Ano 20

Denise Weinberg

A atriz Denise Weinberg nasceu em 26 de abril de 1956, no Rio de Janeiro (RJ). O começo da carreira artística é no teatro: “A gente começou a brincar de fazer teatro e foi assim que começou, acho que se eu não tivesse feito um grupo, que aí a gente fundou o Grupo Tapa, eu acho que eu não seria atriz assim de carreira solo. O que me encantou foi a coisa da equipe, do grupo de teatro, de contar uma história legal, de estar junto com aquelas pessoas, se divertir, por ai”. A estreia nos palcos é em 1979, em Apenas um conto de fadas, de Eduardo Tolentino, mas só muito depois é que foi se sentir como atriz: “eu demorei à beça, eu só me intitulei como atriz quando eu ganhei um prêmio, quando eu comecei a ganhar prêmio, aí eu vi que o negócio era sério. Porque eu comecei com o Grupo Tapa, então eu fundei o grupo, eu produzi, eu fui secretária durante muito tempo também. Então, eu fui mexer com papel, eu tenho talento para essa burocracia”. A atriz desenvolve notável e premiada trajetória nos palcos, fica no Grupo Tapa durante 25 anos, e depois segue carreira solo.

A estreia no cinema é em Guerra de Canudos, de Sérgio Rezende: “Fui convidada. No ultimo momento furou uma atriz que não pode ir do Rio de Janeiro para lá, e tinha pessoas que já me conheciam, estavam lá fazendo o Paulo Betti, o Ernani Moraes, o Camilo Beviláqua, uma turma, e puseram meu nome. O Sérgio não me conhecia, sabia que eu era do Grupo Tapa. Então ai foi assim que eu cai de repente, sabe, foi uma substituição, foi uma oportunidade. Eu estava louca para fazer cinema e foi muito legal, o Tapa todo me deu a maior força, me substituíram, eu fui, e ai começou o amor à primeira vista”. A partir daí atua em vários filmes do cineasta: Mauá, o imperador e o rei, Quase nada, Onde anda você? e Salve geral: “Eu fui aprendendo a linguagem da lente, e nisso o Sergio foi um pai”.

Em Salve geral, Denise Weinberg tem seu grande momento no cinema como a criminosa Ruiva: “Foi muito legal, eu tenho como um marco na minha vida, né, porque o engraçado é que não ia fazer, não era para mim o papel”. A atriz atua em muito outros filmes, com cineastas como Sylvio Back, Walter Salles e Daniela Thomas, Roberto Santucci, Gustavo Galvão e Rubens Rewald. Tem trabalhos também na televisão, como na notável série Alice, da HBO, e em minisséries e novela na Globo.

Denise Weinberg conversou com o site Mulheres do Cinema Brasileiro pelo telefone de sua casa, em São Paulo, em abril de 2013. Ela fala sobre sua trajetória, a fundação do Grupo Tapa, a descoberta como atriz, os espetáculos, o encontro com o cineasta Sérgio Rezende, o trabalho com os outros cineastas, os filmes, o trabalho na televisão e outros assuntos.



Mulheres do Cinema Brasileiro: Para começar, origem, data de nascimento e formação.

Denise Weinberg: Meu nome é Denise Weinberg, eu sou do Rio de Janeiro, já moro em São Paulo há mais de 20 anos, mas não perco o sotaque. Eu sou bióloga, por incrível que pareça eu me formei em biologia, e foi depois que eu fui fazer teatro e virei atriz, então minha formação é em biologia.

MCB: E como surgiu o desejo na bióloga em ser atriz?

DW: Olha, na verdade eu nunca desejei ser atriz, foi uma coisa que aconteceu, parece louco, mas é verdade. Tinha uma turma no Rio de Janeiro, Eduardo Tolentino, que é o diretor do Grupo Tapa, a minha irmã... A gente morava em Ipanema, ia à praia, gostava muito de teatro, de cinema, a gente era muito ligado às artes. Então a gente começou, Eduardo brincando, escrevendo texto, A gente começou a brincar de fazer teatro e foi assim que começou, acho que se eu não tivesse feito um grupo, que ai gente fundou o Grupo Tapa, eu acho que eu não seria atriz assim de carreira solo. O que me encantou foi a coisa da equipe, do grupo de teatro, de contar uma história legal, de estar junto com aquelas pessoas, se divertir, por ai.

