Waleska Falci
A gestora e produtora cultural Waleska Falci nasceu em Ouro Fino (MG), no dia 11 de fevereiro. Radicou-se em Belo Horizonte, onde graduou-se em Comunicação, com especialização em Publicidade e Propaganda, e pós-graduou em Memória e Cinema, em Cinema e em Gestão Cultural. O começo da trajetória profissional foi no rádio: “Profissionalmente eu comecei a atuar no rádio, simultaneamente enquanto eu cursava a faculdade, mas eu direcionei todos os meus trabalhos de graduação para o cinema, então todos os meus trabalhos de conclusão, monografia e trabalhos que a gente tinha ao longo dos quatro anos do curso eu direcionava para o tema do cinema, porque a gente tinha essa opção em algumas matérias, escolher qual tema gostaria de trabalhar e os meus todos foram direcionados para o cinema”. Ainda que durante alguns períodos tenha se afastado por causa de um trabalho ou outro, constrói importante trajetória no segmento rádio, com atuações destacadas na Rádio Geraes, Alvorada, Guarani e Inconfidência, onde trabalha atualmente.
O cinema sempre teve papel fundamental na carreira de Waleska Falci: produziu e apresentou programas de rádio sobre o tema, como o Veja Esta Canção, realizou projetos como edições da Sessão Coruja, programa do extinto Usina Unibanco de Cinema, chefiou o Departamento de Cinema do Cine Humberto Mauro, e, mais importante que tudo, trouxe de volta para Belo Horizonte o Festival Internacional de Curtas, que tinha tido apenas duas edições e estava paralisado há cinco anos: “Como o festival não era do meu cargo e nem prioridade também do departamento de Cinema, eu precisei de algum tempo para negociar com a direção da casa uma hipótese de voltar a realizar esse evento. Eu criei um festival em 2001 com um perfil e características bem diferentes daquele que o Zuba criou, que não era competitivo, mas eu quis dar continuidade a um trabalho que ele realizou. Porque eu poderia simplesmente ter criado um novo nome e ter iniciado ali um primeiro festival competitivo com um outro nome completamente diferente, porque existia ali um hiato de cinco anos. Então, na verdade, a única coisa que ficou realmente explícita de que era uma continuação foi que nós demos continuidade ao nome, então esse festival de 2001 se chamou 3º Festival Internacional de Curtas Metragens de Belo Horizonte”.
A opção em dar continuidade ao Festival e não partir do zero teve uma justificativa: “Ele poderia ter tido outro nome qualquer, primeiro porque ele não era uma obrigação de continuidade do projeto do Zuba, era completamente diferente, mas eu quis, naquele momento, homenageá-lo pela importância do Zuba na história do Cine Humberto Mauro, para a história da formação cinematográfica de muitas e muitas gerações em Belo Horizonte, que foi possível graças ao trabalho dele à frente do Cine Humberto Mauro, então eu achei importante homenageá-lo, dando continuidade ao nome do projeto dele”.
Waleska Falci conversou com o site Mulheres do Cinema Brasileiro no Café da Livraria Status, em Belo Horizonte, em abril de 2013. Ela fala sobre sua formação, o trabalho nas rádios, a importância do cinema em sua carreira, a experiência no Cine Humberto Mauro, a retomada do Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte e outros assuntos.
Mulheres do Cinema Brasileiro: Para começar, origem, data de nascimento e formação.
Waleska Falci: Waleska Falci, nasci em Ouro Fino (MG), no dia 11 de fevereiro. Sou formada em Comunicação, com especialização em Publicidade e Propaganda, e tenho pós-graduação em Cinema e em Gestão Cultural, e outra pós-graduação em Memória e Cinema, feita pela UFMG.
MCB: Sua graduação em Propaganda e Publicidade foi feita em que ano e onde?
WF: Eu me graduei em 1994, pela Universidade Católica de Minas Gerais, depois eu fiz uma pós-graduação em 1999, de Memória e Cinema. Na UFMG, fiz uma pós em Cinema, na Universidade Católica de Minas Gerais, em 2001, e em 2005 eu fiz uma pós em Gestão Cultural na UNA.
MCB: Quando você fez Propaganda e Publicidade, você chegou a atuar na área ou já foi para o rádio?
WF: Profissionalmente eu comecei a atuar no rádio, simultaneamente enquanto eu cursava a faculdade, mas eu direcionei todos os meus trabalhos de graduação para o cinema, então todos os meus trabalhos de conclusão, monografia e trabalhos que a gente tinha ao longo dos quatro anos do curso eu direcionava para o tema do cinema, porque a gente tinha essa opção em algumas matérias, escolher qual tema gostaria de trabalhar e os meus todos foram direcionados para o cinema.
MCB: Qual foi a primeira rádio?
WF: Foi em 1991, eu entrei na Rádio Geraes, de Belo Horizonte, na época era uma rádio que estava inaugurando ainda em Belo Horizonte com uma proposta nova e completamente diferente das rádios comerciais que existiam. Eu entrei com a primeira geração de locutores da rádio e lá mesmo eu passei a produzir e a apresentar outros programas com perfis também voltados para o cinema.
MCB: Mas você era estudante ainda. Você passou por teste, foi convidada, como foi?
WF: Na verdade, eu fui indicada por um amigo, Guiga Sóicer, ele era amigo do Inácio Ribeiro, que na época era o diretor da Rádio Geraes. Ele me indicou porque achava que eu tinha uma voz muito própria pra rádio, eu gostava muito de música, na época eu já atuava como DJ em festas. Eu trabalhei muitos anos em um bar tradicionalíssimo de Belo Horizonte e que hoje tem uma casa em São Paulo, da Lili Varela. Então ele me indicou porque eu já tinha perfil de trabalhar com música e ele achava que eu tinha uma voz que poderia ser um perfil coerente com a proposta da Rádio Geraes, fui fazer o teste, e, na época, o diretor artístico era o Kiko Ferreira. O dono era o João Guimarães, que era baterista do grupo Kamikaze. Ele tinha uma proposta de fazer uma rádio completamente diferente, sem ter vínculos estreitamente comerciais, ou seja, ela teria um perfil de programação de acordo com o perfil musical que ele e o Kiko achavam relevantes para a cidade, sem, por exemplo, jabás. Seria uma rádio pautada pela liberdade mesmo de expressão musical.
