já existia no Rio. As universidades não tinham refletores, então aqueles refletores nacionais que o diretor de fotografia já não queria mais, porque houve a invasão de produtos estrangeiros, obviamente a gente teve que comprar. Eu passei a ter contrato de comodato nas universidades, pra ajudar na formação e treinamento desses alunos. As franquias foram surgindo dessa história. Quando fui a Gramado com o Festa, eu procurei o Esdras, que era na época o coordenador do Festival de Gramado. Eu disse para ele: “Olha, aqui não tem uma luzinha pra fazer entrevista”. Naquele tempo não era como hoje, em que existem as câmeras de vídeo que fazem a captação de imagem sem luz. Hoje essa luz aqui é maravilhosa para se fazer captação, naquele tempo não. Então eu me coloquei à disposição e, nos anos seguintes, eu passei a fazer um set de gravação, a iluminar a porta do Festival. Naquela época tinha Gramado, Brasília, poucos festivais com expressão. No Rio de Janeiro só tinha a Mostra, tinha em outros lugares, mas nada muito expressivo. Aí começaram a surgir os fazedores de festivais, que são as empresas de evento, como essa aqui da Mostra de Tiradentes. Não são pessoas do cinema, mas empresas de eventos, e eles se propuseram a fazer isso que está acontecendo aqui em Tiradentes, por exemplo, e foi assim em Recife, Curitiba. Aí eu também me coloquei: “Por que não fazer oficinas nos festivais?”. Eu daria o suporte em nível de luz e assim foi feito. O primeiro a fazer oficina foi o de Curitiba, aí foi uma prática mesmo para os jovens, porque seria uma maneira de atrair pessoas que se interessassem para o cinema, uma vez que o cinema não tinha tela, não tinha espaço. A televisão não dá esse espaço, então foi a maneira que a gente encontrou. E eu implantei essas histórias aí pelo Brasil a fora.

MCB: Esse olhar atento para essas lacunas tem muito a ver com a paixão pelo cinema, lá na formação inicial, não é? Não é só um olhar técnico.

EF: Sem dúvida, de paixão. Eu sou apaixonada pelo cinema, eu me envolvo emocionalmente. Eu tenho que manter a empresa que eu dirijo, essa empresa, basicamente, tem um resultado que vem ainda do comercial, da propaganda. E eu penso também o seguinte, além de ter essa paixão, eu acho assim, para conseguir uma viabilização de que esses filmes possam existir, eu também vejo o lado do filme de cada produtor, entendeu? Porque tem produção e produções, não é? Tem gente que tem a capacidade de captação de dinheiro, tem as grandes produções, tem aquele produtor que pega um filme de iniciante. Eu acabo me envolvendo e analisando todos esses pontos, então o que ocorre é que eu nunca deixo de fazer, acabo sempre fazendo.

MCB: Deve ser uma procura enorme, não é?

EF: É uma procura grande, principalmente de curta-metragistas, das escolas com final curricular e os longas. Porque eu criei um elo com os cineastas, uma coisa de gostar mesmo. Além de gostar, eu vejo assim: “Qual é a ansiedade de todos nós que trabalhamos nesse meio?”. É que um dia isso realmente vire uma indústria, não é? Porque hoje é uma ação entre amigos, praticamente. É óbvio que tem a Kodak, essas multinacionais, as grandes distribuidoras. Lá atrás eu participava de tudo que era discussão, aqui mesmo em Tiradentes, quando iniciou, há nove anos, nós fizemos uma reunião com Francelino Pereira, na qual eu disse: “Não adianta a gente discutir uma coisa que a gente não tem para discutir, nós temos que primeiro fazer produtos, porque com o produto na mão você tem como discutir”. Naquele tempo, todo mundo estava ansioso demais, mas a gente não tinha como exigir que tivesse distribuição, que valorizassem nossos produtos. Então você era obrigado a aceitar, o produtor, o cineasta, qualquer coisa. Isso quando ele ainda caía nas graças de alguma distribuidora como a Rio Filmes. Caso contrário, as pessoas nem viam os filmes, porque as grandes distribuidoras, como Columbia, Fox, nem se interessavam. Então eu disse “a gente tem que fazer esse produto”.  Eu ajudei a fazer esses produtos, entendeu, eu sinto isso com orgulho, porque hoje graças a isso, tanto o produtor como o cineasta estão mais valorizados, entendeu, estão sendo vistos, sendo ouvidos, estão sendo procurados. Nós conseguimos hoje trazer um bom produto, tecnicamente a gente foi se aprimorando, porque o cinema é um exercício constante, não é só em nível de linguagem, mas em nível técnico também.

