Ano 20

Elke Maravilha

Elke Maravilha nasceu em Leningrado, Rússia, mas veio para o Brasil com apenas seis anos de idade. Bem distante do clima russo, sua persona extravagante, irreverente e alegre é a cara de um país tropical, e por isso é a cara do Brasil, onde construiu carreira em todos os veículos – televisão, teatro e cinema. Elke Maravilha é nome popular na cultura brasileira. Sua passagem pela televisão como jurada dos programas de calouros do Chacrinha e de Sílvio Santos marcou época. Verdadeira showwoman e ícone gay, Elke Maravilha sempre brilhou nos palcos com sua inteligência aguda e presença marcante. 

Elke Maravilha é também atriz de carreira importante no cinema brasileiro. Nas telas foi dirigida por nomes fundamentais como Alex Viany, Carlos Diegues, Hector Babenco, Miguel Borges e Sérgio Bianchi. Em 1978, protagonizou dois filmes completamente distintos: “A Noiva da Cidade”, de Viany, e “Elke Maravilha contra o Homem Atômico”, de Gilvan Pereira. “A Noiva da Cidade” tem história original do mestre Humberto Mauro e foi ele que escolheu Elke para ser a protagonista, depois de várias reprovações às candidatas apresentadas pelo diretor Alex Viany: “Na hora que ele me viu, ele abriu os braços e disse “minha noiva da cidade”. Eu quase caí de bunda”. Já “Elke Maravilha contra o Homem Atômico” foi um veículo para as personas extravagantes de Elke e de seu colega de jurados de calouros Pedro de Lara: “É um barato, é hilário, o Gilvan (Pereira) é uma graça. Eu era de outro planeta e o Pedro de Lara era o homem atômico (risos)”.

Elke Maravilha falou com o Mulheres pelo telefone de sua casa no Rio de Janeiro. Em conversa entremeada por sonoras gargalhadas, Elke repassa sua trajetória cinematográfica, que inclui filmes essenciais como “Xica da Silva” (1976), de Carlos Diegues – prêmio Coruja de Ouro de Melhor Atriz Coadjuvante, e “Pixote – A Lei do Mais Fraco” (1981), de Hector Babenco. Fala também de Chacrinha, da convivência com Humberto Mauro, do sonho inesperado de contracenar com Grande Otelo, de histórias em Diamantina durante as filmagens de “Xica da Silva”, e muito mais.


Mulheres: Você começou mesmo no cinema com o Adhemar Gonzaga em “Salário Mínimo”?

Elke Maravilha: Eu participei do filme, mas como modelo. Eu desfilei no filme, porque eu era modelo na época. Fiz figuração.

Mulheres: Você foi uma modelo muito famosa. O passo das passarelas para o cinema e para a televisão foi natural, não é?

Elke Maravilha: Aconteceu. Na realidade eu fui colocada. As pessoas sempre me colocavam nas coisas. Sabe aquela coisa de eu não sei o que eu quero ser quando crescer? Quando fui professora de línguas foi porque me botaram, quando fui bancária, foi porque me colocaram. Quando fui tradutora e intérprete... bom, aí foi diferente, aconteceu assim. Eu cheguei na Alemanha com vinte dólares no bolso. Daí olhei para a cara de um prédio, vi que era da Siemens e pensei, “essa firma tem no Brasil”. Daí entrei, fui recebida por uma recepcionista, que me encaminhou. Me perguntaram o que eu sabia fazer e aí eu disse que falava tantas línguas. Me perguntaram também se eu sabia escrever cartas. Depois da conversa me falaram que eu podia começar a trabalhar no outro dia (risos). Na Alemanha é assim, se eles confiam em você, tudo acontece, mas se não confiam, aí pode desistir.

Mulheres: Isso foi quando?

Elke Maravilha: Foi em 1965.

Mulheres: Você ficou lá durante quanto tempo?

Elke Maravilha: Fiquei um ano. Daí, quando voltei para o Brasil foi a mesma coisa. Eu fui colocada como modelo, fui colocada como atriz. E aí eu fazia o que eu tinha vontade, porque eu podia até não saber o que eu queria ser, mas eu sabia muito bem o que eu não queria ser. Era como numa festa, o garçom passava com uma bandeja com quibe, com coxinha, e eu ia escolhendo o que queria.

Mulheres: Então você teve a chance de escolha na sua carreira.

Elke Maravilha: Sim, eu sempre fui uma pessoa privilegiada. Você sabe que a coisa mais importante é fazer amigos, né? E eu sempre fiz grandes amigos. Agora mesmo eu acabei de fazer novos amigos. Vai ter uma exposição na Caixa Cultural sobre mim e a Júlia Resende, filha do Sérgio Resende dirigiu um documentário sobre mim. Lá na exposição vai ter coisas feitas por mim, roupas, coisas minhas. 

