Ana Carolina
27 de setembro de 1943 - São Paulo - SP
A mais autoral cineasta brasileira, Ana Carolina nasceu em São Paulo, em 1943. Com formação em Medicina – Faculdade de Fisioterapia, e com passagem pela Faculdade de Ciências Sociais, Ana Carolina cursou Cinema em São Luiz. Em 1968, faz seu primeiro trabalho no cinema nacional como continuísta de Walter Hugo Khouri em As amorosas, em 1967. Nesse mesmo ano dirige seu primeiro curta, Lavra-dor, co-dirigido por Paulo Rufino.
Nascia aí uma cineasta que iria deixar sua marca definitiva na filmografia do cinema nacional, primeiro como documentarista, realizações que vão até meados dos anos 70 em vários curtas e médias, como Guerra do Paraguai (1970) e Nelson pereira dos santos saúda o povo e pede passagem, e que explodirá em sua estreia no formato longa com Getúlio Vargas, em 1973/74.
Getúlio Vargas projeta o nome da cineasta, que usando material de arquivo compõe um vigoroso retrato do político desde os anos 30 até o seu suicídio em 1953.
Três anos depois, Ana Carolina dirige sua primeira ficção e conquista a crítica com o inventivo e desconcertante Mar de rosas (1977), para muitos seu melhor filme. Protagonizado por Norma Bengell, como Felicidade, Cristina Pereira, como Betinha, e Otávio Augusto, como Orlando; as primeiras, mãe e filha, o segundo um perseguidor. Mar de rosas é um ´road-movie´, em que as personagens, após o ataque de Felicidade ao marido, vão encontrando outras personagens histéricas e vivenciam experiências inusitadas. O maravilhoso elenco, composto ainda por Hugo Carvana, Ary Fontoura, Myriam Muniz e Maria Sílvia, brilha nesse filme que inaugura uma aclamada trilogia.
Passado em um internato que recebe a visita de um interventor para o fechamento do estabelecimento, Das tripas coração (1982) é o segundo longa ficcional. Se em Mar de rosas o foco era a família, agora o estado, a escola e a igreja são os mecanismos sociais dissecados. No primeiro, a personagem de Cristina Pereira – atriz símbolo do cinema de Ana, ao lado de Xuxa Lopes e Myriam Muniz – era o agente catalisador, agora entra em cena um bando de adolescentes às voltas com as instituições, em que as professoras, as diretoras e um padre viverão, em clima exacerbado e delirante, as última horas da sentença. Dina Sfat e Xuxa Lopes são as professoras; Myriam Muniz e Nair Bello são as dirigentes; Antônio Fagundes o interventor e o desejo personificado; Ney Latorraca o padre; Cristina Pereira a serviçal; e Maria Padilha uma das adolescentes.
Em 1986/1987, Ana Carolina fecha a trilogia com o belíssimo Sonho de valsa. No filme, Xuxa Lopes vive uma espécie de apropriação da quadrinha ´Teresinha deu a mão´, vivenciando diferentes buscas amorosas, passando pelo amor paterno, pelo irmão, pelo príncipe encantado, por Deus, até o encontro consigo mesma, o reconhecimento de suas limitações, suas dores e alegrias. Em Sonho de valsa, Ana Carolina coloca em cena vários chavões, lugares-comuns e figuras de linguagem, como ´engolir sapo´, ´entrar pelo cano´, ´fundo do poço´, ´carregar a cruz´, produzindo efeitos singulares e de perfeita inclusão ao contexto do filme. Xuxa Lopes está soberba no filme interpretando a mulher madura, encerrando uma das mais belas trilogias do cinema brasileiro.
Muitos vêem o cinema de Ana Carolina e seus filmes como olhares sobre a condição da mulher, mas esses filmes e toda a obra de Ana vão muito além. Seus personagens estão sempre, de alguma forma, deslocados, daí o tom quase sempre exasperado e delirante na composição dos atores.
A cineasta entra os anos 2000 com o ótimo Amélia, uma ficção sobre a passagem da lendária atriz francesa Sarah Bernhardt pelo Brasil , aqui narrando seu encontro com três mulheres do campo. Na verdade, segundo a diretora, é um filme sobre o choque de culturas. Mais uma vez o elenco brilha, confirmando Ana Carolina como uma ótima diretora de atores: Béatrice Agenin, Marília Pêra - que se decepciona com a diretora pela diminuição de seu papel no filme -, Myriam Muniz, Camila Amado e Alice Borges têm ótima interpretações. Cristina Pereira e Xuxa Lopes fazem pequenas pontas no filme, que dessa vez reserva um papel maior para o talento extraordinário de Myriam Muniz.
Em 2003, a cineasta dirige Gregório de Mattos, uma visão personalíssima sobre o poeta maldito.
Ana Carolina lançou seu novo longa, A primeira missa ou Tristes tropeços, enganos e urucum (2014).
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