MCB: E foi uma rádio que marcou época em Belo Horizonte.
WF: Marcou, durante anos ela foi uma referência entre jovens que tinham ali entre 20 e 40 anos, eles tinham mesmo a Rádio Geraes como uma referência local da cidade, porque além de trabalhar com lançamento de grupos que ainda eram completamente desconhecidos e não tocavam em outras rádios, como era o Jamiroquai, entre outros, a Rádio também trazia muita coisa do fundo do baú, aquelas músicas que eram realmente relevantes para a história musical, seja pop, rock, enfim, ela conseguiu unir essas duas coisas. E foi lá também que, depois de entrar como locutora, eu passei a convite do Kiko a produzir alguns programas, porque ele já conhecia esse meu perfil voltado para o cinema. Voltando um pouquinho no tempo, antes de eu entrar para a Rádio Geraes eu já estava na faculdade de Comunicação e eu já desenvolvia alguns projetos no Grupo Usina, que eram as salas Unibanco de Cinema, Savassi Cineclube... Na época os proprietários eram o Nélio Ribeiro, Eduardo Garreto Cerqueira, Mônica Cerqueira e Pedro Olivotto. Foi lá que eu tive a honra de trabalhar mais de perto com o Adilson Marcelino, que está aqui me entrevistando. Eu comecei a fazer alguns projetos lá no Usina que estavam ligados à faculdade, então um primeiro projeto que eu fiz foi um ensaio fotográfico sobre uma sessão de cinema no Savassi Cineclube, meu professor na época era o Eugênio Sávio, na Universidade Católica. Esse ensaio fotográfico acompanhava uma sessão de cinema do início ao fim, então era desde a trajetória ali do espectador chegando no cinema, comprando seu ingresso, comprando sua pipoca, entrando pra sala, encontrando os amigos dentro da sala, até as expressões de surpresa, de alegria ou de tristeza dentro do filme. O encerramento da sessão, que sempre acontecia nos filmes do Savassi, quando na saída as pessoas se reuniam em grupos para comentar os filmes que tinham assistido. Esse foi o primeiro projeto que eu fiz lá, depois eu desenvolvi outros pequenos projetos que também estavam sempre ligados ao que eu estava desenvolvendo na faculdade, eu conseguia fazer uma parceria com o cinema para que esses projetos fossem realizados lá, eram projetos de programação paralela, ou seja, eles aconteciam fora do horário de exibição normal dos filmes. Ou eram algumas sessões corujas com os temas especiais, essas sessões geralmente aconteciam nas sextas-feiras às 11 horas da noite, depois que encerrava a última sessão. Havia alguns outros projetos também de mostras especiais de curtas metragens, então esses projetos aconteciam em horários especiais dentro do Usina Unibanco de Cinema. Foi ali, nesses projetos que eu realizei com o Usina, que eu comecei a descobrir essa minha ligação mais forte com o curta- metragem, então foram nessas pequenas mostras que eu desenvolvi dentro do Usina, em parceria com os trabalhos que eu desenvolvia na faculdade que eu fui direcionando também o meu trabalho para o curta-metragem.
MCB: Antes de entrarmos nos curtas, eu acho importante a gente recuperar também algumas coisas da rádio, por exemplo, o programa Veja Esta Canção, não é?
WF: Foi exatamente por essas experiências com esses projetos que eu desenvolvi lá no Grupo Usina que o Kiko Ferreira me convidou então para desenvolver alguns programas com o tema cinema dentro da Rádio Geraes. Primeiro eu comecei apresentando um programa que era produzido pelo Bob Tostes, na época ele não fazia locução então era eu que fazia. Depois eu passei a produzir eu mesma alguns programas, produzia e apresentava, um deles foi o Veja essa canção, que foi inspirado por um filme do Cacá Diegues formado por episódios de curta duração. O programa abordava um filme por edição, falava um pouco do trabalho do filme e completava com uma música da trilha sonora, não necessariamente um lançamento, a gente revisitava toda a história do cinema. Esse programa eu produzi em parceria com o Adilson Marcelino.
MCB: Foi um programa que também abriu para você um espaço não só para o cinema como um todo, mas pra todo o cinema brasileiro também, já que a origem inclusive foi o filme do Cacá Diegues.
WF: Exatamente. Ele abordava um pouco da história do filme e a trilha sonora, porque como a gente estava trabalhando em rádio, a música era um fator de peso no programa. O programa não se restringia apenas a filmes nacionais, mas a fonte de inspiração foi o cinema nacional, foi o filme do Cacá Diegues que deu nome ao programa. Eu pedi autorização para ele e cheguei a entrevistá-lo para um dos programas. Depois eu tive um outro programa que era de dicas de vídeo em filmes na época, a gente não tinha essa coisa forte das TVs a cabo então essa pesquisa cinematográfica através de vídeo era muito bacana, a gente pesquisa muito a história do cinema através de vídeo mesmo. Eu me lembro que na época a gente tinha uma parceria com a Cinemania, que era uma locadora tradicional que tinha ali no Bairro de Lourdes, e nesse programa específico de vídeo, durante um tempo, eu trabalhei também em parceria com a Alessandra Durso, nossa amiga Cucuca, que também tem uma trajetória bacana no cinema nacional.
MCB: Você fica na Rádio Geraes de quando a quando?
WF: Eu entrei na inauguração da rádio, que foi final de 1990, eu entrei, inclusive, antes mesmo da rádio entrar no ar, a gente trabalhava nos bastidores, a rádio ainda estava sendo montada. Então eu participei da montagem da rádio, da estruturação dela toda, e fiquei aproximadamente uns quatro, cinco anos.
