Laila Pas
Laila Pas nasceu em São Paulo, em 13 de fevereiro de 1989. Produtora e atriz, começou a trajetória artística na área da produção. “Meu primeiro trabalho no cinema foi como equipe de produção no Avanti Popolo, do Michael Wharmann”. São vários os trabalhos nessa área, como séries para a televisão, e também montou uma produtora com o marido, o cineasta João Toledo, a Filmes sem Sapato.
Laila Pas inicia a carreira de atriz de cinema a partir de sua atuação premiada no filme Permanência, de Leonardo Lacca - Prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante no Cine PE. “Foi desafiador porque era minha primeira experiência no cinema, minha formação era toda do teatro, que é outro registro, e isso em princípio foi uma questão. Antes do set, de temer como eu seria em cena no cinema, se eu conseguiria dar conta desse lado menor. O filme também exigia essa carga bem naturalista, mas não foi difícil, no fundo, às vezes, apesar da formação, eu sinto que minha atuação é muito instintiva. E aí surgiu a personagem, me apaixonei, estava vivendo aquela realidade ali da Laís. Quando acabou a filmagem fiquei meio mal, fiquei meio deprimida, porque eu queria viver mais aquela personagem”.
A carreira de atriz se intensifica, e Laila Pas atua em Planeta Escarlate, de Dellani Lima e Joannata Dol. “Desde o Permanência que eu não atuava, então eu já estava há três anos sem atuar, então causou uma certa insegurança da minha parte, mas foi muito enriquecedora. De novo atuando, eu percebi que é isso que me alimenta, é isso que eu gosto”.
Laila Pas concedeu entrevista exclusiva para o Mulheres do Cinema Brasileiro durante a 19a Mostra de Cinema de Tiradentes. Fala da sua formação, os trabalhos como produtora, os desafios da atriz, os filmes, e muito mais.
Mulheres do Cinema Brasileiro: Para começar, seu nome, cidade em que nasceu, data de nascimento completa se possível e formação.
Laila Pas: Meu nome completo é Laila Bueno Junqueira Pascoal, mas meu nome artístico é Laila Pas. Eu sou de São Paulo, nascida e criada, aniversário em 13 de fevereiro de 1989, então eu vou fazer daqui a alguns dias 27 anos. Sou formada pela FAAP - Fundação Armando Alvares Penteado, lá de São Paulo, faculdade de Cinema. Como atriz, eu fiz um curso profissionalizante na Escola Recriarte, em São Paulo também.
MCB: Essa formação em cinema foi em que ano?
LP: Eu entrei em 2007 e me formei em 2010.
MCB: E no teatro?
LP: Formei em 2008, foram quatro anos, um ano de básico e três anos profissionais. Comecei em 2005.
MCB: Antes de entrar no cinema, você tem trabalhos no teatro e na televisão?
LP: Não, televisão eu nunca atuei, como atriz, né, que você está perguntando?
MCB: Sim.
LP: Tenho trabalhos só como produtora.
MCB: Me fale sobre isso, porque antes da atriz de cinema tem a produtora, não é?
LP: Tem a produtora, exatamente.
MCB: Como estamos falando de teatro você poderia citar esses trabalhos?
LP: No teatro eu tive peças no contexto da formação mesmo, peça profissional mesmo teve uma em 2010, que foi a última vez em que pisei em um palco, na verdade, que se chamava “Grito” e foi feito no Teatro Irene Ravache, lá em São Paulo. Fiz a segunda temporada dessa peça e nunca mais atuei, porque, justamente, essa foi em 2010, quando me formei e comecei a trabalhar já no cinema, e isso me tomou muito, como produtora.
MCB: Você tinha uma produtora?
LP: Não, minha mesmo eu estou abrindo agora com o João Toledo, que é a Filme Sem Sapato, mas antes eu trabalhava só como freelancer, trabalhei em produções de outros e fiz alguns documentários.
MCB: Cita os nomes dessas produções.
