Theresa Amayo
A atriz Theresa Amayo nasceu em Belém, Pará, em 13 de julho. O início da carreira artística foi no teatro, espaço no qual vai construir carreira importante: “Na realidade, As meninas Barranco foi um teste, foi a confirmação de um teste, porque a minha estreia eu considero na peça Irene (1951), do Pedro Bloch, que foi feita em seguida”. A atriz passou por toda a fase em que ser atriz não era uma profissão aceita: “Eu sofri, as mães das minhas colegas começaram a proibir que as meninas fossem minhas amigas porque agora eu não era mais uma menina respeitável, eu era uma atriz, então foram dores que eu fui sofrendo, e adolescente ainda”.
Theresa Amayo é uma das veteranas da televisão: “Só tinha ao vivo, televisão era uma mistura, era uma coisa nova que ninguém dava importância quando eu comecei, o importante era o rádio, eram os rádios-atores, especialmente os cantores”. Casada com o saudoso ator e diretor Mário Brasini, a atriz atuou em várias emissoras, protagonizou sucessos como Sangue e areia (1967/68) e O espantalho (1977), e prosseguiu a carreira em novelas como Pecado capital (1975/76), na Globo; O espantalho (1977), na TVS; Carmen (1988), na Manchete. Ainda na Globo, além de outros trabalhos, faz participação em Senhora do destino (2004/2005), atua nas séries As cariocas e As brasileiras, e, atualmente, no humorístico Zorra total.
A estreia no cinema foi na década de 1950 em Perdidos de amor (1952), de Eurídes Ramos, cineasta que vai dirigi-la em grande parte de sua carreira cinematográfica: “Eu fiquei toda contentinha, claro, fiz os testes fotográficos, aquelas coisas, vamos fazer o filme. Daí os caras ficaram com medo de jogar dois desconhecidos no cinema, porque o Dick (Farney) era conhecido no rádio, mas não era um ator de cinema, e eu estava estreando em teatro, um sucesso e tudo, mas estava estreando. Então eles puseram a Fada Santoro e eu passei a fazer o segundo papel, que era a menina feia, era a história da gata borralheira.”. Nos filmes seguintes com Eurídes, atua ao lado de grandes atores e comediantes, como Mazzaropi, Agildo Ribeiro, Zé Trindade, Ema D´Ávila, Zezé Macedo, Antônio Carlos: “Todos foram pessoas muito queridas, havia uma solidariedade, ninguém se considerava o maior do mundo, nem o Anselmo (Duarte), nada, todos eram profissionais trabalhando juntos, todo mundo com o mesmo valor, entendeu? Era uma coisa muito legal”.
Theresa Amayo conversou com o site Mulheres do Cinema Brasileiro por telefone de sua casa, no Rio de Janeiro, em abril de 2013. Ela fala sobre sua formação, a estreia nos palcos, os espetáculos em que atuou, a importância em sua carreira de nomes como Conchita e Dulcina de Moraes, o sucesso nas novelas, a estreia no cinema, a formação em Psicologia, a tragédia familiar vivida com o tsunami e outros assuntos.
Mulheres do Cinema Brasileiro: Para começar, origem e data de nascimento.
Theresa Amayo: Meu nome é Theresa Guichard Amayo Brasini, artisticamente Theresa Amayo, muitas vezes chamada de Theresinha porque eu comecei muito jovem. Eu gosto que me chamem de Theresinha, mas que escrevam Theresa. Eu nasci em Belém do Pará, eu vim para o Rio de Janeiro pequenininha, sou original de uma família francesa e peruana, os de Sá e Amayo, e italiana, porque eu sou Brasini também por causa do meu marido, Mário Brasini, que, infelizmente, já está longe, mas me esperando, a gente se encontra. Nasci em 13 de julho.
MCB: O início da carreira foi no teatro, não é? Na peça As meninas Barranco (1950, direção de Jorge Diniz)?
TA: Teatro mesmo. Na realidade, As meninas Barranco foi um teste, foi a confirmação de um teste, porque a minha estreia eu considero na peça Irene (1951), do Pedro Bloch, que foi feita em seguida.
MCB: Na qual você faz, inclusive, a protagonista, uma adolescente.
TA: E estou ao lado de atores extremamente consagrados, como a Conchita de Moraes, que era uma grande atriz, brilhante atriz, e que deixou uma filha para seguir a carreira dos pais, que foi a Dulcina de Moraes.
MCB: Esse espetáculo, inclusive, foi dirigido pela Dulcina, não é isso?
TA: Foi, direção da Dulcina, e o autor era o Pedro Bloch.
MCB: Você teve uma parceria grande com a Dulcina e com a Conchita, inclusive dedica sua biografia na Coleção Aplauso, Ficção e Realidade, para elas.
TA: Exatamente.
MCB: Você poderia falar um pouco sobre elas?
TA: Bom, elas eram os meus ídolos, porque eu era estudante, ainda terminando o ginásio do Colégio Pedro II quando entrei para fazer um concurso, meio de brincadeira. Porque eu sabia dizer poesia e o concurso procurava uma jovem atriz para estrelar uma peça chamada Anita Garibaldi, personagem que eu tinha acabado de conhecer nas aulas de História do colégio. Eu achava a Conchita maravilhosa, uma mulher fantástica, uma lutadora, uma guerreira, para uma adolescente não existia retrato melhor. A Conchita era uma senhora gorda maravilhosa, uma atriz extraordinária que tinha um público muito, muito grande. Já a Dulcina era um ícone do teatro, porque naquela época, anos 1950, o teatro era uma coisa muito importante, a gente trabalhava de terça a domingo, nove sessões, os teatros eram lotados. Eu estreei em uma segunda-feira com Irene, a peça entrou no teatro às segundas-feiras, o sucesso foi tão estrondoso que tirou de cena a menina que a Dulcina fazia, e a Dulcina foi muito carinhosa comigo, ela dizia que eu ia ser a substituta dela no teatro, imagina? A Conchita era muito querida, eu era uma garota ainda, muito bobinha, muito cheia de esperança, cheia de admiração por aquele mundo novo que se abria à minha frente. Então eu era muito paparicada pela Dulcina, pelo Odilon (Azevedo), pela Dona Conchita, pela Dinorah (Marzullo), pelo Pêra (Manuel Pêra). Havia ainda uma menina de nove anos, sei lá, chamada Marília, que hoje em dia é a grande e belíssima atriz Marília Pêra, por quem eu tenho um carinho muito grande.
MCB: Além da companhia da Dulcina e do Odilon, você também trabalha em outras companhias importantes, não é?
TA: Sim, apesar da luta que foi aquele tempo da década de 50, havia um preconceito enorme contra atrizes, contra atores, as pessoas gostavam de ver, mas não queriam que ninguém da família estivesse lá no palco. Ainda que na Companhia tivesse a Dulcina, que era casada com o Odilon, a mãe (Conchita) da Ducina trabalhava, o Pêra era casado com a Dinorah, tinha uma filha que estava sempre lá, enfim, era uma família legalmente constituída que tinha esta companhia, entendeu? Mas havia um preconceito. A minha luta foi muito grande porque eu só conhecia gente legal, todas as pessoas que eu conhecia eram pessoas maravilhosas, não importava se a pessoa era separada, ela não podia se casar de novo porque não tinha o divórcio no Brasil, mas as pessoas eram olhadas com olhos meio enviesados. Eu sofri uma perseguição familiar muito grande pelo fato de estar seguindo uma carreira ao invés de ser médica, como era o sonho da minha mãe.
MCB: E você também se separou, como você conta na sua biografia, e que era complicado ser atriz e uma mulher separada.
TA: Eu sofri, as mães das minhas colegas começaram a proibir que as meninas fossem minhas amigas porque agora eu não era mais uma menina respeitável, eu era uma atriz, então foram dores que eu fui sofrendo, e adolescente ainda. Depois, quando me separei do meu marido, do meu primeiro casamento, que foi um desastre e que só teve uma coisa maravilhosa, que foi a minha filha, eu fui expulsa da casa de uma amiga minha que eu fui visitar, a mãe me expulsou da casa dela porque na casa dela não entrava mulher desquitada.
MCB: Hoje nós fomos para o extremo oposto, porque hoje tem um culto à celebridade, não é?
TA: Hoje em dia a coisa degringolou, eu acho que as coisas estão sendo mistificadas, os preconceitos estão caindo por terra como têm que cair mesmo, mas, às vezes, eu fico pensando que as coisas estão um pouquinho exageradas.
MCB: Porque hoje tem esse culto à celebridade, à fama.
TA: Celebridades, o que significa celebridade hoje em dia? É você estar na Globo? Você não é celebridade por estar fazendo teatro. Celebridade é por muito pouco tempo, no máximo um ano, se você não tiver continuidade no trabalho, não é o ator que tem uma carreira, que estudou, que estuda, que se dedica a uma profissão, é uma coisa muito meteórica.
MCB: Esse seu período do teatro é um período importante no Brasil, de grandes companhias, de grandes atrizes como você, Fernanda Montenegro, Dulcina de Moraes, Natália Timberg...
TA: Isso, realmente, eu estava conversando com uma colega outro dia, que me disse “sua vida é uma coisa maravilhosa, é um filme”. Porque eu tive uma felicidade de ter nascido nessa época, de ter passado por essa mudança toda, eu tive uma família maravilhosa, com todos os problemas que as famílias têm, com todos os preconceitos que elas também herdam e que transmitem para os filhos, né, mas eu tive uma mãe sensacional.
MCB: Sua mãe te acompanhava nos primeiros trabalhos, não é?
TA: É, minha mãe, ela reclamava que aquilo não era profissão de uma moça de família, chegar em casa 11 horas da noite, imagina, o que os vizinhos vão dizer, entendeu? Essas coisas todas eu passei. Mas vou dizer o quê? Vou dizer que estava trabalhando. E aí a coisa ficava feia, ficava brigando, acabava levando uma surra, porque naquele tempo as meninas apanhavam, né?
