Ano 20

Elaine Cristina

Elaine Cristina é belíssima e ótima atriz. Verdadeira estrela da televisão, sobretudo nos anos 1970, na TV Tupi, a atriz brilhou em novelas como "Idolo de Pano", de Teixeira Filho, e em vários sucessos da mestra Ivani Ribeiro: Os Inocentes, A Viagem, O Profeta. Elaine Cristina esteve também na interrompiada "Como Salvar meu Casamento", última produção da emissora: "eu era considerada a melhor atriz chorona, eu praticamente chorava as novelas inteiras, eu ficava até triste de tanto que chorava (risos). Quando finalmente me deram uma vilã naquela novela que não acabou (“Como Salvar meu Casamento” – Edy Lima, Ney Marcondes e Carlos Lombardi – 1979), eu adorei, era uma delícia (risos)".

Elaine Cristina atuou também em dois marcos da extinta TV Manchete, "Kananga do Japão" e "Pantanal", além de fazer sucesso em "Sinhá Moça", na Globo. Mas sempre quis diversificar as emissoras: "Eu fiz uma via-sacra, eu trabalhei em todas as emissoras. Sabe por quê? Quando eu me sentia já meio móvel e utensílio eu dava um jeito de me mudar". Casada com o ator Flávio Galvão há 35 anos, a atriz nunca quis misturar a vida profissional com a vida particular: "Quando você trabalha junto com seu marido é um tal de tirar foto do casal e coisas desse tipo. Eu nunca gostei, nunca misturei minha vida particular com a profissional. Eu nunca quis essa história, por exemplo, de ficarem tirando foto com meu filho, eu nunca o expus. Então eu sempre preferi ficar longe do Flávio".

Elaine Cristina, infelizmente, só atuou em fois filmes: ""Até o ùltimo Mercenário" (1971 - Ary Fernandes e Penna Filho), e "Senhora" (1976), de Geraldo Vietri: "Eu me sentia melhor fazendo televisão porque a TV eu dominava. Já o cinema é muito técnico, eu me sentia insegura, mesmo porque eu fiz pouco. Mas eu gostei. Se eu pudesse voltar atrás eu teria me diversificado mais, feito mais cinema, feito mais teatro".. "Senhora" é, talvez, a única forma de ver o talento da atriz no cinema - o filme chegou a ser lançado em VHS, quanto a de `Até o Último Mercenário" não sei se existe cópia.

Em conversa por telefone de sua casa, às vésperas da passagem de ano, Elaine Cristina falou de sua carreira, das várias novelas, de vida privada e de vida profissional, e, claro, dos dois filmes em que atuou. Tomara que a atriz volte logo para as telas e para a telinha. Elaine Cristina realmente faz falta.

 
Mulheres: Você começou sua carreira no teatro ou na televisão?

Elaine Cristina: Comecei no rádio.

Mulheres: Que maravilha!

Elaine Cristina: Comecei como rádio-atriz na Rádio São Paulo. Foi uma escola e tanto. Naquela época se levava em consideração muita a questão da voz, da empostação, da atriz falar direito.

Mulheres: Você se lembra de alguns destes trabalhos na Rádio?

Elaine Cristina: Sim, fiz muitas vozes infantis, fiz “Marcelino Pão e Vinho”, fiquei lá durante uns quatro anos, de 1960 a 1964.

Mulheres: E é daí que você vai para a televisão?

Elaine Cristina: O Ciro Bassini e o Manoel Carlos ficaram impressionados com o meu trabalho na rádio. E daí me levaram para a televisão para fazer “Ontem, Hoje e Sempre” (Fernando Baiela – 1965), na Excelsior.

Mulheres: Ah é? Nas minhas pesquisas sua primeira novela teria sido “A Herdeira de Ferleac (Ênia Petri – 1961)”.

Elaine Cristina: Foi mesmo, foi na época em que fazia rádio e também teatro à tarde.

Mulheres: Você atuou em várias emissoras, mas um dos destaques foi a sua carreira na Tupi, onde se tornou uma das estrelas, sobretudo na década de 1970. 

Elaine Cristina: Eu fazia em média duas novelas por ano.

Mulheres: Gostaria que você comentasse alguns desses trabalhos. Vamos começar por “Ídolo de Pano” (Teixeira Filho – 1974), com o Tony Ramos e Dennis Carvalho.

