Malu Galli
Malu Galli é uma grande atriz. Nascida no Rio de Janeiro, ela construiu uma carreira importante no teatro, com trabalhos notáveis, como “Ensaio-Hamlet”. “Foi um espetáculo muito marcante para uma geração, eu acho que ele marcou mesmo a história do teatro contemporâneo. Tive a sorte de fazer parte, com a Companhia dos Atores, de alguns espetáculos importantes.”.
A estreia na televisão se deu na minissérie “Anos Rebeldes”, de Gilberto Braga, mas a consagração junto a um público maior veio com “Queridos Amigos”, outra minissérie, de Maria Adelaide Amaral. “...me chamaram para fazer o teste para o "Queridos Amigos", eu passei e isso mudou a minha vida, eu, realmente, comecei uma carreira na TV que deslanchou e que me abriu muitas portas. Inevitável, no Brasil, como abre portas assim, e como o seu trabalho passa a ser reconhecido em função de uma aparição na TV”.
Malu Galli se exercitou no cinema atuando em curtas de amigos na Faculdade de Cinema do Rio, depois estreia em Policarpo Quaresma, Herói do Brasil, de Paulo Thiago, e constrói carreira importante também no cinema. Tem, inclusive, no currículo, muitos filmes dirigidos por mulheres, como o ótimo Paraíso perdido, de Monique Gardenberg. “Para mim, trabalhar com mulheres é uma experiência extremamente gratificante, eu quero cada vez mais trabalhar com mulheres. Guardando as devidas proporções e as exceções, em geral é uma interlocução muito prazerosa, muito profunda. Eu não gosto dessa coisa do olhar feminino do cinema, a gente já não precisa mais disso, mas, de qualquer maneira, tem uma qualidade de percepção das coisas que é comum, você consegue ter mais troca nesse sentido de percepção de personagem, de percepção da cena, de abordagens”. Malu Galli esteve na 22a Mostra de Cinema de Tiradentes para acompanhar a exibição do filme Seus ossos e seus olhos , de Caetano Gotardo. A atriz conversou com o Mulheres do Cinema Brasileiro, e repassou sua trajetória, os trabalhos nos palcos, na televisão, e, claro, no cinema.
Mulheres do Cinema Brasileiro: Para começarmos, nome, cidade em que nasceu e sua data de nascimento.
Malu Galli: Meu nome é Malu Galli, sou carioca do Rio de Janeiro, e nasci em 17 de novembro de 1971.
MCB: Você desenvolve uma carreira importante de atriz tanto no teatro, quanto no cinema e na televisão. A sua formação já foi em artes cênicas?
MG: Sim, minha formação é no teatro, eu comecei fazendo teatro muito cedo, com 10 anos, no Tablado, que é uma escola de teatro amador lá do Rio. Depois, eu me profissionalizei em um curso que era dirigido, na época, pela Bia Lessa, um curso profissionalizante. Daí, já comecei a trabalhar, com 18 anos eu já comecei a fazer teatro e cinema.
MCB: O primeiro trabalho profissional é o "Mann na praia", que é de 1991?
MG: Iisso.
MCB: Você também fez uma participação em “Anos Rebeldes", do Gilberto Braga, que é de 1992.
MG: É.
MCB: Ainda que você vá construir primeiro uma carreira importante no teatro para depois chegar mais atuante na televisão, acabou que foi junto, não é isso?
MG: Eu tive essa oportunidade, que foi muito importante. O meu personagem era mínimo, quase não tinha fala no "Anos Rebeldes", mas ela era uma amiga da protagonista e que a acompanhava em toda a série. Tinha passagem de tempo, e como eu não falava e não tinha muita responsabilidade na cena, eu pude observar os atores, que eram incríveis, um elenco extraordinário. Pude observar os atores trabalhando, então aquilo foi uma escola pra mim na TV. Quando depois eu voltei a fazer TV, eu já estava muito mais ambientada. E aí aconteceu uma coisa curiosa na minha vida também, porque eu me formei atriz em pleno Governo Collor, extinção da Embrafilme, não tinha TV a cabo, não tinha absolutamente nada, não tinha cinema no Brasil. Então era um sonho, uma coisa impossível assim. E eu dei a sorte de que meus amigos de juventude estudavam na UF, na Faculdade de Cinema do Rio, e eles faziam uns filmes de formatura com os negativos vencidos e tal, umas experimentações malucas.