MCB: Quando vocês montaram e você foi pra cena, ai você se sentiu uma atriz ou isso não aconteceu? 

DW: Não, eu demorei à beça, eu só me intitulei como atriz quando eu ganhei um premio, quando eu comecei a ganhar premio, aí eu vi que o negócio era sério. Porque eu comecei com o Grupo Tapa, então eu fundei o grupo, eu produzi, eu fui secretaria durante muito tempo também. Então, eu fui mexer com papel, eu tenho talento para essa burocracia.

MCB: Qual foi o primeiro espetáculo? 

DW: Foi um espetáculo infantil chamado Apenas um conto de fadas, do próprio Eduardo Tolentino.

MCB: E quando você entrou em cena, o que você sentiu? Teve medo? Foi normal? Como foi?

DW: Achei esquisito. Acho que entrar em cena era consequência de todo um trabalho antes, sabe, o que me interessava era o trabalho antes, não sei de da pra entender. Eu gosto muito do ensaio, eu gosto muito de coxia, eu gosto muito de trabalhar no oficio. A temporada é uma consequência daquele trabalho todo que eu fiz, daqueles meses anteriores, isso que eu gosto. Acho que com o meu próprio trabalho em grupo que a gente está sempre estudando, trabalhando, está sempre vendo coisas novas, isso é muito legal na minha profissão, sabe, você pode mudar de mundo em um mês. 

MCB: Bom, e aí, desse primeiro espetáculo que você achou estranho, você já falou que foi se sentir atriz quando começou a aparecer os prêmios.

DW: Ai fui começando a brincar também de produzir, a gente começou a fazer o grupo e eu comecei a gostar da coisa, comecei a me interessar pelo trabalho de ator. Ficamos juntos durante muito tempo, então minha formação foi na estrada, fazendo, fazendo. Fiz muito teatro, em colégio, em projeto de escola, viemos juntos para São Paulo e ficamos internados no Teatro Aliança Francesa fazendo teatro de segunda a segunda, repertorio, isso me deu muita canja. Foi muito legal, dei um olhar também para o ofício de ator muito interessante, que eu gosto, é uma coisa que eu gosto de fazer, tenho muito prazer em fazer.

MCB: O Tapa foi fundado quando?

DW: Foi fundado em 79.

MCB: E você saiu quando?

DW: Eu saí em 2000. Eu fiquei 25 anos, é uma vida.  Por isso que eu falo com muito carinho e respeito, eu acho que é uma coisa que me fez muito bem, foi uma escola, até hoje eu acho que o Tapa é uma grande escola, o Eduardo está lá firme e forte na direção de ator.

MCB: Você poderia citar alguns espetáculos de destaque seu no Tapa?

DW: Sim.  Vestido de noiva, do Nelson Rodrigues, foi um espetáculo lindíssimo que nós fizemos, ganhamos prêmios de melhor em tudo na época, foi muito legal.  Megera domada, do Shakespeare, um espetáculo lindíssimo. Fizemos o Plínio Marcos, Navalha na carne, depois fiz mais dois fora do Tapa. A gente fez também Jorge Andrade, nossa, tem tantos espetáculos bonitos. Fizemos o Ivanov (Anton Tchekhov), um espetáculo lindíssimo, que tem uma pesquisa muito profunda que a gente fez. Eu tenho boas recordações, tem um repertorio muito eclético, assim de clássicos, desde Moliére até Nelson Rodrigues. A gente pegou muito teatro brasileiro, a gente estudou profundamente Arthur Azevedo. E tem toda uma trajetória dramatúrgica também muito bacana, é um grupo muito sério, que estuda muito sério.

MCB: Você decidiu sair por quê?

DW: Foi o cinema que me capturou.

MCB: Ainda no teatro, quando você sai do Tapa, você faz trabalhos com outros encenadores. As lágrimas amargas de Petra von Kant...