Mulheres: Como se chama o documentário?

Elke Maravilha: Chama-se “Elke”. Fazer amigo é a coisa mais importante, porque quando eu estava fodida nenhum amigo fugiu. Uma vez eu fui a uma cartomante, dessas famosas, e ela ficou impressionada quando colocou as cartas. Ela me disse que punha trinta por dia, mas que ela nunca tinha visto aquilo, que eu tinha amigos prontos para matar e para morrer por mim. E é verdade. Agora mesmo vou fazer um espetáculo, “Elke do Sagrado ao Profano”, dirigido por um grande amigo, o Rubens Cury

Mulheres: A estréia como atriz mesmo foi então em “Barão Otelo no Barato dos Milhões”, do Miguel Borges?

Elke Maravilha: Sim.

Mulheres: E você se lembra como foi?

Elke Maravilha: Claro! Foi um prazer enorme, porque naquele filme eu contracenei com meu ídolo de infância: Grande Otelo. Na época de escola, eu morava em Itabira (MG), mas vim estudar aqui no Rio, na Ilha do Governador, na Escola Cuba, escola mantida pelo governo cubano. Nas quintas-feiras nós não tínhamos aula, então minha avó me levava para ver os filmes da Atlântida. Eu adorava aqueles filmes com o Grande Otelo, Renata Fronzi, e fiquei apaixonada pelo Otelo. Por isso, quando eu fiz o filme eu achei demais contracenar com ele. Tem uma história engraçadíssima. Teve uma cena que teve que ser cortada por causa dos moralistas de plantão. Foi porque o Otelo ficava nu e aí quando foram ver a cena o meu olho estava direto para aquele pau imenso dele (gargalhadas). Olha que bandeira (gargalhadas).

Mulheres: Depois você faz uma participação em “Quando o Carnaval Chegar”.

Elke Maravilha: Sim, eu fazia uma francesa. Foi ótimo, o Cacá é uma delícia.

Mulheres: E você volta a trabalhar com o Carlos Diegues no estrondoso sucesso “Xica da Silva, em papel de destaque.

Elke Maravilha: Foi, até ganhei o prêmio Coruja de Ouro de Atriz Coadjuvante.

Mulheres: Dá para você comentar sobre as filmagens?

Elke Maravilha: Foi ótimo, ficamos três meses em Diamantina, que é aquela cidade linda. Na época eu fiquei muito amiga do escritor João Felício dos Santos e daí eu falava para ele que eu queria ver assombração, aquelas histórias do interior. Nós enchíamos a cara e íamos para trás do cemitério, mas nunca vimos nada (risos). Foi aí que eu aprendi que quem procura não acha, eles sabem para quem aparecer.

A Zezé Motta me disse, quando eu fui para lá, que era para eu levar muita roupa porque era época de carnaval e era para eu vestir todo mundo. Eu me lembro que veio três senhoras me procurar. Elas eram mulheres de professores e me pediram para vestir os maridos de “Elke Maravilha” para o carnaval, para sair na escola. Eu disse que sim, claro, que elas podiam mandar os maridos. E eles vieram, um era professor de filosofia, outro de português e outro de geografia. Daí eu preparei tudo, coloquei peruca neles, fiz tudo. Quando terminou, eu sentei no meio-fio e chorei de rir de ver aqueles três de Elke Maravilha (gargalhadas). Eu não acreditava no que eu estava vendo (gargalhadas). Quando terminou o carnaval, eles vieram na quarta-feira de cinzas me devolver as roupas, elas já como senhoras e eles de novo como professores, olha que gracinha.

Mulheres: E como foi acompanhar aquela explosão de talento da Zezé Motta?

Elke Maravilha: Foi maravilhoso. Ela é uma filha sem mãe, no bom sentido da palavra. É uma pessoa e uma atriz maravilhosa. Ela arrasou, a danada.

Mulheres: Você fez um filme pelo qual os mineiros têm um carinho especial que é o “”A Noiva da Cidade”, do Alex Viany.

Elke Maravilha: Dirigido pelo Alex Vianny e texto do Humberto Mauro.

Mulheres: Pois é, Humberto Mauro, o pai do cinema brasileiro. Como você foi escalada, você se lembra?

