Ano 20

Guta Stresser

Sucesso em todo o Brasil como a Bebel de “A Grande Família”, Guta Stresser é uma atriz que veio do teatro, veículo onde tem uma carreira consagrada. Já recebeu um prêmio Shell e foi indicada mais duas vezes, conforme conta nessa entrevista. Agora, com “Nina”, primeiro longa-metragem do cineasta Heitor Dhalia, Guta Stresser encarna sus primeira protagonista, em filme livremente inspirado no clássico “Crime e Castigo”, do escritor russo Fiodor Dostoievski.  

Nessa entrevista exclusiva para o Mulheres, durante o lançamento de “Nina” em Belo Horizonte, Guta Stresser fala do novo trabalho nesse filme premiado nos Festivais de Moscou e Lima, fala de “A Grande Família”, para ela “um oásis na teledramaturgia que se faz hoje em dia”, dos seus trabalhos no teatro e em outros filmes e de sua admiração por astros internacionais como Giulieta Masina e também  por atrizes brasileiras como Fernanda Montenegro, Marieta Severo, Renata Sorrah e Andréa Beltrão. Fala também de seus novos projetos para os palcos e para as telas. 

  
Mulheres: Você é uma atriz que veio do teatro. Eu tive a oportunidade de assisti-la na peça “Mais Perto”, que eu acho um dos espetáculos mais bonitos que eu vi nos últimos anos. 

Guta Stresser: Obrigada, que bom, muito obrigada.   

Mulheres: Eu li no material de divulgação do filme “Nina” que você já estava no projeto desde antes de surgir para o grande público em “A Grande Família”. 

Guta Stresser: É, o Heitor (Dhalia) me viu no “Mais Perto”, e foi por isso que ele me chamou. Foi a Alice do “Mais Perto”, a Janis Jones,  que fez o Heitor se apaixonar pelo meu trabalho como atriz. E ele sempre diz isso, “quando te vi no “Mais Perto” eu não conseguia tirar os olhos de você, eu quero filmar com essa menina um dia, eu quero trabalhar com ela no cinema”.   

Mulheres: Já havia essa intenção sua de trabalhar no cinema? 

Guta Stresser: Já, já. Eu sou apaixonada por cinema, gosto muito de ver, e as  poucas experiências que eu tive, eu gostei muito de fazer também. E assim, espero que a produção cinematográfica brasileira cada vez mais cresça para que nós atores possamos sempre estar trafegando pelo cinema. Porque pra gente é muito bacana. Eu costumo dizer que é a única condição de imortalidade para o ator, porque o teatro é muito efêmero. O “Mais Perto”, por exemplo, eu morro de saudade, mas quando você vê um registro da peça já não é  a arte teatral, já é outra coisa. Televisão é uma coisa super fugaz, o público lembra do episódio da semana, mas dali a duas semanas já não se lembra mais o que passou na semana passada. Então eu acho que o cinema para o ator é muito bacana, porque é isso, quando você gosta  de um filme, ou quando você gosta muito de um ator que já morreu, você vai lá e pega o filme do cara e mata a saudade, de  um Marlon Brando, (Marcelo) Mastroianni, Giulieta Masina. Eles ficaram imortais porque o cinema deu essa condição a eles.   

Mulheres: Ouvindo você falar sobre a Giulieta Masina, sobre a emoção em ver a Giulieta Masina, aqui no Brasil tem atrizes que te emocionam? 

Guta Stresser: Tem, tem. A Fernandona (Fernanda Montenegro) eu acho um deslumbre de atriz. A Dora (“Central do Brasil), ela tá maravilhosa, em “Outro Lado da Rua”, em “O Redentor”, tudo que ela faz é maravilhoso. Tem várias, Marieta (Severo) é uma atriz que admiro muito, acho muito inteligente. A Renata Sorrah, adoro o trabalho intenso dela, a maneira como ela se entrega aos personagens. Da nova geração gosto muito da Cláudia Abreu, Paloma Duarte, Alessandra Negrini.   

Mulheres: Você fez uma participação em “A Partilha” (2001 - Daniel Filho), não é isso? 

Guta Stresser: hã hã.... ah, esqueci de falar da Andréa Beltrão, que em “A Prova” era uma coisa do outro mundo..   

Mulheres: Tem alguma experiência sua em curtas? 

Guta Stresser: Tem, eu fiz dois curtas antes de fazer longa, chamam-se “Barbabel” e “O Esôfago da Mesopotãnia”.   

Mulheres: De quem são? 

Guta Stresser: “O Esôfago” é do Isaac Cheke, carioca, “Bar Babel” é do curitibano Antônio Augusto Freitas. Aí depois eu fiz  “Bellini e a Esfinge” (2001 - Roberto Santucci), que foi o primeiro longa que eu rodei, mas ele só foi estrear depois de “A Partilha”. Aí foi “Bellini e a Esfinge”, “A Partilha”, “ O Redentor” e “Nina”, quer dizer, “Nina” e “O Redentor” (2004 - Cláudio Torres).   

Mulheres: Nessas exibições em festivais de “Nina”, você acompanhou alguma? 

Guta Stresser: Fui para Moscou e fui para Lima. Foram os que eu consegui ir por causa da gravação (de “A Grande Família”).   

Mulheres: Você acompanhou também as reações do público? 