MCB: E é dessa geração maravilhosa que a gente acabou de perder a Cleyde Yáconis ontem.
TA: Pois é, é uma dor, uma dor muito grande, eu amava a Cleyde, a Cleyde foi uma extraordinária atriz, brilhante, linda, um ser humano singular. Hoje é o enterro dela em São Paulo, infelizmente, eu não posso ir, eu tenho horror a enterro depois do que eu vivi, aliás, eu nunca gostei de cemitério, mas depois do que eu vivi ir para cemitério para mim é um terror.
MCB: Antes de entrarmos no audiovisual, você poderia citar alguns espetáculos de teatro que você gostaria de deixar registrados, citar alguns que são importantes pra você?
TA: São muitos espetáculos.
MCB: Eu sei disso, mas você poderia citar alguns?
TA: Especificamente no teatro, eu gostaria de citar Mulheres feias (1954), que eu fiz com Madame Morineau em São Paulo, com a Fernanda (Montenegro). Eu gostaria de citar À margem da vida (1958), do Tenessee Williams, eu fazia com Madame Morineau e o Paulo Araújo, direção de um espanhol, Caetano Luca de Pena, no Teatro Copacabana. Eu gostaria de citar um dos espetáculos mais queridos que eu fiz, que foi um musical, eu adoro musical, adoro cantar, dançar, foi o Irma la Douce (1968), que eu fiz no Teatro do Rio e depois no Teatro João Caetano. Tem uma história do Teatro João Caetano, tem minha foto em tamanho natural vestida de Irma la Douce, e que as pessoas não sabem, fica escondida nessa parte do Teatro João Caetano, tem uma escadinha, as pessoas ficam lá embaixo e não sabem, tem que subir aquela escadinha, mas de qualquer forma é lindo, é um museu, lindíssimo. O que mais? Eu fiz há pouco tempo uma peça chamada As eruditas (2011/2012), do Molière, com a qual eu viajei.
MCB: Você citou que gosta de cantar, teve uma possibilidade, inclusive, de você ser cantora na época, não foi?
TA: Sim, teve sim, mas aí eu fui boba, era preconceito, né? Naquele tempo atriz de comédia era atriz de comédia, atriz de novela era atriz de novela, atriz de musical era atriz de musical, atriz de revista era atriz de revista, não havia essa possibilidade. Mas eu gosto de ser atriz, entendeu? Há pouco tempo, um outro musical que eu fiz foi A garota do biquíni vermelho (2010), uma peça em homenagem à Sônia Mamede. A peça foi escrita pelo Arthur Xexéo, foi dirigida pela Marília Pera. Foi muito interessante, com a Regiane Alves fazendo a Soninha, o Ricardo Graça Mello também trabalhava, foi muito gostoso fazer esse espetáculo.
MCB: Na televisão você começou fazendo os teleteatros ao vivo da Tupi. Não é?
TA: Só tinha ao vivo, televisão era uma mistura, era uma coisa nova a que ninguém dava importância quando eu comecei, o importante era o rádio, eram os rádios-atores, especialmente os cantores.
MCB: Você fez radionovela?
TA: Não, eu não fiz.
MCB: Você apresentou programas na rádio, não é isso?
TA: Eu fiz, quando eu fiz o principal concurso em que eu tirei o segundo lugar, porque eu sabia dizer poesia.
MCB: Só que você não tinha idade ainda para fazer.
TA: Exatamente. Eu estudei no Colégio Pedro II, lá tinha o teatro escolar e tinha um programa do Ministério da Educação, da Rádio MEC, chamado A juventude cria. Era um programa escrito pelos professores do colégio, interpretado pelos alunos, que eram dirigidos por ex-alunos do colégio. O Graça Mello tinha sido aluno do colégio, dirigiu alguma coisa, os professores mesmo não dirigiam. Então eu fiquei fazendo o rádio-teatro, que eram histórias, episódios históricos interpretados por nós. Acabaram saindo atores desse meio, foi lá que eu conheci a Fernanda Montenegro, que trabalhava lá há muito tempo, foi na Rádio MEC que eu conheci a Fernanda, ela me ensaiou para eu fazer a Ofélia do Romeu e Julieta, que foi levado ao nosso teatrinho, enfim.
MCB: Esses trabalhos na televisão ao vivo deviam ser uma loucura, não é?
TA: Não, era normal, entendeu? A gente estava acostumado a decorar para o teatro, porque não podia decorar para a televisão?
MCB: Você tem facilidade para decorar?
TA: Sim, eu tenho uma boa memória.
MCB: Como eram aqueles tempos da Tupi?
TA: Olha, eu comecei naquele tempo, até vou contar uma piada aqui: o Chateaubriand comprou um avião, mas ninguém sabia dirigir o avião, aí ele ficava pousado lá na Avenida Venezuela, ia pra frente e pra trás, mas não conseguia levantar voo porque a pessoa que recebeu a chave do comando não sabia como fazer aquele negócio funcionar. Enfim, era uma coisa muito primitiva. Daí chamavam quem? As pessoas de teatro, não me chamaram porque era a revelação do ano. Então entrei fazendo uma peça do Shakespeare e dirigida pelo senhor que fazia teatro há 200 anos chamado Chianca de Garcia, eram aquelas marcações enormes, aquelas coisas. A gente ensaiava duas horas, seis horas, para ir ao vivo à noite, você vê que não podia ser uma coisa muito boa, mas como não existia nada para você fazer comparação, quem tinha televisão, e eram poucas pessoas que tinham televisão, via e gostava.
MCB: Mas você pega esse tempo mais difícil, mas pega também o tempo áureo, porque você é uma das grandes estrelas da TV.
TA: Obrigada. Eu pego sim, eu passei por todas as fases, realmente. Eu me lembro quando fizemos um teste para fazer um VT ainda na TV Continental, eu fui chamada pelo Abraão Medina, o pai desses meninos que fazem rock. Foi para fazer uma peça gravada, eles filmaram, gravaram, não era um vídeotape, era outro nome, era algo semelhante ao vídeotape. Enfim, eu fui passando por várias etapas até chegar ao high-definition.
MCB: Você pega, por exemplo, a fase da Glória Magadan, fez novelas importantes.
TA: Eu fiz, eu comecei não com a Glória, eu cheguei da Europa, eu tinha ido com a Tônia Carreiro e meu marido, fomos fazer teatro em Portugal. Na volta, os dois desempregados, aí continuei fazendo uma peça que eu fazia antes. Daí me chamaram na Globo para fazer uma novela do Moysés Weltman que foi um grande teatrólogo, um grande jornalista, uma pessoa que escrevia para a televisão, me chamaram para fazer uma cigana numa novela chamado O rei dos ciganos(1966), com o Carlos Alberto. Quando eu cheguei da Europa ele era o maior cartaz do Brasil, ele tinha feito uma novela com a Yoná Magalhães, que era também muito minha querida amiga, trabalhamos juntas com o Carlos Alberto na Tupi. Ele era o maior cartaz do Brasil, então inaugurava o horário das oito, que hoje é das nove. Do elenco inteiro dessa novela ficamos eu e o Rubens de Falco contratados, o contrato era por obra fixa para fazer uma novela chamada A Rainha Louca (1967), da Glória Magadan.
MCB: Que foi um grande sucesso.
TA: Realmente, ela se apaixonou pelo meu trabalho e aí eu fiquei trabalhando na Globo contratada já por um ano, por dois anos, era uma coisa assim. Eu fiquei lá algum tempo fazendo algumas novelas, daí chegaram o Tarcísio (Meira) e a Glória (Menezes), porque o interesse das estações cariocas era a conquista de São Paulo, porque São Paulo é o lugar que tem dinheiro, que tem as grandes fábricas, grandes mecenas. A Globo sempre trouxe gente de São Paulo para as novelas todas, os programas todos, o que eu acho maravilhoso, porque são atores excelentes, agora não podia esquecer um pouco dos cariocas.
MCB: Você fez outro grande sucesso que foi Sangue e areia (1967/68).
TA: Sangue e areia, foi exatamente quando me enviaram lá para o Rio.
MCB: Que é também o seu encontro com a Janete Clair, não é?
TA: Não, a Janete eu já conhecia. O Manoel Carlos, o Dias Gomes, A Janete, todos eles trabalharam na Tupi.
MCB: Você passa também para a nova fase, a considerada fase moderna da televisão, que muda esse modelo da Glória na Globo. Você faz, por exemplo, na Globo, a primeira versão de Roque Santeiro (1975), não é isso?
TA: Exatamente, depois de eu ter saído, porque eu pedi rescisão de contrato, me aborreci. Eu ia fazer Véu de noiva (1969/70), mas aí eles estavam tratando a contratação da Regina Duarte, que era contratada da Excelsior. A Excelsior estava muito mal, sem pagar, então a Globo entrou para pegar um cartaz de São Paulo. Eu estava lá, com 25 capítulos, com o cabelo pintado, porque eles mandaram pintar o cabelo, tirar foto no autódromo, tudo, tudo. Começaram a gravar a novela e eu não, o meu cenário não estava pronto. Daí, pouco tempo depois, começam os boatos que tinham me tirado da novela, “mas como tinham me tirado sendo que eu nem comecei, eu tenho contrato”. Mas eles tinham conseguido, a justiça tinha dado ganho de causa aos advogados da Regina para ela sair sem pagar multa, por atraso de pagamento, isso foi a história que eu soube, daí eles deram o meu papel para a Regina. Eu fiquei muito magoada, porque eu me olhava no espelho e não me reconhecia porque eu estava loira, loira não, estava claro o cabelo. Eles me mandaram pintar o cabelo, já tinha fotografado com o Cláudio, com o elenco todo no autódromo, eu achei que foi uma coisa muito feia. Quando fui chamada para a nova novela, me deram a novela do Dias, eu falei assim “olha, eu acho legal, mas eu acho que eu fui a última a saber, se vocês tivessem me dito no começo tudo bem, eu não teria ficado nem magoada e nem triste, mas eu me senti mal porque de repente eu fui um nada”. E aí eu pedi licença do contrato, eu tinha um contrato longo e tive que fazer a coisa de um jeito que não tivesse que pagar multa, mas eu fiquei magoada. Foi uma coisa meio infantil que eu fiz, hoje em dia eu penso, depois de viver e reviver, que eu nunca deveria ter feito isso.