DW: Foi, foi em 2001. Logo depois do Tapa eu fiz O acidente, do Bosco Brasil, com direção da Ariela Goldman, foi em 2000, foi a minha primeira. Em 98, eu fui filmar Canudos (Guerra de Canudos, 1998, Sérgio Rezende), e aí eu fiquei no sertão um mês, lá na Caatinga. Meu espaço dentro do Tapa era muito forte, eu ocupava um espaço muito forte e eu tinha que ser substituída. A Sandra Corveloni, que é uma atriz bacana, já até trabalhamos juntas de novo no teatro, veio me substituir. Parecia que eu tinha saído da gaiola, sabe, ai eu fui vendo o mundo de uma outra forma “eu quero trabalhar com outras pessoas também, eu quero fazer outro tipo de coisa”. Aí eu peguei aquilo, porque no grupo era dedicação total, integral, não dava espaço da forma com que a gente trabalhava, não tinha tempo para absolutamente mais nada. Eu fazia produção também, cuidava da parte financeira, era pesado, não era só atriz. Agora eu acho tudo lindo, eu sou atriz.

MCB: Você pode destacar alguns espetáculos fora do Tapa?

DW: Vários, vários. As lágrimas amargas foi um, Oração para um pé de chinelo, do Plínio Marcos foi outro, eu ganhei o Prêmio Shell.

MCB: Bom, vamos ao cinema. No Guerra de Canudos você faz a Margot, não é isso?

DW: Exatamente.

MCB: Como foi essa chegada ao cinema?

DW: Isso foi muito louco também porque não foi programado, eu conheci o Sérgio no set, acredite se quiser “eu sou a Margot, prazer, Denise”, “Denise? Sérgio”. 

MCB: Mas você foi convidada ou foi teste?

DW: Fui convidada. No ultimo momento furou uma atriz que não pode ir do Rio de Janeiro para lá, e tinha pessoas que já me conheciam, estavam lá fazendo o Paulo Betti, o Ernani Moraes, o Camilo Beviláqua, uma turma, e puseram meu nome. O Sérgio não me conhecia, sabia que eu era do Grupo Tapa. Então ai foi assim que eu cai de repente, sabe, foi uma substituição, foi uma oportunidade. Eu estava louca para fazer cinema e foi muito legal, o Tapa todo me deu a maior força, me substituíram, eu fui, e ai começou o amor à primeira vista.

MCB: Você consegue relembrar a primeira experiência de set, a sensação? 

DW: Foi engraçado, eu não tinha a menor ideia cara, eu não tinha a menor ideia, eu nunca tinha feito nada em câmera, nada.

MCB: Nem em comercial?

DW: Nada, nada, nada. Acho que eu tinha feito alguma coisa em televisão, programa, isso, eu tinha feito entrevista, mas não filme. Então eu entrei para ajudar, porque eu sou uma atriz de grupo, então eu meto a mão na massa. Tinha uma marca no som e eu peguei a marca, aí mudou, mais para a esquerda e eu mesmo peguei aquele tijolinho que eles colocam e marquei. O cara me deu uma bronca, mas uma bronca “cada um tem seu oficio aqui, você está querendo tirar meu emprego, eu sou o contra regra”. Aí vi que ali era totalmente diferente, fui aprendendo na observação, eu fiquei meio obcecada. O Sergio foi um grande pai no cinema, me ensinou pra caramba, foi também uma história de amor à primeira vista, a partir daí a gente começou a fazer uma parceria, né, ele me chamou para os filmes dele.

MCB: Exatamente.

DW: Viramos grandes amigos, grandes parceiros. 

MCB: Você faz os filmes seguintes dele.

DW: Faço. Ele me chamou para fazer o Quase nada (2000) e aí que foi o máximo, porque era um filme de baixo orçamento. Nós ficamos em uma fazenda do pai do Sérgio, no interior de Minas Gerais, que estava meio abandonada, estava sem empregados. Foram as pessoas necessárias, acho que éramos umas sete, era eu, o pessoal do figurino, o cara do som, o Sérgio, o cara do boom e o Genésio (de Barros), que era meu parceiro já no teatro. Foi aí que o Sérgio sentou e disse “ó, isso aqui não é teatro, ó, aqui está representado”. Fizemos exercícios, e ele mostrando, com a maior paciência, um professor. Porque nós, de teatro, temos uma tendência, porque no teatro é mais livre, é uma outra linguagem. Eu fui aprendendo a linguagem da lente, e nisso o Sergio foi um pai. 

MCB: Curioso porque você vai com ele de uma grande produção, que é o Guerra de Canudos, para uma produção pequena, que é o Quase nada.

