Liza Vieira
Atriz importante e amada pelo público, Liza Vieira tem trajetória de destaque nos palcos, na televisão e no cinema. Nascida no dia 18 de setembro de 1949, em São Paulo, sua carreira de atriz começou no teatro amador, ainda nos tempos de colégio. Cursando a Escola de Arte Dramática, a EAD, vai fazer figuração na TV Tupi em duas novelas e em alguns programas e acaba contratada e faz sua estreia oficial em novelas em Camomila e bem-me-quer (1971/72), de Ivani Ribeiro. “Eu entrei na Escola de Arte Dramática e você vai se aprofundando, vendo que é aquilo mesmo que você quer e tal. Durante algum tempo eu ainda continuei trabalhando, mas acabei saindo do escritório e eu precisava me manter. Eu tinha um colega que também estava começando como ator e me levou na TV Tupi, onde eu comecei a fazer algumas figurações. Foi muito legal, eu achei ótimo, sempre digo que eu comecei fazendo figuração e foi a melhor coisa para mim, porque eu fui aprendendo. Eu pude olhar tudo que acontecia em um estúdio de televisão com o olhar assim de aprendizado, prestando atenção nos atores, na técnica, em toda aquela entourage da televisão, mas de uma maneira menos compromissada do que se eu já estivesse fazendo um ótimo papel”.
A partir daí constrói uma carreira de destaque em novelas, passa por várias emissoras, e tem grandes momentos como na novela A Sucessora, de Manoel Carlos, na TV Globo, e, sobretudo, em novelas de Ivani Ribeiro, na Tupi, e de Janete Clair, na Globo. “A Janete foi incrível, uma dama realmente da televisão, ela e Ivani Ribeiro são as maiores autoras de novela para mim, são incríveis. Nossa, a Janete é de uma inteligência televisiva para novela, que mesmo você gravando e participando, você tinha vontade de acompanhar e torcia. Era maravilhosa e super querida com os atores, tenho ótimas lembranças da Janete Clair, assim como tenho da Ivani Ribeiro também na TV Tupi, duas grandes autoras”.
Se a presença de Liza Vieira nas novelas era constante, ela não deixava também de atuar no teatro e no cinema. “Então, eu estreei no cinema acho que foi com o Pensionato de Mulheres, do Clery Cunha. Nossa, totalmente diferente, né, são três áreas completamente diferentes, cinema, TV, teatro. Eu levei um susto para fazer cinema, porque eu peguei o roteiro e comecei a decorar o roteiro todo e daí não é nada disso, você grava o pedaço de uma cena em um dia, aí você vai gravar outra cena lá do final, é uma confusão danada, mas é muito legal. Foi muito gratificante ter a oportunidade de trabalhar nas três áreas diferentes como atriz e poder ter daí esse jogo de cintura de poder trabalhar em qualquer lugar, porque depois de trabalhar nesses três você faz qualquer coisa, você faz teatro musical, faz circo, faz o que pintar”.
No cinema, um de seus maiores momentos é no episódio O Arremate, dirigido por Eduardo Escorel, do longa Contos Eróticos (1977), pelo qual ganhou o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante do Festival do Sesi de São Paulo, ao lado de Lima Duarte, premiado como Melhor Ator. “Foi complicado fazer porque o meu episódio era bem dramático e forte. Foi maravilhoso poder fazer esse filme com o Lima Duarte, era uma troca muito intensa, era um ator maravilhoso que está ali jogando bola com você. Então o filme que mais me marcou foi o Contos Eróticos, não só pela premiação, mas pela história e pelo trabalho em si mesmo”.
Há muito que o Mulheres do Cinema Brasileiro queria fazer essa entrevista com Liza Vieira, que, finalmente, foi feita pelo Whatsapp, entre os dias 5 e 12 de setembro, com uma gentileza ímpar dessa querida atriz. Na entrevista, Liza Vieira repassa sua trajetória desde o início, fala dos trabalhos no teatro, na televisão e no cinema. Como ela fez aniversário ontem, dia 18 de setembro, então essa entrevista é também uma homenagem à essa querida artista que marcou e marca gerações.
