Marcos Bernstein (Fernanda Montenegro)
Acho que a figura feminina, a atriz no cinema brasileiro que é mais marcante, e é inescapável, eu vou falar da Fernanda Montenegro, né?
Eu fiz dois filmes com ela, um como roteirista e o outro como roteirista e diretor. Um filme é o “Central do Brasil”, que é um filme, enfim, que está na história do cinema brasileiro. O outro é “O outro lado da rua”, que eu dirigi.
Era curioso, porque eu fui apresentado a Fernanda depois, quando estávamos lançando o “Central do Brasil”, mas ela nunca se lembrava de mim quando a gente se encontrava. Não era nenhuma maldade da Fernanda, ela é apresentada a milhares de pessoas e eu era importante na vida dela indiretamente, mas eu não estava no seu dia a dia. E aí eu reencontrava com ela e me reapresentava. Daí eu falei “um dia ela vai se lembrar de mim e eu não vou ter que ficar constrangendo ela por não se lembrar”. Porque eu ir me apresentando era um constrangimento pra ela e nem vou ter que ficar passando por isso.
Aí, alguns anos depois, eu tive esse projeto, “O outro lado da rua”, que eu escrevi pensando nela. Eu mandei pra ela, que sabia quem eu era de nome, mais do que de aparência. Ela leu rapidinho e adorou, e a gente veio a fazer o filme juntos. A partir dali ela sabia exatamente quem eu era e foi uma relação muito rica e muito legal.
Até que um dia, depois que o marido dela morreu, o Fernando (Torres), eu estava falando com ela “Pô Fernanda, que chato”... Eu tinha conhecido o Fernando durante o processo, surgiu alguma coisa do assunto e ela me disse “Não meu filho, você é um dos homens da minha vida”, ela falou generosamente isso. Claro que ela falou por causa dessas parcerias de momentos que a gente viveu juntos e aquilo ali foi um momento de muita felicidade minha, de muito orgulho.
Então é claro que a Fernanda Montenegro, pra mim, é a minha atriz marcante da historia do cinema brasileiro.
Marcos Bernstein é cineasta, roteirista e novelista.
Depoimento colhido em janeiro de 2015 na 18ª Mostra de Cinema de Tiradentes.
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