MCB: Mas era a sua verdade.
TA: Era a minha verdade naquele momento, eu não me arrependo de ter feito o que eu fiz. Daí eu fui para a Tupi, São Paulo, enfim, e aí você vai se perdendo aos poucos, você vai perdendo aquela visibilidade que tinha na TV Globo, que foi quando a Globo deu um salto, né, epistemológico, deu um salto e passou a ser a grande internacional, e foi quando eu saí.
MCB: Você fez uma novela que eu adoro, eu assisti inteira, que foi O espantalho (1977), na qual você fazia a Tônia. Era na TV do Sílvio Santos.
TA: Isso, TVS naquele tempo.
MCB: Você fazia a Tônia, eu entrevistei a Esther Góes, ela fazia a Geny, eu adorava essa novela.
TA: É, a novela era muito gostosa. Depois da novela eu fiquei lá, em São Paulo, fazendo Os pequenos burgueses, do Maximo Gorki. Aí a minha filha teve problema, minha filha é diplomata, teve problema com minha neta, pequenininha, eu comecei a ficar muito angustiada, eu sou louca pela minha família, eu acho que a família é o esteio da sua vida. Então eu tive que optar mais uma vez, aí comecei a me afastar, estudei, me formei, eu tinha consultório.
MCB: Você fez Psicologia, não foi?
TA: Eu sou Psicóloga e sou Fonoaudióloga. Eu realmente preciso de uma coisa em que eu tenha um tempo livre, mas aí fiquei presa no consultório.
MCB: Você trabalha na área atualmente?
TA: Eu abandonei. Chegou um momento em que a minha filha começou a ser escalada, a ser convidada para trabalhar fora do Brasil, primeiro ela foi para a Índia, depois ela foi para o Japão, Tóquio. Eu fiquei com minha neta, então eu precisava de tempo para cuidar dela, que era pequenininha. O pai tinha abandonado a mãe e aí eu realmente fiquei sendo avó 24 horas por dia. Não me arrependo, também fui feliz, eu tive uma família muito amada, muito amorosa, meu marido foi sensacional.
MCB: Mario Brasini.
TA: Mario Brasini.
MCB: Que é um nome importante do cinema.
TA: Do teatro, do cinema, enfim. Depois aconteceu uma desgraça muito grande, a primeira perda, que foi da minha mãe, depois o meu marido, e, finalmente, a tragédia que foi a perda da minha filha, do meu neto e do meu genro, vai fazer nove anos em dezembro, dia 26 de dezembro.
MCB: No tsunami.
TA: Exatamente. Eu não morri porque eu pensava na minha neta, que tinha ficado, e do meu filho, que eu tinha que continuar criando.
MCB: Sua neta hoje está com quantos anos?
TA: Está com 27. Ela se formou, ela é uma guerreira, ela sofreu muito, mas não parou de estudar, ela estudava em Milão. Ela terminou a faculdade, se candidatou para o mestrado, e terminou, ela é mestre em Economia. Voltou agora para o Brasil e está procurando por um emprego, é uma baixinha maravilhosa a minha neta. Eu tive muita sorte com meus filhos, todos, meu filho se formou em TI, e agora está terminando Direito nesse ano.
MCB: O que é TI?
TA: É Tecnologia da Informação. Minha neta trabalha também, ela trabalhou no Banco Mundial, mas não quis mais, veio para o Brasil e vai fazer uma carreira linda, se Deus quiser. A minha outra filha teve uma carreira belíssima, belíssima, ela era conselheira da Embaixada do Brasil em Bangkok.
MCB: No início da sua carreira você também trabalhou no cinema. O primeiro foi Perdidos de amor ou Santa de um louco?
TA: O primeiro foi o Perdidos de amor (1952, Eurídes Ramos).
MCB: Como se deu esse convite para o cinema?
TA: Do sucesso do teatro, o sucesso enorme que foi o Irene, eu fui à Europa fazer o Irene, né? As pessoas viviam no teatro e havia uma divulgação espontânea na mídia, daí os produtores apareceram no teatro me convidando para fazer cinema. Fiquei toda contentinha, porque adorava cinema, via o Anselmo Duarte, a Eliana, a Fada Santoro, ouvia rádio, ouvia o Dick Farney. Então eu comecei com o Dick Farney, era uma coprodução da empresa Cinelândia, que era do Alípio Ramos e do Eurídes Ramos, que eram irmãos. Eu era miudinha ainda, isso foi em 51, 52.
MCB: É, 52.
TA: 52, enfim. Eu fiquei toda contentinha, claro, fiz os testes fotográficos, aquelas coisas, vamos fazer o filme. Daí os caras ficaram com medo de jogar dois desconhecidos no cinema, porque o Dick era conhecido no rádio, mas não era um ator de cinema, e eu estava estreando em teatro, um sucesso e tudo, mas estava estreando. Então eles puseram a Fada Santoro e eu passei a fazer o segundo papel, que era a menina feia, era a história da gata borralheira. Como é sempre no cinema e na televisão, a gata borralheira está presente.
MCB: Você se lembra da sensação do primeiro set?
TA: Ah, eu me lembro,era uma coisa fantástica. Nós filmamos em uma fazenda e morávamos em uma outra fazenda. Tinha o senhor Eurides, o Dick estava casado com uma moça maravilhosa chamada Cibele, tinha a Míriam Carmen, que fazia a minha mãe. A minha mãe ia para lá comigo, eu nunca tinha estado em uma fazenda, então aquilo para mim era um paraíso. A minha profissão foi uma entrada no paraíso, sabia? Sempre foi, agora mesmo eu estou em estado de graça porque eu fui convidada para fazer um filme na Europa, eu vou fazer.
MCB: É mesmo?
TA: Dia 16 de junho.
MCB: Que maravilha, que filme é?
TA: Essa mulher ao mar, eu vou filmar em Roma, no Mediterrâneo, no navio, e em Veneza. E no Brasil, volto para o Brasil no dia 14 de julho, no dia da queda da Bastilha eu estou chegando.
MCB: Quem que vai dirigir?
TA: A Cris D´Amato. A minha vida, apesar das coisas sofridas que eu vivi, todo sofrimento foi muito primitivo para mim, de qualquer forma. A gente aprende com a vida, a gente aprende a respeitar mais, porque nós não entendemos, mas deve ser verdade, deve ter uma razão de ser, nada é injusto, a natureza não é injusta, a gente é que é injusto com a natureza.
MCB: E também porque você é uma grande atriz, Theresa.
TA: Obrigada. Eu me dedico muito, realmente eu amo essa profissão, acho que nós somos seres privilegiados, porque a gente tem a possibilidade de renascer e de construir coisas que não foram nossas, mas dando o que é nosso pra essa construção.
MCB: O seu segundo filme, então, é o Santa de um louco (1953).
TA: Sim.
MCB: Do George Dusek.
TA: Isso, eu acho que ele é pai do...
MCB: Do Eduardo Dusek?
TA: Eu acho, acho que a cara que eu me lembro do diretor me lembra um pouco a carinha do Dusek.
MCB: Você se lembra das filmagens, de como foi a relação com o diretor?
TA: Eu era a mulher de um pescador, foi em Maricá, naquele tempo era uma coisa, era um horror para chegar nessa estrada que a gente pega hoje. Eu tenho casa fora, na região dos lagos, mas você pega a estrada hoje é uma coisa maravilhosa, naquele tempo era um horror, era uma condução horrorosa. Maricá era um lugar de pescador, abandonado, um deserto. Eu fazia a mulher de um pescador que tem um filhinho, e o pescador era o Antônio Carlos, então imagina, um querido amigo, pai da Glorinha Pires. Você vê como sou antiga, e que sorte eu tive na minha vida em trabalhar e ser amiga de todos esses atores maravilhosos que passaram pela cultura brasileira e deixaram um rastro, deixaram sementes maravilhosas, que são os filhos que continuam, é uma coisa linda.
MCB: Na sua carreira de cinema é muito impressionante como você sempre trabalhava com o Eurídes Ramos, não é?
TA: Eu só fiz filmes com o Eurídes, eu não sei por quê. Eu também peguei essa fase de “não, essa gente aí trabalha com filmes de chanchada”, “nós somos do Cinema Novo, nós somos os intelectuais”. Eu acho que tinha muito isso.
MCB: O Eurides é um cineasta maravilhoso.
TA: A cabeça dele era uma outra cabeça, cabeça daquele cinema quadradinho, aquele cinema ingênuosinho, aquela coisinha bobinha. Eu me lembro de um filme que eu fiz chamado O diamante(1954), com o Anselmo Duarte. Aliás, o Daniel Filho, que é um amor de pessoa, nós trabalhamos juntos, ele começou a trabalhar na televisão comigo, eu estrelava um teatro na TV Rio e ele foi o galãzinho, ele não tinha feito televisão nunca, era uma coisa linda. Então o Daniel diz assim “Theresa? Ela é velha, tá pensando o quê, ela tem essa cara, mas ela é muito velha, porque ela foi estrela do Anselmo Duarte”. E é verdade, eu fui estrela do Anselmo Duarte, eu era uma bobinha do interior, o filme se chama O diamante.
MCB: Você faz com o Eurídes também o Fuzileiro do amor (1955), com o Mazzaropi.
