Ano 20

Kate Hansen

Kate Hansen nasceu em São Paulo, no dia 13 de agosto. Belíssima, a atriz levou seu talento para o teatro, para a televisão e para o cinema. Kate Hansen começou a carreira artística no final da década de 1960 na novela “Super Plá” (1960/70), na TV Tupi, em que Bráulio Pedroso dava sequência à modernização das novelas depois do sucesso arrasador “Beto Rockfeller” (1968/69).“‘Olha essa menina fotografa e tem uma expressão muito boa” . Aí eu fui convidada para fazer um teste e entrei em um papelzinho lá no “Super Plá”. Daí eu comecei a estudar teatro, mas eu já entrei na televisão’”.

Kate Hansen desenvolve carreira importante na TV e torna-se uma estrelas da Tupi em novelas como “A Barba Azul” (1974), “Roda de Fogo” (1978), com trabalhos também na Globo, TV Cultura, Bandeirantes e SBT. Mas é na Tupi que tem um dos melhores personagens na anárquica novela “Cinderela 77”, de Chico de Assis e Walter Negrão. A atriz vai desenvolver carreira importante também no teatro em parceria com o genial José Celso Martinez Corrêa, com quem fez “As Três Irmãs” “O Casamento do Pequeno Burguês” e Ham-Let”. A estreia no cinema se dá em 1972 em Os Machões, dirigido por Reginaldo Faria, e em Independência ou Morte, dirigido por Carlos Coimbra. Kate relembra o papel de Leopoldina nesse filme de grande sucesso: “É, foi lá que eu descobri que poderia ser atriz. Sabe como? (...) Na hora que digo assim “Bate na mãe dos seus filhos, bate na sua mulher, a Imperatriz, na mãe de seus filhos, Imperatriz do Brasil”. Foi difícil falar isso quando você está começando”.

A carreira cinematográfica de Kate Hansen é luminosa, com grandes momentos em filmes como Aleluia, Gretchen, de Sylvio Back, Excitação, de Jean Garret, A Noite das Fêmeas, de Fauzi Mansur, Mulher Desejada, de Alfredo Sternheim, e, sobretudo, no encontro com o cinema personalíssimo de Walter Hugo Khouri, com quem fez As Deusas, O Desejo e Eros, o Deus do Amor. Em As Deusas é protagonista ao lado de Lilian Lemmertz e Mário Benvenutti. “ Do Walter Hugo Khouri eu não recusaria. Ele me dava muito valor e eu gostava muito dele, fiquei muito triste quando soube da morte dele".


Kate Hansen concedeu entrevista exclusiva ao Mulheres por telefone de sua casa no Rio de Janeiro, em que repassa sua carreira, os trabalhos na televisão, no teatro e no cinema. Fala de Walter Hugo Khouri, Alfredo Sternheim, José Celso Martinez Corrêa, Lilian Lemmertz, Maria Estela,  Glauce Rocha, Analú Prestes, Marlene França, Darlene Glória, Fernanda Montenegro, e muito mais.
 

Mulheres do Cinema Brasileiro: Para começar, seu nome, cidade em que nasceu e data de nascimento completa se possível

Kate Hansen: Kate Hansen, São Paulo capital, 13 de agosto.

MCB: Você estreou em novelas em 1969, na “Super Plá”.

KH: Foi.

MCB: Foi a primeira novela, mas você já vinha do teatro, não é isso?

KH: Não.

MCB: Foi o primeiro trabalho mesmo como atriz?

KH: Foi meu primeiro trabalho. Na verdade, eu estava fazendo um festival da “Voz mais bela colegial”, eu cantava, e fiz ballet quando era criança, pequena, depois eu comecei a cantar. Lembra do Fernando Faro?

MCB: Claro.

KH: É, então, baixinho. Estava com o Juca de Oliveira lá, Cassiano Gabus Mendes. “Olha essa menina fotografa e tem uma expressão muito boa” . Aí eu fui convidada para fazer um teste e entrei em um papelzinho lá no “Super Plá”. Daí eu comecei a estudar teatro, mas eu já entrei na televisão.

MCB: E aí você fez depois uma novela que eu me lembro um pouco dela, mas que é um marco na televisão, que é “As Bruxas”.Quando entrevistei a Joana Fomm, ela me disse que era muito impressionante porque todos os grandes atores estavam nessa novela.

KH: É mesmo, eu estava vendo o elenco um dia desses, não sei quem me perguntou também, tinha Walmor Chagas, Odete Lara, que tinha sido minha mãe.

