Ataídes Braga (Ana Carolina)
Doce Fel – o cinema de Ana Carolina (1949 – SP)
Em 1968, faz seu primeiro trabalho no cinema nacional como continuísta
de Walter Hugo Khouri em As amorosas, e realiza o documentário Indústria (1968).
A partir daí realiza vários curtas e médias, como Guerra do paraguai (1970)
e Nelson Pereira dos Santos saúda o povo e pede passagem, e o longa com Getúlio
Vargas (1974).
Em Mar de rosas (1977), retrata a família da menina
Betinha envolvida com o casamento fracassado dos pais, enfocando a guerra
pelo poder e desmoronamento da instituição.
No filme seguinte, Das tripas coração (1982), escolhe a
escola e a igreja com alvos para apresentar um interventor da escola, que
sonhava com as moças. Surge nessa abordagem neosonrodrigueana uma
desordem amorosa onde fragmentos do discurso amoroso de Roland Barthes são
desconstruídos, proporcionando uma descida aos infernos da alma.
Já em Sonho de valsa (1987) a personagem, adulta
revelava o fim dos sonhos de menina onde a existência de um príncipe
encantado é mito e desencanto que entra literalmente pelo cano.
Afastada por 12 anos da câmera, além de alguns roteiros, se ocupou de
uma ópera. Depois de uma longa ausência apresenta Amélia (2000),
revelando o choque de culturas. Uma série de estados, conflitos, perspectivas,
moralidades, desejos, idealizações, subserviência, contemplação, medo,
dilacerações e ferocidades, fantasias, mitos, desejos, inquietação,
autenticidade.
Budista, seguindo uma linha que propõe o autoconhecimento, pretendia
escrever uma comédia ainda que tenha saído amarga. Uma comédia de
desentendimentos. Amélia é uma ficção que toma como partida um fato real.
Em 1905, a grande Sarah Bernhardt. O rústico versus o sublime.
Não se trata de uma cultura superior e uma inferior, mas de uma cultura
mais frágil, mais gentil, que perece devorada pela cultura mais forte.
Em seguida teatralizou a ferocidade verbal do poeta Gregório de Mattos.
Poesia punho, com golpes desfeixados sobre o moralismo e hipocrisia.
Esgrima literária sem oponente.
Que sobreviva sempre a indignação de Ana Carolina para deleite de seus
admiradores.