TA: Mazzaropi, exato.
MCB: Foi bacana se relacionar com o Mazzaropi?
TA: Muito, ele era uma pessoa muito doce, aquele jeitão dele assim meio matuto. Ele era uma pessoa muito legal, não era de conversar, não era igual ao Anselmo, que conversava, batia papo, ele era outro tipo de temperamento. Mas era um amor de pessoa, aliás, eu só trabalhei com gente legal.
MCB: E como era ser dirigida pelo Eurídes? Você que trabalhou com ele tantas vezes.
TA: Quando íamos fazer O diamante, o Anselmo dizia assim “Eurídes, porque a gente não bota a câmera desse lado, para da um close? O cinema está mudando, pega esse ângulo aqui que vai ficar mais legal”. E o Eurídes “Não. Anselmo, quando você dirigir você faz o que você quiser”. Daí ele dirigiu e ganhou a Palma de Ouro (por O pagador de promessas, 1962), entendeu? Era assim, eu via essas coisas, eu ria, eu aprendia, eu acho que uma coisa muito importante para o ator é que eu adoro ver meus colegas representarem, é uma aula, eu continuo aprendendo, você tem que aprender a vida inteira.
MCB: Esse filme seu inacabado, Força do amor, é de quem?
TA: Era com o Antônio Carlos.
MCB: E quem dirigia?
TA: Não me lembro, eu me lembro que ganhava tão pouco, tão pouco. Eu não sei se eles queriam fazer e não tinham dinheiro, sei que ofereceram uma miséria para a gente, mas a gente estava doido pra fazer cinema, sem ser chanchada, porque não ia ser chanchada, mas aí não conseguiram dinheiro e pararam o filme.
MCB: Nos filmes com o Eurídes, você também teve a possibilidade de trabalhar ao lado de grandes comediantes e grandes atores, não é?
TA: É verdade. Todos foram pessoas muito queridas, havia uma solidariedade, ninguém se considerava o maior do mundo, nem o Anselmo, nada, todos eram profissionais trabalhando juntos, todo mundo com o mesmo valor, entendeu? Era uma coisa muito legal.
MCB: Nesse elenco todo tem uma que eu sou particularmente apaixonado, queria que você falasse sobre a Zezé Macedo.
TA: É uma gracinha.
MCB: Você trabalhou com ela em O camelô da rua larga (1959, Eurídes Ramos).
TA: Exatamente. A Zezé era uma doçura de pessoa, ela era muito dada, muito querida, ela conversava muito, contava histórias engraçadas, e a gente também se encontrava. Na realidade, nós nos encontrávamos mais no set de filmagem, a gente não convivia diariamente fora da televisão, ou fora do set de filmagem.
MCB: Você atuou mais com drama do que com comédia, não é, Theresa?
TA: Eu fiz as duas coisas. Mas todas as coisas que eu fiz na televisão teve uma época que era muito coisa de choramingar, né?
MCB: É que eu fiquei imaginando você convivendo com esses grandes comediantes, o tanto que você deve ter aprendido com eles.
TA: Lógico, eu aprendo sempre, estou aprendendo até hoje.
MCB: Depois você fica um tempão longe do cinema.
TA: Longe de tudo, eu fiquei afastada um tempo.
MCB: Mas o último filme seu tinha sido na década de 60, e você volta só em 90. Isso foi porque não se interessou ou porque você não recebeu convites para o cinema? Você não estava interessada em ir atrás?
TA: Eu nunca fui atrás de nada, eu sou da época em que as pessoas convidam e não você se convida. Mas agora não, agora as pessoas têm que se convidar porque está uma coisa horrorosa, tem gente de Brasília pedindo para entrar, sobrinha, isso que eu soube “bota minha sobrinha, fulano de tal”, entendeu? Eu sempre fui convidada, agora mesmo foi uma surpresa tão grande, tão grande que eu pensei que era trote.
MCB: E como foi voltar ao cinema? Você fez o A viagem de volta (1990), do Emiliano Ribeiro.
TA: Fiz, com o Emiliano Ribeiro, ele já morreu, morreu há pouco tempo. Ele era um garoto, um rapazinho, um moleque, um adolescente quando trabalhava na Continental, durou muito pouco tempo a TV Continental aqui no Rio de Janeiro, que era do Rubens, canal 9. Um dia recebo um telefonema do Emiliano e eu nem me lembrava mais dele, porque eu conheci o Emiliano ainda garoto, um rapazinho, um molequinho, e aí já estava com a voz de homem “eu queria conversar com você para fazer um filme”, “está bem, você manda o argumento para eu ler”, “sim,Theresa, eu vou mandar”. Aí é que eu me lembrei que era aquele rapaz, eu fiz esse filme com ele e com a...
MCB: Clarice Niskier.
TA: A Clarice fazendo o papel principal, o Anselmo (Vasconcelos), enfim. Mas eu nunca recebi convites para fazer cinema, a coisa mais séria que fui chamada foi aquele filme que não terminou, gravamos pouquíssimas coisas, nem vi copião nem nada, que foi esse comigo e o Antônio Carlos (Força do amor) e esse outro, o Viagem de volta, que era sobre tóxico, enfim, ele passou.
MCB: Mas os filmes do Eurídes são deliciosos.
TA: São uma gracinha. Aliás, eu ganhei de uma colecionadora que eu não conheço pessoalmente, ela me mandou, ela tem tudo meu, tem até o O diamante.
MCB: Olha que maravilha.
TA: Maravilhosa, chama-se Sandra Rodrigues, ela mandou pra mim uma caixa com uma porção de DVDs. Eu ainda não tive tempo, porque esse negócio de teatro e de televisão, eu estou gravando o Zorra total, e aí acaba não dando tempo de ver todas as coisas. Mas já vi O diamante e O camelô da rua larga, tem um monte de filmes aqui para eu ver, e programas de televisão também que ela mandou.
MCB: Agora você está em cartaz no teatro.
TA: Sim, em um shopping em São Conrado, aqui no Rio, trabalho de sexta a domingo, são só três espetáculos por semana. Vamos terminar agora dia 21, daqui a duas semanas termina a temporada.
MCB: E você também está na televisão.
TA: Eu estou na televisão fazendo o Zorra no Projac, com o Sherman (Maurício Sherman, diretor).
MCB: Está gostando de fazer?
TA: Eu gosto porque é Teatro de Revista, entendeu? E os companheiros são maravilhosos, todos são comediantes extraordinários, extraordinários. O Sherman é muito competente, o Dudu, o Eduardo Miranda, são três diretores. O elenco é muito querido, são pessoas muito alegres, é muito bom, eu gosto.
MCB: Estou sentindo sua falta em novelas.
TA: Pois é, eu também gostaria de fazer novela, mas hoje em dia, para fazer novela, você fica sequestrada na televisão, de segunda a segunda, eu soube isso. Agora claro que se pintar uma novela eu vou fazer. Eu fiz outro dia o Pé na cova, que é um programa muito engraçado.
MCB: Do Falabella.
TA: É, do Miguel, a Marília (Pêra) trabalha também. Foi uma ceninha minúscula que eu fiz, a Marília não estava no dia em que eu fui. Sempre que pinta uma coisa assim fora eu faço, eu fiz uma vez Malhação também, uns capítulos finais, com o Fiuk. Enfim, a gente está aí trabalhando.
MCB: E é uma ótima notícia essa do cinema, filme novo.
TA: É, a direção é da Cris D´Mato, que já me dirigiu no As cariocas, que eu fiz com o Daniel (Filho). Eu fiz As cariocas e As brasileiras, eu já fiz duas séries na Lereby, que é a companhia do Daniel, que é um grande diretor, é um dos diretores mais sensacionais com quem eu já trabalhei.
MCB: Vocês são muito amigos, não é?
TA: Muito, eu sou fã do Daniel desde pequenininho, eu também era pequena.
MCB: Theresa, para a gente terminar, as únicas duas perguntas fixas do site: qual o último filme brasileiro a que você assistiu?
TA: O palhaço (2012, Selton Mello).
MCB: E qual mulher do cinema brasileiro, de qualquer época e de qualquer área, você deixa registrada em sua entrevista como uma homenagem?
TA: Deixa eu pensar... Eu gosto da Fada (Santoro), eu gosto da Ilka (Soares), ai meu Deus, agora eu fiquei tonta, eu gosto de todo mundo.
MCB: É porque a ideia é essa mesmo, é a que vem ao coração, é uma escolha afetiva mesmo.
TA: Ai meu Deus, agora fugiu o nome, eu estou aflita porque eu gosto delas tanto, tanto. Você perguntou sobre ela agorinha.
MCB: A Sônia Mamede?
TA: Não, Soninha não era mais do cinema, era mais de teatro de revista. Não, aquela outra, a Zezé Macedo.
MCB: Teve um espetáculo sobre ela ainda há pouco.
TA: Foi feito em homenagem a ela. E vai ter mais um espetáculo, do Barata, o produtor que está fazendo isso, em homenagem às mulheres do teatro que ficam esquecidas ao longo do tempo.
MCB: Theresa, alguma coisa que eu não te perguntei e que você quer acrescentar?
TA: Eu quero dizer que estou à disposição para o resgate da memória dos atores e da cultura brasileira, que participaram com sua vida, com seu suor e sangue para a cultura brasileira em todos os seus níveis. O que eu puder ajudar dando entrevistas, estou à disposição. Porque é muito importante que não esqueçam essas pessoas que dedicaram sua vida pela arte.
MCB: E tudo que esta aí hoje é resultado disso.
TA: A gente construiu isso, eu digo, aquela TV Globo que está aí, pô, eu faço parte do alicerce da televisão, desde a Tupi, eu faço parte dos alicerces da Globo, praticamente desde que ela se transformou nessa grande network.
MCB: Muito obrigado pela entrevista.
Entrevista realizada em abril de 2013.