Mulheres do Cinema Brasileiro: Para começar, seu nome, data de nascimento, cidade em que nasceu e formação. Liza Vieira: Meu nome é Liza Vieira, Maria Elizabeth Vieira Moraes, nasci no dia 18 de setembro de 1949, em São Paulo, capital. Minha formação é ensino médio, eu ia começar a faculdade, eu cheguei a entrar, mas não fiz. Fiz a Escola de Arte Dramática - EAD que era a escola, na minha época, que formava atores. MCB: Você começou sua carreira de atriz no teatro amador, não é isso? Gostaria que falasse um pouco sobre esse início de sua trajetória e citasse algumas de suas peças de destaque. LV: Na verdade, eu comecei a minha carreira de atriz no teatro amador no colégio, eu estudava no Colégio Marina Cintra, na rua da Consolação, e estava fazendo científico à noite. Daí, tinha um grupo de teatro que estava começando a ensaiar uma peça, “Morte e Vida Severina”, para apresentar na escola, eu entrei e comecei a curtir, comecei a gostar, e por aí foi. Depois eu entrei para um outro grupo de teatro amador que uma das pessoas do colégio me levou, montamos uma peça para concorrer em festival de teatro e ganhamos. A peça era “A Via Sacra”, de Henri Ghéon, ganhamos prêmios com essa peça e dali eu comecei a me interessar cada vez mais. Terminando o científico, eu prestei faculdade para biologia e, junto, eu tinha um amigo que estudava na Escola de Arte Dramática, não era na USP ainda. Eu resolvi tentar também porque estavam abertas as inscrições e passei, aí, nossa, foi uma mudança total na minha vida. Eu desisti de fazer a faculdade e fui fazer a Escola de Arte Dramática, que era à noite, só tinha no período noturno, ficava ali na Avenida Tiradentes, onde, acho, é a Pinacoteca hoje. Fiz um ano ali e no segundo ano ela já passou para a USP. Aí eu continuei e nunca mais parei, dali já virei profissional. MCB: Você estreia em novelas em 1972, em “Camomila e bem-me-quer”, da Ivani Ribeiro, na TV Tupi. Chegou a fazer outros trabalhos na televisão antes ou já estreou diretamente na novela? Como chegou à Tupi?
LV: Na verdade, a minha estreia em novela, assim oficial, foi em “Camomila e bem-me-quer”, da Ivani Ribeiro, mas antes eu já tinha feito algumas coisas sim, porque enquanto eu estudava na Escola de Arte Dramática eu estava trabalhando de secretária na Faculdade de Economia, que era ali em Santa Cecília, porque eu precisava me sustentar. Eu entrei na Escola de Arte Dramática e você vai se aprofundando, vendo que é aquilo mesmo que você quer e tal. Durante algum tempo eu ainda continuei trabalhando, mas acabei saindo do escritório e eu precisava me manter. Eu tinha um colega que também estava começando como ator e me levou na TV Tupi, onde eu comecei a fazer algumas figurações. Foi muito legal, eu achei ótimo, sempre digo que eu comecei fazendo figuração e foi a melhor coisa para mim, porque eu fui aprendendo. Eu pude olhar tudo que acontecia em um estúdio de televisão com o olhar assim de aprendizado, prestando atenção nos atores, na técnica, em toda aquela entourage da televisão, mas de uma maneira menos compromissada do que se eu já estivesse fazendo um ótimo papel. Então era muito legal, eu gostei muito desse período porque eu pude aprender muito, eu fiz algumas figurações em uma novela que se chamava “O Hospital”, depois eu fiz um papel pequenininho em uma outra novela em que eu contracenava com o Cazarré. O Cazarré, nossa, eu morro de saudades, foi o primeiro ator em televisão que teve a paciência de ficar do meu lado, me ensinar, me dar forças, me tranquilizar, me falar para onde eu devia olhar, como eu devia me posicionar para as câmeras. Isso foi maravilhoso, poder ter um apoio ali, porque, na verdade, os figurantes ficam meio perdidos, meio separados dos atores e tal. Então é legal porque você olha tudo, aprende, mas é bom quando você tem um ator, que já era um ator ótimo e famoso que nem era o Cazarré, nossa, ele foi maravilhoso para mim, me ensinou muito, devo muito a ele.