Elke Maravilha: Claro, como poderia me esquecer. Um dia o Alex Vianny me ligou. Eu o conhecia só superficialmente. Ele me disse que estava com um problema muito sério. Que ele estava com a produção do filme pronta, mas que a única exigência do Humberto Mauro era a de escolher a atriz que faria a noiva da cidade. Que ele já tinha levado várias, e o Humberto Mauro só dizia “não é minha noiva da cidade, não é minha noiva da cidade”. Que ele já tinha levado a Dina Sfat, e nada, que ele já tinha levado a Lilian Lemmertz, e nada. Que eles estavam perdendo dinheiro, já que o Humberto Mauro não aprovava ninguém. E que então se eu não aceitava ir com ele até o Mauro sem compromisso, só para ver o que ele achava. Eu topei na hora, disse que claro que iria, nem que fosse só para conhecer o Humberto Mauro, que ele podia até cagar na minha cabeça que não tinha problema.

Pegamos o carro e fomos. Quando chegamos na casa dele, à noite, nós buzinamos do carro e me sai o Humberto Mauro lá de dentro. Na hora que ele me viu, ele abriu os braços e disse “minha noiva da cidade”. Eu quase caí de bunda.

Mulheres: E como foi a convivência com ele?

Elke Maravilha: Eu virei amiga e cúmplice dele. Tem umas coisas engraçadas. Uma vez a dona bebe, esposa dele, me deixou leva-lo a uma festa, mas desde que eu não o deixasse comer bolo de chocolate, porque fazia mal a ele. Nós fomos e o que tinha lá? Bolo de chocolate. Ele fez aquela cara de garoto de seis anos e eu tipo “não estou vendo nada”. Vê se eu ia vigiar um homem daquele, com mais de 80 anos, não ia ficar regulando. Daí nós nos empanturramos de bolo de chocolate feito duas crianças. Quando chegamos em casa ele passou mal, vomitou muito, eu segurando o penico e a dona bebe falando “você deixou ele comer bolo de chocolate”, e eu “não deixei”, e ela “olha aqui, ele está vomitando”, e ele “fica bem um cineasta vomitar em frente de uma estrela?” (gargalhadas).

Tem uma outra história e essa foi bem depois, já tínhamos terminado o filme. O Humberto Mauro tinha tido um enfarte, na verdade ele teve uns cinco ou seis, e o Alex ficou preocupado. Aí fomos parar no hospital lá em Cataguases. Perguntamos para o médico se podíamos vê-lo, mas ele não queria deixar. Dissemos que era só para dar uma olhadinha, ele deixou e fomos pé ante pé, comportadíssimos. Quando chegamos no quarto, ele estava deitado com um monte de gente em volta. Daí ele abre um olho, olha para todo mundo e diz “uai, eu morri?” (gargalhadas). Eu não agüentei e dei a uma gargalhada tão grande que o médico veio correndo.

Eu soube, agora há pouco, que tem um cinéfilo apaixonado pelo Enseisten, que é mesmo considerado o papa, que descobriu que um filme que é creditado ao Enseinsten é do Humberto Mauro. Quem me contou isso foi meu amigo Rubens Cury, que dirige o meu espetáculo.

O Humberto Mauro é um gênio, você sabe que ele escreveu um dicionário em tupi-guarani, né? Ele fazia um licor delicioso, ele foi marceneiro, ele era impressionante.

Mulheres: Tem um filme seu que eu sou louco para ver, que é o “Elke Maravilha contra o Homem Atômico”.

Elke Maravilha: (gargalhadas) É um barato, é hilário, o Gilvan (Pereira) é uma graça. Eu era de outro planeta e o Pedro de Lara era o homem atômico (gargalhadas). Tinha o Colassanti (Manfredo), que fazia o papel de um mago. Eu vinha de outro planeta para a Terra porque lá não tinha flores. Daí eu falava para o Manfredo “eu posso levar a flor para o meu planeta?” E ele respondia “fode, fode” (gargalhadas). Que saudade do Colassanti, sabe esse tipo de pessoa que não existe mais? Esse humor?

Eu tenho 13 anos de casada com o Sacha, que é muito mais jovem que eu, eu tenho 62 anos e ele tem 35. Eu não sou nostálgica, muito pelo contrário, eu tenho saudades é do futuro. Mas uma vez eu estava vendo um programa na TV Cultura e eu disse para o Sacha “Tenho muita saudade do Brasil”, e ele “Eu não, nunca tive lá” (gargalhadas). O Sacha também é assim, é gênio, esse humor. Ele nasceu em Curitiba, não viveu o que eu vivi.

Mulheres: Você falou em Pedro de Lara e é impossível não falar da sua presença inesquecível na televisão como jurada de programas de calouros do Chacrinha e depois do Sílvio Santos. Como você foi parar na televisão como jurada?

