José Carlos Avellar (Lucia Murat)
Existem muitas possibilidades de se homenagear as mulheres de cinema no Brasil, porque nós temos um grupo de realizadoras extremamente criativas. Nós poderíamos falar da Ana Carolina, da Tizuka Yamasaki, da Tata Amaral, da Lina Chamie, da Sandra Kogut. Para pegar uma assim, eu escolheria a Lúcia Murat.
Porque a Lúcia fez um filme que me parece uma das coisas marcantes, não apenas enquanto uma expressão de uma realizadora feminina, não apenas enquanto um filme feito por mulher, mas um filme que é muito especial, muito particular dentre o conjunto de filmes, especialmente na América Latina, que procurou discutir os anos de ditadura militar violenta, com tortura, com prisões políticas, que é o Que bom te ver viva.
É um filme que toca todas essas questões sem apoiar na solução tradicional, na solução mais comum, que é de representar o que foi o momento da violência maior, da brutalidade maior da ditadura contra as pessoas. Mas ao contrário, ela vai exatamente pegar as pessoas no momento em que elas passaram por cima disso e reinventaram sua vida, passaram por essa experiência dura e apesar disso continuaram agindo como pessoas mais fortes do que o poder que as reprimiu.
Eu acho que o Que bom te ver viva é um filme bem particular na expressão cinematográfica na América Latina, e, por isso, entre outras possibilidades, eu lembro aqui o nome da Lúcia Murat.
José Carlos Avellar é crítico e consultor de cinema.
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