Ano 20

Angela Ro Ro

Várias cantoras da MPB e do pop nacional têm emprestado suas vozes para conduzir tramas e embalar personagens nos filme brasileiros atuais: Adriana Calcanhoto em ‘O Vestido, de Paulo Thiago” e Zélia Duncan em “Avassaladoras”, de Mara Mourão, são alguns exemplos. Mas Angela Ro Ro parece ser uma predileção em títulos da Globo Filmes. Está em dois peso-pesados da produtora: “Sexo, Amor e Traição”, de Jorge Fernando - "Escândalo", música que Caetano Veloso fez para ela; e “Cazuza, o tempo não pára”, de Sandra Werneck e Walter Carvalho - "Cheirando a Amor". Nada mais merecido, ganha a artista que atinge um segmento mais jovem, que é o perfil desses filmes, ganha o Cinema Nacional – Angela Ro Ro compôs ou interpreta algumas das mais belas músicas de nosso cancioneiro.

Além disso, na próxima quinta-feira, dia 17 de junho, o Canal Brasil, templo do Cinema Nacional, estréia mais uma de suas novas atrações, o programa “Escândalo”, apresentado por Angela. O novo programa faz parte de uma reformulação na grade da emissora e marca a administração de Paulo Mendonça no Canal – entre as atrações estão o “Tarja Preta”, do Selton Mello e a nova temporada do “Rolo Extra”, do Pedro Bial.

Angela Ro Ro é, sabidamente, uma das nossas maiores compositoras, com músicas-marcos como “Amor Meu Grande Amor” (com Ana Terra), “Gota de Sangue” e “Fogueira” – “Estou preparando um novo disco”, avisa. Intérprete de mão cheia, tanto de suas músicas como de outros autores – Chico Buarque, em particular, e também de músicas em francês, inglês ou italiano, ela é também extremamente articulada e inteligente. Suas entrevistas sempre foram um prato cheio para o telespectador degustar um tanto de inteligência associado a um tanto de poesia. Então nada mais merecido que esse novo programa, em um veículo tão importante como é o Canal Brasil.

Vida longa ao “Escândalo”!



Mulheres do Cinema Brasileiro: Como você recebeu o convite para apresentar um programa no Canal Brasil? Foi inesperado? 

Angela Ro Ro: Foi bastante inesperado mesmo, eu não sonhava. Apesar de que, às vezes, depois que eu parei de ficar preguiçosa, ficava pensando aqui com meus botões, que eu podia ter um programa de televisão. Ter uma espécie de talk-show em casa mesmo, ao invés de ficar falando sozinha. Minha mãe me dizia, com aquele jeito dela de mãe mineira, quando eu vivia na bebedeira, “por que você não dá jeito na vida, menina. Por que não faz um programa de tv?" Daí que apesar de ser inesperado, nem pensei duas vezes em aceitar o convite. Eu adorei, e minutos depois já estava comprando pastinha, eu que sou super desorganizada, dando palpites e já pensando em como ele seria. As gravações acontecem em uma casa linda, no alto do Rio, meio escondidão. Um clima ótimo, energético, onde grava eu, o Selton Mello, o Pedro Bial, o Peréio. Estou adorando.

Quero falar da minha turma, da galera do programa que é pessoal do Arte em Movimento, do diretor Adolfo Rosenthal, São todos ótimos.

MCB: E como está o programa? Você sempre abre ao piano, não é isso? 

ARR: Você acredita que ainda não vi, só mesmo algumas partes. Vi as chamadas do comercial da programação do Canal Brasil e uma parte ou outra.

MCB: Então você vai ver mesmo é junto com o telespectador, já que o programa estréia depois de amanhã (dia 17 de junho)?

ARR: Sim, vou ver junto. Só não sei dizer se vou conseguir ver toda quinta-feira. Não estou dizendo isso por vaidade não, já que estou adorando o programa. Mas é que não sei se vou poder estar toda quinta em frente a tv assistindo. Os convidados são ótimos, tem Moska, Leila Pinheiro, Ney Matogrosso, Joyce. Se nada mudar, porque tv pode mudar até na hora, a estréia é com o Frejat. É uma turma da pesada. O programa é deles, deixo que cada um faça o que quer. O Ney por exemplo cantou pouco, já a Lenny Andrade cantou muito e maravilhosamente. No formato do programa não tem espaço para muita gente, no máximo para dois músicos. Daí que cada um fica de um jeito. A Lenny não trouxe músico, trouxe um BG e cantou em cima. Foi lindo. Não confunda com playback, não tem nada a ver. Ela cantou mesmo. E divinamente. 