A atriz Theresa Amayo nasceu em Belém, Pará, em 13 de julho. O início da carreira artística foi no teatro, espaço no qual vai construir carreira importante: “Na realidade, As meninas Barranco foi um teste, foi a confirmação de um teste, porque a minha estreia eu considero na peça Irene (1951), do Pedro Bloch, que foi feita em seguida”. A atriz passou por toda a fase em que ser atriz não era uma profissão aceita: “Eu sofri, as mães das minhas colegas começaram a proibir que as meninas fossem minhas amigas porque agora eu não era mais uma menina respeitável, eu era uma atriz, então foram dores que eu fui sofrendo, e adolescente ainda”.
Theresa Amayo é uma das veteranas da televisão: “Só tinha ao vivo, televisão era uma mistura, era uma coisa nova que ninguém dava importância quando eu comecei, o importante era o rádio, eram os rádios-atores, especialmente os cantores”. Casada com o saudoso ator e diretor Mário Brasini, a atriz atuou em várias emissoras, protagonizou sucessos como Sangue e areia (1967/68) e O espantalho (1977), e prosseguiu a carreira em novelas como Pecado capital (1975/76), na Globo; O espantalho (1977), na TVS; Carmen (1988), na Manchete. Ainda na Globo, além de outros trabalhos, faz participação em Senhora do destino (2004/2005), atua nas séries As cariocas e As brasileiras, e, atualmente, no humorístico Zorra total.
A estreia no cinema foi na década de 1950 em Perdidos de amor (1952), de Eurídes Ramos, cineasta que vai dirigi-la em grande parte de sua carreira cinematográfica: “Eu fiquei toda contentinha, claro, fiz os testes fotográficos, aquelas coisas, vamos fazer o filme. Daí os caras ficaram com medo de jogar dois desconhecidos no cinema, porque o Dick (Farney) era conhecido no rádio, mas não era um ator de cinema, e eu estava estreando em teatro, um sucesso e tudo, mas estava estreando. Então eles puseram a Fada Santoro e eu passei a fazer o segundo papel, que era a menina feia, era a história da gata borralheira.”. Nos filmes seguintes com Eurídes, atua ao lado de grandes atores e comediantes, como Mazzaropi, Agildo Ribeiro, Zé Trindade, Ema D´Ávila, Zezé Macedo, Antônio Carlos: “Todos foram pessoas muito queridas, havia uma solidariedade, ninguém se considerava o maior do mundo, nem o Anselmo (Duarte), nada, todos eram profissionais trabalhando juntos, todo mundo com o mesmo valor, entendeu? Era uma coisa muito legal”.
Theresa Amayo conversou com o site Mulheres do Cinema Brasileiro por telefone de sua casa, no Rio de Janeiro, em abril de 2013. Ela fala sobre sua formação, a estreia nos palcos, os espetáculos em que atuou, a importância em sua carreira de nomes como Conchita e Dulcina de Moraes, o sucesso nas novelas, a estreia no cinema, a formação em Psicologia, a tragédia familiar vivida com o tsunami e outros assuntos.
Mulheres do Cinema Brasileiro: Para começar, origem e data de nascimento.
Theresa Amayo: Meu nome é Theresa Guichard Amayo Brasini, artisticamente Theresa Amayo, muitas vezes chamada de Theresinha porque eu comecei muito jovem. Eu gosto que me chamem de Theresinha, mas que escrevam Theresa. Eu nasci em Belém do Pará, eu vim para o Rio de Janeiro pequenininha, sou original de uma família francesa e peruana, os de Sá e Amayo, e italiana, porque eu sou Brasini também por causa do meu marido, Mário Brasini, que, infelizmente, já está longe, mas me esperando, a gente se encontra. Nasci em 13 de julho.
MCB: O início da carreira foi no teatro, não é? Na peça As meninas Barranco (1950, direção de Jorge Diniz)?
TA: Teatro mesmo. Na realidade, As meninas Barranco foi um teste, foi a confirmação de um teste, porque a minha estreia eu considero na peça Irene (1951), do Pedro Bloch, que foi feita em seguida.
MCB: Na qual você faz, inclusive, a protagonista, uma adolescente.
TA: E estou ao lado de atores extremamente consagrados, como a Conchita de Moraes, que era uma grande atriz, brilhante atriz, e que deixou uma filha para seguir a carreira dos pais, que foi a Dulcina de Moraes.
MCB: Esse espetáculo, inclusive, foi dirigido pela Dulcina, não é isso?
TA: Foi, direção da Dulcina, e o autor era o Pedro Bloch.
MCB: Você teve uma parceria grande com a Dulcina e com a Conchita, inclusive dedica sua biografia na Coleção Aplauso, Ficção e Realidade, para elas.
TA: Exatamente.
MCB: Você poderia falar um pouco sobre elas?
TA: Bom, elas eram os meus ídolos, porque eu era estudante, ainda terminando o ginásio do Colégio Pedro II quando entrei para fazer um concurso, meio de brincadeira. Porque eu sabia dizer poesia e o concurso procurava uma jovem atriz para estrelar uma peça chamada Anita Garibaldi, personagem que eu tinha acabado de conhecer nas aulas de História do colégio. Eu achava a Conchita maravilhosa, uma mulher fantástica, uma lutadora, uma guerreira, para uma adolescente não existia retrato melhor. A Conchita era uma senhora gorda maravilhosa, uma atriz extraordinária que tinha um público muito, muito grande. Já a Dulcina era um ícone do teatro, porque naquela época, anos 1950, o teatro era uma coisa muito importante, a gente trabalhava de terça a domingo, nove sessões, os teatros eram lotados. Eu estreei em uma segunda-feira com Irene, a peça entrou no teatro às segundas-feiras, o sucesso foi tão estrondoso que tirou de cena a menina que a Dulcina fazia, e a Dulcina foi muito carinhosa comigo, ela dizia que eu ia ser a substituta dela no teatro, imagina? A Conchita era muito querida, eu era uma garota ainda, muito bobinha, muito cheia de esperança, cheia de admiração por aquele mundo novo que se abria à minha frente. Então eu era muito paparicada pela Dulcina, pelo Odilon (Azevedo), pela Dona Conchita, pela Dinorah (Marzullo), pelo Pêra (Manuel Pêra). Havia ainda uma menina de nove anos, sei lá, chamada Marília, que hoje em dia é a grande e belíssima atriz Marília Pêra, por quem eu tenho um carinho muito grande.
MCB: Além da companhia da Dulcina e do Odilon, você também trabalha em outras companhias importantes, não é?
TA: Sim, apesar da luta que foi aquele tempo da década de 50, havia um preconceito enorme contra atrizes, contra atores, as pessoas gostavam de ver, mas não queriam que ninguém da família estivesse lá no palco. Ainda que na Companhia tivesse a Dulcina, que era casada com o Odilon, a mãe (Conchita) da Ducina trabalhava, o Pêra era casado com a Dinorah, tinha uma filha que estava sempre lá, enfim, era uma família legalmente constituída que tinha esta companhia, entendeu? Mas havia um preconceito. A minha luta foi muito grande porque eu só conhecia gente legal, todas as pessoas que eu conhecia eram pessoas maravilhosas, não importava se a pessoa era separada, ela não podia se casar de novo porque não tinha o divórcio no Brasil, mas as pessoas eram olhadas com olhos meio enviesados. Eu sofri uma perseguição familiar muito grande pelo fato de estar seguindo uma carreira ao invés de ser médica, como era o sonho da minha mãe.
MCB: E você também se separou, como você conta na sua biografia, e que era complicado ser atriz e uma mulher separada.
TA: Eu sofri, as mães das minhas colegas começaram a proibir que as meninas fossem minhas amigas porque agora eu não era mais uma menina respeitável, eu era uma atriz, então foram dores que eu fui sofrendo, e adolescente ainda. Depois, quando me separei do meu marido, do meu primeiro casamento, que foi um desastre e que só teve uma coisa maravilhosa, que foi a minha filha, eu fui expulsa da casa de uma amiga minha que eu fui visitar, a mãe me expulsou da casa dela porque na casa dela não entrava mulher desquitada.
MCB: Hoje nós fomos para o extremo oposto, porque hoje tem um culto à celebridade, não é?
TA: Hoje em dia a coisa degringolou, eu acho que as coisas estão sendo mistificadas, os preconceitos estão caindo por terra como têm que cair mesmo, mas, às vezes, eu fico pensando que as coisas estão um pouquinho exageradas.
MCB: Porque hoje tem esse culto à celebridade, à fama.
TA: Celebridades, o que significa celebridade hoje em dia? É você estar na Globo? Você não é celebridade por estar fazendo teatro. Celebridade é por muito pouco tempo, no máximo um ano, se você não tiver continuidade no trabalho, não é o ator que tem uma carreira, que estudou, que estuda, que se dedica a uma profissão, é uma coisa muito meteórica.
MCB: Esse seu período do teatro é um período importante no Brasil, de grandes companhias, de grandes atrizes como você, Fernanda Montenegro, Dulcina de Moraes, Natália Timberg...
TA: Isso, realmente, eu estava conversando com uma colega outro dia, que me disse “sua vida é uma coisa maravilhosa, é um filme”. Porque eu tive uma felicidade de ter nascido nessa época, de ter passado por essa mudança toda, eu tive uma família maravilhosa, com todos os problemas que as famílias têm, com todos os preconceitos que elas também herdam e que transmitem para os filhos, né, mas eu tive uma mãe sensacional.
MCB: Sua mãe te acompanhava nos primeiros trabalhos, não é?
TA: É, minha mãe, ela reclamava que aquilo não era profissão de uma moça de família, chegar em casa 11 horas da noite, imagina, o que os vizinhos vão dizer, entendeu? Essas coisas todas eu passei. Mas vou dizer o quê? Vou dizer que estava trabalhando. E aí a coisa ficava feia, ficava brigando, acabava levando uma surra, porque naquele tempo as meninas apanhavam, né?