LP: Bom, vamos tentar lembrar agora porque já faz algum tempo. Meu primeiro trabalho no cinema foi como equipe de produção no Avanti Popolo, do Michael Wharmann. Depois eu fiz uns projetos na produtora, como o "Doc Bairros", que era um projeto sobre o bairro, “Um Samba Para São Matheus”. Participei como assistente de direção em “O Mundo Segundo os Brasileiros”, série de televisão na Band. Fiz direção de produção da série da TV Brasil, que passou em alguns outros canais, que se chama “BR 14, A Rota dos Imigrantes”. Fiquei 10 meses nessa produção e em seguida emendei uma série que eu produzi, era produtora de direção, da Warner, chamada “S.O.S. Pé na Bunda” que era tipo um reality. Esses dois trabalhos eram uma forma de reality, um de viagens e o outro, que gosto menos. Nesse meio tempo produzi curtas, um curta do João Toledo, que é “Como São Cruéis os Pássaros da Alvorada”, que é do ano passado e é da nossa produtora. Ele foi filmado em Belo Horizonte, o João morava lá e agora está em São Paulo. Nesse, eu fiz mais a produção de finalização, fiz com o Otávio Khury, é uma parceria que a gente faz em alguns projetos. Ele faz mais documentários, a produtora dele realiza documentários. A gente filmou por um edital de desenvolvimento de documentário de São Paulo, m 2014, em Roraima. Um documentário que, em princípio se chama “Como Fotografei os Índios”, ainda está em finalização. Tem alguns curtas que eu produzi, tem vários trabalhos assim, mas que são coisas menores. Tem dois curtas que eu dirigi também, mas isso na época da faculdade, não levei eles adiante, mandei para quatro festivais.
MCB: você se lembra o nome?
LP: Sim, fiz roteiro e direção, que é “A Ultima Ceia” e o “Canto Minguante”, os dois estão na internet, foram minhas experiências da faculdade com direção. Quando você entra na faculdade de cinema, quase todo mundo quer ser diretor, né, aí eu queria e tal, mas foi uma experiência um pouco traumatizante assim de produção. Mas aí, enfim, acabei me formando como produtora e criei gosto, percebi que levava jeito e gostava mesmo, por isso eu fiquei muito em produção. A produção é uma função que suga e eu fui deixando, abandonando o lado atriz, apesar de, há cada duas semanas, eu ter abstinência. Eu não estava conseguindo conciliar a Laila atriz com a Laila produtora, especialmente produzindo televisão, série de TV, que tem um ritmo muito puxado. Nesse meio tempo, quando eu estava produzindo um documentário institucional sobre a OAB de São Paulo, um horror, me chamaram. O Marcelo Caetano entrou em contato comigo falando que o Leonardo Lacca estava indo para São Paulo para fazer teste de seleção e se eu tinha interesse. Esse convite caiu do céu, porque eu queria uma oportunidade de poder voltar a atuar, só que antes eu achava que iria ser só atriz de teatro e tal. Mas foi minha primeira experiência no cinema, o Permanência. Aí eu fiz o teste e passei. Então foi muito louco, porque enquanto eu estava produzindo por seis meses um documentário institucional, assim meio infeliz na produção, rolou todo esse episódio do Permanência, a filmagem e tal. Foi ali que eu percebi que é o que eu sempre quis desde pequena, a atuação traz uma realização, alimenta minha alma. É diferente da produção, com a produção eu estava sentindo muita falta da Laila criativa, enfim, poder trabalhar mais uma parte sensível, a produção é muito prática. Aí rolou o Permanência, fiz o teste, fui selecionada, e a gente filmou em 2012, junho de 2012.
MCB: No Permanência, inclusive, tem o próprio deslocamento do personagem, aquela carga toda do personagem do Irandhir Santos. É um filme de meios tons, poucos atores, com você fazendo uma personagem de destaque. É uma paleta de poucos atores fazendo grandes personagens, ainda que muito contido, o filme tem um tom mais contido. Foi difícil retomar essa carreira de atriz nesse filme, com esse filme?
