Ano 20

Nash Laila

O cinema brasileiro, felizmente, não pára de se renovar. Além da nova safra de cineastas, há também uma nova geração de atores se revelando. Um desses nomes é Nash Laila, a jovem protagonista do novo filme de Paulo Caldas, "Deserto Feliz". Pernambucana, Nash Laila nunca tinha feito nada no cinema, mas arrasa em seu primeiro trabalho. O filme fala de turismo sexual, de tráfego de animais silvestres, mas fala, sobretudo, do universo da personagem Jéssica, uma adolescente que sai de casa e se prostitui.

Nash Laila foi aprovada em teste, deu vida à complexa personagem sem grandes medos de enfrentar a primeira experiência cinematográfica - a experiência anterior de atriz foi só em teatro: "não foi tão difícil porque também eu não sabia, não tinha muito consciência do que estava fazendo não (risos). Eu tava ali, queria fazer, e me joguei. Mas, eu acho que no teatro tem uma dificuldade maior, que é fazer expressionismo. Já no teatro eu levava para uma linha mais naturalista, tudo, então me adeqüei ao cinema bem mais fácil. O cinema pra mim é bem mais tranqüilo que o teatro, embora eu adore fazer teatro". Além das peças "A Lição" e "Valsa nº 6", a atriz atuou na minissérie "Santo por Acaso", uma produção na TV de Recife.

O trabalho de Nash Laila em "Deserto Feliz" impressiona. Sua atuação está totalmente condizente com seus colegas de cena, atores experientes nas telas como João Miguel, Hermila Guedes, Peter ketnath e Madale Alves. A atriz faz considerações sobre eles, como Hermila Guedes - "A Hermila tem uma forma de interpretação que acredito muito, então a gente conversava muito sobre isso, foi bem bacana trabalhar com ela"; e Magdale Alves - "A Magdale foi incrível porque ela tem muita coisa da minha mãe mesmo, ela como pessoa, o jeito, alguma coisa assim. Assim que eu a conheci eu disse “Meu Deus, que ótimo”. E a mãe de Jéssica, Maria, aquele negócio de uma mulher forte, o jeito de dançar, essas coisas todas foram... bem, eu jurava que era filha dela ali (risos). Acreditava plenamente que eu era filha dela (risos). Foi super bacana, ela é ótima".

Nash Laila esteve na "11a Mostra de Cinema de Tiradentes", ao lado de Paulo Caldas, para a exibição de "Deserto Feliz". A atriz conversou com o Mulheres e falou sobre seu trabalho, sobre como foi fazer seu primeiro papel no cinema, a relação com a direção e com os atores, e outras impressões.

 
Mulheres do Cinema Brasileiro: O “Deserto Feliz” é um filme impactante e é sua estréia em cinema, já como protagonista. Como você chegou a esse filme do Paulo Caldas?

Nash Laila: É, eu tinha feito teatro até então, desde 1999 que eu faço teatro. Tinha feito duas peças e algumas esquetes e rolou o teste pra o “Deserto” em Recife. Uma amiga me ligou e eu fui fazer o teste. Aí, no outro dia, o Paulo me ligou me chamando para uma reunião. Eu fui à reunião e ele me convidou para fazer Jéssica.

Mulheres: Quais são os nomes das peças?

Nash Laila: A minha primeira peça foi “A Lição”, de Ionescu, um escritor francês. É uma comédia, eu fiz o papel de uma aluna, da época do Teatro do Absurdo. Em minha segunda peça eu fiz Sônia em “Valsa Nº 6”, que foi uma prova pública, na verdade. Foi bem intensa, a gente passou um ano ensaiando, já que era mais complexa.

Mulheres: Você não tinha nenhuma experiência em cinema?

Nash Laila: Nenhuma.

Mulheres: Você consegue relembrar a primeira vez que você pisou no set?

Nash Laila: A primeira vez que eu pisei no set mesmo eu não filmava nesse dia, eu fui só para observar, para ver como era. Mas foi bem tranqüilo, porque Paulo, a linguagem que ele optou pro “Deserto”, com a câmera na mão, planos seqüências, foi bem tranqüilo pra mim, que nem no teatro. Não precisava fazer plano e contraplano, repetir, fazer frases partidas pra gravar uma coisa aqui e outra coisa ali. Então pra mim foi bem tranqüilo, a minha primeira vez no set, a primeira vez que eu filmei. A primeira vez no set foi só para observar as outras cenas, como seria.

Mulheres: O tempo do teatro é bem diferente do cinema. O resultado, como se pode ver na tela, ficou ótimo. Ainda assim, foi muito difícil para você?

Nash Laila: Não, não, não foi tão difícil porque também eu não sabia, não tinha muito consciência do que estava fazendo não (risos). Eu tava ali, queria fazer, e me joguei. Mas, eu acho que no teatro tem uma dificuldade maior, que é fazer expressionismo. Já no teatro eu levava para uma linha mais naturalista, tudo, então me adeqüei ao cinema bem mais fácil. O cinema pra mim é bem mais tranqüilo que o teatro, embora eu adore fazer teatro.

Mulheres: No filme, você contracena muito com uma atriz maravilhosa, que é a Hermila Guedes. Como foi esse encontro?

Nash Laila: Foi maravilhoso, a Hermila é... antes da gente fazer as cenas da gente, no set mesmo... primeiro a gente dividia o mesmo quarto na pousada, então a gente comia, conversava sobre coisas, conversava sobre os personagens. Quando a gente ia pro set era se soltar e trazer aquilo que a gente conquistou de intimidade para os personagens, já que elas conviviam juntas também. E não era só eu e ela, tinha também a Elaine Nascimento, que é a terceira menina.