DW: É, exatamente essa proposta de ser quase nada também, foram só atores de teatro, não tinha o menor conforto, a gente dormia ali, era guerrilha. Eu gosto de fazer assim, sabe, meu lado guerrilheira, eu sou, o que eu posso fazer, vou morrer indignada.

MCB: E é um filme lindo o Quase nada.

DW: Lindo, acho um dos filmes mais bonitos dele.

MCB: Eu também acho.

DW: Acho que é bonito quando o Sérgio faz um filme autoral.

MCB: Depois você também trabalha com ele no Onde anda você? (2003)..

DW: Eu faço também com o Genésio de novo, fazemos um casal engraçadíssimo.

MCB: E aí depois você vai desaguar na Ruiva do Salve geral (2009).

DW: É, esse foi um caldeirão bom, né.

MCB: Antes de falarmos sobre a Ruiva, que é um grande momento seu no cinema, um personagem muito poderoso, eu queria que a gente passasse pelos outros filmes, porque você faz o Mauá (Mauá, o imperador e o rei, 1998).

DW: Mauá foi uma participação afetiva, como o Sérgio diz, a gente ficou se acertando, ele sempre me botava. O Sérgio tem uma coisa assim, que eu também tenho: ele é muito fiel. Eu também gosto de trabalhar com as mesmas pessoas, talvez até pela minha história de grupo, eu acho que você consegue aprofundar mais o seu trabalho, porque quando você vai pra um, vai pra outro, vai pra outro, vai pra outro, você é obrigado a procurar outras possibilidades. Eu não posso fazer uma Ruiva de novo, você trabalha uma textura maior, eu acho.

MCB: Você faz um curta de sucesso que é o BMW (BMW vermelho, 2001, Reinaldo Pinheiro e Edu Ramos), não é?

DW: Esse também foi muito legal, eu fiz junto com o Quase nada, eu filmei na mesma época.

MCB: Você ganhou prêmio nesse filme, não é?

DW: Sim, a história do roteiro é muito legal, com o Otávio Augusto também.

MCB: Tinha alguma diferença para você em ser um curta, ou foi a mesma coisa?

DW: Eu adoro fazer curta, eu gosto muito. Eu acho que o curta tem uma função dramatúrgica que me encanta, porque tem aqueles minutos para contar uma boa história, tem que ser cordial, não dá para enrolar. E acho que a tua interpretação no curta também é muito exigida. é quase como se fosse uma contenção de um monte de coisa, sabe, eu gosto disso. Aquele outro que eu fiz também, De resto (2007), eu também adorei fazer, aquele curta do Daniel Chaia.

MCB: Você fez também o Em nome do pai (2002, Júlio Maria Pessoa).

DW: Foi muito bacana com o Júlio Pessoa. Eu gosto de história, eu gosto do formato de curta, faço com o maior prazer.

MCB: O De resto eu não conheço não.

DW: É aquele que eu acho um dedo no chão. É muito interessante também, é muito intrigante, eu gosto dessa histórias assim, esquisitas. Apesar de o curta ser a mesma linguagem, a maneira de você trabalhar é diferente, como atriz. Você tem que sentir muito mais a tua imagem, no curta a sua imagem fica mais forte, poderosa, então você tem que dosar.

MCB: Você fez um outro também que se chama Estação (2010, Márcia Faria).

DW: Estação, da Márcia, foi uma participação afetiva, ela me dirigiu na série Alice, da HBO.

MCB: Nos longas você continuou sendo dirigida por grandes diretores, você faz o Lost Zweig (2002), com o Sylvio Back. Como que foi trabalhar com ele?

DW: Foi mais difícil, bem difícil. Porque os atores não eram brasileiros, né, ele era alemão (Rüdiger Vogler) e ela era austríaca (Ruth Rieser). Foi difícil a comunicação, não foi um set agradável, então eu te confesso que foi um rio que passou pela minha vida. E eu não me deixei levar.

MCB: Depois vem o Linha de passe (2008, Walter Salles e Daniela Thomas).

DW: Esse foi uma delicia, ele também é um filme que eu tenho muito em meu coração, porque fui eu que eu indiquei a Sandra Corveloni, que ganhou o Festival de Cannes, a gente está se reencontrando agora, a gente esta fazendo uma peça juntas, estamos ensaiando, eu e a Sandra. Chama-se Dançando em Lúnassa, é de um autor irlandês (Brian Friel). 