LP: Na verdade não. Foi desafiador porque era minha primeira experiência no cinema, minha formação era toda do teatro, que é outro registro, e isso em princípio foi uma questão. Antes do set, de temer como eu seria em cena no cinema, se eu conseguiria dar conta desse lado menor. O filme também exigia essa carga bem naturalista, mas não foi difícil, no fundo, às vezes, apesar da formação, eu sinto que minha atuação é muito instintiva. E aí surgiu a personagem, me apaixonei, estava vivendo aquela realidade ali da Laís. Quando acabou a filmagem fiquei meio mal, fiquei meio deprimida, porque eu queria viver mais aquela personagem. Na verdade, isso não foi difícil, foi quase um respiro para mim naquele momento. Foi desafiador porque era meu primeiro trabalho, então havia, em princípio, uma certa ansiedade de atuar ao lado de Irandhir Santos, que é um excelente ator, adoro. E, ao mesmo tempo, não foi difícil porque era o Irandhir Santos, ele é uma pessoa incrível, ele me inspirava muito, então foi uma grande paixão atuar no Permanência.
Quando chegou para mim o roteiro foi meio estranho porque eu fui selecionada antes de vê-lo, antes de ver as cenas, por exemplo, a de nudez. Eu li o roteiro e vi que tinha cenas fortes, e foi uma questão em princípio, por eu não saber os meus limites, porque eu não me conhecia ainda como atriz, apesar do enorme desejo de ser atriz, viver a Laila atriz assim. Aí eu falei com o Leo, a gente teve uma primeira conversa, e eu falei “Olha, eu estou nessa com vocês, quero demais, só que a questão da nudez, do sexo, mais o sexo do que a nudez, eu não sei como que vai ser, porque eu não sei os meus limites, a gente vai descobrir juntos e eu vou dar o máximo de mim, pode ter certeza”. No fim foi muito fácil para mim e eu percebi que como pessoa eu sou muito mais tímida nas questões do que quando estou atuando, quando eu estou em cena eu não tenho nenhum pudor, eu me entrego. E estando dentro de um contexto que justifique a nudez, o sexo, tudo foi muito fácil para mim. No fim é isso, eu senti uma facilidade que me surpreendeu e foi ótimo, eu não sabia o meu limite e depois percebi que meu limite era além do que eu achei que poderia ser. Então não tive dificuldades, foi uma experiência incrível.
MCB: Antes de ver um filme, eu nunca leio sobre ele, tento ver com um olhar mais livre possível. Eu gostei do Permanência, mas eu tenho que confessar que me incomodou um pouco a questão da cena da nudez da mulher e do homem não.
LP: Exato, também.
MCB: E aí, muito ingenuamente, até escrevi para o Lacca perguntando isso, porque eu queria entender. Só depois eu fui ler e vi que tinha uma polêmica em Recife com isso. Juro que não sabia, mas é porque quando eu vi a cena do Irandhir Santos de toalha eu falei “Ok, ele está em uma casa que tem mais pessoas, ok, mas naquela cena do café...”
LP: É, ele está de cueca.
MCB: Corta ele na cintura e aquilo me incomodou, eu achei um pouco machista para te falar a verdade. Eu até escrevi para o Lacca, ele não respondeu ou não viu, sei lá. Depois eu fiquei até meio com vergonha porque pareceu que eu estou patrulhando. Eu não sabia que tinha tido essa polêmica, realmente eu não sabia. Como você viveu isso? E já emendando a pergunta, porque você ainda foi premiada lá, não é? É o primeiro filme e você ganha um prêmio de melhor atriz coadjuvante. Como foi essa questão da polêmica que teve lá e se isso te afetou. Como você viu isso e falar também dessa sua estreia já recebendo prêmio em um festival tão importante,, como é o de Recife, o Cine PE.