Elaine Cristina: Essa novela foi um grande sucesso. Eu fiquei grávida na época e mesmo depois do meu filho, Flavito, ter nascido, eu ainda gravava (risos). Foi o seguinte, quando eu fiquei sabendo que estava grávida eu já estava fazendo a novela. Aí avisei o Henrique Martins, diretor da novela, e pedi para ele contar para o autor. O Henrique me deu os parabéns, me deu um beijo, mas se esqueceu. Eu peguei todo mundo de surpresa. Passado seis meses, eu falava para o Henrique que eu precisava vestir roupa de gestante, que eu não agüentava mais aquelas roupas, que era para centrar a história em outros personagens, já que a minha personagem não estava grávida na novela.

Mas eles acharam melhor mudar toda a história. O personagem do Tony (Ramos), que não gostava de mim passou a gostar, e continuei gravando, mesmo depois do nascimento do Flavito. O Zara (Carlos Zara, supervisor da novela) foi no hospital e me disse que ainda precisava gravar comigo e eu respondi que sim, sem problema, que era só a condução me buscar e levar, que eu faria. Daí, com 13 dias do nascimento do meu filho, eu já estava gravando novamente (risos).

Eu posso dizer que eu fui muito feliz fazendo novelas, não só na TV como também no rádio. As pessoas gostavam de mim em qualquer um desses lugares, eu tenho muito carinho por esses trabalhos. E outra coisa: eu era considerada a melhor atriz chorona, eu praticamente chorava as novelas inteiras, eu ficava até triste de tanto que chorava (risos). Quando finalmente me deram uma vilã naquela novela que não acabou (“Como Salvar meu Casamento” – Edy Lima, Ney Marcondes e Carlos Lombardi – 1979), eu adorei, era uma delícia (risos).

Mulheres: Que foi uma novela ótima, em que você fazia a Branca, amante do personagem do Adriano Reys, que era casado com a Nicete Bruno. 

Elaine Cristina: Sim, era uma delícia fazer aquele personagem. Eu fiz também “O Preço de Um Homem” (Ody Fraga – 1971), essa você assistiu?

Mulheres: Essa não.

Elaine Cristina: Eu fui a primeira atriz a usar minissaia. Eu ficava com um pouquinho de pudor, então eu colocava uma calcinha com rendinhas que caíam até a perna. Daí, de vez em quando, o Henrique (Martins, diretor da novela) me dizia: sua fralda está aparecendo (risos). Nessa novela eu fiz uma das melhores personagens, ela batia na cara dos homens, era uma moça de família, virgem, mas era moderna demais para a época.

Foi nessa época que eu comecei a namorar o Flávio (Flávio Galvão, com quem é casada). O meu sogro me contou depois que, na época, ele disse para o Flávio que aquilo não deveria ser coisa só da personagem não, que eu deveria ser louca (risos).

Mulheres: Que história ótima. E você e o Flávio estão juntos até hoje, o que não é muito comum no meio artístico.

Elaine Cristina: Pois é, estamos juntos há 35 anos, em abril faremos 35 anos.

Mulheres: Fala-se muito em Janete Clair e pouco em Ivani Ribeiro, uma grande mestra. Você fez muitas novelas com ela, “Os Inocentes” (1974), “A Viagem” (1975), “O Profeta” (1977)?

Elaine Cristina: Concordo com você. A Ivani era maravilhosa, eu gostei de todas as novelas que fiz com ela. E ela também gostava muito de mim, desde a época do rádio, pois lá também eu trabalhei com ela.

Mulheres: Depois da Tupi, você passou por várias emissoras. 

Elaine Cristina: Eu fiz uma via-sacra, eu trabalhei em todas as emissoras. Sabe por quê? Quando eu me sentia já meio móvel e utensílio eu dava um jeito de me mudar. Na Tupi foi onde fiquei mais tempo. Na própria Globo, eu poderia estar lá até hoje. Quando eu fiz “Sinhá Moça” (Benedito Ruy Barbosa – 1986) foi um grande sucesso. Depois me colocaram na novela “O Outro” (Aguinaldo Silva – 1987), que eu não gostei, e daí eu disse: eu vou é para a Manchete.

Mulheres: O que não deixa de ser uma atitude corajosa, porque hoje em dia o que muitos atores querem é estar na Globo.