MCB: Você disse que participava e continua participando, não é? Você continua atuando nas várias frentes da reflexão do cinema brasileiro, participando de seminários, de debates, há pouco tempo você esteve em Belo Horizonte no Festival de Curtas, não foi?

EF: Foi. Foi sim.

MCB: Você circula por esse pensamento cinematográfico, essa reflexão sobre o cinema. É uma coisa que te estimula muito, não é? 

EF: Tem que ser dessa forma. Por exemplo, eu me sinto muito melhor, num sábado e domingo, estando com o pessoal num festival do que ficando na minha casa sem fazer nada. Eu gosto de estar presente, eu gosto de participar. Ah, eu acho que se eu tenho ferramentas... Eu penso assim, todos nós estamos aqui neste planeta com uma função, uma finalidade, e se eu tenho a oportunidade e tenho as ferramentas que possam ajudar esse movimento... Por isso eu não escolho muito a linguagem, porque eu acho que o cinema tem que ter toda a linguagem, entendeu? Eu não fico exigindo ter que ver o roteiro primeiro, não sei o que, eu acho que não, esse não é o momento para isso. Eu acho que esse é o momento de abrir, porque a linguagem é do cinema, os conceitos e os conteúdos são tão variados, tem que ser essa variedade.

MCB: Porque a cultura é variada...

EF: A cultura é variada. As pessoas têm gostos completamente diferentes, as faixas etárias, os conceitos são totalmente diversos. Então, tanto uma criança pode ir ao cinema quanto um ancião gosta  de ir ao cinema. O que eu acho neste momento é que a gente tem que trabalhar isso, fazer com que a nova geração se interesse pelo cinema, como já está acontecendo, graças a essas oficinas, isso se espalhou no Brasil inteiro. Porque quem vem fazer oficina? São os jovens, não é, mesmo que ele não vá ser cineasta, ele quer saber. A gente teve um período de parada, a criança não teve acesso, teve acesso à televisão, aliás, há uma ou duas gerações aí que não sabia nem o que é o cinema. Então, essas crianças é que têm que vir, esses adolescentes, através das oficinas.

MCB: A Quanta já marcou presença em quantas produções? Você consegue mensurar mais ou menos? 

EF: Olha, no ano passado eu estava fazendo um levantamento para colocar no meu site. Eu acho que de longas uns 600 e poucos, já de curtas eu nem sei, eu teria que ver, eu não me lembro.

MCB: É maravilhoso.

EF: É. Mas é muito mais, ou são 600 e tantos de curtas e 200 e tantos de longas, se eu não me engano é isso, mas está no nosso site.

MCB: Uma coisa muito marcante são as mulheres do cinema brasileiro, não são? Um dos motivos do site, inclusive, é esse. Porque muita gente, por exemplo, e não estou falando de pesquisador não, estou falando de público, muita gente talvez nem tenha visto filme do Humberto Mauro, mas sabe do Humberto Mauro. No entanto, não sabe que a Carmem Santos, por exemplo, produziu para o Humberto Mauro. A mulher está lá desde o início, atrás das câmeras. Claro que teve um crescimento muito grande a partir dos anos 1970 e um boom impressionante a partir da Retomada. Outra discussão controversa é a do olhar feminino. Como você vê esse boom das mulheres em todas as áreas no cinema brasileiro?