MCB: A segunda rádio em que você trabalha é a Guarani?
WF: Ao sair da Geraes eu fui para a Rádio Alvorada, onde trabalhei somente com apresentação, eu apresentava um jornal. Na época a Alvorada tinha uma retransmissora no Rio de Janeiro, então eu apresentava um jornal que era nacional, ele era retransmitido para o Rio e outras cidades de Minas. Eu fiquei na Alvorada durante pouco mais de um ano, quando eu saí de lá eu fui para a Rádio Guarani, lá, além de apresentar também jornais e programas musicais, eu trabalhei com programação musical, porque eu também já tinha essa experiência como DJ, conhecia música, eu tinha também na Rádio Geraes programas nos quais eu fazia seleção musical, tive um chamado Tuti-Fruti, que era aos sábados à noite, voltado mais pra música dançante e que teve uma ótima pontuação no Ibope. Na Rádio Guarani eu tive a oportunidade de trabalhar nessas duas frentes, como locutora e como programadora musical, eu fiquei lá até mais ou menos 1997. Simultaneamente ao meu trabalho na Rádio Guarani, eu fui indicada pelo Rafael Conde para participar de um processo de seleção no Palácio das Artes. O Rafael era chefe do departamento de Cinema do Palácio, ele estava se desligando, e, na época, o diretor artístico era o Rômulo Avelar. O Rômulo me convidou para participar desse processo de seleção para escolher quem trabalharia no departamento de Cinema no lugar do Rafael. Eu fui aprovada nesse processo de seleção em 1997, e, na época, eu entrei em um cargo que já tinha sido do José Zuba Jr., diretor do departamento durante muitos anos no Palácio das Artes. Quando eu entrei lá ele estava de licença ele estava com um problema de saúde e estava afastado, mas não estava ainda desligado do Palácio. Eu fiquei durante alguns meses trabalhando na função de chefe de departamento de Cinema, em substituição ao José Zuba. Foi nesse período que eu entrei no Palácio das Artes, e eu considero o cineasta Rafael Conde como um padrinho da minha trajetória profissional, porque ele me acompanhou durante muitos anos, que o Rafael me deixou uma missão. Eu já tinha desenvolvido alguns projetos também de produção com o Rafael, e ele me falou assim: "Olha, eu estou saindo, eu tentei, mas não tive tempo de concluir, e gostaria que você se empenhasse em um projeto para a gente tentar trazer de volta para Belo Horizonte, que era o Festival Internacional de Curtas-Metragens".
MCB: Só para situar, quando você diz chefe do departamento de Cinema do Palácio das Artes você está falando do Cine Humberto Mauro, não é?
WF: Exatamente, porque o Palácio das Artes é o espaço físico que é administrado pela Fundação Clóvis Salgado, então o cargo de chefe de departamento de Cinema da Fundação Clóvis Salgado é responsável pela programação do Cine Humberto Mauro, Palácio das Artes é o espaço físico e a Fundação Clóvis Salgado é a instituição que administra esse espaço.
MCB: Porque o nome “Cine” Humberto Mauro também veio com você, não é?
WF: Exatamente, na época chamava-se Sala Humberto Mauro. A sala de cinema que tinha dentro do Palácio das Artes foi criada aproximadamente uns 20 anos antes da minha chegada ao Palácio pelo Wagner Correia. Quando eu entrei, ele estava na TV Cultura do Rio de Janeiro, TV Educativa. Na década de 1970 ele era funcionário do Palácio, foi o idealizador então de um espaço específico para cinema dentro do Palácio das Artes, porque na época tinha teatro, tinha sala de música, tinha galerias de artes, mas não tinha nenhum espaço voltado para cinema, exclusivo, cinema e audiovisual. Ele conseguiu delimitar um território ali dentro que, aos poucos, foi se transformando em uma sala voltada para a exibição cinematográfica. Um das primeiras coisas que eu detectei na Sala Humberto Mauro é que, naquela época, em 1997, ela ainda tinha um grande problema de identidade com a cidade, ela tinha um público muito pequeno, muito restrito, eram grupos muito pequenos que conheciam a sala, que frequentavam a programação. Geralmente eram pessoas extremamente ligadas ao cinema, sejam profissionais, cineastas ou estudantes, era um público muito restrito, e uma grande parcela da população de Belo Horizonte, mesmo que frequentava o Palácio das Artes, não conhecia a Sala Humberto Mauro, as pessoas desconheciam que dentro do Palácio das Artes, naquela época, existia uma sala de cinema. E olha que era uma sala de cinema que já tinha mais de 20 anos. Então uma das primeiras coisas que eu detectei foi isso, foi essa questão da identidade da sala com a cidade. Como lá no Palácio das Artes tinha muitas salas, Sala de Genesco Murta para as artes plásticas, Sala Juvenal Dias para a música, então a maioria dos espaços tinha esse pré-nome de sala. Eu fiz uma proposta para o Rômulo Avelar para a gente transformar essa Sala Humberto Mauro em Cine Humberto Mauro, porque a ideia era criar uma identidade imediata com o público, de que aquele espaço ali estava voltado para o cinema. E que na verdade era um cinema. Geralmente, você tinha em Belo Horizonte cinemas com mais de uma sala, como por exemplo, o Cine Belas Artes, que tinha três. Mas no caso do Palácio das Artes, que era um espaço multicultural, a identificação de sala não especificava qual a abordagem seria dada ali naquele espaço. Eu fiz essa sugestão para o Rômulo Avelar e ela foi muito bem recebida. Então a gente fez um projeto para comemorar os 20 anos do Cine Humberto Mauro e nesse projeto teve uma reforma da sala de cinema com algumas melhorias técnicas, inclusive, de equipamentos, e a mudança do nome para Cine Humberto Mauro. Eu acho que isso foi um ganho muito importante para o espaço, porque a programação de cinema do Cine Humberto Mauro passou inclusive a ganhar um destaque muito grande nos principais jornais de Belo Horizonte, nos principais cadernos de cultura. A gente começou a trabalhar uma programação muito especial a partir dessa comemoração dos 20 anos do cinema, e a mais marcante delas foi uma programação que foi um esforço muito grande meu em parceria com o Rômulo Avelar e a Neusa Rocha, que era superintendente de Programação. A gente conseguiu, naquela época, trazer para Belo Horizonte uma mostra quase que completa do Louis Malle e do François Truffaut, foi uma mostra comemorativa, ficou em maio de 1998, essa mostra durou mais de um mês e abordou quase que a filmografia completa dos dois, foi uma mostra que a gente fez em parceria com o Estação Botafogo, do Rio de Janeiro.