LP: Até foge essa pergunta, porque ninguém nunca me perguntou isso diretamente, eu falo entre amigos. Essa questão do machismo, a primeira vez que eu vi o filme foi no Festival do Rio, foi a estreia. Nós, atores, enfim, estou aprendendo também agora, eu estou começando de fato no cinema nesse momento. A gente, o nosso corpo, a nossa imagem, a gente se entrega para o projeto. Só que a grande questão é que temos que confiar no diretor, porque a gente não está vendo e não sabe de fato o filme que está na cabeça do diretor, então é um trabalho de confiança. Eu fiz o filme e, obviamente, enquanto atriz, no processo, no roteiro, nos ensaios e na filmagem, eu não percebi nada para além daquilo, se estavam sendo machistas, se estavam filmando o Irandhir Santos ou não. Porque o enquadramento eu não via, não sabia como era. E aí, realmente, quando eu me deparei com o filme no Festival do Rio, e foi uma primeira experiência de ver qualquer filme comigo, não só de ver o Permanência, primeira vez de me ver na tela, foi muito forte. Você acaba vendo mais a si do que a personagem, para mim foi isso a primeira vez que eu assisti. Só que eu saí com essa mesma sensação, fiquei pensando um pouco sobre o filme e eu pensei. Eu gosto do filme, eu fiquei feliz, fiquei satisfeita com meu papel ali, com meu trabalho. Só que a minha grande ressalva foi assim, eu senti que era um filme machista e até comentei com o Leo. Tem essa cena da toalha, mas me incomoda, particularmente, essa cena do café, em que eu estou lá 100% vulnerável e nua, e quando ele aparece já esta de cueca. Só que aí, o que eles justificaram para mim e eu não tinha pensado, porque essa cena a gente filmou e em princípio ela seria uma única sequência, a gente transava na cama a minha personagem ia para a cozinha e ele me seguia. Como ele ia atrás de mim logo em seguida, ele colocava a cueca porque era a casa dela e ela dividia com amigos. Entrelinhas era isso, então ela saia à vontade porque estava na própria casa e ele não saia a vontade porque estava na casa dela. Só que na montagem eles cortaram de uma forma que ficasse se aquilo realmente aconteceu ou se era só uma ilusão, um desejo dele. Só que isso fortaleceu essa relação, quebrou a sequência, fortaleceu essa questão.
Eu fico confusa porque a minha visão também era um pouco de visão machista e ainda sinto um pouco isso, porque só eu e Rita (Carelli) estamos nua. Tem cenas que a Rita está que eu acho desnecessário, mas aí esse papo poderia ir muito além, até das experiências pessoais que eu tive com esse filme. Por ser eu ali em cena foi muito intenso esse processo, o que me incomodava um pouco, mas eu entendia, era que muitas pessoas acabavam falando do meu trabalho sempre citando essa cena de nudez. Eu sei que é uma cena forte de nudez, com o corpo completo ali de frontal, é uma cena que chama muita atenção, e que eu, particularmente, acho muito bonita. Algumas críticas que eu lia levavam em questão o meu corpo, até fizeram uma pergunta para mim, que o meu corpo é algo muito presente no filme, que é um corpo lindo, que ele é um personagem, e se no teste isso foi uma questão. Eu fiquei muito ofendida.
MCB: Até porque tem cenas lindas, aquela cena de vocês na rua.
LP: Exato, e o teste foi essa cena. Tanto que eu disse agora há pouco que eu nem sabia que tinha nudez no teste. E aí trouxeram muito essa questão do meu corpo para s discussões do filme e isso me incomodava um pouco. Porque nessa sociedade que a gente vive, esse tabu que ainda existe em relação ao corpo, o corpo da mulher, a nudez, isso para mim não faz nenhum sentido. Como atriz o meu corpo é meu material de trabalho, assim como para o médico tem lá os equipamentos todos. E aí ficaram muito na questão do meu corpo na cena, dessa cena em particular, então foi um processo de entendimento do filme. Mas também juntando a sua mídia, Mulheres do Cinema Brasileiro, que é isso, por eu ser mulher e estar meu corpo lá exposto, falou-se muito disso. E eu queria que falasse do resto, exatamente da minha atuação para além do meu corpo, isso foi muito uma questão. MCB: Isso chama muita atenção porque eu comecei te falando sobre isso, que é você lá e a Rita, não é? São trabalhos tão minuciosos, precisos, uma de um lado, outra de outro. Porque é o que eu falei no início, são poucos atores, então tem uma direção de ator que eu gosto muito.
LP: Muito silencioso, de olhares.
MCB: É um filme bacana, eu gosto.