Eles me chamavam para fazer porque eu era meio que a única atriz que eles conheciam, então eu fiz vários filmes, vários curtas nessa época, com esses meus amigos. Então, eu pude também conhecer a linguagem cinematográfica, experimentar também diante da câmera. Depois eu comecei a fazer publicidade, fiz durante 10 anos, vivi disso. Porque no teatro a gente não tinha lei de incentivo, não tinha absolutamente nada, nenhum tipo de recurso, a gente fazia teatro por amor, e eu vivia de publicidade. De uma certa maneira também criei uma intimidade bem grande com a câmera, com o set, a partir dessa experiência com os filmes de publicidade. Então foi isso, eu fui meio que jogando nas 11 desde sempre, e foi importante para que eu me mantivesse na profissão, porque senão eu, provavelmente, teria desistido, porque era um momento muito difícil para a gente se manter vivendo disso. Eu acho que eu consegui porque eu trabalhava em várias frentes, mas o teatro ali sempre como meu esteio, como um lugar para onde eu voltava e me reconhecia, e me alimentava para seguir para os outros trabalhos.
MCB: E com trabalhos de grande repercussão no teatro. Como o "Ensaio- Hamlet", por exemplo. Eu assisti e era inesquecível.
MG: Foi um espetáculo muito marcante para uma geração, eu acho que ele marcou mesmo a história do teatro contemporâneo. Tive a sorte de fazer parte, com a Companhia dos Atores, de alguns espetáculos importantes. Antes disso, com o Jeferson Miranda, na Companhia Teatro Autônomo,, a gente também desenvolveu uma pesquisa de linguagem muito contundente, até achei que, para a época, era um pouco incompreendida. Acho que depois o Jeferson teve o seu momento de reconhecimento, naquele momento que a gente fez, ali no início dos anos 1990, era uma linguagem muito arrojada. E era interessante, porque, às vezes, o público não se mostrava muito pronto para receber aquilo. Com a Christiane Jatahy também tive momentos de criação muito intensos e muito interessantes, que eu acho que foram muito importantes para a minha formação. Então eu tive a sorte de trabalhar com pessoas da minha geração, eu não tenho, assim, uma história de ter um mestre, de ter trabalhado com um diretor mais velho que me ensinou, eu trabalhei com os meus parceiros da minha geração, que eram grandes criadores e sempre trabalhos muito colaborativos. Isso me ajudou também a formar o meu pensamento como artista, o meu discurso artístico foi também muito a partir desses encontros, uma experiência muito boa.
MCB: Nos palcos você já era muito reverenciada por quem acompanha teatro, mas para o grande público que acompanha televisão o seu grande primeiro momento é em "Queridos Amigos", não é isso?
MG: Sim, sem dúvidas.
MCB: É uma minissérie que fez muito sucesso. A partir daí, essa questão da televisão era um desejo ou reforçou com esse trabalho, com essa personagem?
MG: A televisão sempre foi um desejo, o ator brasileiro, a gente tem uma situação muito específica aqui no Brasil que é o alcance da televisão e a importância dela na vida dos brasileiros. Então o ator brasileiro não tem como ser indiferente à televisão, ou ele vai querer muito, ou ele vai negar aquilo, mas de alguma maneira ele tem uma relação intensa com a televisão. Eu sempre quis muito, sempre fiz teste, sempre batalhei, não rolava, não acontecia. E aí foi muito interessante, porque quando eu comecei a produzir minhas peças, minha primeira produção sozinha no teatro foi "Diálogos com Molly Bloom", que foi um espetáculo que eu fiz no CCBB do Rio de Janeiro. Era um monólogo do José Sanchis Sinisterra baseado lá no último capítulo do Ulisses, do Joyce (James Joyce), eu era dirigida por cinco diretores. Era um projeto bastante arrojado e eu era produtora pela primeira vez. Ali, eu entendi que a minha vida estava deslanchando por aí, por esse lado da criação artística mesmo, da produção. Eu tive uma conversa com meu marido, eu já tinha feito tantos testes e sempre frustrada com essa relação com a TV, e eu disse para ele “Eu acho que agora eu entendi que a minha vida não é por aí. Eu entendi que minha vida é essa mesmo de construção de linguagem, de produção dos meus próprios trabalhos. E eu estou feliz, eu estou realizada, eu acho que estou apaziguada em relação a isso” Um mês depois eles me chamaram para fazer o teste para o "Queridos Amigos", eu passei e isso mudou a minha vida, eu, realmente, comecei uma carreira na TV que deslanchou e que me abriu muitas portas. Inevitável, no Brasil, como abre portas assim, e como o seu trabalho passa a ser reconhecido em função de uma aparição na TV.