Fiz mais algumas coisinhas em programas e tal, até que surgiu a oportunidade e estavam abertos os testes para a novela “Camomila e bem-me-quer”, tinham vários papéis, tanto que, para essa novela, tinha uns cinco atores, mais ou menos, que começaram comigo. Eu me candidatei e acabei passando no teste para fazer a personagem Verinha, que era filha da Nicette Bruno, a querida Nicette Bruno, aí foi a minha faculdade, digamos assim, em televisão. Porque foi uma novela para valer, o meu papel era muito bom, de responsabilidade, e ainda contracenava o tempo todo com a Nicette Bruno, com o Gianfrancesco Guarnieri, com o Juca de Oliveira, com a Maria Isabel de Lizandra, então foi muito legal. Junto comigo começaram a Bárbara Bruno, o Marcelo Picchi, a Tereza Teller, o Edwin Luisi, esse foi o meu começo na televisão. Ah, o nome da novela com o Cazarré, que foi a primeira que eu tive um papelzinho era “Na Idade do Lobo” MCB: Na sequência você atua em “Mulheres de Areia”, em 1973, emendando uma novela na outra, mais uma vez com Ivani Ribeiro e um dos maiores sucessos da autora. Você também atua em “O Machão” (1974), que tem argumento dela. Gostaria que comentasse sobre essa parceria com a Ivani. LV: Sim, na sequência eu fiz “Mulheres de Areia”, foi maravilhoso, que novela incrível, e logo em seguida “O Machão”. “O Machão” era argumento da Ivani, mas foi escrita pelo Sérgio Jockyman, foi uma das novelas que mais durou no ar, foi mais de um ano de novela. Era uma novela que não acabava mais, ela começou tendo aquele enredo da história mesmo do Shakespeare (“A Megera Domada”), mas depois, como foi ficando muito tempo no ar, começou a criação de histórias paralelas, de loucuras. Imagina, eu fazia a personagem Bianca, a irmã da Maria Isabel de Lizandra ( a protagonista Catarina), e mais para o fim da novela o meu papel virou uma loucura, eu casei, eu que era apaixonada pelo personagem do Flávio Galvão, que era o casalzinho doce da novela, acabei me casando por interesse com o Elias Gleizer. Então a novela era uma loucura, mas eu adorei fazer, uma novela de época, mas completamente maluca, com um elenco imenso, porque muita gente passou por essa novela, então foi maravilhoso. O que eu sinto muito agora, com a maturidade que eu tenho, é realmente não ter curtido tanto os detalhes de tudo isso na minha vida, entende? A importância que tudo isso estava tendo na minha vida profissional, porque você é muito jovem, não tem maturidade para perceber a importância daquilo. Eu dou mais importância agora do que eu dei na época, na época eu estava trabalhando, eu estava indo bem, estava tudo maravilhoso, mas não parava para pensar. MCB: As atrizes e atores sempre exaltam a TV Tupi como uma grande família. Como foi participar dessa mítica e pioneira emissora? E com as demais atrizes, vocês eram amigas? Mantém algumas amizades da época? LV: Sim, a TV Tupi era como uma grande família sim, é verdade, era tão diferente do que é a televisão hoje. Primeiro que você tinha que entender de tudo, de técnica, de luz, as câmera eram aquelas imensas, então você sabia, pela posição dela, se estava sendo close, como que estava te pegando, e você tinha que entender de continuidade, porque era você que tinha que marcar a sua continuidade. Era uma loucura, mas era maravilhoso, realmente era uma grande família. Tenho grandes amigos que até hoje eu encontro, a Kate Hansen, a Léa Camargo, nossa, eu sei que vou esquecer alguém então é melhor até nem falar, mas, realmente, eram pessoas que são ainda muito queridas. Engraçado que com as pessoas que eu trabalhei na Tupi a gente ainda tem mais amizade, e isso é com todos, do que as pessoas com quem eu trabalhei na TV Globo, entendeu? Fora que foi essa grande escola, porque eu fiz Escola de Arte Dramática, a EAD, pensando em fazer teatro, a gente considerava a televisão uma coisa menor, tinha um certo preconceito com televisão, o lance mesmo era fazer teatro. E no fim, a primeira coisa que eu fiz depois do teatro amador