MCB: E é dessa geração maravilhosa que a gente acabou de perder a Cleyde Yáconis ontem.
TA: Pois é, é uma dor, uma dor muito grande, eu amava a Cleyde, a Cleyde foi uma extraordinária atriz, brilhante, linda, um ser humano singular. Hoje é o enterro dela em São Paulo, infelizmente, eu não posso ir, eu tenho horror a enterro depois do que eu vivi, aliás, eu nunca gostei de cemitério, mas depois do que eu vivi ir para cemitério para mim é um terror.
MCB: Antes de entrarmos no audiovisual, você poderia citar alguns espetáculos de teatro que você gostaria de deixar registrados, citar alguns que são importantes pra você?
TA: São muitos espetáculos.
MCB: Eu sei disso, mas você poderia citar alguns?
TA: Especificamente no teatro, eu gostaria de citar Mulheres feias (1954), que eu fiz com Madame Morineau em São Paulo, com a Fernanda (Montenegro). Eu gostaria de citar À margem da vida (1958), do Tenessee Williams, eu fazia com Madame Morineau e o Paulo Araújo, direção de um espanhol, Caetano Luca de Pena, no Teatro Copacabana. Eu gostaria de citar um dos espetáculos mais queridos que eu fiz, que foi um musical, eu adoro musical, adoro cantar, dançar, foi o Irma la Douce (1968), que eu fiz no Teatro do Rio e depois no Teatro João Caetano. Tem uma história do Teatro João Caetano, tem minha foto em tamanho natural vestida de Irma la Douce, e que as pessoas não sabem, fica escondida nessa parte do Teatro João Caetano, tem uma escadinha, as pessoas ficam lá embaixo e não sabem, tem que subir aquela escadinha, mas de qualquer forma é lindo, é um museu, lindíssimo. O que mais? Eu fiz há pouco tempo uma peça chamada As eruditas (2011/2012), do Molière, com a qual eu viajei.
MCB: Você citou que gosta de cantar, teve uma possibilidade, inclusive, de você ser cantora na época, não foi?
TA: Sim, teve sim, mas aí eu fui boba, era preconceito, né? Naquele tempo atriz de comédia era atriz de comédia, atriz de novela era atriz de novela, atriz de musical era atriz de musical, atriz de revista era atriz de revista, não havia essa possibilidade. Mas eu gosto de ser atriz, entendeu? Há pouco tempo, um outro musical que eu fiz foi A garota do biquíni vermelho (2010), uma peça em homenagem à Sônia Mamede. A peça foi escrita pelo Arthur Xexéo, foi dirigida pela Marília Pera. Foi muito interessante, com a Regiane Alves fazendo a Soninha, o Ricardo Graça Mello também trabalhava, foi muito gostoso fazer esse espetáculo.
MCB: Na televisão você começou fazendo os teleteatros ao vivo da Tupi. Não é?
TA: Só tinha ao vivo, televisão era uma mistura, era uma coisa nova a que ninguém dava importância quando eu comecei, o importante era o rádio, eram os rádios-atores, especialmente os cantores.
MCB: Você fez radionovela?
TA: Não, eu não fiz.
MCB: Você apresentou programas na rádio, não é isso?
TA: Eu fiz, quando eu fiz o principal concurso em que eu tirei o segundo lugar, porque eu sabia dizer poesia.
MCB: Só que você não tinha idade ainda para fazer.
TA: Exatamente. Eu estudei no Colégio Pedro II, lá tinha o teatro escolar e tinha um programa do Ministério da Educação, da Rádio MEC, chamado A juventude cria. Era um programa escrito pelos professores do colégio, interpretado pelos alunos, que eram dirigidos por ex-alunos do colégio. O Graça Mello tinha sido aluno do colégio, dirigiu alguma coisa, os professores mesmo não dirigiam. Então eu fiquei fazendo o rádio-teatro, que eram histórias, episódios históricos interpretados por nós. Acabaram saindo atores desse meio, foi lá que eu conheci a Fernanda Montenegro, que trabalhava lá há muito tempo, foi na Rádio MEC que eu conheci a Fernanda, ela me ensaiou para eu fazer a Ofélia do Romeu e Julieta, que foi levado ao nosso teatrinho, enfim.
MCB: Esses trabalhos na televisão ao vivo deviam ser uma loucura, não é?
TA: Não, era normal, entendeu? A gente estava acostumado a decorar para o teatro, porque não podia decorar para a televisão?
MCB: Você tem facilidade para decorar?
TA: Sim, eu tenho uma boa memória.
MCB: Como eram aqueles tempos da Tupi?
TA: Olha, eu comecei naquele tempo, até vou contar uma piada aqui: o Chateaubriand comprou um avião, mas ninguém sabia dirigir o avião, aí ele ficava pousado lá na Avenida Venezuela, ia pra frente e pra trás, mas não conseguia levantar voo porque a pessoa que recebeu a chave do comando não sabia como fazer aquele negócio funcionar. Enfim, era uma coisa muito primitiva. Daí chamavam quem? As pessoas de teatro, não me chamaram porque era a revelação do ano. Então entrei fazendo uma peça do Shakespeare e dirigida pelo senhor que fazia teatro há 200 anos chamado Chianca de Garcia, eram aquelas marcações enormes, aquelas coisas. A gente ensaiava duas horas, seis horas, para ir ao vivo à noite, você vê que não podia ser uma coisa muito boa, mas como não existia nada para você fazer comparação, quem tinha televisão, e eram poucas pessoas que tinham televisão, via e gostava.
MCB: Mas você pega esse tempo mais difícil, mas pega também o tempo áureo, porque você é uma das grandes estrelas da TV.
TA: Obrigada. Eu pego sim, eu passei por todas as fases, realmente. Eu me lembro quando fizemos um teste para fazer um VT ainda na TV Continental, eu fui chamada pelo Abraão Medina, o pai desses meninos que fazem rock. Foi para fazer uma peça gravada, eles filmaram, gravaram, não era um vídeotape, era outro nome, era algo semelhante ao vídeotape. Enfim, eu fui passando por várias etapas até chegar ao high-definition.
MCB: Você pega, por exemplo, a fase da Glória Magadan, fez novelas importantes.
TA: Eu fiz, eu comecei não com a Glória, eu cheguei da Europa, eu tinha ido com a Tônia Carreiro e meu marido, fomos fazer teatro em Portugal. Na volta, os dois desempregados, aí continuei fazendo uma peça que eu fazia antes. Daí me chamaram na Globo para fazer uma novela do Moysés Weltman que foi um grande teatrólogo, um grande jornalista, uma pessoa que escrevia para a televisão, me chamaram para fazer uma cigana numa novela chamado O rei dos ciganos(1966), com o Carlos Alberto. Quando eu cheguei da Europa ele era o maior cartaz do Brasil, ele tinha feito uma novela com a Yoná Magalhães, que era também muito minha querida amiga, trabalhamos juntas com o Carlos Alberto na Tupi. Ele era o maior cartaz do Brasil, então inaugurava o horário das oito, que hoje é das nove. Do elenco inteiro dessa novela ficamos eu e o Rubens de Falco contratados, o contrato era por obra fixa para fazer uma novela chamada A Rainha Louca (1967), da Glória Magadan.
MCB: Que foi um grande sucesso.
TA: Realmente, ela se apaixonou pelo meu trabalho e aí eu fiquei trabalhando na Globo contratada já por um ano, por dois anos, era uma coisa assim. Eu fiquei lá algum tempo fazendo algumas novelas, daí chegaram o Tarcísio (Meira) e a Glória (Menezes), porque o interesse das estações cariocas era a conquista de São Paulo, porque São Paulo é o lugar que tem dinheiro, que tem as grandes fábricas, grandes mecenas. A Globo sempre trouxe gente de São Paulo para as novelas todas, os programas todos, o que eu acho maravilhoso, porque são atores excelentes, agora não podia esquecer um pouco dos cariocas.
MCB: Você fez outro grande sucesso que foi Sangue e areia (1967/68).
TA: Sangue e areia, foi exatamente quando me enviaram lá para o Rio.
MCB: Que é também o seu encontro com a Janete Clair, não é?
TA: Não, a Janete eu já conhecia. O Manoel Carlos, o Dias Gomes, A Janete, todos eles trabalharam na Tupi.
MCB: Você passa também para a nova fase, a considerada fase moderna da televisão, que muda esse modelo da Glória na Globo. Você faz, por exemplo, na Globo, a primeira versão de Roque Santeiro (1975), não é isso?
TA: Exatamente, depois de eu ter saído, porque eu pedi rescisão de contrato, me aborreci. Eu ia fazer Véu de noiva (1969/70), mas aí eles estavam tratando a contratação da Regina Duarte, que era contratada da Excelsior. A Excelsior estava muito mal, sem pagar, então a Globo entrou para pegar um cartaz de São Paulo. Eu estava lá, com 25 capítulos, com o cabelo pintado, porque eles mandaram pintar o cabelo, tirar foto no autódromo, tudo, tudo. Começaram a gravar a novela e eu não, o meu cenário não estava pronto. Daí, pouco tempo depois, começam os boatos que tinham me tirado da novela, “mas como tinham me tirado sendo que eu nem comecei, eu tenho contrato”. Mas eles tinham conseguido, a justiça tinha dado ganho de causa aos advogados da Regina para ela sair sem pagar multa, por atraso de pagamento, isso foi a história que eu soube, daí eles deram o meu papel para a Regina. Eu fiquei muito magoada, porque eu me olhava no espelho e não me reconhecia porque eu estava loira, loira não, estava claro o cabelo. Eles me mandaram pintar o cabelo, já tinha fotografado com o Cláudio, com o elenco todo no autódromo, eu achei que foi uma coisa muito feia. Quando fui chamada para a nova novela, me deram a novela do Dias, eu falei assim “olha, eu acho legal, mas eu acho que eu fui a última a saber, se vocês tivessem me dito no começo tudo bem, eu não teria ficado nem magoada e nem triste, mas eu me senti mal porque de repente eu fui um nada”. E aí eu pedi licença do contrato, eu tinha um contrato longo e tive que fazer a coisa de um jeito que não tivesse que pagar multa, mas eu fiquei magoada. Foi uma coisa meio infantil que eu fiz, hoje em dia eu penso, depois de viver e reviver, que eu nunca deveria ter feito isso.
