Ano 20

Paulo Augusto Gomes (Glauce Rocha)

Mesmo sendo um homem de cinema, conheci Glauce Rocha através do teatro. A peça era “O Exercício” de Lewis John Carlino e ela atuava ao lado de Rubens de Falco. Sua performance vibrante me deixou embasbacado; houve momentos em que me perguntei se ela representava ou estava se dirigindo diretamente à platéia. Saí com enorme vontade de conhecer melhor seu trabalho.

Posteriormente, vieram os filmes: “Terra em Transe”, em primeiro lugar, no qual ela criou uma inesquecível Sara; “Rio 40 Graus”, onde fazia a empregada doméstica engravidada pelo namorado fuzileiro naval; “Rua Sem Sol”, drama urbano em que Alex Viany lançava algumas sementes que depois frutificariam no Cinema Novo; a pequena, porém marcante participação em “Os Cafajestes”; até “O Noivo da Girafa” não me escapou, por trazer Glauce no elenco. Esses, fora muitos outros.

Glauce era uma operária. Não recusava papéis, por mais medíocres que fossem o filme e seu realizador. Quando a oportunidade se apresentava, dava um show, como em “Navalha na Carne”, no qual faz a prostituta Norma Suely, criada por Plínio Marcos. Quando se via sem muito espaço, invariavelmente elevava o nível da obra com um desempenho irretocável.

Nunca tive oportunidade de encontrar Glauce Rocha pessoalmente – ela que viveu uma temporada em Belo Horizonte, antes de se tornar uma das maiores atrizes que este país já viu. É pena; eu teria tido imenso prazer em conhecer essa mulher corajosa, de fibra, que não hesitou em esconder em seu apartamento, durante os anos negros, muitas pessoas procuradas pela ditadura. Mulher forte, mas de coração fraco, que a levou embora cedo, aos 41 anos. O Brasil nunca se recompôs de sua perda.

Paulo Augusto Gomes é cineasta e crítico de cinema.


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