Ailton Monteiro (Denise Dumont)
Ela é filha de Humberto Teixeira, principal parceiro de Luiz Gonzaga, e se casou com o neto de Charles Darwin, o roteirista Matthew Chapman. Deixou saudades quando abandonou o cinema brasileiro no final da década de 80 para morar em Nova York com o marido. Nos Estados Unidos, chegou até a participar, numa ponta, de um filme de Woody Allen, A ERA DO RÁDIO (1987). Foi um dos símbolos sexuais da década de 80 e o generoso cinema produzido nessa década soube aproveitar o pouco tempo em que essa bela carioca esteve no Brasil.
Denise Dumont ficou marcada em minha memória especialmente em uma sequência de EROS - O DEUS DO AMOR (1981), um dos filmes de Walter Hugo Khouri que mais aprecio. Com o recurso da câmera subjetiva, Khouri nos empresta os "olhos da câmera" para que possamos presenciar a beleza do corpo nu de Denise, dormindo deitada na cama, de bruços. Ela interpreta Ana, um dos nomes femininos mais recorrentes no cinema do obsessivo cineasta. Esse é o ponto alto de minha memória de Denise. Não que ela fosse só um corpo bonito - na época da realização do filme, ela já havia posado para a Playboy duas vezes. Denise tinha algo no jeito e na voz rouca que me deixava inquieto e atraído.
No tempo em que a televisão era o único recurso para se apreciar o cinema nacional do passado, com sorte algumas emissoras faziam o favor de exibir filmes que nos deram a chance de conhecer um pouco da breve carreira de Denise. Depois de algumas telenovelas, a atriz estreou no cinema com TERROR E ÊXTASE (1980), de Antônio Calmon. O filme tem uma voltagem erótica interessante e lida com o fetiche da mulher que começa a criar um vínculo afetivo com o bandido, o sequestrador, interpretado no filme por Roberto Bonfim. No ano seguinte, além da obra-prima de Khouri, Denise apareceria num dos melhores filmes do quarteto comandado por Renato Aragão, OS VAGABUNDOS TRAPALHÕES, de J.B. Tanko. Tenho pouca lembrança de Denise nesse filme, em particular, que devo ter visto na infância na televisão. Também não lembro de outra coisa que não seja a cena do strip-tease de Silvia Bandeira em BAR ESPERANÇA (1983), de Hugo Carvana, filme que também conta com a presença de Denise.
Naturalmente, minhas lembranças de adolescente com hormônios em ebulição são um pouco mais vívidas e por isso me lembro um pouco mais de FILHOS E AMANTES (1981), de Francisco Ramalho Jr., no qual Denise contracena com outras musas da época: Lúcia Veríssimo e Nicole Puzzi. Esse e RIO BABILÔNIA (1982), de Neville D'Almeida, são filmes generosos no quesito nudez, como era comum no cinema brasileiro da época. Ver uma estrela global nua nas telas era um forte atrativo para o público, especialmente o masculino. Não sou eu quem vai reclamar. Adoto a filosofia de que o que é belo é para se mostrar. E Denise Dumont, em sua curta carreira cinematográfica, mostrou-nos sua beleza com generosidade. Não uma beleza glacial ou glamourosa, mas uma beleza mais próxima do real. Como a menina da esquina que é desejada por todos no bairro. E talvez esse seja um dos segredos do sucesso de Denise Dumont.
Ailton Monteiro é editor do blog Diário de um Cinéfilo.
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