MCB: Nathalia Timberg.

KH: Tinha Tony Ramos, Joana Fomm. 

MCB: Maria Isabel de Lizandra, é muito impressionante essa novela.

KH: Ewerton, não?

MCB: Acho que Everton também, Walter Forster

KH: Walter Forster, não sei se tinha Claudio Correia Castro.

MCB: Tinha Claudio Correia Castro.

KH: Nossa, era um time mesmo.

MCB: E aí você se torna uma das estrelas da TV Tupi, onde fez várias novelas, como “Barba Azul” , da Ivani Ribeiro.

KH: Aí foi na sequência, eu fiquei contratada, eu fiquei quase até a TV Tupi se extinguir. 

MCB: Exatamente, você fez “Barba Azul”,  “Roda de Fogo”, “Os Apóstolos de Judas”.

KH: Soubemos da Maria Estela ontem, soubemos disso ontem. A Maria Estela morreu e a vergonha da mídia, que só dá porcaria mesmo, não deu nenhum reconhecimento, uma mulher que fez 40 anos de televisão.

MCB: Nossa, eu não sabia.

KH: Então, ela faleceu, não sei o que aconteceu.

MCB: E há pouco tempo ela fez uma novela, ela tinha voltado.

KH: Foi em 2010 que ela fez alguma coisa, não foi?

MCB: Foi, eu me lembro de vê-la na novela, nossa que pena, que notícia ruim. 

KH: Uma mulher tão culta e elegante, bonitona, “Roda de Fogo” eu fiz com ela. 

MCB: Com ela e com a Eva Wilma, vocês eram as três irmãs, filhas do Oswaldo Loureiro e protagonistas da novela.

KH: É, então, dá uma nota aí, porque as pessoas não reconhecem, se não está na Globo não está em lugar nenhum.

MCB: Ela faleceu ontem?

KH: Não, ontem a gente ficou sabendo, foi no dia 6.

MCB: Entendi. Kate você faz uma novela também na Tupi que eu tenho paixão, que é “Cinderela 77” . Inclusive, estou aqui com o disco em vinil na minha frente.

KH: Com Vanusa e Ronnie Von?

MCB: Sim, com Vanusa e Ronnie Von. Você era a Cassandra, que era a filha da Elizabeth Hartmann, a madrasta má. Eu acho essa novela fabulosa, o Walther Negrão,  ele deu uma...

KH: e o Chico de Assis, né?

MCB: Exato. O Walther Negrão deu uma entrevista agora em uma série que está passando sobre os autores de telenovela no Canal Viva e ele falou da “Cinderela 77”, que era a busca de uma coisa moderna na época. Eu adoro essa novela.

KH: E era mesmo, era uma coisa bem moderna, lembra que tinha o Gatos e os Ratos?.

MCB: Exatamente. Tinha o pombo da Cinderela, enfim... eu me lembro muito era. A Leda Senise era a Bárbara, sua irmã.

KH: Leda Senise, ela é fotógrafa, né?

MCB: Não sei, nunca mais a vi. 

KH: Acho que ela é fotógrafa agora, ou artista plástica.

MCB: Você lembra bem dessa novela Kate? Você gostava de fazer? Você fazia aquela vilã. 

KH: Eu fui para substituir de novo alguém, que não sei o porquê. Foi quando o Roberto Talma entrou entrou na TV Tupi. Aconteceu que eu engravidei no meio da novela, mas aí quem que era o diretor? Era o Edson Braga?

MCB: Não me lembro.

KH: O Henrique Martins era o nosso diretor, e aí eu conversei com eles e tal, e continuei fazendo a novela. 

MCB: Você fazia de cabelo preto.

KH: Peruca, né? Eu gostava muito, muito boa.

MCB: Essa fase da Tupi é uma fase maravilhosa, não é Kate?

KH: Muito, a Ivani Ribeiro acho excelente, genial, Walter Negrão, Chico de Assis...

MCB: Geraldo Vietri. 

KH: O Vietri, mesmo com as coisas deles, era uma fase muito boa.

MCB: Depois você vai para a Globo, eu me lembro de você na novela “Transas e Caretas”.

KH: Ficou aquela coisa, vai para a Globo, não vai para a Globo. Mas eu estava bem onde estava, a Tupi, lembra, teve excelentes audiências, novelas muito boas, “Mulheres de Areia”, “A Viagem”. Aí eu fui para a Globo, foi a Irene Ravache que me apresentou alguém lá,  e aí eu fui fazer “Transas e Caretas”.