foram muitas novelas na TV Tupi, a própria TV Tupi é que foi a minha escola. MCB: Depois de outros trabalhos na Tupi você vai para a Globo, também em destaque em “A Sucessora”, do Manoel Carlos. Como foi se transferir de emissora e como foi participar desse trabalho? LV: Pois é, foi com grande pesar que eu deixei a TV Tupi porque ela já estava no fim, inclusive meus últimos dois ou três salários da TV Tupi eu não recebi. Eu estava fazendo uma novela que se chamava “Um Sol Maior”, do Teixeira Filho, terminei essa novela e acabei não recebendo todos os meses, a emissora já estava sucumbindo. O meu marido, na época, Adriano Stuart, trabalhava na Globo e eu acabei indo para lá, fui contratada pela Globo logo depois que eu saí da Tupi, mas não trabalhei logo de cara porque eu acabei descobrindo que estava grávida no meio do caminho e aí esperei meu filho nascer, e acabei estreando na Globo só em “A Sucessora”. Estranhei muito porque era um ambiente de trabalho completamente diferente, os colegas, não sei, o carioca é diferente, né, o Rio de Janeiro é diferente. Eu estranhei muito morar lá, parece que os paulistas se frequentam mais, se encontram mais, o carioca, pelo menos naquela época, não se frequentava, se encontrava ou no bar ou na praia, já o paulista gosta de convidar para a sua casa. Então eu estranhei muito, e ainda com o recém-nascido em uma cidade diferente, foi meio complicado, mas o trabalho foi maravilhoso, foi direção do Herval Rossano. Foi difícil trabalhar em uma emissora completamente diferente, mas eu me adapto bem, ou, pelo menos, tento me adaptar bem, principalmente quando é pelo trabalho. Foi uma novela linda do Manoel Carlos, tenho paixão pelo Maneco, ele foi muito carinhoso com a gente, comigo, com o Paulinho Figueiredo, que estava acabando de chegar da Tupi também e fazia o meu irmão na novela. Foi um trabalho maravilhoso, uma novela que é uma das principais da minha vida, uma novela de época linda, linda, linda, que merecia ser reprisada porque foi incrível. MCB: Na Globo, você vai atuar com outra grande novelista da época, que foi Janete Clair, que formava com a Ivani, em emissoras diferentes, a dupla de ouro das novelas Com Janete, você esteve em “Coração Alado” (1980), “Sétimo Sentido” (1982) e também no remake de “Selva de Pedra” (1986). Como foi atuar nas tramas da Janete? LV: Então, depois de “A Sucessora”, do Manoel Carlos, eu fiz “Coração Alado”, depois “Sétimo Sentido”, e bem depois eu fiz “Selva de Pedra”, todas da Janete Clair. A Janete foi incrível, uma dama realmente da televisão, ela e Ivani Ribeiro são as maiores autoras de novela para mim, são incríveis. Nossa, a Janete é de uma inteligência televisiva para novela, que mesmo você gravando e participando, você tinha vontade de acompanhar e torcia. Era maravilhosa e super querida com os atores, tenho ótimas lembranças da Janete Clair, assim como tenho da Ivani Ribeiro também na TV Tupi, duas grandes autoras. MCB: Você atua também em outras emissoras, SBT e Record. Você é uma atriz marcante das novelas, seja em qual canal estiver. As novelas têm um espaço importante na sua carreira, não é isso? LV: Então, acabou que eu tive uma carreira muito mais de televisão do que de teatro, ou quase que equivalente, porque sempre junto com as novelas eu estava fazendo alguma peça, ou no intervalo das novelas, eu fazia teatro ou fazia cinema. Mas fiz realmente muitas novelas, quando eu saí da TV Globo eu fui primeiro para a TV Bandeirantes, onde eu fiz um musical humorístico, porque o Vanucci (Augusto César) que fazia os musicais na TV Globo, foi contratado pela TV Bandeirantes e acabou me levando para lá, Kate Hansen também foi. Nós fazíamos um humorístico musical e foi uma experiência muito boa para mim, muito séria, porque me tirou do meu conforto como atriz, porque a gente tinha que dançar e fazer comédia e eu não estava acostumada, então foi assim um grande aprendizado. Fiquei um ano fazendo esse programa, que se chamava “Senti