MCB: Como foi fazer a Estela no Linha de passe?

DW: Foi muito legal trabalhar com o Waltinho.

MCB: Walter e Daniela

DW: Sim, a Daniela eu já conhecia pelo teatro, então a Daniela foi um anjo da guarda ali. Porque eu acho que é uma divisão muito bacana que eles fizeram, o Waltinho ficava com a coisa do enquadramento e a Daniela ficava mais no jogo cênico, foi uma boa dupla. A Daniela me deu bons toques, foi muito legal, e o Waltinho é um gentleman. Acho que é uma história bacana também, uma história muito bem contada, foi muito bom de trabalhar, set agradabilíssimo, agradabilíssimo, foi muito divertido. A gente fez rapidinho, com uma eficiência, a equipe do Waltinho é um show de eficiência, um show. Não tem espera, é muito interessante isso, eles têm uma coreografia, porque trabalham juntos há muito tempo, entende? É a mesma história, acho que quando você trabalha com as mesmas pessoas você não precisa falar muito, a coisa já vai por si só, isso é muito legal. 

MCB: Antes de entrarmos nos outros filmes vamos parar aqui na Ruiva, do Salve geral, que eu acho que é um trabalho seu impressionante. Como foi participar desse filme? Como foi compor a personagem? E a relação com a Andreia Beltrão? 

DW: Foi muito legal, eu tenho como um marco na minha vida, né, porque o engraçado é que não ia fazer, não era para mim o papel.

MCB: Não? 

DW: Não. Quando o Sergio me chamou, ele queria que eu ajudasse ele aqui em São Paulo, apresentar atores do teatro paulista, ele só queria atores de teatro paulista. Porque ele já sabia que o filme teria mais credibilidade com caras completamente desconhecidas, e se passava em São Paulo, então ainda tinha o negócio do sotaque. E eu achei ótima a ideia. Tinha também uma cota para atores conhecidos, por causa dessa questão de patrocínio Eu ia fazer um papel pequeno, uma participação afetiva, ia ficar com o Sergio no casting. O Sérgio ficava com os figurantes e eu ia aplicar teste aqui em São Paulo, convidei vários atores do teatro paulista para fazer cena comigo e para o Sergio filmar, fizemos uma bateria de testes. Eu fiquei com o elenco, fui ajudando a montar, já estava agendado, estava tudo certo. Só faltava a Ruiva, que ia ser uma outra pessoa, uma atriz global que não deu, o filme tinha uma agenda de quase três meses de filmagem, a gente filmou novembro, dezembro, janeiro, então era uma agenda pesada, então para quem tinha contrato na Globo ficava difícil.  

A gente estava em Campinas, eu fiquei internada em Campinas um mês, e ai nesse vai e vem começou o estudo, aí o Sérgio me ligou. Por causa dos testes eu tinha feito o texto da Ruiva, eu sabia muita coisa da Ruiva e achava, particularmente, o melhor personagem do roteiro. Quando a gente fez a leitura pra Columbia Filmes, sei lá, umas dessas que produziram, eu fui com o Sérgio e mais dois atores. Ele me perguntou o que eu queria ler e eu disse que queria ler a Ruiva, “melhor personagem do roteiro”, falei brincando. Não passava, eu juro por Deus, não passava pela minha cabeça fazer a Ruiva, que era uma coisa já fechada, entendeu? Aí o Sérgio ficou cheio dessa loucura porque começou uma degradação de nomes ladeira abaixo. Ele então me ligou e perguntou brincando “olha, não sei se você conhece uma atriz ai de São Paulo, acho que já fechei na minha cabeça, tá pensando, quer saber, você põe a Denise Weinberg pra fazer a ruiva”. Era em outubro e a gente ia começar em novembro. Caramba, ai fui fazer dança do ventre, porque ele me deu esse dado, que a ruiva gostava de música árabe, o que eu acho que me ajudou também pra caramba, muito legal. Porque aquele visual, eu não tinha nada a ver com aquilo, né, eu morria de vergonha de sair na rua, horrível, ainda bem que eu fiquei em Campinas. Eu falei com o Sergio “quero ficar em Campinas, eu quero ficar no hotel, mesmo que eu não filme no dia eu fico lá”. Eu achava muito melhor, porque ai você fica de stand by sempre, qualquer coisa eu era o coringa da história. Foi muito bom, porque ai eu me internei, foi um trabalho bom, tudo depende também da sua disponibilidade. E teve também a Andreia, que é uma atriz que eu admiro pra caramba, sempre admirei, eu era louca pra trabalhar com ela. Ela foi de uma grande generosidade, para eu brilhar e ela também, foi super generoso, super bonito. Ela é uma atriz de teatro também, então a gente jogava pra valer. Aquela cena que a gente fez na cozinha, eu e ela na discussão mais pro final, foi uma cena tão bacana, que o Sergio foi assistir ao vivo, ele saiu do monitor, sabe, ficou assistindo sentadinho em baixo no chão da cozinha. Porque era um jogo cênico, um jogo de teatro que é difícil, foi muito legal, foi um prazer fazer a Ruiva, foi um prazer, foi passear por lugares que eu nunca tinha ido, foi aí que eu comecei a namorar com a lente, realmente.