Às vezes é muito frustrante porque eu tinha noção que eu tinha trabalhos no teatro muito mais importantes e as pessoas falavam para mim “Ah, finalmente você chegou lá, a gente sabia que você iria conseguir”. Como se todo o resto que eu tinha feito fosse totalmente anulado em função de um papel que, às vezes, eu nem estava. Fiz grandes papeis na TV, dos quais eu me orgulho, mas também fiz grandes trabalhos e, às vezes, as pessoas consideravam aquele trabalho que eu nem estava tão animada como sendo incrível. E aí eu pensava “Ah não, meu Deus, eu fiz coisas muito mais legais”.
MCB: Depois desses trabalhos na faculdade a estreia profissional foi no O Xangô de Baker Street, do livro do Jô Soares, dirigido pelo Miguel Faria Jr?
MG: Policarpo Quaresma, Herói do Brasil, do Paulo Thiago, foi o meu primeiro filme, o meu primeiro longa, e depois o O Xangô de Baker Street.
MCB: E aí você desenvolve uma carreira grande no cinema, faz alguns trabalhos com o Moacyr Góes.
MG: E Jose Joffily (Achados e Perdidos), tem alguns filmes que eu gosto muito.
MCB: Isso, e aí segue fazendo muitos filmes. Com o Paulo Thiago no Policarpo Quaresma, Herói do Brasil, que eu até achei que o O Xangô de Baker Street tivesse sido filmado antes. Você consegue se lembrar da sua sensação, recuperando aí na memória, de estar em um set de cinema?
MG: Sim, eu gosto muito de set. Em meus primeiros trabalhos eu tinha um nervosismo, é claro, estava ali aprendendo ainda, engatinhando, mas eu sempre me senti muito à vontade no set. Não sei te explicar, mas uma sensação de pertencimento, e acho que a experiência no teatro, que foi muito intensa desde muito cedo, eu acho que ajuda sempre. Por exemplo, no Policarpo Quaresma, Herói do Brasil, essa coisa de você construir o seu discurso, você ter alguma coisa a dizer através de seus personagens. Eu tive uma cena no Policarpo Quaresma, Herói do Brasil, meu personagem era mínimo, era uma menina boa lá, era assim, né, fazendo aqueles personagens pequenos e tal, e que ficam orbitando ali em volta dos protagonistas. Mas eu tive uma cena muito importante, Policarpo tinha sido preso, eu era esposa de Antônio Calloni, que era um personagem grande no filme, e, se não me engano, alguém ia pedir ajuda para ele, para o Policarpo. O personagem do Calloni tinha uma atitude completamente omissa, lavava as mãos e se negava a ajudar o Policarpo. A minha personagem ficava a cena inteira ao lado dele, ela falava uma palavra. E aí é o teatro que dá isso “Eu vou ficar ali parada?” O que eu fiz, eu fiz uma cena em que fico tentando falar o tempo todo e não consigo. Foi uma iniciativa minha na época, acho que no dia lá o Paulo Thiago nem comentou, mas quando vi na tela eu vi que estava fazendo a coisa certa. É o teatro que dá, né, e eu estava tentando falar da mulher da época, da falta de voz absoluta da mulher ali naquela situação. Você vai achando os seus caminhos para você se expressar e eu acho que é o teatro que dá isso, nunca vai ser o diretor.
Depois já experimentei momentos de troca com diretor em que você discute o que você pode melhorar, onde você pode criar e tal. Mas esse grande cinema dessa geração aí do Paulo Thiago é uma coisa que você chega lá e faz. E também não tem muita direção, então você tem meio que se virar, sabe, e acho que a experiência no teatro me deu, desde cedo, uma confiança que eu tenho coisas a dizer e vou dizer através da minha presença em cena.