Guta Stresser: Acompanhei. Achei ótimo. O Heitor até falou desse negócio de autógrafos. Em Moscou eu dei vários autógrafos, fiz várias fotos, quer dizer, lá eles me conheceram pela Nina, não tem essa de “A Grande Família”. Aqui no Brasil já estou mais acostumada com esse assédio por causa da televisão. Lá foi realmente pelo filme, o que eu achei muito legal. E principalmente por um público jovem, que chegava para mim e dizia “muito obrigado pelo filme, obrigado pela Nina, me identifiquei muito com ela, foi uma lição para mim”, como agora em São Paulo, onde eles adoraram. Eu não acho que “Nina” seja um filme de jovens, mas acho que com a Nina o público jovem tem um canal direto ali, entendem o lado “gauche” da Nina, o lado inadequado dela. 

Mulheres: Eu acho muito bacana você estar em “A Grande Família” porque é um produto maravilhoso, um elenco especial... 

Guta Stresser: É, eu adoro fazer, é um oásis . No meio do que é a teledramaturgia hoje em dia eu considero um oásis o nosso programa.   

Mulheres: E esse público que te vê na televisão e no cinema tem que te ver também no teatro, porque você é uma grande atriz. No teatro você já recebeu um prêmio Shell, não é isso? Qual o nome do espetáculo? 

Guta Stresser: Muito obrigada. Foi pelo “O Casamento”, do Nelson Rodrigues, e teve também o “Tudo no Time”, pelo qual eu fui indicada. Fui indicada também esse ano pelo “Mais Uma Vez Amor”, que eu entrei substituindo a Luana Piovani.  

Mulheres: E como está sua carreira no teatro agora? Esse espetáculo, ele está em turnê? 

Guta Stresser: Na verdade, eu acabei de sair do espetáculo porque eles foram para Portugal e eu não pude ir por causa das gravações de “A Grande Família”. A Ana Beatriz Nogueira, maravilhosa, que entrou no meu lugar, e eles estão lá em Portugal arrasando, fazendo o maior sucesso. Se o espetáculo voltar a ser apresentado no Brasil a gente deve dividir o personagem, uma faz em algumas praças e outra faz em outras. 

E agora vou começar um projeto com o Domingos de Oliveira, que eu estou super animada, super empolgada, eu adoro o Domingos, é um texto dele e da Maria Gladys, chama “Rita Formiga”. Não é infantil, muita gente às vezes acha que é, mas não é, é uma ode a boemia carioca do final dos anos 60. É genial o texto, um texto que o Domingos nunca montou e agora me procurou recentemente dizendo “eu achei a sua cara, queria fazer com você”. A gente já fez umas duas leituras e eu quero, inclusive, produzir esse espetáculo, começar a produzir porque eu acho que o ator no Brasil tem que ir para a produção porque senão ele vai ficar sempre esperando convites que nem sempre são exatamente o que ele quer fazer, o que ele quer falar. Então eu vou produzir esse espetáculo, eu junto com o meu sócio, Diogo. Estamos começando a captar e a gente está com planos de estrear no final de março, começo de abril, por aí. 

Mulheres: E projetos para o cinema? Tem algum convite? 

Guta Stresser:  Tem o longa de “Grande Família”, que vai rolar em 2005, provavelmente no segundo semestre., tá começando a haver uma organização para que isso aconteça. Eles estão trabalhando no roteiro, o Guel Arraes e o Miguel de Paiva. E fora isso “O Deserto Feliz”, que deve ser rodado ali por maio, em Recife, que é um filme do Paulo Caldas, cineasta pernambucano, de “O Baile Perfumado” e do “Rap do Pequeno Príncipe”. Eu vou fazer uma prostituta, a Pamela.   

Mulheres: Para finalizar, tem algum filme ou mais de um filme brasileiro que você citaria, seja antigo ou novo, que você goste realmente? 

Guta Stresser: Tem vários, deixa eu pensar. Ah sim, eu citaria o próprio “Baile Perfumado”, que   eu gosto muito e que é o primeiro do Paulo e do Líro (Ferreira). Eu acho maravilhoso a cinematografia do filme, o conceito, inclusive, o diretor de fotografia tá morando aqui (Belo Horizonte), é maravilhoso, é o Feijão. É daqui e voltou a morar aqui agora. Eu gosto quase de tudo do Glauber, gosto dos filmes do Walter Lima Jr, “A Ostra e o Vento”, acho um filme lindíssimo, delicadíssimo. “Central do Brasil” eu adoro, acho uma obra de arte.   

Mulheres: Tem alguma diretora... 

Guta Stresser: ah, “Cidade de Deus”, claro.   

Mulheres: Por exemplo, a Myriam Muniz eu acho uma atriz fabulosa... 

Guta Stresser: Fabulosa.  

Mulheres: ... e eu acho uma atriz pouco explorada pelo cinema, talvez com exceção da Ana Carolina que fez trabalhos lindos com ela. Tem alguma cineasta brasileira que te pega? 

Guta Stresser: A própria Ana Carolina, admiro muito, gosto muito do trabalho dela. Gosto da Laís Bondanski. 

Mulheres: Muito obrigado pela entrevista.. 

Guta Stresser: De nada, obrigada a você.  

 
Entrevista realizada em novembro de 2004.

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 Sala Dina Sfat
Atriz intensa nas telas e de personalidade forte, com falas polêmicas.