MCB: Eu e o Eucir de Souza comentamos muitas vezes sobre o seu trabalho no filme, que é muito impressionante. 

DW: O Eucir é uma grande figura, um grande ator.

MCB: Antes de a gente entrar nos outros filmes que você vez, vamos falar sobre um trabalho seu que eu adoro que é a Dora do Alice (2008). O seu trabalho, e também a série da HBO, é muito bonito.

DW: Muito bonito, uma história muito bonita.

MCB: É sua estreia na televisão de atriz, não é?

DW: Foi meu primeiro trabalho na televisão, olha como eu sou sortuda, porque eu acho que sou muito protegida. O Sérgio Machado me conhecia também, acho que uma coisa atrai a outra. A mulher do Sérgio Machado foi minha aluna no Rio de Janeiro, ele estava fazendo os primeiros filmes dele, estava chegando, e aí ele foi me assistir no As lágrimas amargas de Petra von Kant, e essa imagem ficou na cabeça dele. Quando ele foi escrever, ele me convidou, ele escreveu a Dora para mim, inspirado naquilo que ele tinha visto eu fazer no teatro.

MCB: E aí tem o seu encontro com a Regina Braga. 

DW: Ele me convidou e a ela também. Foi muito gostoso, a equipe era muito legal, a equipe de diretores, o Karim Aïnouz, a Diana, era gente de cinema, não era gente de publicidade e nem de televisão. Foi feito com muito cuidado, demoramos seis meses para fazer aquela série, era muito bom, foi uma época muito boa, foi muito agradável de fazer.

MCB: Trabalho maravilhoso também da Andréia Horta.

DW: Andréia Horta, que é uma gracinha, esta fazendo uma série na Globo.

MCB: E ai você emenda uns trabalhos na televisão, não e? Você faz Maysa (Maysa – quando fala o coração, 2009, Manoel Carlos).

DW: Que foi a minha entrada na Globo. Aí fiz Maysa, fiz Dalva (Dalva e Herivelto – uma canção de amor, 2010, Maria Adelaide Amaral), fiz a mãe da Dalva, e fiz a novela, que também era pontual, porque eu apareci no inicio e no fim.

MCB: Que é a Amor eterno amor (2012, Elizabeth Jhin).

DW: Sim, em que eu estava com o Rogério Gomes (diretor), que é super querido também. Para você ver como a Petra von Kant rendeu. O Rogério Gomes era namorado da Débora Secco, que fazia a peça comigo, era minha amante. Ele fez o vídeo, ele viu esse vídeo, que era uma transa minha com Débora, e ai eu brincando com ele, que era bem mais garoto “aí, nó ainda vamos trabalhar junto”. 

MCB: Foi tranquilo para você esse trabalho na televisão? 

DW: Com o Rogério foi fácil, já a TV foi difícil pra mim, muito difícil.

MCB: Por causa da linguagem?