MCB: Foi em 1985, você fazia a Fernanda.

KH: Antes, olha como é gozado, eu vi pelo Facebook isso, o Luís Antonio Piá, ele tinha uma coisa policial, não tinha? 

MCB: Tinha, não sei se era o “Plantão de Polícia”? 

KH: Acho que era.
 
MCB: Você fez o episódio?

KH: Ele me deu, eu fiz.

MCB: E você também fez trabalhos importantes na TV Cultura. 

KH: Foi uma época também muito boa, aí eu ganhei o Prêmio de Melhor Atriz junto com a Fernanda Montenegro e a Yoná Magalhães.

MCB: Trio poderoso, heim.

KH: Foi muito bom porque era um trabalho que era contos, séries, e era de autores nacionais e internacionais. Eu fiz um trabalho muito bom com a Nathalia Timberg, com uma adaptação de “Maria Stuart”. Depois eu fiz “O Vento do Mar Aberto”, do Mario Prata.

MCB: Fez “Paiol Velho”, “O Resto é Silêncio”.

KH: Isso. Você está com o papel na mão?

MCB: Não, é porque eu sou pesquisador, muita coisa da sua carreira eu conheço, e também faço pesquisa para as entrevistas.

KH: Tem outras que eu não me lembro, mas eu fiz bastante coisa lá, fiquei uns dois, três anos.

MCB: Agora, o seu último trabalho na TV, pelo menos o que eu tenho de informação, foi a uma minissérie “O Portador”, em 1991, não é isso?]

KH: Isso mesmo.

MCB: Você fez “Cortina de Vidro”, lembro que essa novela foi no SBT.

KH: Isso, era do Bráulio Pedroso,  com o Walcyr Carrasco.

MCB: Isso.

KH: Daí eu acho que teve uma ruptura lá, o Guga que estava no SBT, aí saiu uma boa parte e eu também saí. Mas eu fiz “Cortina de Vidro”, até estava a Sandra Annenberg, lembra?
MCB: Me lembro sim. Mas o último trabalho foi “O Portador”.

KH: “O Portador”, do Luis Antonio de Souza. 

MCB: Sim.

KH: Era um personagem bom, era uma delegada, agora que eu lembrei.

MCB: Durante esse período em que você fez tantos trabalhos na televisão, você também fez muitos trabalhos no cinema.

KH: E no teatro também, porque na televisão, quando eu rompi tudo foi para ir lá, me apaixonei pelo José Celso Martinez, e fui morar lá?

MCB: No Oficina?

KH: É, aí larguei um pouco a televisão. Depois, a gente fez “O Casamento do Pequeno  Burguês” com o irmão dele, que é o Luis Antônio Martinez Corrêa, e que foi assassinado. 

MCB: Exato.

KH: Ficamos rodando com a peça três meses lá na França, na Itália, na Alemanha. Depois eu voltei e daí eu voltei de novo para a televisão.

MCB: Entendi, você se lembra que ano foi isso?

KH: Não, eu lembro que eu fiz “As Três Irmãs” , será que em 1972?“As Três Irmãs”, “O Casamento do Pequeno Burguês”. Depois eu voltei em noventa e pouco para fazer o “Ham-let” com ele.

MCB: Você fez a novela “Hospital” em 1971, e depois você vai fazer outra novela só em 1974, que é a “Barba Azul”.

KH: É, então pode ser nessa época.

MCB: O “Hospital”, inclusive, era com a Glauce Rocha. Eu me lembro que ela morreu durante a novela.

KH: E ela estava infeliz lá, não sei o que aconteceu. 

MCB: Era uma atriz fabulosa,  não é, Kate?

KH: Era. E uma pessoa boa, nossa, ela ajudava o pessoal da técnica, era uma pessoa que estava sempre a mil, ela teve um problema no coração.

MCB: Foi.

KH: Novinha.

MCB: E pouco tempo antes de a novela terminar.

KH: Um talento, uma moça assim, nunca tinha visto uma pessoa tão talentosa perto assim.

MCB: Agora, eu tenho uma dúvida em relação ao cinema. Tem uns filmes seus  que têm a mesma data, então eu não sei qual foi o primeiro. Você se lembra qual foi o primeiro?  Foi Os Machões?

KH: Foi, com o  Reginaldo Faria.

MCB: Entendi. E como foi, ele te convidou ou você já tinha vontade de ir para o cinema? 

KH: Não me lembro, porque o alguém já estava me sondando para fazer a Leopoldina.