MCB: A minha formação e da minha geração foi no Humberto Mauro, daí eu sempre acompanhei a programação. Eu me lembro que, na sua gestão, vocês instauraram uma questão que era das pré-estreias de filmes brasileiros, lançamentos de filmes brasileiros, não é?
WF: Foi, a gente fez um trabalho também muito árduo na época porque o Cine Humberto Mauro tinha uma dificuldade para conseguir filmes para exibição, por causa mesmo do perfil da sala, era uma sala pequena, era uma sala que não tinha um perfil comercial. Algumas mostras, filmes, lançamentos ou relançamentos, a gente não conseguia exibir na sala porque não tinha um retorno de bilheteria, os ingressos eram muito baratos na época, eram três reais e um real e cinquenta centavos, até hoje continuam sendo ingressos muito baratos em relação ao preço normal de cinema, então são ingressos subsidiados. Isso dificultava a programação, então a gente fez um trabalho muito árduo de conseguir convencer os cineastas brasileiros a trazer e fazer pré-estreia de cinema nacional no Humberto Mauro. Como a gente não conseguia exibir o filme, colocar o filme em cartaz, a gente conseguia pelo menos fazer uma pré-estreia. Nós tivemos um projeto que durou muito tempo, em que a gente fazia a pré-estreia, trazia o cineasta, fazia um debate com o público, e promovia esse lançamento do filme em Belo Horizonte, uma divulgação extensa com entrevistas em jornais, rádios, enfim. Na época a gente tentou fazer uma parceria mais estreita com a Riofilme, mas a gente começou a esbarrar em uma dificuldade porque o cinema nacional estava querendo entrar um pouco mais forte nas salas comerciais, então a gente teve um pouco de dificuldade de trabalhar com a distribuidora Riofilme porque ela preferia que o filme entrasse diretamente nas salas comerciais.
MCB: Mas eu lembro que vocês faziam umas coisas diferentes, uma vez teve uma exposição de figurino de um filme, não foi?
WF: Teve. Geralmente a gente negociava diretamente com os produtores e cineastas, os filmes que já estavam bem atrelados por distribuidoras a gente tinha mais dificuldade de negociar, então nós conseguimos trabalhar com os cineastas e produtores que estavam fazendo divulgação de um lançamento um pouco mais independente. Na época, nós chegamos a fazer alguns lançamentos, como um do Rio Grande do Sul chamado Anahy de las misiones (1997, Sérgio Silva). Junto com o lançamento do filme nós fizemos uma exposição dos figurinos e de parte do cenário do filme. O espaço do Palácio das Artes era privilegiado porque a gente tinha lá galerias de arte, então a gente conseguia interligar essas artes. No Anahy de las misiones nós fizemos a exposição dos figurinos, trouxemos aqui o produtor e o diretor, fizemos um debate com o público, foi uma pré-estreia muito importante também para o cinema. Fizemos também o filme da Lucélia Santos, Timor Lorosae - o massacre que o mundo não viu (2001). A Lucélia veio para Belo Horizonte, participou de debates, fizemos também sessões especiais para as escolas com a presença dela, foi um lançamento também bem forte porque, na época, a gente conseguia trabalhar parcerias junto com o departamento de extensão, que era gerenciado pela Lúcia Ferreira. Além dessas pré-estreias, a gente fez também um trabalho com o cinema nacional muito importante que estava diretamente ligado ao relançamento de filmes em cópias novas, então a gente foi desde O ébrio (1946), da Gilda de Abreu, com a presença da Alice Gonzaga. Foi um lançamento muito importante, porque ele ficou também muitos dias em cartaz, com um público muito legal. Fizemos vários outros relançamentos de filmes em cópias novas.
MCB: E daí vem a missão que o Rafael Conde te passou.
WF: Essa missão que o Rafael me passou era uma missão particular, porque produzir o Festival de Curtas não fazia parte das atribuições do meu cargo de chefe de departamento de Cinema da Clóvis Salgado. O Festival de Curtas era um projeto paralelo, ele não fazia parte das atribuições, era um projeto que demandava uma elaboração, uma produção à parte, ele era todo realizado à parte da programação do cinema. Era um projeto complexo e extenso, porque era um festival internacional e, na época, a gente ainda tinha algumas dificuldades de tecnologia, não tínhamos acesso à internet como a gente tem hoje.
MCB: E já estava parado há algum tempo.
WF: Como o Palácio das Artes é vinculado ao governo do estado, ele tinha ainda uma certa restrição de equipamento mesmo, de tecnologia, então na minha sala de departamento de Cinema eu ainda não tinha computador, a gente usava um computador da sala da diretoria quando precisava redigir algum memorando, ou então era na máquina de escrever. Nós tínhamos algumas limitações tecnológicas mesmo, mas eu já tinha uma ligação muito forte com o cinema de curta-metragem, tinha uma identificação muito grande. O Rafael Conde sempre acompanhou o meu trabalho ali no Cine Humberto Mauro, a gente sempre conversava sobre isso, fomos trocando figurinha e conversando sobre esse projeto do Festival de Curtas, que tinha começado em 1994 pelo José Zuba.
MCB: Ele criou o Festival de forma paralela também?
