Ano 20

21a Mostra de Cinema de Tiradentes-Sétimo Dia

Cena de "Baixo centro" (2018, MG), de Ewerton Belico e Samuel Marotta
Ontem, quinta, 25, o Mulheres conferiu mais dois longas e um ótimo show na programação da 21a Mostra de Cinema de Tiradentes.

Os dois longas assistidos fazem para parte da Mostra Aurora, mostra competitiva com títulos de cineastas com até três filmes no curriculo.

O primeiro foi a produção do Goiás, Dias vazios (2018, GO), dirigido por Robney Bruno Almeida.

Dias vazios se passa em um cidade pequena do interior, em que ela própria, a cidade, simboliza o cerceamento para a realização dos sonhos e desejos de quatro adolescentes.

São dois casais de namorados - Jean e Fabiana; Daniel e Alanis -, em que o segundo casal é profundamente marcado pelo suicídio do rapaz e o sumiço da moça do primeiro. Com isso, Daniel, mesmo passados dois anos, ainda procura entender o que aconteceu enquanto escreve livro sobre a tragédia.

Dias vazios conta com bons atores jovens, o que contribui em muito para o filme, ainda que ele utilize muito mal o recurso da narração em off - que, no caso, até faz sentido, mas sim como recurso e não como ele é feito.

E ainda tem no elenco adulto, a participação de Carla Ribas, umas de nossas melhores atrizes de cinema, encarnando uma freira que, pelo imenso talento da atriz, consegue exprimir o dito e o não dito, o arcaico e o moderno.

O segundo filme exibido na noite da Mostra Aurora foi a produção mineira Baixo centro (2018, MG), de Ewerton Belico e Samuel Marotta.

Baixo centro traz para a cena cinco personagens, que circulam pela noite vivenciando encontros e desencontros - a sexta personagem, a protagonista, é a própria cidade.

O grande destaque de Baixo centro é a estética, em que a fotografia nunca é bonita por si só,  e sim por expressar uma ideia de cidade que está em tudo, nas locações, na construção dos personagens, nos seus desvarios e abandonos.

Belo Horizonte surge em cena de forma impressionante em locações pouco exploradas pelo cinema, o tal baixo centro, e de forma pulsante a dar espaço como sujeitos tantos e tantas que por ali habitam e circulam invisibilizados.

Baixo centro se vale de muitos monólogos, ou mesmo de diálogos em tom menor, em tom baixo, como se os personagens estivessem em suspensão, em uma transversal do tempo.

É como se a lente parasse o tempo para radiografar aquelas criaturas da noite, ao mesmo tempo em que a noite, essa sim indomável, dessa cidade que grita, estivesse o tempo todo à espreita para engoli-los.

Baixo centro se ressente um pouco no roteiro, às vezes diluído demais, ainda que seja perceptível a intenção de status de fragmentos perseguida pelos diretores Ewerton Belico e Samuel Marotta.

O filme conta com presença forte dos atores - Marcelo Souza e Silva, Alexandre de Sena, Cris Moreira, Renan Rovida -, e, sobretudo, de uma iluminada Bárbara Colen, mostrando mais uma vez porque é uma das atrizes mais cinematográficas de sua geração.


Show Felipe Cordeiro

Na série de atrações do Sesc Cine Lounge, a 21a Mostra de Cinema de Tiradentes apresentou na noite de ontem o eletrizante show de Felipe Cordeiro.

A música atual do Pará, em evidência no país, é mesmo irresistível na mistura do carimbó com outras influências. E Felipe Cordeiro faz isso com propriedade em sua proposta musical, que ele chama de mistura de carimbó com rock, pop, Jovem Guarda, Vanguarda Paulista, guitarrada, dentro outros.

Dono da cena e da plateia, Felipe Cordeiro, acompanhado de ótima banda, fez subir o calor do Cine-Lounge com os corpos dançantes respondendo a cada estímulo do artista. Ótimo show.


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A 21a Mostra de Cinema de Tiradentes - de 19 a 27 de janeiro - é toda gratuita e formada por exibição de filmes, debates, seminários, lançamentos de livros, oficinas, shows, exposição e Cortejo da Arte.

Programação completa
www.mostratiradentes.com.br

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Sala 
 Betty Faria
Com amor profundo pelo cinema, premiada em vários festivais no Brasil e no exterior