MCB: Do Independência ou Morte, do Carlos Coimbra.

KH: Isso. Daí como eu fui parar no Os Machões? Nossa, não me lembro.

MCB: Eles são da mesma época, Os Machões e o Independência ou Morte.

KH: Isso.

MCB: Da mesma época tem o Maridos em Férias , do Konstantin Tkaczenko, e As Deusas,  do Walter Hugo Khouri.

KH: Isso ,acho que foram quatro filmes assim.

MCB: Em 1972, exatamente, como são os quatro de 1972 eu fiquei na duvida qual seria o primeiro.

KH: Foi Os Machões, agora como que eu fui parar lá eu não me lembro, alguém me indicou.

MCB: Mas aí nesse primeiro filme, você já se encantou pelo cinema?

KH: Já, claro! e o Walter Hugo Khouri. Quando fomos para um festival na Pérsia, tinha um cunhado do Xá da Pérsia que dava festas enormes, na época depois do Khomeini. Eu me lembro que o cunhado do Xá da Peça chamava as ninfetas do cinema do mundo para irem lá, talvez pra ficar lá. O Walter até falou “Vai ficar aí” E eu “Você está louco?”. Fui embora para a minha casa. Foi no filme As Deusas.

MCB: As Deusas foi o segundo, ou foi o Independência ou Morte

KH: O Independência ou Morte foi o segundo.

MCB: Que você faz lindamente a Leopoldina. 

KH: É, foi lá que eu descobri que poderia ser atriz. Sabe como? 

MCB: É mesmo? 

KH: Na hora que digo assim “Bate na mãe dos seus filhos, bate na sua mulher, a Imperatriz, na mãe de seus filhos, Imperatriz do Brasil”. Foi difícil falar isso quando você está começando.

MCB: E é lindo!

KH: É difícil para não cair em uma coisa piegas, entendeu? E o Tarcísio Meira uma graça de pessoa também, eu tive colegas tão bons comigo, foi um filme bom. Eu gostava dos filmes do Walter Hugo Khouri, As Deusas.  Eu não fiz Noite Vazia, mas achei lindo.

MCB: Nós vamos falar do Walter Hugo Khouri já, mas agora a Leopoldina. Você é maravilhosa na tela, é muito impressionante sua beleza, tanto que na hora que você aparece no Independência ou Morte a gente não consegue ver mais nada, é muito impressionante essa sua lente cinematográfica, inacreditável.

KH: Tem gente que falava que a luz gostava de mim, a câmera gostava de mim, era mútuo, né?

MCB: Eram as duas coisas, uma excelente atriz e com uma aura cinematográfica muito impressionante. E aí sim, eu quero chegar no Walter Hugo Khouri, não à toa, por exemplo, você  em As Deusas. Eu adoro esse filme, você e a Lilian Lemmertz, mais o Mário Benvenuti.

KH: É, ele era meio apaixonado pelas atrizes dele, né, lembra da Adriana Prieto?

MCB: Sim, a própria Lilian, que fez vários filmes com ele.

KH: É uma paixão assim, eu não sei, ele tinha uma coisa do belo, as pessoas criticavam muito ele, mas eu achava ele bom.

MCB: É o cineasta brasileiro que eu mais gosto.

KH: É mesmo? Muito bom.

MCB: É, eu já assisti todos os filmes dele menos os desaparecidos. Eu já vi As Deusas  várias vezes, eu gosto muito.

KH: Muito bonito, a fotografia era de um húngaro, Rodolfo Icsey. 

MCB: Sei.

KH: Depois teve também o Toninho (Antonio Meliande). Eu acho muito bonita a fotografia, o gosto dele era muito bom, a música, tem jazz, tem blue.

MCB: Tem Schubert.

KH: Tem clássicos, nossa, é verdade, ele adorava, ele era muito requintado.

MCB: E como foi com a Lilian? Porque você, inclusive, depois em O Desejo, é outro filme dele de novo você e com a Lilian Lemmertz. Em As Deusas vocês estão o tempo inteiro, no O Desejo é mais a Lilian com a Selma Egrei.. Mas tem você também como amiga dela e que tem aquele caso com o Marcelo, que é interpretado no filme pelo Fernando Amaral. Como que era contracenar com a Lilian Lemmertz?

KH: Era bom, eu acho a Lilian Lemmertz uma atriz fantástica também, uma coisa, não vi outra pessoa assim igual a ela entendeu? Eu era mais nova, mais fotogênica assim algumas vezes, mas eu me dava muito bem com ela, e depois eu trabalhei com a filha dela no teatro.