Mulheres: E que é ótima também.

Nash Laila: É ótima, e aí foi bem bacana. A Hermila tem uma forma de interpretação que acredito muito, então a gente conversava muito sobre isso, foi bem bacana trabalhar com ela.

Mulheres: E tem também uma diva que é a Zezé Motta.

Nash Laila: Foi ótimo. Na verdade foi bem rápido, né? Quando ela chegou, a gente já tinha filmado algumas coisas. Ela chegou pra fazer a parte dela. Mas foi ótimo, juntou todo mundo, conversamos, passamos a tarde lá no Holiday, que é o prédio onde a gente filmou, conversamos sobre as cenas, foi maravilhoso. A Zezé é maravilhosa.

Mulheres: Ao lado dessa turma toda, que inclui ainda o João Miguel, a impressão que passou é que você já era uma veterana.

Nash Laila: Que ótimo (risos), obrigada.

Mulheres: É muito legal você dizer que o cinema foi tranqüilo para você. E por ser tranqüilo, você pensa em dar continuidade à carreira nas telas?

Nash Laila: Claro, completamente, completamente. Quero fazer as duas coisas, o tanto de trabalho que surgir pra mim eu vou me jogar.

Mulheres: Você continua no teatro?

Nash Laila: Continuo. Na verdade, eu estou fazendo um projeto novo agora, a gente tá adaptando um livro de um escritor pernambucano, e aí vamos ver no que vai dar. Mas ainda tá bem no comecinho e aí nem tem data. E cinema esse ano, né? Tem “Amor Sujo”, de Paulo (Caldas), em que eu vou fazer também uma personagem. E o que surgir eu tô pronta pra agarrar.

Mulheres: Como foi contracenar com o Peter (Ketnath)?

Nash Laila: Foi tranqüilo também. Na verdade, quando eu falo que eu meio não tinha consciência do que tava acontecendo é meio isso também, eu conheci todo mundo na mesma época, menos Paulo, que já conhecia “O Baile Perfumado”. Mas o resto das pessoas, a Hermila... Eu tinha visto o “Cinema, Aspirinas e Urubus” (2005 – Marcelo Gomes) uma semana antes de ir pro set do “Deserto”, então o João Miguel, eu conheci todos na mesma época. Foi maravilhoso, o Peter é super tranqüilo, eu me deixei levar por ele nas cenas da gente, como ele já era veterano (risos), aí eu me deixava levar também pra ver o que ia acontecer, né?

Mulheres: Durante as filmagens você estava com qual idade?

Nash Laila: Eu estava com 18.

Mulheres: As filmagens foram tranqüilas? Teve interrupções?

Nash Laila: Não, na verdade, como a gente filmou no final do ano, começou a filmar em Petrolina em outubro, aí deu uma pausa de uma semana, mais ou menos. Aí veio pra filmar em Recife, e aí deu uma pausa no Natal e Ano Novo. Em fevereiro a gente foi filmar em Berlim. Na verdade, foi só em momentos de festa, mês festivo, essas coisas, que a gente parou.

Mulheres: Como espectadora, você via filmes brasileiros?

Nash Laila: Via sim, eu adoro filme brasileiro. Só que os novos, as pessoas, estavam acontecendo agora, né? Naquela época. A Hermila, pra mim. Foi muito bacana.

Mulheres: Outra ótima atriz no elenco é a Magdale Alves.

Nash Laila: Magdale, meu Deus! A Magdale foi incrível porque ela tem muita coisa da minha mãe mesmo, ela como pessoa, o jeito, alguma coisa assim. Assim que eu a conheci eu disse “Meu Deus, que ótimo”. E a mãe de Jéssica, Maria, aquele negócio de uma mulher forte, o jeito de dançar, essas coisas todas foram... bem, eu jurava que era filha dela ali (risos). Acreditava plenamente que eu era filha dela (risos). Foi super bacana, ela é ótima.

Mulheres: Você já disse que se entregou como atriz para fazer a personagem. E o lado psicológico da personagem? Você fez algum tipo de preparo, de estudo pra compor a Jéssica?

Nash Laila: Pra Jéssica eu conversei com várias meninas no Recife, li alguns livros pra me basear mais ou menos sobre o que acontecia no geral e pra associar com o que o Paulo queria. Então eu encontrei essas características gerais assim, que é menina que é explorada por alguém na família, que sai de casa, que não gosta de nada daquilo que tá fazendo, mas também não tem o que fazer, tá lá. Eu acho que Jéssica é isso. Ela meio que não tem consciência do tanto de coisa ruim que ela tá vivendo, na base do padrasto, do negócio que acontece consecutivamente, e pra sair disso ela toma a única atitude que é sair de casa, o resto ela se deixa levar. Então eu acho que, basicamente, foi isso que eu busquei mesmo.

Mulheres: Qual o último filme brasileiro que você assistiu?

Nash Laila: No festival, foi o “5 Frações de Uma Quase História” (2007 – Armando Mendz, Cris Azzi, Guilherme Fiúza, Cristiano Abud, Lucas Gontijo e Thales Bahia).

Mulheres: Eu sempre convido minhas entrevistadas para homenagearem uma mulher do cinema brasileiro de qualquer época e de qualquer área.

Nash Laila: Uma mulher? Caramba... (silêncio). Vai parecer puxa-saco... Hoje é a Hermila mesmo, hoje é uma pessoa que eu digo “Meu Deus, que atriz!” É a Hermila

Mulheres: Obrigado pela entrevista.

Nash Laila: De nada.



Entrevista realizada em janeiro de 2008, na "11a Mostra de Cinema de Tiradentes".

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 Sala Dina Sfat
Atriz intensa nas telas e de personalidade forte, com falas polêmicas.