MCB: Eu sei que já tem alguns programas gravados (Antônio Adolfo e Carol Saboya, Lucina, Fred Martins, são os outros). Quem vem por aí?

ARR: Estou gostando tanto do programa que espero que ele continue ainda por muito tempo. Ainda vem muita gente boa por aí. Já gravamos como a Zélia Duncan, Jorge Vercilo, Fátima Guedes, Kleiton e Kledir, Flávio Venturini e a Lenny Andrade.

MCB: Por ser no Canal Brasil, um templo do cinema brasileiro, o programa fará alguma referência a filmes?

ARR: Não sei, não tem nada definido em relação a isso. Em um dos programas, o da Leila Pinheiro, até tem, eu canto a “Smile”, do Charles Chaplin. Mas foi coincidência. Essa música eu já cantei muitas vezes durante essa minha vida.

MCB: E suas músicas no cinema? No filme “Cazuza, o tempo não pára” (de Sandra Werneck e Walter Carvalho) tem uma linda, “Cheirando a Amor”...

ARR: Eu ainda não vi o filme. E aí, ficou bacana? Como está, tem um trecho legal da música ou só um pedacinho?

MCB: Ficou ótima, a música é linda.

ARR: Mas tem um tamanho bom, tem uma estrofe inteira? – e cantarola a música.

MCB: Sim, tem um trecho bom e ficou linda no filme.

ARR: E é em cena de sexo pesado? Por que pelo título...

MCB: É uma cena mais intimista. Então, você sabe me dizer sobre as suas músicas em filmes? 

ARR: Bom, estou num momento ótimo, por que além desse filme sobre o Cazuza, tem música minha também no “Sexo, Amor e Traição”, aquele filme com a Malu Mader e o Fábio Assunção. Dei sorte, porque são dois filmes de grande público. com uma repercussão enorme. Mas confesso que ainda não assisti nenhum dos dois. No do Jorge Fernando tem a “Escândalo”, que dá título ao meu programa. Acho que deve ter música minha também em algum documentário do Cinema Novo... eu cantando num pub inglês..., e também em algum curta. Mas não sei dizer agora. Em músicas que tive que negociar mesmo, através de editora, são esses dois, o do Cazuza e o do Jorge Fernando.

MCB: No “Cazuza, o tempo não pára” deu a impressão que a sua ligação com o Cazuza foi imediata. Está lá “Cheirando Amor”, a primeira música de seu primeiro disco. E é feito também uma referência a você... 

ARR: É, estou sabendo, eles dizem ‘já ligaram para a Angela?”, não é?. O Caju, aliás, o Cazuza, tenho que me lembrar em chamá-lo assim, quando falo mais formalmente, já que na intimidade eu o chamava de Caju. O Cazuza eu conheci através do querido Torquato (Neto), há muito mais tempo, quando ele era um menino ainda, 17 para 18 anos, todo encaracolado. Eu era muito amiga do Torquato. Nós vínhamos a pé, em noites de bebedeira, lá de Copacabana, do Leblon, até aqui no Bairro Peixoto, onde moro até hoje, mas pretendo mudar. Aliás, essa casa aqui é uma coisa, um verdadeiro Parangolé do Hélio Oiticica, cabe de tudo. Mas então, eu conheci o Cazuza nessa época. Eu o mimava muito. Era sete anos mais velha que ele, e naquela época sete anos queria dizer muita coisa, hoje não mais. Cazuza era explosivo em tudo e eu o sinto muito vivo até hoje. Ele é um estilo de vida. Para mim não parece que ele morreu, apesar dele ter padecido pra caramba por causa desse vírus nojento para o qual ainda não acharam cura. Mas eu penso nele completamente em ação. Não nos frequentávamos muito porque cada um tinha seu caminho, mas tínhamos e temos muita gente em comum. Mas ainda não vi o filme. A diretora, a Sandra, eu conheci lá no Morro da Urca, o Walter não conheço.

Ah, aproveitando, como é site, dá para você divulgar meus próximos shows? Site é uma das divulgações mais imediatas.

MCB: Sim claro. 

ARR: Nos dias 8, 9 e 10 de julho estarei no Teatro Rival, no Rio. Em meados de julho estarei em Salvador, Bahia, no Pelourinho, e depois devo ir a Garanhuns, e subir um pouco. E em agosto tem uma perspectiva de participar de um encontro GLS em Campinas. O contrato ainda não está assinado, mas está nos planos.

MCB: Sucesso no programa e muito obrigado.



Entrevista realizada em junho de 2004.

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 Sala Dina Sfat
Atriz intensa nas telas e de personalidade forte, com falas polêmicas.