MCB: Com a Julia Lemmertz.

KH: É, eu me dava bem com ela, mas ela tinha um temperamento forte. Eu admirava tanto ela, gostava dela.

MCB: E você faz outro filme que eu tenho paixão do Khouri, que é o Eros, O Deus do Amor.

KH: É.

MCB: Em que ele reúne todas aquelas atrizes com as quais ele trabalhou muito, e você faz ali um terceiro filme com o Khouri. O Walter Hugo Khouri é um capítulo especial na sua carreira? 

KH: Sim.

MCB: Ah, recuperando, você falou que iria fazer o Noite Vazia, é isso?

KH: Não, eu não fiz, eu vi, eu não ia fazer, foi anterior a mim.

MCB: Sim. É porque quando você falou sobre o filme eu me confundi, se você tinha recusado algum depois do Noite Vazia.

KH: Do Walter Hugo Khouri eu não recusaria. Ele me dava muito valor e eu gostava muito dele, fiquei muito triste quando soube da morte dele.

MCB: Vocês eram amigos? 

KH: Éramos, o meu namorado tinha um ciúme dele, nossa, morria de ciúme, mas a coisa dele era muito platônica.

MCB: Agora, e o Eros heim, que são aquelas mulheres todas, são muitas. Como as cenas são individuais, vocês nem conviveram, não é?

KH: A gente nem se cruzava muito.

MCB: Eu imaginei, porque eram muitas e são cenas mesmo, protagonistas de cada cena. A protagonista do filme como um todo era a Denise Dumont, que está no filme inteiro. Tem a Denise Dumont, que perpassa o filme inteiro, e aí tem vocês todas, Norma Bengel, Dina Sfat, você, enfim.

KH: Monique Lafond.

MCB: Monique Lafond, Maria Claudia.

KH: É.

MCB: São muitas, é muito impressionante aquele filme. Você fez também um filme que eu não vi, que é o Marido em Férias (Konstantin Tkaczenko), você se  lembra desse filme?

KH: Não é grande coisa não.

MCB: Esse eu não conheço. 

KH: É uma comédia besteirol.

MCB: E tem um do Alberto Pieralise também que eu não vi ainda, As Secretárias que Fazem de Tudo.

KH: O nome é assim, mas não é ruim. Mas também não tem muita importância não. Um papel que faço e gosto muito  é  em Aleluia, Gretchen .(Sylvio Back)

MCB: Que está entre os próximos que quero que comente, pois gosto muito. Os outros são o do Fauzi Mansur, A Noite das Fêmeas, e...

KH: E do Jean Garrett, que é o Excitação.

MCB: Isso,eu adoro esses filmes, queria que você comentasse.

KH: O do Fauzi Mansur  é o?

MCB: A Noite das Fêmeas.

KH:  A Noite das Fêmeas, com o Antônio Fagundes.

MCB: Isso. Primeiro vamos falar do , Aleluia Gretchen, que é um filme impressionante, inclusive o tema também, o nazismo aqui no Brasil, no sul. E aí você de novo com a Lilían Lemmertz, tem a Miriam Pires,, é um filme muito emocionante, muito impactante.

KH: É, ele era uma pessoa difícil, complicada de trabalhar.

MCB: Sylvio Back.

KH: O Sylvio Back. Mas ele era bom, era bom, eu gosto muito do filme, eu revi há pouco tempo, alguém me falou “Assiste, que vai passar de novo”. Eu assisti e falei “Nossa, muito bom esse filme. Vereza (Carlos) também, né?

MCB: Selma Egrei.

KH: É, Selma Egrei.

MCB: Muito impressionante esse filme.

KH: Eu faço um personagem bem comovente, né?

MCB: Isso.

KH: Uma coisa frágil ao mesmo tempo, né, eu acho bonito aquele filme todo, eu gosto desse personagem.

MCB: Um trabalho de atriz ali bem forte.

KH: É, eu acho, sem modéstia, falando assim. Porque tem coisas que a gente acha que faz bem, eu acho que esse filme eu acertei e o filme foi bom.

MCB: Mas você não precisa ser modesta não, porque sua carreira no cinema é muito impressionante, eu acho mesmo, são filmes que sobreviverão, filmes importantes enfim. O outro é o Excitação, eu tenho paixão pelo Jean Garret, acho ele um cineasta subestimado no Brasil, ele tinha que ser mais falado. 