LP: Também gosto muito. Tive essa ressalva, se é um filme machista ou não, e aí me sentir e me colocar nesse lugar “Olha, eu dei voz a algo que eu nem sabia”. E se eu realmente dei é porque conversei com ele, para ele não era uma intenção, não foi intencional esse machismo. Mas é descobrindo, né, no cinema, particularmente, porque a imagem está lá pra sempre. Então essa confiança de relação com o diretor, de você se entregar para o projeto, que no fundo você vai confiar não só no diretor, mas na montagem e tal.
MCB: E eu nem acho que seja um filme machista assim. Quando eu te perguntei eu falei, inclusive, da cena, porque o personagem do Irandhir Santos é muito interessante, não é machista. É da cena, da forma como construiu as cenas que têm exposição de corpo de homem e de mulher, porque do homem a nudez nem aparece, a não ser da transa do casal, e ali as mulheres tiram a roupa. Mas eu não acho que isso torna o filme machista.
LP: Eu entendo.
MCB: Eu acho que é essa utilização.
LP: Esse ponto específico de pintar as mulheres de uma forma. É um filme sendo feito por um homem, um homem que vê essas mulheres, essas atrizes de uma forma diferente, de como colocou os homens em cena. Exatamente essa foi uma questão para mim e foi tanto uma questão que, indo para o filme do Dellani (Lima), que também tem muita nudez, e, desde então, todo projeto que tem me chamado tem nudez, eu estou sempre nua, em cena de sexo, então eu fico meio...
MCB: Mas é um registro completamente diferente.
LP: Completamente diferente. Me chamaram para um curta que tinha uma cena que não aceitei porque também não quero ser atriz que chamam porque a Laila topa fazer nudez, a Laila é atriz que aceita fazer cena de sexo, eu não quero isso. Eu aceito e encaro um projeto quando eu percebo que está dentro de um contexto e tem um porquê. o Planeta Escarlate (dirigido por Dellani Lima e Jonnata Dol) é isso, tem muita nudez. Eu levei isso, eu já tinha conversado com os diretores sobre a questão do Permanência. Na sequência final, em que tem o estupro e tem o personagem do Jonnata (Dol), eu levantei isso, essa questão. Eles não estavam percebendo, as mulheres estavam ficando mais expostas, e o Jonnata falou “Você está certíssima”. Naquela sequência mostra o frontal dele e isso foi uma questão que a gente conversou, não vamos diferenciar os corpos. Está todo mundo exposto no filme do Dellani, homens e mulheres igualmente, aí eu acho o máximo.
E só voltando no prêmio, que não respondi. Nossa, imagina, foi um dos melhores dias da minha vida. Foi uma surpresa, porque como é um papel de atriz coadjuvante, são pouquíssimos festivais que existem prêmios para isso. E no caso, foi o único festival que o filme participou que tinha prêmio para atriz coadjuvante. Foi lindo, foi maravilhoso estar lá, ouvir o meu nome, e receber um prêmio. Foi o meu primeiro filme, eu estou me descobrindo, e é isso que eu adoro no trabalho de atriz, se descobrir, um trabalho de alta descoberta mesmo. Eu ainda tinha um pouco de insegurança, assim “Será que é isso?” Receber um prêmio é, de alguma forma… Eu até escrevi um texto na época, é meio que a vida dizendo que você está no caminho certo. Então foi muito importante para minha descoberta de que, realmente, é o que eu amo. É muito gostoso ser reconhecida, em um primeiro trabalho, em uma primeira experiência.
MCB: Em um festival importante.
LP: Festival importante. E eu percebi que faz diferença, as pessoas falam, pessoas chegaram, enfim, com possibilidades de trabalho porque eu recebi um prêmio. É até estranho isso, mas, ao mesmo tempo, é muito gostoso viver esse incentivo da vida, o prêmio foi uma forma de incentivo que eu recebi da vida, a forma como interpretei, da forma como que queria, de saber que estou trilhando realmente o que quero e espero que continue.
MCB: E voltando ao Planeta Escarlate, você já conhecia os diretores?
LP: O Dellani sim, o Jonnata eu não conhecia. O Dellani me convidou para atuar no longa, em questão de um mês foi o convite e a filmagem, é tudo sempre muito intenso com o Dellani. Ele me perguntou se eu tinha interesse, mandou um argumento, porque não tinha roteiro. O Jonnata eu conheci quando fui conversar com os dois, foram dois encontros, os dois moram na mesma rua, uma conversa com os dois e uma conversa com o Jonnata e uma conversa com o Dellani. E aí fomos filmar, foi assim tudo no susto, tudo intenso e rápido.