Firmeza”, foi muito legal porque a gente dançava, cantava, interpretava, tinha o José de Vasconcelos, tinha o Cláudio Curi, foi muito interessante para mim, foi uma experiência maravilhosa na Bandeirantes. Depois eu fui para o SBT, mas não diretamente pelo SBT, era uma novela que foi ao ar pelo SBT, mas era uma produção do Guga, que é irmão do Boni, e que produziu essa novela que se chamava “Cortina de Vidro”, uma produção independente. Depois dessa novela eu tive meu terceiro filho e fiquei um tempo parada. MCB: Você estreia no cinema em 1974 com dois filmes, O Supermanso, dirigido pelo veterano Ary Fernandes, e Pensionato de Mulheres, do Clery Cunha. Qual foi o primeiro e como foi fazer esse primeiro filme? Pensionato de Mulheres é um filme muito bom e com uma trama social forte. Como foi atuar nesse filme? LV: Então, eu estreei no cinema acho que foi com o Pensionato de Mulheres, do Clery Cunha. Nossa, totalmente diferente, né, são três áreas completamente diferentes, cinema, TV, teatro. Eu levei um susto para fazer cinema, porque eu peguei o roteiro e comecei a decorar o roteiro todo e daí não é nada disso, você grava o pedaço de uma cena em um dia, aí você vai gravar outra cena lá do final, é uma confusão danada, mas é muito legal. Foi muito gratificante ter a oportunidade de trabalhar nas três áreas diferentes como atriz e poder ter daí esse jogo de cintura de poder trabalhar em qualquer lugar, porque depois de trabalhar nesses três você faz qualquer coisa, você faz teatro musical, faz circo, faz o que pintar. Eu gostei muito de fazer cinema, fiz o Pensionato de Mulheres, depois fiz O Supermanso, do Ary Fernandes.
MCB: Com J. Marreco você atua em A Carne, baseado no famoso livro de Júlio Ribeiro. Com Ody Fraga, você atua em Amantes, Amanhã se houver sol. E você é dirigida em três filmes pelo grande cineasta Fauzi Mansur, O Mulherengo, O Inseto do Amor, e o ótimo A Noite das Fêmeas, em que faz uma participação especial.
LV: O cinema era uma coisa que não tinha uma continuidade de meses, como é novela e teatro, você acaba não ficando com tantas coisas na memória, de como foi a locação, como foi a filmagem, como foi a direção. Então é uma coisa que claro, com a minha idade, já se passaram tantos anos, que se perde um pouco.
Eu trabalhei acho que umas duas ou três vezes com o Fauzi Mansur, fiz vários filmes, fiz A Carne, com o J. Marreco, que era um livro famoso do Júlio Ribeiro. Olha eu fiz tantos filmes que periga até eu esquecer alguns.
MCB: Outro grande filme em que atua é As amantes de um homem proibido, do José Miziara, como foi interpretar a camponesa Marina?
LV: Depois de muito tempo eu fui fazer esse filme com o Miziara, que é meu cunhado, porque ele é casado com a irmã do Adriano, e foi muito legal. Foi uma coisa que era assim mais a minha praia, era uma menina de interior, então foi gostoso fazer, meio uma caipirinha. MCB: Você integra a galeria de ótimas e belas atrizes dos filmes de Walter Hugo Khouri. Sua atuação é no ótimo Paixão e Sombras, sobre os bastidores do cinema, em que sua personagem e da Aldine Muller vão fazer um teste no estúdio. Como foi ser dirigida por ele, que é um dos maiores cineastas brasileiros? LV: Trabalhei com o Walter Hugo Khouri também. Nossa, era completamente diferente, fiz o Paixão e Sombras, com a Aldine Muller, adorei ser dirigida pelo Khouri, era uma diferença muito marcante dos outros diretores. O Khouri tinha uma estética completamente diferente, cuidava demais da imagem, ele elaborava a imagem que você ia passar ali, entendeu? Foi muito interessante, eu gostei demais de ter trabalhado com vários porque foi bem diferente, com cada um eu aprendi uma coisa, eu adorei fazer cinema.
MCB: Outra atuação de destaque na sua carreira cinematográfica é em O Arremate, dirigido pelo Eduardo Escorel, episódio do longa Contos Eróticos. É uma segmento duro e com uma atuação dramática forte sua. Como foi atuar nesse filme? E com o Escorel você volta a atuar no ótimo Ato de Violência.