WF: Olha, eu não sei, porque na verdade eu não tive contato com o Zuba, porque quando eu cheguei ao Palácio das Artes ele já estava afastado por motivo de doença, e veio a falecer algum tempo depois, então eu nunca tive oportunidade de conversar com ele sobre o evento. Mas o festival nunca foi uma atribuição do cargo de chefe de departamento de Cinema, tanto que depois que o Zuba saiu de licença o festival não foi realizado durante alguns anos.
MCB: Ele tinha sido realizado quando?
WF: Ele foi realizado em 1994 e 95.
MCB: Você entrou em 97.
WF: Eu entrei em 97, então o festival ficou paralisado mais de cinco anos.
MCB: Mas você não entrou em 97?
WF: Sim, mas eu só realizei o Festival de Curtas em 2001.
MCB: Entendi.
WF: Ele ficou cinco anos sem acontecer, o Zuba criou esse festival em 1994 e teve uma segunda edição em 95, mas na época que o Zuba criou o festival as dificuldades tecnológicas eram maiores ainda, né, porque ele contava apenas com telefonemas e cartas para se comunicar com o outro lado do mundo, para conseguir material para produzir esse festival. O festival que o Zuba criou tinha um perfil mais de mostra cinematográfica, porque ele não tinha um perfil competitivo. Mas foi um projeto muito importante para a história da cidade, porque eu acho que ele abriu as portas desse evento que voltou depois, depois de cinco anos parado voltou a acontecer em Belo Horizonte. Então se não fosse o Zuba lá em 94 para criar esse primeiro festival talvez hoje, em 2013, a gente não tivesse um festival de curtas em Belo Horizonte. Ele fez em 94, em 95, e depois já começou a ficar doente, daí ficou 96, 97, 98, 99 e 2000 sem acontecer o festival. Eu entrei em 97, mas como o festival não era do meu cargo e nem prioridade também do departamento de Cinema, eu precisei de algum tempo para negociar com a direção da casa uma hipótese de voltar a realizar esse evento. Eu criei um festival em 2001 com um perfil e características bem diferentes daquele que o Zuba criou, que não era competitivo, mas eu quis dar continuidade a um trabalho que ele realizou. Porque eu poderia simplesmente ter criado um novo nome e ter iniciado ali um primeiro festival competitivo com um outro nome completamente diferente, porque existia ali um hiato de cinco anos. Então, na verdade, a única coisa que ficou realmente explícita de que era uma continuação foi que nós demos continuidade ao nome, então esse festival de 2001 se chamou 3º Festival Internacional de Curtas Metragens de Belo Horizonte. Mas ele poderia ter tido outro nome qualquer, primeiro porque ele não era uma obrigação de continuidade do projeto do Zuba, era completamente diferente, mas eu quis, naquele momento, homenageá-lo pela importância do Zuba na história do Cine Humberto Mauro, para a história da formação cinematográfica de muitas e muitas gerações em Belo Horizonte, que foi possível graças ao trabalho dele à frente do Cine Humberto Mauro, então eu achei importante homenageá-lo dando continuidade ao nome do projeto dele.
Quais eram as principais características que diferenciavam o projeto do Zuba desse projeto que eu iniciei em 2001? O festival passou a ser competitivo, então ele passou a ter uma categoria competitiva. Em 2001 ainda era um categoria mista, era competitiva nacional e internacional em uma única categoria, tanto que já com distribuição de prêmios, então os primeiros colocados, além de receberem um prêmio em dinheiro, também recebiam prêmios em materiais cinematográficos. Nós fechamos parcerias com laboratórios, estúdios, enfim, os ganhadores tinham um retorno também de premiação que eles poderiam utilizar na produção de novos curtas-metragens. Esse troféu criado em 2001, chamava-se Troféu Cachoeira, porque era uma homenagem ao Humberto Mauro, porque ele dizia que cinema é cachoeira. Nessa época, em 2001, para trabalhar na produção do festival eu contei com uma parceria muito importante que foi da Zeta Filmes, eu já conhecia a equipe da Zeta, que era o Roberto Moreira, a Francesca Azzi e o Eduardo Cerqueira, principalmente o Eduardo e a Francesca, que já tinham sido meus professores na Universidade Católica, e que, de certa maneira, também participaram dessa minha orientação para o cinema, o Roberto, inclusive, foi o meu orientador na monografia que eu fiz sobre o remake cinematográfico. A Francesca foi minha professora de Semiótica, então eu já conhecia o trabalho deles, dessa relação aluno e professor na universidade. Na época eu fiz o convite para a Zeta Filmes trabalhar comigo na curadoria do festival, selecionando os filmes da mostra competitiva e uma mostra também paralela, então foi uma parceria muito importante que eu acho que deu uma cara muito específica e muito forte pra esse festival de curtas, para essa retomada desse festival, eu falo retomada porque a gente optou por dar uma continuidade ao nome do evento em homenagem ao Zuba.
MCB: Mesmo porque, provavelmente, devia ser uma das únicas janelas de exibição para curta aqui em Belo Horizonte, não é?
WF: Naquela época, em 2001, era a única janela de exibição. Depois a gente desenvolveu alguns projetos lá no Cine Humberto Mauro, como a Mostra da Curta Minas. Esse festival de curtas de 2001, eu acho, teve uma oportunidade de mostrar para a cidade, para essa geração que estava frequentando o Cine Humberto Mauro, e até mesmo pra uma geração que ainda não conhecia o Cine Humberto Mauro, uma oportunidade de entrar em contato com esses trabalhos nacionais e internacionais de excelente qualidade, porque foram selecionados por uma equipe muito especial. Nós fizemos questão de selecionar os filmes que fossem extremamente relevantes para quem quisesse conhecer o que estava sendo feito de melhor e mais diverso no cinema de curta-metragem universal. Olha, esse festival de 2001 foi muito marcante. Além dele se tornar um evento competitivo, nós conseguimos fechar parcerias com festivais internacionais para que curadores de festivais internacionais estivessem no júri das mostras competitivas, porque a intenção era que, colocando jurados, curadores de festivais internacionais no júri de mostras que tivessem filmes nacionais, a gente estaria, de alguma maneira, colocando esse curador de frente com o cinema brasileiro de curta-metragem.