Elaine Cristina: Mas é porque tem uma outra coisa também. Quando você trabalha junto com seu marido é um tal de tirar foto do casal e coisas desse tipo. Eu nunca gostei, nunca misturei minha vida particular com a profissional. Eu nunca quis essa história, por exemplo, de ficarem tirando foto com meu filho, eu nunca o expus. Então eu sempre preferi ficar longe do Flávio.

Um dia soltaram uma fofoca maldosa sobre mim e o Flávio, foi a única vez que isso aconteceu. Diziam que eu estava me separando dele. Eu então liguei e disse para eles se retratarem porque senão eu ia entrar com um processo contra eles. Que já que eles publicaram aquela notícia, eu queria então saber qual era a fonte. E então eles se retrataram.

Mulheres: Qual foi a publicação?

Elaine Cristina: Foi a Revista Amiga. Mas foi a única vez, eu nunca admiti esse tipo de fofoquinha.

Mulheres: Ao ir para a Manchete você atuou em uma das mais importantes novelas da época, “Kananga do Japão” (Wilson Aguiar Filho – 1989).

Elaine Cristina: Eu amei essa novela, ser dirigida por aquela mulher (Tizuka Yamasaki) com uma sensibilidade fora do comum. Nessa novela eu fiz cenas que eu não ousara fazer antes.

Mulheres: A Tamara Taxman, em entrevista ao Mulheres, disse que foi a novela mais linda em que ela atuou.

Elaine Cristina: A Tamara é mulher linda, inteligente, amiga para até o fim da vida, é minha irmã. Na “kananga” não tinha estrelismos, atores ótimos, todos trabalhando com dignidade, tratados com respeito. A “Kananga” foi mesmo umas das novelas mais bonitas. O Raul (Gazolla) estava extraordinário, foi a melhor coisa que ele fez.

Mulheres: Depois você faz outro marco que é o “Pantanal”.

Elaine Cristina: Sim, foi um sucesso. Mas eu acho que a minha personagem (Irma) ficou um pouco deslocada. Como o núcleo do Rio não funcionou (na primeira fase, a novela se passava no Pantanal e no Rio de Janeiro), não os atores, porque eram ótimos, mas porque ninguém queria ver o Rio de Janeiro, todo mundo queria ver era o Pantanal, eles eliminaram o núcleo. Daí fomos eu, minha mãe (Nathalia Timberg) e meu sobrinho (Marcos Winter) para o Pantanal.

E aí minha personagem ficou um pouco deslocada. Uma vez, inclusive, eles quiseram me colocar na beira do rio lavando roupa. Eu não aceitei e disse que não tinha nada a ver, que ela poderia até se apaixonar por um pantaneiro, mas não ser uma. Ela não tinha muita função na trama, mas foi um bom personagem.

Mulheres: E para o SBT você faz “Antônio Alves, Taxista” (Ronaldo Ciambroni – 1996).

Elaine Cristina: Fizemos na Argentina, com o Fábio (Jr), um ator muito querido, o elenco é muito feliz. Todos estavam longe da família, eu mesma fiquei meio perdida. E briguei muito com os argentinos (risos). Eles não queriam cumprir o que estava no contrato e eu briguei muito com eles. Afinal, eles estavam tirando trabalho dos brasileiros, era uma novela que poderia tranquilamente ser gravada no Brasil, que nós não precisávamos passar por aquilo, enfim, eu fiz de tudo para sair da novela. Mas aí eu fiquei sabendo que eles faziam questão da minha presença e eu fiquei até o final.

Mulheres: E o cinema?

Elaine Cristina: A minha estréia foi em “Até o Último Mercenário” (Ary Fernandes e Penna Filho – 1971).

Mulheres: Como foi trabalhar com o Ary?

Elaine Cristina: O Ary era um amor de pessoa, foi muito bom trabalhar com ele.

Mulheres: Como você foi escalada?

Elaine Cristina: Um dia ele me chamou para ir lá no centro (de São Paulo) falar com ele, eu achei a história interessante e aceitei. Ele já vinha dos filmes do “Vigilante Rodoviário”.

Mulheres: Como foi trabalhar em cinema para você, que vinha de uma carreira expressiva na televisão?

Elaine Cristina: Eu gostei de fazer cinema, mas eu não tinha muito tempo. Como eu fazia uma novela atrás da outra eu não dispunha de muito tempo nem para fazer cinema e nem para fazer teatro.

Mulheres: E você tinha dificuldades nesse veículo?