LV: O Contos Eróticos, do Eduardo Escorel, foi o filme que, para mim, marcou mais. Eu ganhei o prêmio de atriz do Festival do Sesi de São Paulo, o Lima Duarte também ganhou como Melhor Ator e eu como Melhor Atriz Coadjuvante. Me marcou demais também porque era um filme muito forte, porque apesar de ter esse nome, Contos Eróticos, não era um cinema que pode se dizer erótico, eram contos de uma revista famosa da época que tinha um concurso de contos eróticos e eles pegaram os melhores e fizeram esse filme. Eram quatro contos, tinha um que era com a Joana Fomm, tinha o meu e do Lima, e tinha mais outros dois. Foi complicado fazer porque o meu episódio era bem dramático e forte. Foi maravilhoso poder fazer esse filme com o Lima Duarte, era uma troca muito intensa, era um ator maravilhoso que está ali jogando bola com você. Então o filme que mais me marcou foi o Contos Eróticos, não só pela premiação, mas pela história e pelo trabalho em si mesmo.
MCB: Você foi casada com um grande cineasta, que é o Adriano Stuart, com quem atuou em A noite dos duros. Gostaria que comentasse sobre essa parceria. LV: Sim, eu fui casada com o Adriano Stuart, que era diretor de cinema e de televisão. Na verdade, a gente quase nunca trabalhou juntos, o Adriano tinha assim um preconceito muito grande de colocar a mulher dele para fazer alguma coisa em que ele estivesse trabalhando, porque ele achava que não era bom nem para mim e nem para ele, que iam falar que eu estava fazendo aquele trabalho só porque eu era mulher dele, então ele tinha todo esse problema com esse tipo de escalação, entendeu? . Eu fiz A Noite dos Duros excepcionalmente, foi o único filme que eu fiz com ele, não por não ter batalhado, porque em muitos filmes eu ia batalhar para fazer e ele não me punha, nesse eu fui porque a personagem estava grávida, com barriga, e na época estava esperando o meu primeiro filho, então ele falou “Ó, dessa vez você ganhou, vai fazer o personagem só por causa da gravidez” (risos). Mas era um papel menor, eu era a esposa do Fagundes (Antônio), eu não lembro nem o nome da personagem, foi muito legal, foi uma experiência interessante. MCB: Seu último trabalho nas telas é SP Zero 15? Gostaria que comentasse sobre ele. LV: Meu último trabalho em cinema. que pelo que você fala, parece que foi o SP Zero 15. Então, é um filme de curtas sobre São Paulo e foi legal depois de tantos anos fazer cinema de novo, deu para sentir o gostinho, matar saudade. Foi bem pequeno, mas muito gostoso de fazer, fiquei muito feliz de poder voltar a fazer cinema, e é um filme que, como eram curtas, acabou não tendo grande visibilidade, quase ninguém viu, uma pena porque tinha historinhas ali bem interessantes. MCB: Liza, você participou do Cinema da Boca do Lixo, que é um dos capítulos mais importantes da história do cinema popular. Como foi participar desse momento luminoso do cinema brasileiro? LV: Então, você pergunta sobre como foi participar do cinema da Boca do Lixo, gozado, eu não tinha muita noção nessa época de que eu estava fazendo cinema da Boca do Lixo, para mim eu estava fazendo cinema, sabe? Fiz lá, fiz no Rio com o Escorel, fiz com Adriano, eu não tinha essa separação, essa visão. Eu sabia que eram filmes mais sensuais, que apelava mais assim para o erótico, que, aliás, de erótico mesmo é igual na vida real da televisão de hoje. Porque você vê, hoje em dia, em novelas, cenas mais quentes e mais eróticas do que em muitos filmes que eu fiz. Então, na verdade, eu tenho essa consciência mais hoje do que na época, aliás é meio esse problema quando a gente é jovem, tudo você vai ter mais consciência depois, porque daquilo que você está fazendo na época parece que você não dá tanta importância e depois cai a ficha de tudo que você fez e da importância que teve. Mas eu não acho uma coisa menor, não acho chato ter feito cinema da Boca do Lixo, eu fiz, para mim eu fiz trabalhos, vários trabalhos em cinema, em vários lugares e com vários diretores, a importância que tem pra mim é essa. MCB: Você está para estrear uma peça, não é isso. Gostaria que me falasse sobre ela e sobre mais algum trabalho que tenha feito.