EF: Eu não acho que é só um olhar feminino, porque o homem pode ter um olhar feminino. Eu acho que independe de ser homem ou de ser mulher. O que eu acho é que surgiu a oportunidade da mulher fazer e se colocar, e ela está aí se colocando, ela está se mostrando, ela está querendo ter o mesmo espaço que o homem tem. Você sabia que tem eletricistas mulheres no Brasil? Antes isso era visto como um trabalho braçal, há anos, em 1960, 70, isso até tinha um nome, “é da pesada, chama o pessoal da pesada”. E hoje tem mulheres fazendo esse trabalho, entende? Na Quanta mesmo eu faço muitos seminários, oficinas dentro da própria Quanta, e houve a formação de duas moças que estão no mercado, duas ou três, que estão no mercado trabalhando e são excelentes. Então eu acho que é isso, foi dado espaço para elas e elas estão lá, como assistentes de câmera, por exemplo. Tempos atrás, a função das mulheres era de continuísta, de figurinista, eram assim, vamos dizer, profissões femininas. Hoje já não é mais isso, o ser humano está agindo em todas as áreas e se dando muito bem. Agora existem mulheres maravilhosas nesse nosso meio que, por conta desse machismo, que graças a Deus está indo embora, que acabaram sendo, vamos dizer, cobertas por uma nuvem, não é? Sobressaíam mais os homens e hoje, ainda bem, você mesmo está fazendo aí um site para mostrar esse outro lado, o quanto a mulher é importante no cinema, como em todas as áreas que existem hoje em dia no mundo, não é?

MCB: A Quanta marca essa presença fundamental investindo quanto? Quanto se investe?

EF: Olha, é o seguinte, você tem que investir de acordo com a demanda. É óbvio que a gente tem que estar sempre com os equipamentos em dia, em ordem, mas o que ocorre hoje, no momento, nesse mercado? A publicidade não está no seu momento bom, ela já esteve muito melhor. E hoje ela não tem esse momento, por quê? Porque a nossa televisão é muito pobre, basta que tenha varejão, então o que você vê hoje na TV aberta é varejão. As grandes empresas, que querem fazer suas publicidades para atingir o público consumidor, não vão querer que passem nesse horário, a não ser em caso de programas especiais que elas sabem que vão ser vistos. Então as empresas estão mudando um pouquinho essa coisa mercadológica da publicidade. Hoje existem muito mais eventos que atingem diretamente o cliente. Vamos dizer, a Brastemp faz um evento para o dono do Carrefour, do Extra, do não sei o quê. Aí compete ao Extra, ao Carrefour, fazer os seus varejões. Eu acredito que a publicidade está tomando um outro formato e esse formato para nós, neste momento, é ruim, porque as agências têm orçamentos muito baixos. Elas estão hoje em contraponto, há uma exigência grande de tecnologia, de produtos altamente modernos, e tal e não sei o que, por conta dos diretores de fotografia. Ao mesmo tempo, há uma deficiência da produtora em nível de orçamento, quer dizer, uma briga para que elas possam fazer esses comerciais. Eu acho que isso é péssimo, porque você começa a nivelar por baixo e o que acontece? Você não tem condições, o empresário não tem condições de fazer grandes investimentos. No cinema, por sua vez, é por isso que você vê tanto o nome da Quanta. A Quanta é uma das únicas empresas que faz coprodução. Nós temos todos os registros na Ancine, em todos os lugares, para que a gente possa fazer coprodução. E o que é coprodução? Eu vou te explicar. Se o orçamento deu 100 mil e o produtor, que tem um dinheiro incentivado, captado e tal, não tem essa verba, ele tem 50, eu entro com os outros 50. Os meus 50 dentro do orçamento dele de um milhão é a porcentagem que eu vou ter sobre o rendimento da bilheteria. Normalmente, no Brasil não se tem rendimento de bilheteria, porque nós não temos ainda um volume de telas, de distribuidores e exibidores que se interessam pelo filme brasileiro. Há até uma obrigatoriedade de cota de tela, e mesmo assim é problema, é problema por um lado ou por outro lado, tem que ter volume de filmes pra que se cumpra a cota, porque se não ele diz “olha, eu não posso cumprir, porque não tenho produto”. Entendeu? Então uma coisa está conectada à outra. 

A Quanta é a pioneira em fazer os investimentos, porque ela vive só disso, ela não desvia o dinheiro pra outras finalidades. Os diretores da Quanta não têm só a Quanta, então, na verdade, são poucas pessoas que dependem do dinheiro da Quanta. Porque tempos atrás eram seis sócios, então, nós tivemos que tomar uma atitude do capitalista, vamos dizer, que é o Frederick Grey, que é o majoritário. Como ele tem indústria e não sei o que, e não depende disso, o que ele fez? Ele só está reinvestindo. A gente se dá tão bem, ele entende tanto o meu modo de operar, 20 anos atrás, que ele me dá retaguarda para isso. Então isso é o que é bom, porque ele aceita. Agora a gente está fazendo um complexo, um condomínio de empresas, um complexo com estúdios do primeiro mundo, justamente para produções estrangeiras, para que eles possam fortalecer o mercado brasileiro em nível financeiro, para que a gente possa se estruturar melhor para poder fazer os filmes brasileiros, porque não tem uma rentabilidade do filme brasileiro.