DW: É, eu acho que agora eu estou aprendendo.  É um lugar que me tira muita energia, sabe, é uma indústria, não da pra fazer arte na indústria, entende? Para mim, que gosta de ensaiar, fazer tudo aquilo que eu te disse antes, lá é impossível, é pizza, entra e faz o que você tem que fazer rápido e vai embora, eu não sei, entende? Veja bem, tem gente que adora, agora para mim é um pouco violento “Deus do céu, não vai nem ensaiar? Pra poder achar outras coisas?” Eu já entendi, para mim é assim, eu vou com essa proposta, eu já vou com a coisa pronta na minha cabeça e realmente funciona, dependendo do diretor. Com o Rogério Gomes isso é muito legal, é muito legal trabalhar com ele, porque como ele diz, a gente vai fazendo junto, ai é uma delicia, entendeu? Acho que meu casamento com o Rogério, agora estamos fazendo A teia também, eu estou com ele, eu estou viajando nesse momento, é uma parceria que eu gosto muito, que me faz bem, então eu tenho que agradecer o Rogério, entendeu? Me deixa fazer o teatro, continuo em cartaz durante as minhas folgas, numa boa. Acho que são personagens mais pontuais e esses me interessam mais, acho que eu funciono melhor assim, tanto para eles quanto para mim.

MCB: Voltando ao cinema. Você faz um arrasa quarteirão que é o De pernas pro ar (2010, Roberto Santucci).

DW: Esse foi engraçado, foi um Playcenter mesmo.

MCB: Porque é um dos grandes sucessos de bilheteria.

DW: Uma loucura.

MCB: Você faz a Marion.

DW: Faço a Marion, foi muito divertido fazer. A Mariza Leão que me chamou, e para ela é impossível negar qualquer coisa porque ela também foi minha mãe no cinema, ela é casada com o Sérgio (Rezende). Eu sei que é um papel mais comédia, mas olha, foi um prazer fazer, é um prazer esta com a Ingrid (Guimarães), a gente se deu super bem, eu me diverti muito. Fui para o Rio, eles me deram um apartamentinho, fui à praia pra fazer laboratório da Marion, fazer pilates, era isso que eu fazia.

MCB: E você faz os 2, né? Depois faz a sequência – De pernas pro ar 2

DW: Muito carioca, na maneira de ser. Eu sou carioca também, eu gosto de praia, eu gosto de sol, então foi muito, muito estimulante, a gente se diverte muito.

MCB: E aí tem o Nove crônicas para um coração aos berros (2012, Gustavo Galvão).

DW: Esse é do Gustavo Galvão, está no mercado, está rodando em festivais.

MCB: Tem também o Super nada (2012), do Rubens Rewald.

DW: Que também é muito querido, além de ser com o Marrá (o ator Marat Descartes), adoro ele, fizemos um Plínio Marcos, já dirigi o Marrá em uma peça também, tem uma intimidade em cena. O pessoal também foi muito legal, foi muito gostoso de fazer. O Rubens é uma pessoa muito querida, muito ligada a essa coisa da atuação, gosta de ator, ele dá aula, então eu acho que é um cara que está por dentro.

MCB: É um filme bacana.

DW: É, eu gosto, eu gosto daquele roteiro. Quando eu li o roteiro, eu falei “que coisa legal”. Tem um segmento muito especifico, mas é tão real, claro que tem aquelas coisas de fantasias, um pouco, mas no fundo é isso, e o Marrá eu acho brilhante, eu acho que ele faz um trabalho estupendo. 

MCB: No Nove crônicas para um coração aos berros tem vários personagens. 

DW: Exatamente, são crônicas. E o Marrá faz até uma mulher, estava vestido de mulher. Ele faz vários personagens, porteiro, faxineiro, ele costura um pouco o filme.

MCB: No filme, você e o Júlio Andrade têm cenas longas na cozinha. Vocês conversando na mesa, e aí depois você abandona a família, 

DW: Isso ai, exatamente.

MCB: Além da peça e de A teia, você esta envolvida em outro filme? 

DW: Não, agora não. 

MCB: Para a gente finalizar, as duas únicas perguntas fixas do site: Qual o último filme brasileiro que você assistiu?

DW: O som ao redor (2012, Kléber Mendonça).

MCB: E a segunda: Qual mulher do cinema brasileiro, de qualquer época e de qualquer área, você deixa registrada em sua entrevista como uma homenagem?

DW: Leila Diniz. Pela ousadia dela e coragem.

MCB: Muito obrigado pela entrevista.


Entrevista realizada em abril de 2013,
Foto: Lenise Pinheiro.


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Sala 
 Sala Dina Sfat
Atriz intensa nas telas e de personalidade forte, com falas polêmicas.