MCB: Eu gosto do filme. Você gostou do resultado?
LP: Eu gosto do filme, tenho um carinho especial. Eu vejo o filme muito dentro do contexto das obras pensando no Dellani. Como estou de dentro, eu vejo o filme de uma forma de quem está dentro do processo e que sabe que foi um filme feito sem nenhuma condição financeira, um filme feito em cinco, seis dias, um filme na base do improviso e tal. Pensando no meu trabalho, em princípio me deixa mais insegura do que no Permanência, justamente porque é um filme que, enfim, tem muito mais variantes de atuação. O Permanência é uma coisa mais reta, o Planeta tem um desenho de atuação da minha personagem que varia. Desde o Permanência que eu não atuava, então eu já estava há três anos sem atuar, então causou uma certa insegurança da minha parte, mas foi muito enriquecedora. De novo atuando, eu percebi que é isso que me alimenta, é isso que eu gosto. E aí o resultado eu gosto bastante, pensando também nesse contexto todo, nas condições que ele foi feito. Tenho algumas ressalvas, mas é isso, como atriz, como eu falei, é o diretor que acaba escolhendo ali os seus planos, ele que define por mim. Então se eu pudesse, eu faria algumas coisas diferentes. O Dellani e o Jonnata me colocaram bastante no projeto de finalização, mandando os cortes, então eu tive a oportunidade sempre de dizer o que eu achava, mandei as minhas considerações. Então, com as condições que ele foi feito, finalizado muito rapidamente, pensando nisso tudo e na história de vida do Jonnata e do Dellani, eu acho forte. Eu assisti ontem na tela grande e finalizado, eu não tinha visto 100% pronto. Foi forte, a sequência final mexeu comigo de uma forma intensa, a sequência do estupro, particularmente. Eu acho um filme muito rico assim pelo processo, acho o resultado rico, tem ressalva mais técnicas mesmo, mas isso, faz parte do trabalho. É um filme muito autêntico, muito do Dellani, e acho isso lindo. Então estou muito feliz com o resultado.
MCB: A carreira de atriz continua.
LP: Por conta do prêmio, eu comecei a me colocar como atriz, foi meu ano de transição, de começar a abandonar a produção. Não de abandonar oficialmente, porque eu estou abrindo minha produtora com o João, então a Laila produtora ainda existe. Eu gosto de produzir, mas canalizar energia para atuar, essa é minha meta, me colocar no mercado mais como atriz. Eu atuei em um piloto de uma série de TV, de um pessoal independente, mas que é um outro registro, que eu topei porque era comédia, o que não fazia há muito tempo. Eu gosto de projetos que me desafiem e a personagem era muito cômica, até meio caricata, mas como forma de exercício e descoberta da atriz foi massa, foi bem legal. Ainda está finalizando, foi no fim do ano.
MCB: Tem nome?
LP: Não tem nome ainda. Antes daqui eu fui para Caratinga filmar um curta, Azul para o Oceano, com o pessoal que eu conheci no filme do Dellani, que co-produziu com ele. É um curta-metragem, meu primeiro curta, na verdade, eu só fiz longa. Acabamos de filmar, então tem toda a parte de finalização.
MCB: Para a gente terminar, as únicas duas perguntas fixas do site. Qual foi o último filme brasileiro a que você assistiu?
LP: O Animal Politico, do Tião.
MCB: Qual mulher do cinema brasileiro, de qualquer época e de qualquer área, você deixa registrada na sua entrevista como uma homenagem?
LP: A primeira que me vem à cabeça para uma homenagem é a Marília Pêra, que, infelizmente, partiu recentemente. Do Brasil, ela é uma atriz que eu acho que mereça uma homenagem.
MCB: Muitíssimo obrigado pela entrevista.
Entrevista realizada em janeiro de 2016, na 19a Mostra de Cinema de Tiradentes.Foto: Cena de Planeta Escarlate, de Dellani Lima e Jonnata Dol
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