Ano 20

Cleo Pires

Bela e juvenil, Cleo Pires tem sempre um sorriso pronto nos lábios e uma gentileza genuína – talvez herdada da mãe, Glória Pires, a atriz mais gentil com seu público, como pude presenciar quando trabalhei no lançamento do filme ´O Quatrilho` (1995), de Fábio Barreto, em BH. No primeiro encontro estendo-lhe a mão e ela me puxa para perto e me cumprimenta com dois beijinhos. Sua maratona de entrevistas em BH para o lançamento de `Benjamim´ é  extensa, mas a atriz não demonstra mau humor em nenhum momento. Fico um pouco envergonhado por sequer ter deixado um horário razoável para o almoço no seu segundo dia na cidade para cumprir a agenda, mas ela diz, sorrindo: imagina! problema nenhum.  

Cleo Pires é um dos destaques do novo filme de Monique Gardenberg, de `Jenipapo´, interpretando duas personagens, Castana Beatriz e Ariela Masé, objetos da obsessiva paixão do modelo interpretado por Danton Mello na juventude e por Paulo José na maturidade. Pelo papel duplo, ela recebeu o Prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cinema do Rio.  (ver crítica do filme na Sala Marília Pêra) .

Cleo Pires esteve em Belo Horizonte acompanhada do ator Danton Mello, da diretora Monique Gardenberg e do produtor Fabiano Gullane. A seguir, a entrevista exclusiva que ela concedeu para o Mulheres do Cinema Brasileiro. 


Mulheres: Cleo, como você nasceu em ambiente artístico, seu pai (Fábio Jr) e sua mãe (Glória Pires) têm carreiras consagradas, ela na televisão e ele também na música; você acha que esse fato determinou essa sua carreira que se inicia agora no cinema nacional? 

Cleo Pires: Não! (enfática).  Não, porque eu não queria ser atriz, mesmo, não tinha vontade. Mas é engraçado porque eu sempre amei cinema, e sempre vi muito filme, mas quando perguntavam se eu queria ser atriz eu pensava na novela e no teatro, que eram coisas que eu não tinha interesse, não tinha vontade, não tinha curiosidade. Quando rolou o convite para o filme , eu só resolvi mesmo (ser atriz) quando vi o resultado final; como é mágico, é um outro mundo, parece um mundo paralelo ao mundo real, sabe, é muito bom fazer um filme. 

Mulheres: Sua mãe, Glória Pires, é considerada por muitos a atriz mais importante da geração dela na televisão... 

Cleo: Eu acho. Aliás, uma das melhores do mundo. 

Mulheres: ... é uma das nossas melhores atrizes. Ela começou pela televisão e depois também se encantou pelo cinema, onde já tem uma trajetória premiada. Você começou pelo cinema. Também se apaixonou  ou você vê uma carreira também nos outros meios, teatro, televisão...? 

Cleo: Eu tenho várias paixões. O cinema é uma delas, com certeza. 

Mulheres: Você já tinha esse contato com o Cinema Nacional, de assistir filmes, acompanhar a carreira? 

Cleo: Não, eu comecei a ver filmes nacionais acho que há uns quatro anos... que comecei a me interessar mesmo... 

Mulheres: sim... 

Cleo: ... Mas sempre vi todo tipo de filme, não via filme nacional, mas via todo tipo de cinema, gosto muito. 

Mulheres: E no caso do `Benjamim´, especificamente. Quando você recebeu o convite da Monique Gardenberg e daí até o início das filmagens, como foi esse processo para você, como foi participar desse filme, já como protagonista, ao lado de Paulo José? 

Cleo: Foi uma delícia, magnífico. Porque tinha gente de peso e muito generosa ao meu redor: Paulo, Danton, Guilherme Leme, Chico Diaz, Nelson Xavier. A Monique, que me pegou pela mão, me guiou, a gente ensaiou muito, e todos os processos pra mim foram... eu saboreei cada parte, aproveitei bastante. 

Mulheres: E essa aceitação da crítica, de prêmio (Melhor Atriz no Festival de Cinema do Rio), de críticas positivas, de todos ressaltando a sua atuação no filme? Como você recebeu isso? Foi uma surpresa? 

Cleo: Foi uma ótima surpresa! 

Mulheres: Você está fazendo agora o trabalho de divulgação de `Benjamim´ pelo Brasil. Você já tem algum convite para outros trabalhos, seja no cinema ou em outro tipo de veículo? 

Cleo: Não, não tenho não. 

Mulheres: E agora, só para finalizar, eu gostaria que você destacasse: Um filme? 

Cleo: Eu gosto muito de `Bicho de Sete Cabeças` (2000, de Laís Bodansky). Gosto muito de `Houve Uma Vez Dois Verões´ (2003, de Jorge Furtado), eu acho um filme fofo, bonitinho, uma graça. E ´Benjamim´. Não é porque eu fiz não, mas acho que é diferenciado. Lindo, lindo, lindo. 

Mulheres: Um ator? 

Cleo: Ator, eu amo o Tony Ramos, sou enlouquecida pelo trabalho dele. 

Mulheres: Uma atriz? 

Cleo: Eu gosto da Adriana Esteves e da Letícia Sabatella. 

Mulheres: Por último, o site Mulheres do Cinema Brasileiro vai fazer um mapeamento das profissionais envolvidas no Cinema Nacional: atrizes, diretoras, roteiristas, produtoras, etc. Ele tem uma pretensão de fazer um painel abrangente. Você vê importância nesse tipo de iniciativa, na presença, não do olhar feminino porque ele não vai discutir isso, mas, historicamente, da presença da mulher no Cinema Nacional? 

Cleo: Historicamente eu não sei porque nunca estudei história do cinema, já acontece há muitos anos e sou nova. Mas eu acho que a participação de pessoas competentes, que visam o crescimento do cinema, seja mulher ou homem, iniciante ou veterano, acho que a gente sempre tem que crescer. E principalmente se divertir com o que se está fazendo, aproveitar cada minuto porque passa rápido, e é uma experiência tão surreal... Eu acho que todo mundo um dia deve fazer cinema. 

Mulheres: Muito obrigado. 

Cleo: Obrigada.


Entrevista realizada em março de 2004.

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 Sala Dina Sfat
Atriz intensa nas telas e de personalidade forte, com falas polêmicas.