Elke Maravilha: De novo eu fui colocada. Eu não via televisão, não tinha hábito, a gente não via televisão em casa. Eu morava na roça e meu pai não gostava de televisão, ele dizia que televisão emburrece, no que ele não estava muito errado. Ele permitia a gente ver TV na casa dos vizinhos, mas só alguns programas, “Família Trapo” e um programa de política apresentado pelo Carlos Thiré, pai do Cecil Thiré. 

Quando vim para o Rio, um dia me ligaram, foi o Haroldo Costa, me convidando para ser júri do Chacrinha. Eu aceitei, mas depois pensei “e agora, eu nunca vi o Chacrinha”, já tinha lido muito sobre ele, mas não o conhecia. Pedi ajuda para um amigo que falou que não era para eu me preocupar, que o programa não era sério, que ele tocava uma buzina para os calouros, que era colorido, que parecia comigo. Aí eu relaxei, porque imagina, eu não sei mesmo julgar ninguém. Daí eu tive uma idéia, tinha um amigo desse meu amigo que tinha trazido uma buzina da Índia e eu pedi emprestada. E minha estréia foi assim, o Chacrinha buzinava de um lado e eu buzinava do outro. 

De cara eles me colocaram sentada ao lado do Pedro de Lara, e aí foi uma farra. O Pedro é um sábio, sabia? Ele tem frases dignas de Shakespeare. Uma vez ele disse assim pra mim “Tem gente tão pobre que só tem dinheiro”. Imagina, é uma frase que eu gostaria de ter dito.

Mulheres: Quanto tempo você ficou com o Chacrinha?

Elke Maravilha: Foram 14 anos. Convivendo mesmo, dentro e fora do programa. Ele me sacava só de olhar e eu a ele. O Chacrinha era muito inseguro, quando ele tinha que fazer programas muito grandes ele usava três fraldas com medo de se borrar. Eu estou dizendo isso porque ele já contou essa história, não estou falando nenhuma intimidade. Quando ele ficava repetindo muito “Teresinhaaa”, eu já sabia que ele estava inseguro. Aí eu olhava para ele, ele olhava para mim, e ia. 

Mulheres: Você trabalhou também com o Sílvio Santos, também no programa de calouros.

Elke Maravilha: Sim, foram oito anos.

Mulheres: Mas aí já era diferente?

Elke Maravilha: Sim, o Sílvio era o patrão, o Chacrinha era o Painho.

Mulheres: Voltando para o cinema. Nos anos 1980, você participa de um marco do cinema brasileiro, “Pixote” (A Lei do Mais Fraco), do Hector Babenco. Eu fiquei muito impressionado na época porque sua personagem era bem diferente da imagem que você tinha na TV. Eu nunca me esqueci daquela mulher, daquela faca, sempre achei aquela cena impressionante.

Elke Maravilha: Ah, eu não gosto não.

Mulheres: Mesmo? Por que?

Elke Maravilha: Porque eu não acho que esteja bem, eu nunca gosto de mim. Eu sempre dei dez para todo mundo, mas sempre menos zero para mim. Agora mesmo, nesse espetáculo “Elke do Sagrado ao Profano”. O Rubens vive me chamando atenção, que é para eu parar com isso, de achar que meu trabalho não está bom. O Rubens é um desses meus amigos de mais de 20 anos.

Mulheres: Eu adoro a sua participação no “Pixote”. Aliás, todo mundo está muito bem.

Elke Maravilha: Tem a Marília, maravilhosa. Muito obrigada.

Mulheres: Você fez também o “Tanga” (Deu no New York Times). Dá para você relembrar o Henfil aqui no Mulheres?

Elke Maravilha: Aconteceu uma coisa engraçada (risos). Na semana retrasada eu fui a um Festival da Diversidade Sexual, em Fortaleza, e aí passou um documentário sobre mim, dirigido pela Solange Maia. No dia, estavam passando filmes sobre sadomasoquismo e aí um cara deu um depoimento dizendo que começou a se interessar por sadomasoquismo depois de ter visto o Henfil sendo pisoteado por uma mulher. Que ele não lembrava quem era a mulher. Eu então falei baixinho para a Solange que a mulher era eu (risos). Depois que terminou a sessão, a Solange avisou “A Elke quer dizer uma coisa”, e aí eu contei que era eu aquela mulher que ele citou. Imagina, eu influenciei um cara a gostar de sadomasoquismo (gargalhadas). Você viu o filme (“Tanga”)?

Mulheres: Vi.