MCB: Essa questão da mulher que você colocou aí dessa personagem é interessante, pois na sua carreira no cinema você vai trabalhar e ser dirigida por várias diretoras: Lúcia Murat no Maré, Nossa história de amor; Isa Albuquerque no Ouro negro - A saga do petróleo brasileiro; a Monique Gardenberg em Paraíso perdido. A Maria Flor em Ensaio.
MG: Carolina Jabor (Aos teus olhos).
MCB: São cineastas que você já conhecia, acompanhava? Foram convites? Como se deu essa trajetória?
MG: A minha trajetória no cinema sempre foi muito batalhada, até muito pouco tempo atrás eu sempre fiz teste para fazer os filmes. Com a Lúcia Murat foi teste, com a Isa foi teste também. Aí já com a Carol e a Monique já é em um outro momento, que eu acho que tem a ver com a televisão, acho que tem a ver com essa abertura de portas que a televisão propicia assim de fato. Claro que a Carolina eu já conhecia de antes, eu fiz um trabalho como preparadora de elenco, eu preparei a primeira temporada do Magnífica 70, que é uma séria para a HBO, que a Carolina dirigiu junto com o Cláudio Torres. Então a gente se conhece muito dos bastidores do set e tal. A Monique Gardenberg me acompanha no teatro há muito tempo, mas eu acho que a TV vai deixando as pessoas mais seguras em relação a opção de te convidar, né? Então eu sempre tive que fazer testes, eu sempre tive que mostrar que eu era capaz. Você vai naturalizando isso porque é como acontece mesmo para todo mundo e vamos lá, “ Mais um teste? Tudo bem!” Mas é bom também quando as pessoas começam a te convidar porque te conhecem e confiam que você vai desenvolver um trabalho à altura do que esperam.
Para mim, trabalhar com mulheres é uma experiência extremamente gratificante, eu quero cada vez mais trabalhar com mulheres. Guardando as devidas proporções e as exceções, em geral é uma interlocução muito prazerosa, muito profunda. Eu não gosto dessa coisa do olhar feminino do cinema, a gente já não precisa mais disso, mas, de qualquer maneira, tem uma qualidade de percepção das coisas que é comum, você consegue ter mais troca nesse sentido de percepção de personagem, de percepção da cena, de abordagens. Com a Carolina Jabor a gente tem uma troca muito linda, e a Monique Gardenberg foi uma surpresa, eu nunca tinha trabalhado com ela, ela é uma diretora extremamente gentil no set, extremamente democrática. Ela não tenta se impor de uma forma masculina, pelo contrário, ela é extremamente feminina assim nesse sentido de agregar, de ouvir, mas em uma condição muito firme, muito precisa, ela sabe muito bem o que ela quer, então é uma grata surpresa, o filme é lindíssimo.
MCB: Na conversa, você citou o Achados e perdidos, do José Joffily, que foi um personagem que você gostou muito de fazer.
MG: Muito.
MCB: Desses anteriores, tem algum destaque que você queria colocar em termos de personagem?
MG: Bom, o O Xangô de Baker Street me trouxe Chiquinha Gonzaga, eu fui pesquisar sobre a vida da Chiquinha, que eu não conhecia a fundo, e fiquei impressionadíssima com essa pioneira, com essa guerreira que é injustiçada até hoje porque pouco se fala sobre ela, sobre a importância dela na música, no comportamento, a primeira mulher a trabalhar fora no Brasil sem ser prostituta, como professora de piano. Enfim, uma mulher impressionantemente importante que eu fui descobrir depois. Foi uma experiência muito gratificante, e a gente filmou depois no aeroporto, foi um projeto lindo, que eu tenho muito prazer. Harmada foi um filme muito importante do Maurice Capovilla, em que eu tive a honra de trabalhar com pessoas importantíssimas do Cinema Novo, Mario Carneiro, Dib Lutfi, Antônio Pedro. Eu brincava que eu estava me sentindo assim a Leila Diniz, a gente filmando em Paraty. Eu falava “Gente, que incrível estar aqui com vocês”, e ouvindo aquelas histórias. Foi um filme muito lindo de fazer. Penso que o Achados e perdidos é um filme que foi pouco visto, tenho essa impressão, acho um filme importante, acho um filme lindo. Eu tenho muito orgulho daquele trabalho, foi um trabalho bem de bordado, a gente pensou em cada momento da personagem, foi um filme que eu tenho assim no coração. Eu estou tentando lembrar de outros agora.