MCB: E com a possibilidade de levar esse cinema para fora.
WF: A possibilidade de levar esse cinema para várias partes do mundo. A primeira parceria que a gente fez foi com o Festival de Clermont Ferrand, que é considerado o maior festival de curta-metragem do mundo, então na época já teve um curador em Belo Horizonte, que era o Laurent Crouzeix, ele veio para o festival para participar do júri. Teve também no júri a Anne-Marie Kurstein, que é do Denis Films Institute, e que trouxe uma seleção de filmes especialistas dinamarqueses. E também o professor José Tavares de Barros, que foi uma outra pessoa muito especial na minha trajetória profissional, eu trabalhei muito com ele no Cine Humberto Mauro, e que, infelizmente, já virou estrela, não está mais entre nós.
MCB: Com esse sucesso, como o festival foi recebido lá dentro do Palácio das Artes?
WF: Olha, a coisa mais impactante que aconteceu dentro desse festival em 2001 foi a abertura, que foi dentro do Grande Teatro do Palácio das Artes, que era um teatro com 1600 lugares, com entrada franca, o teatro lotado. Na época eu tinha acabado de terminar meu curso de Cinema na UFMG, então tinha um filme que eu trabalhei no curso e que tinha ficado com ele durante muito tempo na cabeça, que foi O homem e a máquina, você conhece?
MCB: Não. Você trabalhou com ele no seu curso?
WF: Sim, e foi um filme que me impressionou muito. Então a gente fez uma projeção dele dentro do Grande Teatro. Simultaneamente à exibição na tela grande do teatro teve uma performance do grupo de Belo Horizonte chamado Feito a Mãos, que na época era o Rodrigo Minelle e o Chico de Paula, eles fizeram um trabalho maravilhoso.
MCB: E como foi a repercussão dentro do Palácio das Artes?
WF: Olha, na época foi uma surpresa muito grande, porque eu acho que a direção do Palácio das Artes imaginava que fosse ter um público, mas eu acho que não tanto quanto foi. Porque a partir do dia seguinte à abertura teve, durante mais de dez dias, sessões de cinema de curta-metragem lotadas, eram filas que começavam duas horas antes de cada sessão para retirada do ingresso, que era gratuito, as filas davam voltas dentro dos jardins do Palácio das Artes. Paralelo a essas exibições a gente tinha mostras de audiovisual também na Sala Ceschiati, nós montamos uma videoteca dentro da Sala Genesco Murta, que era uma videoteca com todos os filmes que se inscreveram no festival, então o público que, às vezes, não conseguia entrar dentro da sala de cinema para assistir à projeção, dirigia-se para essa videoteca e poderia selecionar ali qualquer filme que ele quisesse para assistir em cabines individuais de vídeo, inclusive os vídeos que não haviam sido selecionados. Então o público teve acesso ao material total que foi inscrito, não apenas aos filmes selecionados, a gente teve debate com os realizadores nacionais, vieram alguns convidados internacionais, que também tiveram uma participação direta com o público, e foi uma troca muito importante tanto para os cineastas nacionais quanto para os internacionais, que conheceram os trabalhos dos brasileiros e aqui mesmo foram convidados para outros festivais dentro do Brasil. Vários cineastas brasileiros tiveram seus filmes convidados para participar de outros festivais internacionais.
MCB: E essa repercussão toda deu impulso pra ai sim dar continuidade perene ao festival de curta, próxima edição?
WF: Deu um impulso porque nós tivemos um apoio da mídia muito grande, jornais e televisões deram uma cobertura muito grande do evento e isso trouxe um público muito grande para o cinema. O Palácio das Artes nem comportou a demanda de público que apareceu ali, sabe, muita gente ficava de fora mesmo das sessões, as pessoas chegavam duas horas mais cedo, então foi importante para impulsionar o festival, não só perante os patrocinadores, perante as instituições públicas, mas também perante o público, porque o público queria mais. Eu acho que o público foi o maior motivador dessa continuidade, porque obviamente que se fosse um festival com escassez de público, talvez a motivação tivesse sido outra, mas a aceitação do público foi tão grande que a gente realmente se entusiasmou pela continuação do festival.
MCB: Como foi a próxima edição? Era anual ou era de dois em dois anos?
WF: Quando eu retomei o festival em 2001 a ideia é que fosse um festival anual. Quando terminou, eu já comecei a pensar e trabalhar no festival de 2002, o que poderia ser melhorado. Uma das questões que foram mais observadas era de separar a mostra competitiva internacional da nacional, porque a gente viu que tinha um espaço. Em 2001 ela era mixada, nacionais e internacionais, o número de filmes nacionais era ainda escasso, e como a produção de curtas brasileiros estava aumentando a gente começou a ter um número de escritos muito grande em 2002 e a gente passou a ter duas mostras, uma internacional e uma nacional. Nós tínhamos poucos inscritos em outros formatos, a maioria era em 35mm, naquela época se trabalhava muito com 35mm. Mas optamos por ter duas mostras, inclusive para privilegiar mais o cinema brasileiro, aumentando o número de filmes nacionais na competição.
MCB: Quantas edições teve o festival de curtas com você?
WF: Eu realizei duas, em 2001 e 2002. Nesse festival de 2002 a parceria foi com um festival da Espanha. Nesse terceiro festival, nós já conseguimos fazer esses pequenos ajustes, então separamos as mostras. Nós fizemos uma mostra muito especial, porque depois do festival de 2001 eu consegui viajar e participar de alguns festivais internacionais, isso foi fundamental para que eu fechasse parceria para o festival de 2002. Um das parcerias que a gente fez em 2002 foi uma mostra de uma instituição, de uma organização americana chamada Wisin Make Movies, em que são só filmes feitos por mulheres. É uma instituição muito bacana feita por mulheres do mundo inteiro e aborda vários gêneros. Nós fizemos uma parceria também com uma mostra da Jane Campion, a gente fez uma parceria com a Nova Zelândia através de um amigo que eu tenho neozelandês, que é o Tom, ele é caso com a Lili Varella, do Drosófyla. Ele conseguiu trazer pra gente uma mostra de filmes especiais da Jane Campion. Enfim, foram alguns ajustes que a gente fez para 2002.