Elke Maravilha: Então, eu fazia a mulher do ditador, que era feito pelo Rubens Correia. O Henfil me ligou dizendo que queria muito que eu fizesse o filme, mas que tinha uma condição. E me perguntou “você tem pé bonito?” E eu, “não sei”. E ele, “eu preciso ver seu pé, eu tenho tara, eu posso aí ver seu pé?” (risos). Daí ele chegou lá em casa, eu estava de botas, eu uso muito botas, eu meio sem graça tirando as botas, meio parecendo que estava tirando a calcinha (risos). Ele caiu aos meus pés e me chamou para tirar fotos assim para a Manchete. Ele dizia “você bem tirana pisando em mim”. 

Ou seja, eu fui o estopim para o caro ser sadomasoquista (gargalhadas). Vou te contar, viu, os Deuses devem ter tramado “vai te acontecer de um tudo na sua vida” (gargalhadas).

Mulheres: Você trabalha também com o Sérgio Bianchi em “Romance”.

Elke Maravilha: Sim, o Sérgio é muito interessante. Também, ele é Curitibano, né? Que nem o Sacha. E Curitibano é assim, ou é fortésimo ou é fraquésimo. E o Sacha é fortésimo.

Mulheres: Você atua também com a Xuxa em “Xuxa Requebra”. Como foi ser escalada para esse filme de grande apelo popular?

Elke Maravilha: Esse filme eu quis fazer por causa da Tizuka (Yamasaki), eu sempre quis trabalhar com ela. A irmã dela (Yurika) foi minha colega de colégio em Atibaia.

Mulheres: E por fim tem o “Zuzu Angel”. Você gostou de participar, gostou da Luana (Piovani) fazendo você?

Elke Maravilha: Gostei, foi legal. Eu gosto muito de terem feito um filme sobre a Zuzu. Eu era amiga da Zuzu, então quando o Sérgio (Resende) foi fazer o filme a primeira pessoa que veio falar foi comigo. Eu sei que o Sérgio não é uma pessoa dramática, o “Canudos” (“Guerra de Canudos”) não é dramático. A Zuzu era trágica, não era dramática. 

A tragédia não chora, a tragédia pranteia. Eu vivi na Grécia durante um ano e observava as pessoas rindo com as tragédias. Depois eu li Aristóteles que dizia que a tragédia foi feita para os gregos enfrentar o medo e a compaixão. Dos gregos pessoas brancas, não dos negros, índios, orientais, porque isso já é outra coisa.

Eu então disse ao Sergio “faça uma tragédia”. A Zuzu sofreu que nem um cão, mas ela não era chorosa, ela era sujeito-homem, algo que independe de sexo e que está tão em falta no Brasil de hoje, tanta gente cagão.

Mulheres: Eu sempre convido minhas entrevistadas para homenagearem uma mulher do cinema brasileiro de qualquer área e época. Você topa?

Elke Maravilha: Sim. Uma mulher do cinema brasileiro.... Dercy Gonçalves. Dercy Gonçalves, com certeza. Eu tenho uma lembrança muito viva da presença dela nos filmes, sempre histriônica, sempre mais. Eu gosto de gente que é muito. Eu acho que é por isso que eu gosto tanto dos gays. Gay não diminui nunca, sempre soma ou multiplica. Pode até errar, mas erra para mais.

Mulheres: Qual foi o último filme brasileiro que você assistiu?

Elke Maravilha: Foi o “Nina”. 

Mulheres: Com a Guta Stresser.

Elke Maravilha: Esse. Gostei tanto. E com a Myriam Muniz, que mulher é aquela, que filme fantástico. Eu assisti no Canal Brasil, eu assisto muito o Canal Brasil. Nosso cinema é diferente, é cinema-arte, diferente do cinema americano. Eu adoro cinema americano, aquelas bobagens, mas cinema americano é entretenimento. Nosso cinema é arte, é assim que a gente sabe fazer.

Mulheres: Alguma coisa que não abordei e que você quer falar? Os trabalhos nas novelas? Você fez “A Volta do Beto Rockfeller”.

Elke Maravilha: Mas ali eu desfilava. Como atriz mesmo eu estou fazendo agora, a novela “Luz dos Meus Olhos”, fazendo aquela velha russa.

Mulheres: Você está gostando?

Elke Maravilha: Estou achando interessante. Aprendendo mais alguma coisa.

Mulheres: Muito obrigado pela entrevista.

Elke Maravilha: Obrigado a você. Axé. 


Entrevista realizada em agosto de 2007.

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Sala 
 Sala Dina Sfat
Atriz intensa nas telas e de personalidade forte, com falas polêmicas.