Luna Alkalay
Nascida em 29 de julho de 1947, em Milão, Itália, e naturalizada brasileira, Luna Alkalay é uma importante e pioneira cineasta brasileira. Luna realizou vários trabalhos com o genial cineasta Aloysio Raulino. “Em 1970, Aloysio e eu nos casamos e continuamos fazendo filmes: Lacrimosa, Arrasta a Bandeira Colorida, Teremos Infância, Jardim Nova Bahia”.
Seu primeiro trabalho solo foi o curta Sangria, realizado em 1972, com elenco de destaque: Selma Egrei, Fernando Peixoto, Jofre Soares e Emmanuel Cavalcanti. “Eu estava pronta para arriscar a dirigir meu primeiro filme solo. Por mais que nossas ideias, nossas posições políticas, nossa ideologia, fossem as mesmas, eu tinha uma maneira de imaginar um filme diferente, mais simbólica, fantasiosa, metafórica. Sou assim até hoje".
Luna Alkaly é uma das pioneiras dos anos 1970 na direção de longas com o filme Cristais de Sangue, rodado na Chapada Diamantina, em plenos Anos de Chumbo da Ditadura Civil-Militar. “Foi literalmente uma aventura. Sair de São Paulo de navio, porque as companhias aéreas e a FAB não aceitaram nos transportar de graça. Ir de Salvador à Chapada de kombi. Trabalhar com a população local, que se envolveu desde o primeiro dia. O filme só foi possível por causa desse envolvimento, essa vontade de fazer acima de qualquer problema”.
Luna Alkalay esteve em Belo Horizonte para participação na Mostra Curta Circuito, que na edição de 2024 discute o tema “Mulheres Transgressoras: - As Cineastas Brasileiras e os Anos de Chumbo". Foi exibido seu longa Cristais de Sangue, em cópia restaurada, em sessão comentada com mediação da cineasta, professora e crítica Karla Holanda, e com participação do pesquisador Felipe Abramovitch. Luna Alkalay conversou com o Mulheres do Cinema Brasileiro por email e repassou sua trajetória: o ínício da carreira, Cristais de Sangue, os outros filmes, a parceria com Aloysio Raulino e André Luiz Oliveira, os projetos, e muito mais.
Mulheres do Cinema Brasileiro: Para começarmos, nome, data de nascimento, cidade em que nasceu, e formação.
Luna Alkalay: Luma Alkalay, 29 de julho de 1947, Milão, Itália, naturalizada Brasileira. Faculdade de Filosofia incompleta.
MC: Como e quando se deu o seu interesse por cinema?
LA: Quando estava cursando a faculdade e cruzei com uma equipe de cinema na Cidade Universitária. Era o curta-metragem Um Clássico, dois em casa e nenhum jogo fora, do Djalma Limongi Batista.
MCB: Você tem uma parceria importante com o genial Aloysio Raulino, com quem dirigiu curtas. Pode falar sobre esse encontro e esses filmes?
LA: O encontro se deu nessa ocasião. Eles entraram no meu fusca e eu entrei no cinema, na turma que considero minha formação cinematográfica, aprendi tudo com eles. Em 1970, Aloysio e eu nos casamos e continuamos fazendo filmes: Lacrimosa, Arrasta a Bandeira Colorida, Teremos Infância, Jardim Nova Bahia.
MCB: Em 1972, você dirige o curta Sangria. Poderia comentar sobre esse trabalho?
LA: Eu estava pronta para arriscar a dirigir meu primeiro filme solo. Por mais que nossas ideias, nossas posições políticas, nossa ideologia, fossem as mesmas, eu tinha uma maneira de imaginar um filme diferente, mais simbólica, fantasiosa, metafórica. Sou assim até hoje.
MCB: Em 1974, você dirige o longa-metragem Cristais de Sangue, na Chapada Diamantina. É uma realização importante e em um momento difícil durante a ditadura civil-militar. Como foi realizar esse filme?
LA: Foi literalmente uma aventura. Sair de São Paulo de navio, porque as companhias aéreas e a FAB não aceitaram nos transportar de graça. Ir de Salvador à Chapada de kombi. Trabalhar com a população local, que se envolveu desde o primeiro dia. O filme só foi possível por causa desse envolvimento, essa vontade de fazer acima de qualquer problema.
MCB: Até a década de 1960, menos de dez diretoras chegaram à direção de longas, realidade que começou a mudar a partir da década de 1970. Você é uma das pioneiras desse período, ao lado de nomes como Tereza Trautman, Vanja Orico, Maria do Rosário Nascimento e Silva, Tizuka Yamasaki, entre outras. Vocês conviviam nessa época, trocavam experiências?
MCB: Eu sou paulista (radicada) e elas são cariocas. Convivi com Ana Carolina, que admiro até hoje, com as outras não.
MCB: 7 - Poderia falar de outros filmes em que participou em diferentes funções, como diretora, produtora, atriz?
LA: Fiz um longa-metragem chamado Estados Unidos do Brasil, com o famoso cover do Michael Jackson, Rodrigo Teaser. Agora, estou finalizando dois documentários com Felipe Abramovitz, e no ano que vem lanço meu longa Trópico de Leão.
MCB- Você tem uma parceria importante com o cineasta e músico André Luiz Oliveira. Poderia falar sobre esse encontro e esses trabalhos?
LA: Tive uma parceria bem produtiva com o André Luiz Oliveira, com quem realizei alguns curtas e coordenei som e imagem do Projeto “Mensagem”, de Fernando Pessoa, composto de quatro CDs, 3 DVDs com poemas musicados pelo André e interpretados por Caetano Veloso, Gilberto Gil, Ney Matogrosso, Milton Nascimento, Gal Costa, e muitos outros.
MCB: Em 2004, você dirige outro longa, Estados Unidos do Brasil. Como foi realizar esse filme e 30 anos depois do seu primeiro longa?
LA: É sempre bom voltar depois de algum tempo fazendo outras coisas, no meu caso, ambientalismo, ecologia. Mas dá sempre a sensação de que é isso mesmo que eu deveria fazer…
MCB: Cristais de Sangue foi restaurado. Como tem sido voltar a mostrar esse importante filme e como é participar da Mostra Curta Circuito, que na edição deste ano tem como tema Mulheres Transgressoras: - As Cineastas Brasileiras e os Anos de Chumbo"?
LA: Sinceramente, eu fiquei muito impressionada com o profissionalismo e o respeito com que o Cristais de Sangue e eu fomos tratados pela Mostra. A ideia de apresentar cineastas que fizeram seus trabalhos em plena Ditadura, em plena censura, proporciona ao público de cinema uma oportunidade única de conhecer esses filmes. Que maneira incrível de trabalhar seriamente pelo cinema e pela cultura do Brasil.
MCB: Para terminar, as únicas duas perguntas fixas do site: Qual o último filme brasileiro a que assistiu?
LA: Odradek, de Guilherme de Almeida Prado.
MCB: Qual mulher do cinema brasileiro, de qualquer época e de qualquer área, deixa registrado na sua entrevista como uma homenagem e o porquê?
LA: Ana Carolina, pela coerência e inteligência.
Entrevista realizada por e-mail em 26 de agosto de 2024.
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