MCB: E aí você sai do Festival de Curtas e sai também do Palácio das Artes.
WF: Em 2002 foi um festival que a gente já contou com mais patrocínios, inclusive, em questão da repercussão do festival de 2001, então tivemos mais patrocínios para trabalhar em 2002. Nós trabalhamos com uma equipe de curadoria muito legal também, que eu acho que foi muito importante para definir uma programação do festival. Mas logo depois da realização desse festival de 2002 eu tive alguns problemas com a direção do Palácio das Artes, conflitos administrativos. Na época, diante das dificuldades que eu estava enfrentando para continuar na coordenação da sala de cinema e também, obviamente, para continuar coordenando o festival, eu fiz um convite pro CEC – Centro de Estudos Cinematográficos -, através do presidente na época, que era o Geraldo Veloso, por meio dos integrantes do CEC, Ataídes Braga, Márcia Valadares e Marcelo Castilho Avelar, para que o CEC então passasse a ser o proponente do projeto perante as leis de incentivo à cultura, pois eram através dessas leis que a gente conseguia viabilizar financeiramente o festival. Na época o CEC tinha algumas parcerias já com o meu trabalho na direção da sala de cinema, parcerias de mostras especiais, debates que aconteciam ali na sala. O CEC tinha uma produção regular dentro do espaço do Cine Humberto Mauro, então a gente já tinha uma relação constante. O CEC aceitou a proposta para ser o proponente do festival e, a partir de 2003, o festival passou então a ser realizado sob a coordenação do CEC, o Centro de Estudos Cinematográficos de Minas Gerais.
MCB: O festival passou por outras administrações, mas quando ele chegou no Daniel Queiroz, que é quem atualmente cuida do festival, eu tive a possibilidade de estar presente em uma das aberturas, na quel ele te homenageou publicamente e deixou claro ali que aquele Festival de Curtas existia por causa do Zuba e por sua causa. Como foi para você esse reencontro?
WF: O Daniel acompanhou a minha permanência, o meu trabalho no Cine Humberto Mauro desde o início até a minha saída, ele acompanhou a realização do meu trabalho dentro de dois festivais. O Daniel Queiroz ficou um tempo como diretor de Audiovisual da Secretaria de Estado de Cultura, quando ele passou a assumir a coordenação do festival, logo depois da saída do CEC, porque o CEC ficou de 2003 até 2010, se não me engano. O Daniel Queiroz me fez uma homenagem muito bacana, muito emocionante, eu fiquei profundamente agradecida ao reconhecimento dele, porque o meu trabalho para o festival foi realmente de muita dedicação, muita garra, muita entrega, eu fiquei durante mais de dois anos da minha vida completamente voltada para esse evento. Daí o Daniel, lá na frente, quase oito anos depois, ele me fez uma homenagem muito bacana. Foi a primeira vez que eu voltei no Cine Humberto Mauro depois da minha saída, eu saí do Cine Humberto Mauro em fevereiro de 2003 e eu só voltei a convite do Daniel Queiroz, quando ele fez essa homenagem, que foi muito importante, porque ali me mostrou que realmente todo o esforço que eu tinha feito para o cinema de curta-metragem brasileiro, e até mesmo para o público de Belo Horizonte como espectador não tinha sido em vão.
MCB: Importante também chamar a atenção, porque foi uma abertura em que estavam presentes o público comum, normal do Humberto Mauro, mas também realizadores, poder público.
WF: Isso foi no festival de 2011, quando a Eliane Parreiras era Presidente da Fundação Clóvis Salgado, ela foi presidente durante o ano de 2011, e em 2012 ela assumiu a Secretaria de Estado de Cultura. Então durante a realização desse festival de 2011, o Daniel me convidou, claro que com o aval da Eliane Parreiras, que era presidente da Fundação Clóvis Salgado.
MCB: Mesmo porque no discurso dela à frente ela te citou.
WF: Ela também me citou. A Eliane Parreiras foi uma pessoa com quem eu convivi diretamente dentro do Palácio das Artes, ela acompanhou a realização do primeiro festival, porque no segundo ela já não trabalhava mais na Fundação Clóvis Salgado. Então a Eliane Parreiras acompanhou o meu trabalho dentro do Cine Humberto Mauro e o meu trabalho como coordenadora do Festival de Curtas realizado em 2001. A Eliane Parreiras também reconheceu aquilo ali, ela e o Daniel Queiroz fizeram aqueles discursos lá na frente de agradecimento e de reconhecimento ao trabalho que eu realizei em 2001 e 2002, trazendo de volta o Festival de Curtas pra Belo Horizonte, e que se isso não tivesse acontecido em 2001 talvez hoje a gente nem tivesse mais o festival em Belo Horizonte, né?
MCB: Quando você sai do festival você volta para o rádio, atualmente você está na Rádio Inconfidência, não é isso?
WF: Eu voltei para o rádio em 2005, para a Rádio Inconfidência, que é uma rádio com uma programação 100% voltada para a música brasileira. Estou lá desde 2005, já vai fazer cinco anos que estou lá.
MCB: Você faz locução.
WF: Na Rádio Inconfidência eu já produzi alguns programas, atualmente eu faço a apresentação de dois programas, um é o Almanaque Brasil, e o outro é o Sambossa. São programas 100% voltados para música brasileira, esse é o trabalho que estou realizando atualmente. Mas só voltando uma parte no tempo. Logo que eu saí do Festival de Curtas em 2003, eu fui convidada pelo Ailton Franco, pelo Rocine Freitas e pelo Eduardo Cerveira, que eram dirigentes do Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro para trabalhar na comissão de seleção desse festival.
MCB: Atualmente, você não está trabalhando com cinema, não é? Tem vontade de voltar? Porque é uma trajetória longa e importante no cinema.