Elaine Cristina: Eu me sentia melhor fazendo televisão porque a TV eu dominava. Já o cinema é muito técnico, eu me sentia insegura, mesmo porque eu fiz pouco. Mas eu gostei. Se eu pudesse voltar atrás eu teria me diversificado mais, feito mais cinema, feito mais teatro.

Mulheres: Depois você faz “Senhora” (1976), com o Geraldo Vietri, adaptação do romance do José de Alencar, em que você era a protagonista. Como foi esse trabalho?

Elaine Cristina: O Vietri fazia o roteiro a partir dos horários em que podia gravar. Às vezes era de manhã, outras à tarde, e outras ainda de madrugada. Eu também gostei muito desse trabalho. O Vietri foi um grande amigo meu, eu lamentei muito a morte dele. Eu fiz muitos trabalhos com ele, muitos especiais na Tupi, e depois a novela “Antônio Maria” (1985), na Manchete.

Mulheres: E o “Senhora”, foi difícil fazer?

Elaine Cristina: Não. Porque o Vietri fazia cinema como se fizesse TV. E também estavam todos os meus colegas de TV lá, o Paulo Figueiredo, a Etty Fraser, a Elizabeth Hartmann.

Mulheres: É impossível não perguntar: por que você não está mais nas telas e nem na televisão?

Elaine Cristina: Há um ano o Fernando Rancoleta (diretor de elenco do SBT) me chamou para fazer uma novela, mas não pude aceitar o convite, pois estava em repouso, depois de uma cirurgia. Naquela época eu realmente não pude aceitar. Mas depois ele não ligou mais. Pode ser que um dia ligue.

Eu acho que é pelo meu comportamento. Eu nunca misturei minha vida profissional com a pessoal. Nunca fui de ficar aparecendo em revistas. E a mídia é assim, se você se afasta dela, ela também se afasta de você, essa é a verdade. E aí começam a aparecer pessoas novas, muitas dessas com essa atitude de estar nas revistas.

Eu fiz uma carreira longa e séria, sempre me dediquei muito. Eu nunca usei minha profissão como vitrine. Hoje eu fico muito triste com algumas coisas que eu vejo porque é uma profissão linda. E eu fiquei seletiva também. É culpa minha. E aí as pessoas acabam te esquecendo.

Mulheres: Mas é que você faz muita falta.

Elaine Cristina: Algumas pessoas já me disseram o que você está me dizendo agora. É bom ouvir, faz bem para o ego. 

Mulheres: E no teatro?

Elaine Cristina: O último espetáculo (“Preso na Rede”) foi uma comédia deliciosa que fiz com o Flávio, fizemos uma temporada na Fiesp, na Paulista. Mas não viajamos com o espetáculo. O Flávio foi para Portugal, depois voltou, e eu não quis fazer sem ele. Engraçado, dessa vez eu quis fazer com ele.

Mulheres: Vocês trabalharam quantas vezes juntos?

Elaine Cristina: Foram pouquíssimas vezes: “O Preço de Um Homem”, “Senhora” “O Outro” e nesse espetáculo.

Mulheres: Eu sempre convido minhas entrevistadas para homenagearem uma mulher do cinema de qualquer época e área.

Elaine Cristina: No cinema, uma atriz que adorava desde criança foi a Eliana. Você se lembra dela?

Mulheres: Claro, a Eliana das chanchadas da Atlântida.

Elaine Cristina: Eu adorava ver os filmes dela com o Anselmo Duarte, sempre tão bonitinha, tão boa atriz, ela me fez sonhar com essa profissão de ser atriz.

E também não posso deixar de falar na Tamara (Taxman), minha irmã do coração. Eu não entendo porque ela está afastada da televisão. Ela, a Márcinha Maria, ótimas atrizes que estão por aí.

Mulheres: Você tem ido ao cinema? Qual foi o último filme brasileiro que assistiu?

Elaine Cristina: O último filme.... último filme ... Quando eu era criança eu ia muito ao cinema para ver filme brasileiro. Mas agora eu não tenho ido mais, tenho visto mais filmes de locadora. O último que eu revi, há pouco tempo, foi o “Gabriela” (“Gabriela Cravo e Canela” – Bruno Barreto – 1983), que tem o Flávio. Os meninos até disseram: como ele era magrinho (risos).

Mulheres: Muito obrigado pela entrevista.

Elaine Cristina: Muito obrigada.

 

Entrevista realizada em dezembro de 2007.

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 Sala Dina Sfat
Atriz intensa nas telas e de personalidade forte, com falas polêmicas.