MCB: Mas era a sua verdade.
TA: Era a minha verdade naquele momento, eu não me arrependo de ter feito o que eu fiz. Daí eu fui para a Tupi, São Paulo, enfim, e aí você vai se perdendo aos poucos, você vai perdendo aquela visibilidade que tinha na TV Globo, que foi quando a Globo deu um salto, né, epistemológico, deu um salto e passou a ser a grande internacional, e foi quando eu saí.
MCB: Você fez uma novela que eu adoro, eu assisti inteira, que foi O espantalho (1977), na qual você fazia a Tônia. Era na TV do Sílvio Santos.
TA: Isso, TVS naquele tempo.
MCB: Você fazia a Tônia, eu entrevistei a Esther Góes, ela fazia a Geny, eu adorava essa novela.
TA: É, a novela era muito gostosa. Depois da novela eu fiquei lá, em São Paulo, fazendo Os pequenos burgueses, do Maximo Gorki. Aí a minha filha teve problema, minha filha é diplomata, teve problema com minha neta, pequenininha, eu comecei a ficar muito angustiada, eu sou louca pela minha família, eu acho que a família é o esteio da sua vida. Então eu tive que optar mais uma vez, aí comecei a me afastar, estudei, me formei, eu tinha consultório.
MCB: Você fez Psicologia, não foi?
TA: Eu sou Psicóloga e sou Fonoaudióloga. Eu realmente preciso de uma coisa em que eu tenha um tempo livre, mas aí fiquei presa no consultório.
MCB: Você trabalha na área atualmente?
TA: Eu abandonei. Chegou um momento em que a minha filha começou a ser escalada, a ser convidada para trabalhar fora do Brasil, primeiro ela foi para a Índia, depois ela foi para o Japão, Tóquio. Eu fiquei com minha neta, então eu precisava de tempo para cuidar dela, que era pequenininha. O pai tinha abandonado a mãe e aí eu realmente fiquei sendo avó 24 horas por dia. Não me arrependo, também fui feliz, eu tive uma família muito amada, muito amorosa, meu marido foi sensacional.
MCB: Mario Brasini.
TA: Mario Brasini.
MCB: Que é um nome importante do cinema.
TA: Do teatro, do cinema, enfim. Depois aconteceu uma desgraça muito grande, a primeira perda, que foi da minha mãe, depois o meu marido, e, finalmente, a tragédia que foi a perda da minha filha, do meu neto e do meu genro, vai fazer nove anos em dezembro, dia 26 de dezembro.
MCB: No tsunami.
TA: Exatamente. Eu não morri porque eu pensava na minha neta, que tinha ficado, e do meu filho, que eu tinha que continuar criando.
MCB: Sua neta hoje está com quantos anos?
TA: Está com 27. Ela se formou, ela é uma guerreira, ela sofreu muito, mas não parou de estudar, ela estudava em Milão. Ela terminou a faculdade, se candidatou para o mestrado, e terminou, ela é mestre em Economia. Voltou agora para o Brasil e está procurando por um emprego, é uma baixinha maravilhosa a minha neta. Eu tive muita sorte com meus filhos, todos, meu filho se formou em TI, e agora está terminando Direito nesse ano.
MCB: O que é TI?
TA: É Tecnologia da Informação. Minha neta trabalha também, ela trabalhou no Banco Mundial, mas não quis mais, veio para o Brasil e vai fazer uma carreira linda, se Deus quiser. A minha outra filha teve uma carreira belíssima, belíssima, ela era conselheira da Embaixada do Brasil em Bangkok.
MCB: No início da sua carreira você também trabalhou no cinema. O primeiro foi Perdidos de amor ou Santa de um louco?
TA: O primeiro foi o Perdidos de amor (1952, Eurídes Ramos).
MCB: Como se deu esse convite para o cinema?
TA: Do sucesso do teatro, o sucesso enorme que foi o Irene, eu fui à Europa fazer o Irene, né? As pessoas viviam no teatro e havia uma divulgação espontânea na mídia, daí os produtores apareceram no teatro me convidando para fazer cinema. Fiquei toda contentinha, porque adorava cinema, via o Anselmo Duarte, a Eliana, a Fada Santoro, ouvia rádio, ouvia o Dick Farney. Então eu comecei com o Dick Farney, era uma coprodução da empresa Cinelândia, que era do Alípio Ramos e do Eurídes Ramos, que eram irmãos. Eu era miudinha ainda, isso foi em 51, 52.
MCB: É, 52.
TA: 52, enfim. Eu fiquei toda contentinha, claro, fiz os testes fotográficos, aquelas coisas, vamos fazer o filme. Daí os caras ficaram com medo de jogar dois desconhecidos no cinema, porque o Dick era conhecido no rádio, mas não era um ator de cinema, e eu estava estreando em teatro, um sucesso e tudo, mas estava estreando. Então eles puseram a Fada Santoro e eu passei a fazer o segundo papel, que era a menina feia, era a história da gata borralheira. Como é sempre no cinema e na televisão, a gata borralheira está presente.
MCB: Você se lembra da sensação do primeiro set?
TA: Ah, eu me lembro,era uma coisa fantástica. Nós filmamos em uma fazenda e morávamos em uma outra fazenda. Tinha o senhor Eurides, o Dick estava casado com uma moça maravilhosa chamada Cibele, tinha a Míriam Carmen, que fazia a minha mãe. A minha mãe ia para lá comigo, eu nunca tinha estado em uma fazenda, então aquilo para mim era um paraíso. A minha profissão foi uma entrada no paraíso, sabia? Sempre foi, agora mesmo eu estou em estado de graça porque eu fui convidada para fazer um filme na Europa, eu vou fazer.
MCB: É mesmo?
TA: Dia 16 de junho.
MCB: Que maravilha, que filme é?
TA: Essa mulher ao mar, eu vou filmar em Roma, no Mediterrâneo, no navio, e em Veneza. E no Brasil, volto para o Brasil no dia 14 de julho, no dia da queda da Bastilha eu estou chegando.
MCB: Quem que vai dirigir?
TA: A Cris D´Amato. A minha vida, apesar das coisas sofridas que eu vivi, todo sofrimento foi muito primitivo para mim, de qualquer forma. A gente aprende com a vida, a gente aprende a respeitar mais, porque nós não entendemos, mas deve ser verdade, deve ter uma razão de ser, nada é injusto, a natureza não é injusta, a gente é que é injusto com a natureza.
MCB: E também porque você é uma grande atriz, Theresa.
TA: Obrigada. Eu me dedico muito, realmente eu amo essa profissão, acho que nós somos seres privilegiados, porque a gente tem a possibilidade de renascer e de construir coisas que não foram nossas, mas dando o que é nosso pra essa construção.
MCB: O seu segundo filme, então, é o Santa de um louco (1953).
TA: Sim.
MCB: Do George Dusek.
TA: Isso, eu acho que ele é pai do...
MCB: Do Eduardo Dusek?
TA: Eu acho, acho que a cara que eu me lembro do diretor me lembra um pouco a carinha do Dusek.
MCB: Você se lembra das filmagens, de como foi a relação com o diretor?
TA: Eu era a mulher de um pescador, foi em Maricá, naquele tempo era uma coisa, era um horror para chegar nessa estrada que a gente pega hoje. Eu tenho casa fora, na região dos lagos, mas você pega a estrada hoje é uma coisa maravilhosa, naquele tempo era um horror, era uma condução horrorosa. Maricá era um lugar de pescador, abandonado, um deserto. Eu fazia a mulher de um pescador que tem um filhinho, e o pescador era o Antônio Carlos, então imagina, um querido amigo, pai da Glorinha Pires. Você vê como sou antiga, e que sorte eu tive na minha vida em trabalhar e ser amiga de todos esses atores maravilhosos que passaram pela cultura brasileira e deixaram um rastro, deixaram sementes maravilhosas, que são os filhos que continuam, é uma coisa linda.
MCB: Na sua carreira de cinema é muito impressionante como você sempre trabalhava com o Eurídes Ramos, não é?
TA: Eu só fiz filmes com o Eurídes, eu não sei por quê. Eu também peguei essa fase de “não, essa gente aí trabalha com filmes de chanchada”, “nós somos do Cinema Novo, nós somos os intelectuais”. Eu acho que tinha muito isso.
MCB: O Eurides é um cineasta maravilhoso.
TA: A cabeça dele era uma outra cabeça, cabeça daquele cinema quadradinho, aquele cinema ingênuosinho, aquela coisinha bobinha. Eu me lembro de um filme que eu fiz chamado O diamante(1954), com o Anselmo Duarte. Aliás, o Daniel Filho, que é um amor de pessoa, nós trabalhamos juntos, ele começou a trabalhar na televisão comigo, eu estrelava um teatro na TV Rio e ele foi o galãzinho, ele não tinha feito televisão nunca, era uma coisa linda. Então o Daniel diz assim “Theresa? Ela é velha, tá pensando o quê, ela tem essa cara, mas ela é muito velha, porque ela foi estrela do Anselmo Duarte”. E é verdade, eu fui estrela do Anselmo Duarte, eu era uma bobinha do interior, o filme se chama O diamante.
MCB: Você faz com o Eurídes também o Fuzileiro do amor (1955), com o Mazzaropi.