WF: Eu gosto muito de trabalhar na realização de eventos voltados para o cinema, tenho vontade, tenho sim intenção, tenho projetos, mas ainda não chegou o momento de executá-los.
MCB: Mas sem deixar a rádio, né? Porque aqui em Belo Horizonte você é uma marca do rádio.
WF: É, a minha trajetória na rádio começou em 91, então são mais de 20 anos de rádio, a música também é outra coisa que esteve sempre presente na minha vida, no meu trabalho. São essas três frentes em que eu sempre trabalhei na minha carreira, que é a voz através de locução, a música através da programação musical e da seleção, não só para rádio como também como DJ, e a terceira que é o cinema, que sempre esteve presente em meus trabalhos, seja dentro da rádio, seja como DJ. Então eu sempre interliguei essas três coisas, atualmente o cinema está adormecido, mas ele vai voltar.
MCB: Para a gente terminar, as duas únicas perguntas fixas do site: qual foi o último filme brasileiro a que você assistiu? E a segunda é: qual mulher do cinema brasileiro, de qualquer época e de qualquer área, você deixa registrada na sua entrevista como homenagem?
WF: Bom, como a gente está em abril de 2013, eu tenho visto uma média de um filme por semana, e sempre que tem brasileiro é ele que eu escolho. O mais recente que eu vi foi A busca, com o Wagner Moura e a Mariana Lima.
A mulher que eu homenagearia do cinema brasileiro... Eu queria só falar uma coisa antes, eu posso?
MCB: Pode, porque a próxima coisa que eu ia te perguntar era se eu não te perguntei alguma coisa que você queria acrescentar.
WF: Eu queria registrar que antes, no meu trabalho lá no Cine Humberto Mauro, da realização do Festival de Curtas, a gente falou das pré-estreias dos filmes brasileiros, dos relançamentos de filmes em cópia nova, mas eu queria falar também de um outro trabalho que começou na minha gestão dentro do Cine Humberto Mauro e que eu acho que foi muito importante. Porque foram projetos importantes que permanecem até hoje. Logo depois do Festival de Curtas, eu me lembro direitinho que dentro dos corredores, ali na rampa de acesso ao cinema, ali mesmo eu fiz um convite para o Guigo Pádua, e depois eu fiz o mesmo convite pro Maurício Gino. Conversei com os dois que, na época, faziam parte da direção da Associação Curta Minas. Eu falei assim: “Olha, vocês estão vendo, a gente tem público e muito para cinema de curta-metragem em Belo Horizonte, vamos desenvolver um projeto para que tenha uma exibição permanente de curtas- metragens aqui no Humberto Mauro? O Guigo ficou de pensar e o Maurício Gino se entusiasmou demais com a ideia. Depois eu fui procurada pela Suzana Markus e a gente levou esse projeto para frente, que ao longo desses anos foi crescendo, foi se modificando, foi evoluindo. Esse projeto é o Curta Minas. É muito importante porque a gente tem uma exibição permanente de curta- metragem hoje em Belo Horizonte e que começou ali, a sementinha foi plantada lá, no final dos anos 90, começo dos anos 2000, dentro da minha gestão. Eu fico muito feliz por esse projeto ter essa continuidade e essa longevidade. Outro projeto que também começou dentro da minha gestão e que também foi evoluindo muito, cresceu, hoje é um projeto extremamente importante para a história da cidade e do cinema de documentários, é o Fórum.Doc, que na época era o Festival Internacional de Documentários de Belo Horizonte, sempre com a Júnia Torres à frente, com a participação da Cláudia Mesquita. Esse projeto também nasceu ali na época que eu estava na gestão do festival, eu fico muito feliz da continuidade desse evento. Tive um projeto também muito importante com o Ataídes Braga, que era a História do Cinema Brasileiro, em que a gente exibia filmes brasileiros, a história do Brasil através do cinema. Esse projeto era feito em parceria com o Ataídes Braga, a gente fazia sessões comentadas de filmes brasileiros, contando a história do Brasil através do cinema para um público muito específico que é o público de estudantes.
MCB: No qual eu tive a felicidade de participar, eu recebia os alunos.
WF: Exatamente. Esse projeto foi realizado em parceria do Departamento de Cinema com o Departamento de Extensão, a Lúcia Ferreira que fazia o contato, o convite para essas escolas participarem, e você, durante muito tempo, ficou com a gente nesse projeto. Inclusive você apresentava, conversava com o público, enfim, foi um projeto muito importante também que aconteceu na minha gestão. Então, assim, não só ter realizado o Festival de Curtas, mas eu acho que teve grandes projetos que aconteceram ali naquela época e que eu acho que marcaram história.
MCB: E qual é a mulher?
WF: Eu fico pensando em homenagear as grandes atrizes, da geração anterior ou da geração nova. É complicado, mas eu vou falar então de uma que é quase assim uma unanimidade. Ela me marca, até porque eu vi praticamente todos os filmes que ela realizou e acompanho a carreira dela, que vai do drama até a comédia. É uma pessoa que eu acho extremamente versátil, o que é uma qualidade, não é aquela atriz de um papel só, uma pessoa que evoluiu com o tempo, que é a Fernanda Torres, não é a Montenegro. Admiro muito a mãe, mas assim, talvez até por uma questão de geração, eu acompanhei muito o trabalho da Fernanda, e evoluindo também. Porque eu sou um pouco mais nova que ela, mas sou mais ou menos contemporânea, então eu vi desde os primeiros filmes dela e acompanho até hoje. Eu vi a evolução da menina fazendo os primeiros filmes, o Marvada carne (1985, André Klotzel). Eu vou registrar ela porque marcou muito essa minha vivência cinematográfica, eu acompanhei muito o trabalho dela, é uma carreira longa e eu tive a oportunidade de ver várias facetas. Ela é Fernanda Torres.
MCB: Muito obrigado pela entrevista.
Entrevista realizada em abril de 2013.
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