LV: Nas perguntas que você me passou ficou como último trabalho aquele curta, o SP Zero 15, e eu, imagina, acabei me esquecendo de falar que eu fiz no começo desse ano, quando a pandemia melhorou um pouquinho, eu fui convidada para fazer um curta, que acabou virando um média, quase longa. Foi filmado em Junqueirópolis, no interior perto de Mato Grosso do Sul, um curta sobre a Covid, chamado Corona Circus. O assunto é a epidemia, o vírus, e se passa em um circo, onde o pessoal do circo sofre com todos os efeitos da pandemia. Foi muito legal, foi uma experiência muito incrível depois de tantos anos sem fazer cinema, fazer esse filme lá foi muito legal. Tem o Dedé Santana, o Francisco Carvalho, o Pedro Pauli. Foi muito legal, muito gostoso, uma experiência incrível, ainda não foi lançado, já deve estar quase pronto. Esse sim foi o último filme que eu fiz. O último trabalho que eu estou fazendo agora é o seguinte, quando veio a pandemia eu estava fazendo duas peças de teatro, uma para escola, que são adaptações daqueles livros que são necessários e obrigatórios ler para prestar Enem, faculdade, essas coisas. A gente estava fazendo uma peça, uma adaptação do livro “Angústia”, do Graciliano Ramos. Estava em cartaz para as escolas, aí veio a pandemia e tivemos que interromper. E tinha acabado de estrear uma peça do Tchekov, que se chama “Malefícios do Amor”, e que, infelizmente, acabou nem voltando mais. Essa peça para a escola a gente conseguiu um pequeno patrocínio e vamos fazer dois meses agora no Teatro Maria Della Costa, terças, quartas e quintas, às 20:30. Então nós estreamos terça que vem, dia 14 de setembro, às oito e meia da noite, o “Angústia” de Graciliano Ramos. Então é uma reestreia. MCB: Para terminar, as únicas duas perguntas fixas do site: Qual o último filme brasileiro a que você assistiu? LV: O último filme brasileiro a que eu assisti é um filme que nem faz muito o meu gênero, mas foi mais de curiosidade, porque eu gosto muito dele, um ator que morreu há pouco tempo, que é o Minha Mãe é Uma Peça, com o Paulo Gustavo,. Como eu não gosto muito desse tipo de filme, eu assisti assim mais como uma homenagem a ele e gostei muito, ele é realmente hilário, demais, o trabalho dele é incrível e valeu a pena assistir.. MCB: E a segunda e última: Qual mulher do cinema brasileiro, de qualquer época e de qualquer área, você gostaria de deixar registrada nessa sua entrevista como uma homenagem e por que? LV: Vamos lá, a última pergunta, eu pensei bastante e não consegui citar uma atriz que pudesse ter me servido de inspiração durante toda a minha carreira porque foram tantas e a cada trabalho eu sentia que com cada uma que eu trabalhasse eu poderia aprender alguma coisa. Muitas delas eram praticamente uma aula de interpretação. Por exemplo, quando eu estava fazendo "A Sucessora", na TV Globo, como não ficar, em plena cena, assistindo Nathalia Timberg interpretar? Era maravilhoso. Então a cada novela sempre tinha alguma atriz, ou mais de uma, em eu podia aprender alguma coisa, eu podia inspirar alguma coisa. Então não dá para falar de uma atriz, eu dei o exemplo da Nathália, mas não é só ela que me veio à cabeça. Realmente, na época eu era mais jovem fazendo "A Sucessora" e eu ficava, nossa, admirada assistindo aquela atriz. Assim como outras, como a Nicette na TV Tupi, assistindo Marília Pera, muitas, muitas. É injusto, realmente falar de alguém, a vida da gente é assim, você passa a vida colhendo informações e emoções que vão te modificando e que vão acrescentando, e eu acho que assim não tem uma, é o conjunto da obra.
MCB: Muito obrigado pela entrevista.
LV: Muito obrigada pela oportunidade e pela paciência. Grata.
Entrevista realizada pelo Whatsapp, entre os dias 5 e 12 de setembro de 2021.
Foto: Acervo pessoal
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