MCB: E a Irene agora do Seus ossos e seus olhos, o encontro com o Caetano Gotardo foi no curta Areia?
MG: Sim, o Caetano foi assistir uma peça que eu fazia, um monólogo que eu fazia com a Christiane Jatahy, "Conjugado", e me entregou o roteiro do filme, disse que tinha escrito para mim, foi uma grata surpresa, ele era um garoto na época. Eu li e achei lindo o roteiro, mas demorou, aí quando eu já não esperava mais ele me ligou e disse que tinha conseguido um prêmio e aí a gente filmou. Foi em Ubatuba, passamos seis dias lá e foi uma experiência maravilhosa, nós ficamos muito próximos, a gente realmente teve uma afinidade imediata, e, desde então, a gente mantém a nossa afinidade. Ele até me convidou para fazer o primeiro longa dele, O que se move, mas a gente teve um problema de data e não conseguiu. Então eu fiquei muito feliz quando a gente conseguiu voltar a trabalhar juntos agora no Seus ossos e seus olhos. Eu acho o Caetano um criador importante, acho ele um artista de uma sensibilidade, uma inteligência, de uma autoridade impressionante. Eu fico muito feliz de fazer parte do filme, foi uma experiência maravilhosa.
MCB: A Irene tem essa questão da memória sentimental, porque quando ela lembra do que passou, ela vive o que passou, né? Compor essa Irene foi um desafio para pegar esse tônus da personagem?
MG: Foi extremamente desafiador, porque era uma massa de texto muito grande. O Caetano trabalhou com planos-sequências bem longos, com uma marcação muito rígida. Junto com esse texto, esse monólogo, e pouco tempo de ensaio, porque foi pouco tempo de filmagem, de produção, a gente fez o filme muito na parceria, sem apoio financeiro. Por eu e o Caetano termos essa intimidade muito grande e por ele me conhecer muito como atriz. Eu tinha feito um trabalho que não era parecido com isso, mas tinha a mesma linha, que era o "A Gaivota," com direção de Enrique Diaz. Eu tinha uma cena onde eu narrava uma coisa que a personagem tinha vivido e, dali a pouco, eu estava vivendo, eu entrava e depois eu saia. Então o Caetano falou que queria que eu fizesse uma coisa parecida com aquela cena. Então eu já sabia o que ele estava falando, quando você tem intimidade com as pessoas as coisas são facilitadas mesmo, porque aí você adianta uma série de etapas, né? Ele foi direto no ponto em que ele queria, eu já entendi e já adaptei para aquela situação da Irene, para aquele texto da Irene e tal. Agora, é sempre um desafio, porque é caudaloso, você mergulha ali, e é um plano-sequência. Mas eu acho que esse frisson de você não poder errar é quase como estar em cena no teatro, né, o cinema dele te trás isso, você não pode errar, não pode esquecer o texto, você está ali, mergulha e vai. Só vai terminar quando ele disser corta, então é uma experiência muito teatral nesse sentido.
MCB: Agora, para terminar, as duas únicas perguntas fixas do site. Qual o último filme brasileiro a que você assistiu? E qual mulher do cinema brasileiro, de qualquer época e área, você homenageia na sua entrevista?
MG: Nossa, eu vou ter que pensar um pouco.
MCB: Mas é que é do coração mesmo, é o que vem.
MG: Eu estou tentando lembrar do último filme brasileiro que eu assisti, eu acho que foi o meu, o filme Ensaio, da Maria Flor.
MCB: E a mulher?
MG: A mulher brasileira que eu homenageio do cinema, eu acho que já falei dela aqui, é a Leila Diniz. Acho que a gente está precisando ser a Leila Diniz, todo mundo de novo agora, dar um grito de liberdade, porque estão querendo nos calar, né?
MCB: Muitíssimo obrigado pela entrevista.
MG: Obrigado você.
Entrevista realizada durante a 22a Mostra de Cinema de Tiradentes, em janeiro de 2019.Crédito da foto:Leo Lara
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