MCB: E nessas coproduções a Quanta entra com equipamento?

EF: Equipamento. Eu não entro com o dinheiro, eu entro com o equipamento necessário. E aí você cria um elo. Por exemplo, eu criei uma ética na minha postura junto aos cineastas, então o cineasta faz, está no décimo filme, e eu faço com ele porque existe uma credibilidade, entendeu? Não é porque sou coprodutora que vou mandar qualquer coisa, não, ele terá o que eu tenho de melhor, independente se ele está fazendo um longa ou se é um comercial. Não há divisão. Então, eticamente eu ganhei essa confiança que as pessoas têm em relação a Quanta, a minha operação dentro da Quanta.

MCB: Aqui na Mostra de Tiradentes houve uma homenagem bonita da Elisa Tolomelli na exibição do Mulheres do Brasil. A Quanta está presente aqui em quantas produções?

EF: Olha, eu preciso pegar o caderninho. Em O Veneno da Madrugada (Ruy Guerra) a gente fez a coprodução, foi um filme dificílimo, porque foi todinho feito debaixo de chuva. Olha, o que quebrou de equipamento e eles não tinham dinheiro para pagar...  e a gente absorveu isso. Porque é assim, você entra na chuva é para se molhar, você não tem como falar assim “ah, esse eu não vou fazer porque vai molhar, esse ...”. Eu não tenho isso, eu entrei, entrei e acabou, entrei de cabeça. Os curtas eu nem sei, porque eu nem vi. Já A Concepção (José Eduardo Belmonte) foi um tema totalmente diferente. A Máquina (João Falcão) foi um filme belíssimo. Todo feito dentro de estúdio, aquele cenário, as luzes, aquele sol que você via, a noite, o entardecer, era todo feito dentro do estúdio do Polo de Cinema e Vídeo.  O Veneno não tinha muito dinheiro, A Concepção tinha menos ainda, pois era um baixo orçamento, com o Paulo Sacramento, com quem eu já fiz Prisioneiro da Grade de Ferro. Quer dizer, eu sou parceira, entende? Eu nem considero eles meus clientes, nós somos parceiros. O Entre Paredes, por exemplo, um curta que está com 32 prêmios em Pernambuco. Eu não sei, eu teria que ver a listinha... O Didi, eu fiz o Didi, como tem um apelo mais comercial, a gente negocia um pouquinho melhor, mas é um filme barato, é para criança.
MCB: Qual mulher do cinema brasileiro, do cinema mudo até o atual, e de qualquer área, você gostaria de homenagear na sua entrevista?

EF: Olha, existem várias mulheres, não é? Seria até deselegante eu falar de uma ou duas, mas entre as mulheres que se destacam no trabalho, eu gostaria de pensar em algumas que trabalham por trás das câmeras, nos bastidores. Mas tem uma atriz que eu acho que teria uma história maravilhosa para contar e que você deveria entrevistar: Ruth de Souza.

MCB: Eu já entrevistei. 

EF: Ela é uma pessoa que eu amo. Agora, se você me falar de legislação, de quem trabalhou muito para a legislação do cinema brasileiro, eu diria Ruth Albuquerque, que é uma pessoa maravilhosa, que está sempre muito preocupada com a indústria do cinema. Hoje ela trabalha na Ancine, ela contribuiu muito, é uma excelente advogada.  Quem mais... tem tantas mulheres, tantas que fica tão difícil dizer. Tem as fotógrafas, nesse filme mesmo, Mulheres do Brasil, tem a fotografia de uma mulher, que é a Heloísa Passos. Tem a Kátia Coelho, que é uma outra fotógrafa maravilhosa. Cineastas tem a Laís Bodansky, a Tata Amaral, a Carla Camurati, que fez a grande Retomada e é uma amicíssima minha. Olha, tem milhares, eu teria que ficar aqui lembrando, aí eu posso ser injusta com alguma. 

MCB: Muito obrigado pela entrevista.




Entrevista realizada durante a 9ª Mostra de Cinema de Tiradentes, em janeiro de 2006.

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Sala 
 Sala Dina Sfat
Atriz intensa nas telas e de personalidade forte, com falas polêmicas.