KH: Muito interessante, eu quase fiquei cega com aquele filme.

MCB: É mesmo?

KH: Porque eu levava aquele filme, né, Flávio Galvão. Era bem puxado. Nós estávamos filmando em Barequeçaba, na casa do Benedito Ruy Barbosa, na casa de praia dele. Aí, lembra que eu tinha uma coisa nos olhos?

MCB: Me lembro sim.

KH: Era uma lente que devia ser mais gelatinosa e não ficou, então ela grudou no meu olho. Eu me lembro que falei “Nossa, não está saindo, não estão conseguindo tirar”. Aí a Zilda Mayo, que tinha uma unha comprida, ela falou “Deixa que eu tento tirar”. E eu “Não, pelo amor de Deus, vamos no pronto socorro. Olha, efeito naquela época… Meu cabelo ficou preso no ventilador, nossa o que eu passei. Aliás, as gravações noturnas, mesmo em  “As Deusas”, com o Walter Hugo Khouri, dois graus no lago lá de Itatiaia… Acho que um dia eu fiquei bêbada, porque eu tomei tanto conhaque... 

MCB: Para esquentar...

KH: É, no Excitação tinha muito efeito, né?

MCB: Sim. Eu entrevistei a Eliana Duval, que também está no filme, pena ela ter morrido..

KH: Eliana era tão boa. O filme era bem puxado para mim.

MCB: Eu não sei se você voltou a assistir, é um filme muito bom até hoje.

KH: É bom, mas não voltei a assistir não.

MCB: Tem uma turma que está pesquisando o cinema brasileiro e eles gostam muito desse filme, assim como eu,  ele é muito bom mesmo.

KH: Olha, que legal.

MCB: E o outro é   A Noite das Fêmeas, do Fauzi Manssur.

KH: Tem o filme do Alfredinho (Alfredo Sternheim) também. 

MCB: Sim, iremos falar dele também. 

KH: Tá.

MCB: A Noite das Fêmeas tem aquela estética teatral, com você, Marlene França, Maria Isabel de Lizandra
.
KH: E Nádia Lipi.

MCB: E Nádia Lipi, muito impressionante, com o Roberto Bolant fazendo aquele cafetão.

KH: Ewerton (de Castro), muito bom, o personagem também é muito fantástico, eu inventei uma coisa de Marilyn Monroe.

MCB: O filme tem toda uma linguagem teatral.

KH: É, a A gente fez em um teatro no Santo André, todas as noites.

MCB: A Maria Isabel de Lizandra é muito impressionante nesse filme..

KH: Muito. A Marlene estava bem também.

MCB: A Marlene era linda também, morreu nova. Eu também a entrevistei.

KH: Que pena, eu ia muito na casa dela no Morumbi, era muito minha amiga, eu gostava dela.

MCB: E linda também né, Kate?

KH: Linda, uma morena, o André Matarazzo se casou com ela.

MCB: Antes de a gente falar do Mulher Desejada, você tem o Tiradentes, O Mártir da Independência, do Geraldo Vietri.

KH: Foi ótimo também, foi muito bom.

MCB: O Geraldo Vietri também era mais complicado, não é? 

KH: Olha, você sabe que as pessoas falavam isso para mim, mas eu me dei muito bem com ele, muito bem. Ele falou “Olha, Kate, eu queria ter feito mais coisas com você”. Porque também tinham falado de mim para ele, e a gente se deu super bem.

MCB: A Márcia Maria falou super bem dele quando eu a entrevistei.

KH: Eu gostava muito dele, eu acho que ele não existe mais, né?

MCB: Não, ele faleceu. E aí você faz Mulher Desejada, que é aquele filme lindo do Alfredo Sternheim.

KH: Isso, ele te falou que foi lá no sítio do meu pai?

MCB: Não.

KH: Era no sitio do meu pai, na Cantareira.

MCB: Que maravilha!

KH: Ai quando eu apareço meio nua assim, meu pai ficou horrorizado. Meu pai foi ver o filme do Khouri, levantou e foi embora “Nunca mais eu quero ver minha filha no cinema, amaldiçoo”. Nossa, eu morei fora dois anos, até que o Independência ou Morte me salvou, porque o Independência ou Morte foi meio uma consagração. Até o José Celso falava que era apaixonado.

MCB: Eu acho bonito mesmo, eu gosto. E o Mulher Desejada você faz com a Elizabeth Hartmann, eu adoro a Elizabeth Hartmann.

KH: Isso.