TA: Mazzaropi, exato.
MCB: Foi bacana se relacionar com o Mazzaropi?
TA: Muito, ele era uma pessoa muito doce, aquele jeitão dele assim meio matuto. Ele era uma pessoa muito legal, não era de conversar, não era igual ao Anselmo, que conversava, batia papo, ele era outro tipo de temperamento. Mas era um amor de pessoa, aliás, eu só trabalhei com gente legal.
MCB: E como era ser dirigida pelo Eurídes? Você que trabalhou com ele tantas vezes.
TA: Quando íamos fazer O diamante, o Anselmo dizia assim “Eurídes, porque a gente não bota a câmera desse lado, para da um close? O cinema está mudando, pega esse ângulo aqui que vai ficar mais legal”. E o Eurídes “Não. Anselmo, quando você dirigir você faz o que você quiser”. Daí ele dirigiu e ganhou a Palma de Ouro (por O pagador de promessas, 1962), entendeu? Era assim, eu via essas coisas, eu ria, eu aprendia, eu acho que uma coisa muito importante para o ator é que eu adoro ver meus colegas representarem, é uma aula, eu continuo aprendendo, você tem que aprender a vida inteira.
MCB: Esse filme seu inacabado, Força do amor, é de quem?
TA: Era com o Antônio Carlos.
MCB: E quem dirigia?
TA: Não me lembro, eu me lembro que ganhava tão pouco, tão pouco. Eu não sei se eles queriam fazer e não tinham dinheiro, sei que ofereceram uma miséria para a gente, mas a gente estava doido pra fazer cinema, sem ser chanchada, porque não ia ser chanchada, mas aí não conseguiram dinheiro e pararam o filme.
MCB: Nos filmes com o Eurídes, você também teve a possibilidade de trabalhar ao lado de grandes comediantes e grandes atores, não é?
TA: É verdade. Todos foram pessoas muito queridas, havia uma solidariedade, ninguém se considerava o maior do mundo, nem o Anselmo, nada, todos eram profissionais trabalhando juntos, todo mundo com o mesmo valor, entendeu? Era uma coisa muito legal.
MCB: Nesse elenco todo tem uma que eu sou particularmente apaixonado, queria que você falasse sobre a Zezé Macedo.
TA: É uma gracinha.
MCB: Você trabalhou com ela em O camelô da rua larga (1959, Eurídes Ramos).
TA: Exatamente. A Zezé era uma doçura de pessoa, ela era muito dada, muito querida, ela conversava muito, contava histórias engraçadas, e a gente também se encontrava. Na realidade, nós nos encontrávamos mais no set de filmagem, a gente não convivia diariamente fora da televisão, ou fora do set de filmagem.
MCB: Você atuou mais com drama do que com comédia, não é, Theresa?
TA: Eu fiz as duas coisas. Mas todas as coisas que eu fiz na televisão teve uma época que era muito coisa de choramingar, né?
MCB: É que eu fiquei imaginando você convivendo com esses grandes comediantes, o tanto que você deve ter aprendido com eles.
TA: Lógico, eu aprendo sempre, estou aprendendo até hoje.
MCB: Depois você fica um tempão longe do cinema.
TA: Longe de tudo, eu fiquei afastada um tempo.
MCB: Mas o último filme seu tinha sido na década de 60, e você volta só em 90. Isso foi porque não se interessou ou porque você não recebeu convites para o cinema? Você não estava interessada em ir atrás?
TA: Eu nunca fui atrás de nada, eu sou da época em que as pessoas convidam e não você se convida. Mas agora não, agora as pessoas têm que se convidar porque está uma coisa horrorosa, tem gente de Brasília pedindo para entrar, sobrinha, isso que eu soube “bota minha sobrinha, fulano de tal”, entendeu? Eu sempre fui convidada, agora mesmo foi uma surpresa tão grande, tão grande que eu pensei que era trote.
MCB: E como foi voltar ao cinema? Você fez o A viagem de volta (1990), do Emiliano Ribeiro.
TA: Fiz, com o Emiliano Ribeiro, ele já morreu, morreu há pouco tempo. Ele era um garoto, um rapazinho, um moleque, um adolescente quando trabalhava na Continental, durou muito pouco tempo a TV Continental aqui no Rio de Janeiro, que era do Rubens, canal 9. Um dia recebo um telefonema do Emiliano e eu nem me lembrava mais dele, porque eu conheci o Emiliano ainda garoto, um rapazinho, um molequinho, e aí já estava com a voz de homem “eu queria conversar com você para fazer um filme”, “está bem, você manda o argumento para eu ler”, “sim,Theresa, eu vou mandar”. Aí é que eu me lembrei que era aquele rapaz, eu fiz esse filme com ele e com a...
MCB: Clarice Niskier.
TA: A Clarice fazendo o papel principal, o Anselmo (Vasconcelos), enfim. Mas eu nunca recebi convites para fazer cinema, a coisa mais séria que fui chamada foi aquele filme que não terminou, gravamos pouquíssimas coisas, nem vi copião nem nada, que foi esse comigo e o Antônio Carlos (Força do amor) e esse outro, o Viagem de volta, que era sobre tóxico, enfim, ele passou.
MCB: Mas os filmes do Eurídes são deliciosos.
TA: São uma gracinha. Aliás, eu ganhei de uma colecionadora que eu não conheço pessoalmente, ela me mandou, ela tem tudo meu, tem até o O diamante.
MCB: Olha que maravilha.
TA: Maravilhosa, chama-se Sandra Rodrigues, ela mandou pra mim uma caixa com uma porção de DVDs. Eu ainda não tive tempo, porque esse negócio de teatro e de televisão, eu estou gravando o Zorra total, e aí acaba não dando tempo de ver todas as coisas. Mas já vi O diamante e O camelô da rua larga, tem um monte de filmes aqui para eu ver, e programas de televisão também que ela mandou.
MCB: Agora você está em cartaz no teatro.
TA: Sim, em um shopping em São Conrado, aqui no Rio, trabalho de sexta a domingo, são só três espetáculos por semana. Vamos terminar agora dia 21, daqui a duas semanas termina a temporada.
MCB: E você também está na televisão.
TA: Eu estou na televisão fazendo o Zorra no Projac, com o Sherman (Maurício Sherman, diretor).
MCB: Está gostando de fazer?
TA: Eu gosto porque é Teatro de Revista, entendeu? E os companheiros são maravilhosos, todos são comediantes extraordinários, extraordinários. O Sherman é muito competente, o Dudu, o Eduardo Miranda, são três diretores. O elenco é muito querido, são pessoas muito alegres, é muito bom, eu gosto.
MCB: Estou sentindo sua falta em novelas.
TA: Pois é, eu também gostaria de fazer novela, mas hoje em dia, para fazer novela, você fica sequestrada na televisão, de segunda a segunda, eu soube isso. Agora claro que se pintar uma novela eu vou fazer. Eu fiz outro dia o Pé na cova, que é um programa muito engraçado.
MCB: Do Falabella.
TA: É, do Miguel, a Marília (Pêra) trabalha também. Foi uma ceninha minúscula que eu fiz, a Marília não estava no dia em que eu fui. Sempre que pinta uma coisa assim fora eu faço, eu fiz uma vez Malhação também, uns capítulos finais, com o Fiuk. Enfim, a gente está aí trabalhando.
MCB: E é uma ótima notícia essa do cinema, filme novo.
TA: É, a direção é da Cris D´Mato, que já me dirigiu no As cariocas, que eu fiz com o Daniel (Filho). Eu fiz As cariocas e As brasileiras, eu já fiz duas séries na Lereby, que é a companhia do Daniel, que é um grande diretor, é um dos diretores mais sensacionais com quem eu já trabalhei.
MCB: Vocês são muito amigos, não é?
TA: Muito, eu sou fã do Daniel desde pequenininho, eu também era pequena.
MCB: Theresa, para a gente terminar, as únicas duas perguntas fixas do site: qual o último filme brasileiro a que você assistiu?
TA: O palhaço (2012, Selton Mello).
MCB: E qual mulher do cinema brasileiro, de qualquer época e de qualquer área, você deixa registrada em sua entrevista como uma homenagem?
TA: Deixa eu pensar... Eu gosto da Fada (Santoro), eu gosto da Ilka (Soares), ai meu Deus, agora eu fiquei tonta, eu gosto de todo mundo.
MCB: É porque a ideia é essa mesmo, é a que vem ao coração, é uma escolha afetiva mesmo.
TA: Ai meu Deus, agora fugiu o nome, eu estou aflita porque eu gosto delas tanto, tanto. Você perguntou sobre ela agorinha.
MCB: A Sônia Mamede?
TA: Não, Soninha não era mais do cinema, era mais de teatro de revista. Não, aquela outra, a Zezé Macedo.
MCB: Teve um espetáculo sobre ela ainda há pouco.
TA: Foi feito em homenagem a ela. E vai ter mais um espetáculo, do Barata, o produtor que está fazendo isso, em homenagem às mulheres do teatro que ficam esquecidas ao longo do tempo.
MCB: Theresa, alguma coisa que eu não te perguntei e que você quer acrescentar?
TA: Eu quero dizer que estou à disposição para o resgate da memória dos atores e da cultura brasileira, que participaram com sua vida, com seu suor e sangue para a cultura brasileira em todos os seus níveis. O que eu puder ajudar dando entrevistas, estou à disposição. Porque é muito importante que não esqueçam essas pessoas que dedicaram sua vida pela arte.
MCB: E tudo que esta aí hoje é resultado disso.
TA: A gente construiu isso, eu digo, aquela TV Globo que está aí, pô, eu faço parte do alicerce da televisão, desde a Tupi, eu faço parte dos alicerces da Globo, praticamente desde que ela se transformou nessa grande network.
MCB: Muito obrigado pela entrevista.
Entrevista realizada em abril de 2013.
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