MCB: Você tem boas lembranças desse filme, Kate? 

KH: Tenho. Mas eu tinha um problema, eu tinha acabado de ter um filho e eu estava meio gordinha, aí tinha que emagrecer rápido. Mas eu tenho boas lembranças, eu adoro cinema, né, cinema é uma arte lindíssima, eterna, registra tudo e aquilo fica. Quando eu estou chateada eu vou no cinema e pronto.

MCB: É o  último filme que você faz antes de voltar no curta, não é, Kate?

KH: Eu acho que foi.

MCB: Não, depois dele você faz o Eros, O Deus do Amor que a gente já falou aqui e que foi em 1981. Por último tem A Volta do Regresso, que é um curta que você faz em 2007. Você que quis dar um tempo?  Como que foi para você?

KH: Na verdade eu tive um problema, porque eu perdi minha mãe, perdi meu companheiro, tudo junto, aí eu entrei em uma depressão. E não que eu quisesse não, mas eu nem falo muito porque foi muito difícil sair, foi complicado. Eu acho que o último trabalho que eu fiz foi em 2007, também no teatro. Foi com a Cristina Aché e a Dora Pelegrino, era da Clarice Lispector. Há dois, três anos, o Fernando Meirelles me chamou, andou me procurando, mas eu ainda não estava bem. Gozado né, como uma depressão pode te deixar fora um tempo, né? Aí eu viajei, fui para Minas, Dinamarca, fiquei um pouco com minha família, me afastei mesmo.

MCB: E esse curta que você fez em 2007, que é A Volta do Regresso.  Tem um ator adoro e que faleceu, que é o Ênio Gonçalves.

KH: É.

MCB: Tem o Carlos Mossi. Que bom que você fez esse curta para matar a saudade da gente, já que você tinha ficado um tempo sem fazer cinema.

KH: Porque eu casei também e fui para Belém do Pará. O curta foi em 2007?

MCB: É.

KH: Aí meu marido já tinha morrido, morreu em 2005. Eu fiz esse filme, mas eu não estava bem.

MCB: Outro dia vi um capítulo da reprise da novela “Fera Radical” e fiquei tão feliz quando te vi lá. Porque essas grandes atrizes assim, principalmente essas atrizes que a gente conviveu na carreira, porque eu tenho 53 anos, então eu convivi com a sua carreira o tempo inteiro, então a gente sente falta mesmo. 

KH: Eu imagino. Por exemplo, uma atriz que eu sinto falta é a Darlene Glória. Gozado, porque quando eu fui ver o Toda Nudez Será Castigada eu estava junto com o José Celso,  e eu falei “Nossa Zé, que atriz, que moça, que coisa!”, E aí ela parou, né?

MCB: Foi.

KH: Virou crente, né? 

MCB: Foi.

KH: Eu acho uma pena também, eu acho que a gente devia morrer trabalhando. Eu fui ver a Eva Wilma há pouco tempo, fui ver um tanto de gente que fazia muito tempo que eu não via, foi tão bom, entende? Estou revendo minha turma da Tupi, estou indo para São Paulo, estou com um projeto de teatro, te falei né? 

MCB: Falou, só não entrou em detalhe, mas você falou que estava voltando. 

KH: Não pode.

MCB: Imaginei.

KH: Não pode. E fui no Projac, fui lá de novo, falei “Oi, estou aqui”. Gravei lá para eles de novo, vamos ver.

MCB: É, por exemplo a Analu Prestes, que também já entrevistei. Ela ficou um tempo fora e depois voltou. Tem feito muitos trabalhos na televisão.

KH: Na Globo mesmo. Ela estava reclamando há pouco tempo pra mim, é que todo mundo quer ir para a Globo. Claudia Alencar também, aí ela conseguiu um papel lá, foi lá e fez. Se eu tivesse feito aquela série que eu perdi há dois anos eu já estaria de novo na mídia, porque foi aquela, “Felizes para sempre”,  lembra? 

MCB: Sim.

KH: Selma Egrei que  fez a personagem. 

MCB: A Selma Egrei também ficou um tempo sem fazer novelas, mas voltou a fazer. Enfim, mas é porque vocês são atrizes muito do imaginário da gente, pelo menos do meu e do imaginário de muito gente, não é? Você, Maria Isabel de Lizandra, Marcia Maria. Infelizmente a Geórgia Gomide acabou falecendo. Essas atrizes todas da Tupi.

KH: Eu encontrei todo mundo. No dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, nós fomos chamadas de repente para ir lá e aí eu encontrei com a Anamaria Dias, com a  Leia Camargo, com a Liza Vieira, um monte de gente., Régis Cardoso, Flávio Galvão. Fizeram uma homenagem para as pessoas, as mulheres que trabalharam na Tupi também. Foi muito bom. Mas tem gente que está lutando, né, Joana Fomm saiu por algum tempo e está voltando, eu estou no teatro.

MCB: Que é maravilhoso.

MCB: Na verdade a gente sente falta de vocês na televisão e no cinema, porque muitas vezes não dá para ir ao teatro, cidades diferentes, distantes, eu, por exemplo, sou de Belo Horizonte,

KH: Mas eu acho que vou voltar. Daqui há pouco é hora de eu cutucar o Fernando (Meirelles) de novo “Olha, eu já estou com material aí, estou aqui de novo”. Ele é uma pessoa que me interessa trabalhar, eu acho ele ótimo. O Walter Negrão eu não sei como está, mas eu tenho que começar a falar com o Tony Ramos, com a Irene Ravache, com a Eva Vilma, pessoal que, na verdade, era da Tupi.

MCB: Tem muitos lá na Globo.

KH: Tem. E com os do cinema também.

MCB: Sim, o que eu penso é que você não pode ficar longe da gente.

KH: Eu senti uma época como se eu tivesse sem minha identidade. Eu sou muito resolvida como pessoa, fui muito bem casada, tenho um filho, já tenho um neto. Mas uma parte grande do artista ele vai levar isso até a morte, eu não tenho dúvida disso. Eu acho que a Cacilda (Becker) que foi feliz, entende?

MCB: E é uma carreira longa Kate, muitos anos.

KH: É uma carreira grande. Nicette Bruno, Glória Menezes, eu fui ver ela, a e Nathalia Timberg. Elas estão ótimas, estão inteiras, porque elas estão plenas, né”. Olha o Alfredinho, ele me passa ser uma pessoa feliz, eu sinto necessidade de dizer isso a ele de novo, sabe, pessoas que gostam do que fazem.  A Analu está linda, eu fui ver o trabalho dela e ela está maravilhosa. É a gente que tem que tocar para frente aí até onde der, e se Deus quiser vai dar.

MCB: Claro, você merece demais e tem um talento absurdo, enfim, tem tudo. Kate, para terminar nossa conversa tem duas perguntas da entrevista que são fixas. Qual foi o ultimo filme brasileiro a que você assistiu, você lembra? 

KH: Eu assisti um com o Nelson Xavier, um que ele produziu, maravilhoso, como é que chama?

MCB: Com a Juliana Paes, A Despedida?

KH: Não, é um nome em inglês (Comeback: Um matador nunca se aposenta).  Eu vejo alguns filmes nacionais, eu vi o Aquarius, e não gostei muito.

MCB: Com a Sônia Braga.

KH: É. Não gostei muito. Eu estou morando em Santa Teresa, por enquanto, e aqui tem um cinema que passa só filme de arte. Eu vejo tudo que é filme aqui.

MCB: A outra pergunta, na verdade é o seguinte. Eu sempre peço para as minhas entrevistas homenagearem uma mulher do cinema brasileiro, de qualquer época e de qualquer área, nas suas entrevistas. Quem você homenageia? Uma mulher que você goste. 

KH: Do cinema?

MCB: Sim, do cinema brasileiro.

KH: Vou falar da Darlene Glória então.

MCB: Maravilha.

KH: Ela vai levar um susto porque eu não gosto dessa coisa de crente, amém. Àss vezes eu tenho vontade de mandar uma mensagem para ela “Volta, volta”. É aquela coisa que você falou, fica no imaginário. Outra que não vou esquecer também é a Fernanda Montenegro, porque a Fernanda é teatro, é tudo, né?

MCB: Ela faz bem tudo.

KH: Ela faz bem tudo, minha ídola. Teve um aniversário outro dia, e ela estava com o cabelo meio branco, ela estava tão bonita. Ela é tão íntegra, né, é uma pessoa tão fina. Eu fui chamada duas vezes para fazer teatro com ela e não deu certo, uma porque censuraram o texto e outra porque eu fui chamada pela Tupi e eu era contratada.

MCB:  Kate, muitíssimo obrigado pela entrevista.

KH: Imagina. Beijos.
 

Entrevista realizada por telefone em julho de 2017.

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 Sala Dina Sfat
Atriz intensa nas telas e de personalidade forte, com falas polêmicas.